Ainda existem flores escrita por Detoni


Capítulo 5
Uma pitada de estresse e muita loucura


Notas iniciais do capítulo

Gente, agradeço aos lindos seres que comentam a minha fic hahahhaha obrigada AnaLu e Carp Diem :3 Espero que gostem do cap.
:X



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"Quem vive sem loucura não é tão sábio como pensa."- François La Rochefoucauld.

Quando acordo a primeira coisa que processo é a dor. Meu corpo inteiro está doendo, é quase como se eu tivesse sido jogada de um penhasco. Tudo bem que se isso me acontecesse eu nem teria acordado, mas vocês entenderam o que eu quero dizer.

Cogito se eu não posso ficar deitada nessa cama que nem é minha pelo resto da minha vida, mas acabo me forçando, com muita dificuldade, a me levantar. Com passos lentos e várias caretas de dor eu alcanço o banheiro do quarto e me encaro no espelho: meu rosto está com hematomas azuis em suas laterais, onde não consegui proteger a tempo dos jatos e dos ovos. Ergo a camisa de Aley para ver o estado do meu abdome e encontro ali um preto bem grande de antes de eu me encolher. Essa coloração realmente prova que eles não estavam para brincadeira ao usarem força para me atingir. Sério, não sabia que as pessoas poderiam ser tão cruéis, isso é algo que se faz? Uma escola inteira contra uma única pessoa?

— Uau, isso está bem feio. - diz uma voz na porta do banheiro. Cubro minha barriga por impulso e me viro rapidamente, me deparado com os olhos hipnotizantes de Armin.

— Você podia ter batido. – digo. Faço força para me concentrar no fato de que esse hematoma está aqui por causa do grupinho dele. Se eu me prender a esse pensamento talvez eu consiga superar e me manter forte diante da beleza da F4.

— Eu estava com certa esperança de te ver com um pouco menos de roupa, mas esses hematomas não me encantaram muito. - Armin diz e se aproxima de mim. Ele para na minha frente e ergue a camisa que estou usando com uma delicadeza inacreditável. Ele toca o preto, meu futuro roxo, e eu me encolho com a dor. Ele sobe o olhar do meu hematoma para mim e seus olhos, como sempre, me prendem imediatamente. Sério, desviar o contato visual com Armin é impossível, especialmente agora. Mas vejo um pouco de preocupação ao me encarar e meu corpo esquenta. Não quero que ele se preocupe comigo, ele não tem esse direito. -  eu tenho alguns remédios para acabar com a dor, se você quiser.

— Não precisa. - digo imediatamente. Armin sorri, mas seu sorriso não chega a seus olhos e ele acaricia novamente meu hematoma, de forma extremamente carinhosa. Todos meus sentidos me dizem para empurra-lo para longe de mim, ele é o inimigo afinal, mas não consigo impedir seu contato.

— Não faça isso, Teresa. Em alguns momentos devemos baixar nosso orgulho... e como eu sei que você não fará isso para o Castiel, ao menos aceite um remédio. Não é como se tivesse te dando algo que você não pudesse providenciar você mesma. - ele diz e sua voz esta muito baixa, mas o escuto com clareza. E isso me atina para o quão próximo ele esta de mim. Sua mão ainda está apoiada em minha cintura, seus dedos traçando pequenos círculos carinhosos sob meu machucado, o que está me causando arrepios. E seus olhos por esse ângulo... sinto como se estivesse submersa dentro do mar. Consigo ver a superfície, mas esse azul me impede de querer submergir.

— E-eu... – não consigo nem formular palavras. Armin sorri satisfeito e se afasta. A ausência de se toque faz parecer que uma âncora acabou de ser arrancada de mim.

— Eu tenho um compromisso agora. Providenciarei o remédio, Alexy deve chegar a qualquer momento com Rosa e roupas. – ele diz calmamente, me avaliando a cada palavra, enquanto eu concordo com a cabeça. – tenha um bom dia, mulher maravilha. – ele termina e simplesmente sai do banheiro, quebrando por fim todo o encanto em que eu estava submergida.

Demoro um pouco para me recuperar desse momento com Armin, apesar que o hematoma em que ele tocou está formigando e não acho que seja pela dor. Termino de avaliar então o resto de meus machucados, encontrando manchas em meus braços e pernas, mas até que está  melhor do que minhas expectativas extremamente pessimistas.

Molho um pouco meu cabelo e tento abaixar seu volume, fazendo o possível para ignorar o fato de que o Armin me viu nesse estado, não só de aparência ruim, mas também de extrema vulnerabilidade. O inimigo me viu avaliando os danos que ele me causou.

Após usar o banheiro, faço uma dolorosa caminhada em direção as escadas. Sou detida, porém, por um mordomo vindo em minha direção com uma bandeja.

— Senhorita? O jovem mestre pediu para eu lhe entregar isso. – ele me estendeu a bandeja em que havia um comprimido de um remédio para dor que eu costumava tomar quando tinha sessões muito intensas de treino.  Pego o copo de água do lado e tomo o comprimido, aliviada.

— Obrigada. – digo sem graça. Armin já deve ter saído, o que é bom certo? Sem mais encontros constrangedores.

O mordomo assente e faz sinal para que eu o acompanhe. O sigo em silêncio pelos corredores da mansão Prior, até chegarmos em uma sala que acredito ser onde acontecem as refeições. Ela é espaçosa, com uma mesa central de doze lugares. O por que deles terem uma mesa tão grande quando são apenas os dois? Não faço ideia.

Sento-me à direita, próxima a entrada e começo a me servir do enorme banquete de café da manhã. Se tem algo que me deixa feliz quando estou com problemas é comida, especialmente nessa qualidade. Estou despreocupadamente comendo quando duas figuras entram as pressas na sala. Rosa e Alexy começam a falar juntos, por isso resolvo ignorá-los enquanto como meu croassaint.

— Blog da patricinha.- Rosa diz as primeiras palavras que consigo discernir no que eles estão falando e arrega-lo os olhos. Céus, como me esqueci da notícia sobre minha gravidez?

— Me da o celular, eu perdi o meu ontem.- digo apavorada e  Rosa me estende o celular que já está aberto na página do blog.

"Queridos leitores e estudantes da Sweet Amoris, como é bom começar o dia com uma notícia fresquinha. Vocês devem se lembrar da minha promessa de revelar a estudante M&M hoje, certo? Sem mais curiosidades, apresento a vocês: Teresa Chase! Exatamente, a perfeita transferida que já levou um F4 está gravida. Agora surgem as maiores dúvidas: Quem é o pai? É da nossa escola ou de seu antigo país? Atualizaremos vocês com o decorrer dos fatos!  E Essa não foi a única noticia dela de ontem. Após se meter em um ato de vandalismo, a transferida agrediu..."

A noticia continuava contando mais mentiras sobre mim. Mas estou em choque demais com a difamação da gravidez para continuar lendo. Eles realmente tem coragem de cometer um crime desses? Isso é inaceitável. Grávida? Eu? EU? Que nunca nem mesmo dei meu primeiro beijo, EU ESTOU GRÁVIDA?

— Tessa, você está bem?- Rosa pergunta. Com cuidado coloco o celular dela em cima da mesa e respiro fundo. Não sei nem dizer a raiva que estou sentindo. Isso é difamação de um nível muito alto, e isso é a coisa que mais me irrita.

— Onde está o Castiel?- pergunto controlando minha respiração para conseguir expressar as palavras.

— Nos sábados a F4 costuma ir para escola para atirar. Ele deve estar lá.- Alexy diz parecendo nervoso.

— Me levem para o internato. AGORA!- berro. Não consigo mais suprimir minha raiva. Eu irei matar o Castiel Sworis. Muito fácil se esconder atrás de um blog e de outros alunos, não é, tomatinho? Quero ver ele me encarar cara a cara.

— Se troque primeiro. Alexy me disse que você estava machucada, por isso escolhi algo que vai tampar seus hematomas. - Rosa me estende uma muda de roupas.

— Obrigada.- digo com sinceridade, mas sem conseguir esconder a fúria. Subo as escadas correndo e me troco com velocidade. As roupas que Rosa trouxe, apesar de frescas, realmente me deixam completamente coberta. Fico de fato agradecida ao fato de que os únicos indícios de que eu estava ferida estivessem no meu rosto. Não quero que Castiel me veja assim.

Quando desço as escadas, Rosa e Alexy já estão no carro. Realmente, Armin, muito obrigada pelo remédio para a dor. Farei bom uso deles enquanto estiver matando seu amigo.

Durante o caminho, Rosa e Alexy xingam Castiel enquanto eu apenas solto gritos de frustração concordando.Estou com tanta raiva que tenho medo do que pode sair da minha boca fora grunhidos. Se essa noticia chega nos olhos do meu pai...

Assim que chego no internato me despeço de Rosa e Alexy. A pequena sanidade que tenho em mim me impede de sujar a imagem dos dois como a minha. Caminho para o campo de paintball e entro dentro do campo, bufando de raiva. Realmente, pareço um animal.

— Novo jogador em campo.- uma voz robótica anuncia.

— CASTIEL SWORIS, ONDE DIABOS VOCÊ ESTÁ?- eu berro com toda a minha força. Não se passam nem cinco segundos e sinto minha boca ser coberta rapidamente enquanto sou levada para algum lugar.

— Teresa, estamos no meio de um jogo. Não seja irracional. - Kentin diz. Estou com tanta raiva que estou realmente me sentindo incontrolável nesse momento. – eu vou te soltar e você ficará calada para vermos como agir, ok? – ele pergunta e sou obrigada a concordar com a cabeça. Sei que contra Kentin eu não teria a menor chance em uma luta e bom, eu já estou imobilizada.

Kentin me solta e me encara, como se esperasse um espetáculo. Eu devolvo seu olhar com raiva e ajeito minha postura. O estresse provoca negativamente as enzimas responsáveis por regular as sinapses, ou seja, eu realmente devo estar parecendo um animal no momento. Por isso tento me acalmar pelo menos um pouco.

— Me traga o Castiel. – é o que consigo falar em meio ao meu descontrole. Para minha surpresa Kentin não ri, apenas assente sério. Imagino o que ele deve ter passado no exército para saber que uma pessoa no meu estado e com meu potencial não é brincadeira.

Kentin se afasta e começa a caminhar, mas para quando escutamos um barulho próximo. Imediatamente ergo a arma que peguei antes de entrar no campo e a aponto diretamente para o peito de... Lysandre? Sim,não há dúvidas de que é o Lysandre na minha frente. Ele coloca as mãos para cima e ergue as sobrancelhas, em um gesto clássico de rendição e surpresa.

— Devo pedir para pausarem o jogo? - ele pergunta simplesmente.

— Deve. Ela quer conversar com o Castiel. – Kentin responde. Eu sorrio de forma muito irônica. Conversar?

— Ah, docinho, eu quero matar o Castiel. – digo. Os dois me ignoram e Kentin faz sinal para que Lysandre vá e continua me observando. Sei que estou com meu sorriso de Harley Quinn de quando estou prestes a perder o juízo e acho que é por isso que Kentin não fala nada.

— O jogo foi interrompido. Todos os jogadores devem se apresentar no meio de campo. - a voz robótica anuncia novamente. Antes que eu perceba, Kentin esta atrás de mim me imobilizando com uma chave de braço e eu solto um grunhido de frustração para ele.

— Não queremos nada imprudente, certo? Vamos. – ele diz e começa a me guiar pelo campo. Me sinto humilhada, mas não irei para Kentir me largar, então apenas ignoro a dor que meu corpo inteiro está nesse momento, devido à chave e aos machucados, e continuo andando.

Quando chegamos ao meio do campo, o resto da F4 já esta ali. Castiel começa a rir no instante que me vê, totalmente imobilizada, mas Armin e Lysandre tem o juízo de permanecerem com expressões sérias.

— Eu disse que ela viria. Vamos, Kentin, pode soltá-la. Acredito que talvez ela não seja um animal, apesar dessa saliva de raiva escorrendo. – Castiel diz e meu ódio cresce ainda mais. Kentin suspira, como se estivesse preocupado em me soltar, mas apenas faz isso. Em liberdade, balanço meu ombro e encaro Castiel com todo meu ódio.

— Eu não sei qual é o seu problema, mas juro que minha paciência esgotou. Quer me deixar com hematomas? Ótimo, vá em frente. Quer me molhar, me sujar e me fazer de estúpida? Tudo bem, não dou à mínima, mas inventar coisas sobre mim, me difamar, isso é crime, Castiel Sworis.... - começo a falar, mas Castiel estende uma mão em sinal de que devo fazer silêncio. Ele ergue uma sobrancelha e esboça um sorriso sarcástico para mim.

— Não sei se é assim que se desculpam no seu país, mas no meu você pode começar ficando  de joelhos se quer que eu te perdoe.- ele diz. O encaro incrédula. Seus olhos cinzas parecem estar se divertindo tanto que transmitem a expressão de uma criança que ganhou o doce favorito. Nada parecido com a intensidade e o dilúvio que transmitimos em nossas tempestades das outras duas vezes que nos encaramos.

— Você é retardado? Eu vou te matar, seu covarde. Inventar que eu agredi um garçom e ainda que eu estou grávida? Como você pode dizer uma coisa dessas, sendo que eu nunca nem beijei na minha vida! - digo com raiva. Os quatro me encaram surpresos. - me diga, você me vê de mãos dadas com alguém? Me vê saindo com alguém? Não tem nem fundamentos para você sustentar sua calúnia! Sua difamação é uma merda, assim como você! Não encontro nem palavras para...

— Nunca beijou? Que eu saiba uma pessoa não precisa beijar para fazer um bebê. - Castiel ri para mim, ousando se aproximar.- mas ainda não entendi seu ponto. Vai me processar, mulher maravilha.

— Eu te disse para não mexer comigo, Castiel. Essa foi a gota d'água. Não vou te proecessar, não quero uma briguinha de dinheiro. Mas você é um homem morto. – digo.

Antes que qualquer um (vulgo Knetin) pudesse me impedir, preencho o espaço restante entre eu e Castiel, passando imediatamente meus braços pelo seu pescoço. Ele parece em choque e uso esse momento para lhe desferir uma joelhada com todas as minhas forças bem na boca de seu estômago. Ele solta um grito de dor, se encolhendo e me dando vantagem para lhe desferir um chute na lateral de sua cabeça, o que acaba o derrubando no chão. Sei que ele está em grande dor agora, por que meus golpes de Muay Thai foram perfeitos.

— Não ouse mexer comigo novamente. E se aquela noticia estiver no site da patricinha ainda hoje, você terá feito uma inimiga muito poderosa. - digo. Castiel  se levanta cambaleante e me encara.

— Então quer dizer que você é mais poderosa que eu, Teresa Chase? Mais rica? Sua sorte é que eu não sou covarde para bater em você. - ele diz com raiva, mas suas palavras soam meio grogues, fazendo com que eu ria. Seus amigos estão me encarando com tanta surpresa que me sinto completamente realizada. Eles acham que podem ficar me provocando e testando meus limites? Que só por que são bonitos eu vou abaixar minha cabeça? Sonhe, F4.

Pego a arma a arma de Castiel que estava caída no chão e miro para seu peito. Sorrio como lunática enquanto aponto, e diversas emoções passarem por seus olhos. Mas ali estava, um pouco do dilúvio que nós causamos juntos quando nos encaramos. Somos duas tempestades agora.

— Realmente, tenho muita sorte. Mas você não. Eu te odeio. – digo apertando o gatilho e jogando a arma no chão e fazendo meu caminho para saída. Ignoro o olhar que os meninos me dão, pois não sei se tenho coragem de ver que tipo de expressão é a que eles estão estampando.

— Jogador A eliminado. - a voz diz enquanto passo pelo portão. - jogador E fora de campo.

Assim que me vejo fora do campo de paintball, a dor dos meus machucados toma conta. A adrenalina e o estresse estão passando, mas ainda forço meu corpo a começar a correr. Não sei onde devo ir, só  sei que preciso correr. Estou frustrada demais, com ódio demais. Por causa da F4 eu fui humilhada, testada, desafiada, machucada e difamada. Isso em apenas dois estando sob efeito da tarja vermelha. Será por isso que os demais suicidavam ou se transferiam?

Acabo minha corrida na área da piscina e me sento ao chão. Não sei por que estou chorando, mas apenas não consigo impedir que minhas lágrimas caiam.  

Não tenho certeza de quanto tempo se passou, mas sei que meus olhos estão inchados. Começo a me recompor quando escuto um riso perto de mim e procuro a fonte, mas simplesmente não vejo ninguém.

Me levanto e faço menção de ir embora, mas de repende sinto mãos me empurrarem em direção à piscina. A água fria é cortante, já que os aquecedores não estão ligados. Solto um grito de surpresa e começo a nadar para a borda, buscando meus agressores, mas não vejo ninguém, novamente.

Assim que saio da piscina corro em direção ao vestiário na esperança de conseguir uma toalha. Mas sou detida quando escuto a risada novamente, mas dessa vez acompanhada de passos. Duas pessoas, se minhas contas estiverem corretas.

— Então transferida, é menino ou menina? - uma voz masculina pergunta. Me viro e encaro um garoto que nunca vi na vida, com o que havia me abordado na porta do refeitório ontem ao seu lado. Os encaro com raiva.

— Cala a boca. – digo. Estou frágil, não irei suportar muito mais hoje. Minhas roupas estão coladas em meu corpo devido à água e percebo os dois percorrerem meu corpo com olhares maliciosos.  

— Até que você é gostosa, transferida. Você quer que eu assuma o filho? – o menino pergunta. Nojo passa por todo meu corpo, e meus instintos me mandam correr. Aquele olhar não foi nada legal.

Começo a correr, mas já é tarde demais. Sinto quatro mãos segurando meus pulsos com força, o que me faz soltar um grito de dor. O menino de ontem se coloca na minha frente e puxa minha blusa com força, fazendo com que ela acabe rasgando em seu decote. Não sei se consigo lutar contra os dois nesse estado, e o medo e choque invadem meu corpo, quando...

— Tessa?- uma voz pergunta. Os garotos congelam no lugar da mesma forma que eu estou congelada. Lysandre se aproxima de nós e me encara. - sabe aquela torta? Você não mencionou como fazer a base, apenas o recheio. – ele diz chateado. A situação é tão cômica e ultrajante que só consigo pensar em responde-lo.

— Talvez... - eu interrompo minha fala com uma crise de tosse enquanto a pressão no meu pulso aumenta. - basta apenas bater biscoito com manteiga. Ai os farelos ficam juntinhos e você consegue fazer a base no formato que quiser.

— Ah, é isso. Irei tentar mais tarde. – ele diz satisfeito. Sinceramente, em que mundo o Lysandre vive. Forço uma tosse e o encaro com um olhar bastante significativo.

— Você pode...? - deixo a frase incompleta, e Lysandre ergue uma sobrancelha para meus agressores. 

— Por que vocês ainda estão aqui?- ele pergunta oferecendo aos dois um olhar de nojo tão profundo que até eu me sinto diminuída diante dele.

— Castiel, ontem...- um deles começa a falar.

— As coisas mudaram. E mesmo se não tivessem, eu estou mandando vocês saírem. Agora. - Lysandre diz. Sua voz é baixa e ameaçadora e sei que os meninos não irão ir contra as ordens dele. Eles me soltam imediatamente e começam a correr para fora.

Limpo minhas lágrimas tentando refazer minha postura. Meu sutiã está completamente a mostra devido ao rasgo da minha camisa, e me encolho para esconder a peça básica branca, que esta um pouco transparente por causa da água. Mas para minha surpresa, Lysandre não parece se importar nem um pouco com minha nudez. Não me encara com o pingo de interesse ou desejo e nesse momento me sinto estranhamente grata por isso. Realmente, acho que não existe nada sensual nessa situação.

— Esses hematomas estão péssimos. Você deveria passar uma pomada. - Lysandre diz e se levanta. O observo em silêncio enquanto ele pega uma toalha dentro de um dos armários e se ajoelha ao meu lado, a passando pelos meus ombros enquanto tento desesperadamente me aquecer e me cobrir. Ele me encara com solidariedade enquanto lhe lanço um olhar grato. - você estava tremendo. E seus lábios estão azuis. Achei melhor você se cobrir.

— Eu...- começo a dizer, mas fico calada. Lysandre se acomoda ao meu lado, enquanto me seco em silêncio, deixando minhas palavras que não consigo formular pairarem no ar.

— Você fez um belo show hoje de manhã. - ele diz sorrindo. - fazia tempo que eu não via algo interessante na escola. - ele diz me encarando. Me enrolo na toalha e devolvo o olhar. Não sei se é por causa da raiva que senti mais cedo, ou pela situação que passei agora, mas não me sinto enfeitiçada como me senti em todos os outros momentos que estivemos juntos.

— Eu não sou só um entretenimento, sabe? – digo. Curiosidade brilha em seus olhos fenomenais e seus lábios formam uma linha séria.

— Você é diferente, Tessa. – ele diz. Ah, droga, o feitiço voltou um pouco. Sinto meu corpo esquentar e mantenho minha postura. Ele já me viu vulnerável vezes demais.

— Não sei se gosto desse "ser diferente".- digo.

— É interessante. Acho que o Castiel se tocou um pouco hoje de manhã disso. - Lysandre diz. Sufoco uma risada mostrando minha situação.

— Não é o que parece.

— Isso foram ordens antigas. Lembra que eu disse para você não julgar a primeira vista? Castiel é meio metido e imediatista, mas tem um bom coração, isso posso te garantir. Você o deu coisas para pensar hoje, fora um belo machucado, claro. – Lysandre diz. Pergunto-me a veracidade de suas palavras, mas apenas concordo, meio sem jeito.

— Lysandre, eu... obrigada por me ajudar.- digo, percebendo que ele estava se levantando.

— Eu não fiz isso para te ajudar. - ele diz com tranquilidade. – esse tipo de coisa me irrita. – e ele segue seu caminho, sem olhar para trás.

***

Passei o resto do fim de semana dentro do dormitório, com Alexy e Rosa, refletindo sobre as palavras de Lysandre. Para minha surpresa e crédito dele, a notícia do blog da patricinha já havia desaparecido quando voltei ao meu dormitório após a piscina.

Na segunda, acho que será uma boa ir para a aula como uma clandestina. Coloco a blusa social do uniforme e um moletom preto com a saia e o tênis. Fingindo que não estou morrendo de calor, levanto o capuz do moletom e, na minha cabeça, estou irreconhecível, mas Rosa me garante que qualquer um saberia que sou eu de cara. Bom, acho que vale a tentativa.

Estou quase na minha sala de aula, já comemorando por nada ter acontecido quando um homem de terno aparece na minha frente. E outro atrás de mim. Quando vejo, homens de terno estão bloqueando os corredores.

— Senhorita Teresa Chase?- ele pergunta. O que diabos está acontecendo? Será que serei sequestrada? Morta? Essa é a vingança do Castiel? Ele me dará um sumiço aqui, na cara de todo mundo?

— Se eu for, estou em alguma encrenca?- pergunto temerosa.

— Por favor, nos acompanhe. - ele pede. De boa vontade? Sem chance, povo louco.

— Desculpa, mas eu estou muito ocupada no momento... - digo começando a me afastar em direção a qualquer ponto vago entre as defesas deles. Consigo ultrapassar a uma das barreiras e me ponho a correr, em direção ao pátio da escola.

Eles estão me seguindo. Escondo-me atrás de uma árvore as pressas. Que diabo está acontecendo? Quem são eles? Sou jovem demais para morrer! Já aprendi com meus pais e com os filmes que um bando de cara de terno indo te buscar não pode ser um bom sinal. Fico um tempo escondida até que finalmente penso que a barra está limpa. Que erro. Quando dou por mim, sinto uma mão em meu nariz e tudo fica preto.

***

Quando minha consciência começa a voltar, sinto a sensação mais maravilhosa do mundo. Diversas mãos estão massageando meu corpo. Espera, como assim tem mãos massageando meu corpo?

— Ei!- digo assustada abrindo os olhos. Devem ter pelo menos 10 mulheres cuidando de mim nesse momento. Algumas fazem massagem, outras estão fazendo minhas unhas e o resto no meu cabelo. O que está acontecendo?

— Senhorita, poderia relaxar? - uma moça pede. Em casos onde você não sabe o que está acontecendo, apenas deixe acontecer. É o que o Viktor sempre fala. Mas não consigo parar de pensar no que está acontecendo. Será que os homens de terno me sequestraram para fazer um tráfico humano comigo? Quer dizer, eu sei que sou bonita, mas isso tudo por mim...

Após essa seção, as mulheres me levam para uma área onde começam a discutir sobre roupas. Aproveito para me encarar no espelho e percebo que meus hematomas estão bem melhores. De fato, apenas o maior deles, na minha barriga, continua forte o bastante para ser notado com facilidade.

Logo um vestido é passado pela minha cabeça, e um salto enfiado em meus pés. Céus, eles não podem me vender. Eu não nasci para o tráfico humano. Quer dizer, ninguém nasceu, mas como eu me meti em algo assim?  Fico ainda mais temerosa quando outro homem de terno entra no quarto.

— Ela está pronta?- ele pergunta. As mulheres consentem. - venha comigo, senhorita Chase.- ele diz.

Sem opção, sigo o senhor estranho de terno. Ele é formal demais e coisas assim me assustam, logo, resolvo cooperar. Ele não me encara enquanto caminhamos pelos corredores de uma... mansão? Ou seria a casa branca? Se isso for a casa branca eu pelo menos sei que não serei colocada para o tráfico humano...

— O que está acontecendo?- pergunto sem conseguir me conter.

— Isso é o que todos queremos saber. O jovem mestre nunca trouxe nenhuma menina em casa. - o homem diz. Opa. Jovem mestre?

— Isso daqui é uma mansão?- pergunto. O homem consente. - e o que eu estou fazendo aqui?

— Ele está lhe aguardando. - o homem mostra uma porta para mim.

— Quem?- persisto. O homem faz sinal para que eu entre e, por fim, sou vencida pela curiosidade e entro no cômodo. Sou louca? Quem não é? E nesse caso, já estou perdida mesmo.

O cômodo é gigante e me lembra um salão da realeza. Todos esses lustres, sofás incríveis e coisas do gênero. Mas o que me chama atenção é um jovem parado em frente a uma janela gigante, virado de costas para mim. Não consigo reconhecê-lo por causa do reflexo do sol.

— Tessa Chase, vulgo mulher maravilha. - uma voz grossa e conhecida diz e o jovem se vira. Castiel.

— Você! O que está fazendo aqui?- pergunto com raiva. Ele é meu sequestrador? Será que ele realmente vai me colocar em um tráfico e eu vou descobrir que esse é o sucesso por trás da empresa Sworis?

— É errado eu estar na minha própria casa?- ele pergunta sorrindo sarcástico. Ah céus, esse sorriso. Não sei dizer o quanto eu o odeio. Porém, agora, vejo o quando ele combina com o roso de Castiel.

Nunca tive tempo de encarar Castiel por inteiro no meio de nossos turbilhões de emoções e dilúvios. Castiel é bonito, fazendo honra à F4. Seus cabelos falsamente tingidos de ruivo, combinam perfeitamente com o branco em sua pele. Seus olhos cinzas, que me encaram com tanto atenção, são extremamente cativantes. Será que é assim que as pessoas sentem quando veem meus olhos fenomenais? Mas diferente dos meus, os de Castiel são um cinza bem escuro, puxados para o preto. Me pergunto se são semelhantes a dois cadeados.

— Sua... você me trouxe aqui? Saiba que dessa vez você foi longe demais. Sequestro e me manter em estado de cativeiro... fora a difamação... realmente quer um processo? - pergunto com raiva.

— Sabe, tem uma coisa que sempre fico me perguntando. O que o dinheiro não pode fazer?- Castiel pergunta se aproximando de mim e colocando suas mãos em minhas omoplatas enquanto me guia pelo cômodo. Seu toque espalha calor pelo meu corpo e estou tão em choque que não consigo me desvencilhar dele. Diferente dos outros membros, Castiel não me coloca sob um feitiço. Muito pelo contrário, ele parece trazer o pior em mim, a minha maior intensidade.  - ele  transforma algo já lindo em algo perfeito.- Castiel sorri me colocando em frente à um espelho.

Fico confusa por alguns instantes. Aquela sou eu? O vestido preto marca minha cintura enquanto abre com o movimento perfeito até meu joelho. Meu cabelo está mais liso do que o normal, enquanto minha franja é presa com um arquinho preto que combina com o vestido. O salto preto tira um pouco minha  imagem  pouco intimidante e me da... confiança. Eu estou acostumada a roupas de luxo, mas isso... eu estou me sentindo uma princesa. Seria escolha do Castiel?

— Vê? Perfeita. - Castiel diz me encarando no espelho. Seu terno, como tudo que ele usa, cai perfeito em seu corpo. Nos encarando no espelho percebo até que nossas roupas combinam. Estremeço e o encaro, desviando o olhar do espelho para me colocar de frente para ele.

— Eu não ligo para essas coisas, Castiel. O que eu estou fazendo aqui? Juro que vou te processar. - digo. Castiel começa a rir e me sinto esnobada. Mas é estranho, Castiel me esnoba, me tortura, mas ele parece realmente ficar a flor da pele comigo, assim como eu com ele.

— Chega de encenação, Teresa. Não tem ninguém aqui. Pode falar a verdade. - Castiel diz pegando uma mecha de meu cabelo.

— Verdade? Que verdade?- pergunto confusa me afastando dele, lhe dando um tapa na mão que estava em meu cabelo. Porém, Castiel segura meu pulso com delicadeza, inabalado.

— Que você gosta de mim. Na verdade, está louquinha por mim. Eu sei da lógica feminina e quando uma mulher diz "eu te odeio" ela quer dizer "eu te amo". Não precisa mais mentir. Na verdade, vou te propor algo muito interessante: vou deixar você me cumprimentar, mas apenas quando não tiver ninguém por perto. – ele diz satisfeito. Em seus olhos, vejo que ele não está brincando. Essa é uma proposta séria. Sem chance que ele é sem noção a esse ponto.

— Você é louco. - digo. Castiel ri.

— Está frustrada? Por que não há nada que o dinheiro possa comprar ou está atordoada pela minha oferta?

— Você tem problemas mentais e deveria se tratar. Não com que tipo de mulher você convive, mas o meu eu te odeio realmente significa eu te odeio. E há muitas coisas que o dinheiro não pode comprar. - digo. Tiro o salto e arremesso em sua direção, e ele desvia com facilidade.

— É mesmo? Diga-me uma. Amigos e namoradas? Por mais falso que seja eu ainda consigo com o dinheiro.

— Nesse caso, experimente usar o coração. E eu quero meu uniforme, agora!- digo explodindo. Arremesso o outro salto em sua direção e ele desvia novamente. Por fim, arremesso o arquinho. Castiel fica me encarando e eu, sem mais munição vou para a porta de saída.

Com raiva saio da sala e vou pelo caminho do qual fui guiada pelo homem e acabo encontrando meu uniforme no cômodo onde eu estava. Qual o problema daquele idiota? Destrói minha vida e agora ainda diz que estou apaixonada por ele. E o que aconteceu comigo? Use o coração, que coisa mais clichê. Acho que realmente não existe nada que o dinheiro não possa comprar.

Depois de procurar meu tênis e não encontrar, resolvo ir descalça mesmo. Saio da incrível mansão Sworis com o olhar de muitas empregadas e mordomos sobre mim. Loucos, todos aqui são loucos. E o Castiel é o louco mor. Eu? Gostar dele? Sério, ele precisa de tratamento. Todos naquela Sweet Amoris precisam. Na realidade, até eu preciso, mas eles são mais problemáticos que eu.

Andar descalça pelo asfalto machuca, mas ignoro isso à medida em que faço o caminho para o internato. O sol já está se ponto e me pergunto quanto tempo fiquei naquela mansão. Hoje tem que ter sido um sonho, só pode. Na verdade um pesadelo. Um pesadelo bem louco.

Sou parada com uma moto passando na rua ao meu lado. Ela passa com velocidade por mim, mas para a alguns metros e começa a fazer o retorno, vindo na minha direção. Ah, ótimo, mais um ataque.

— Ei, garota maravilha. Aposentou para virar mendiga? - uma voz conhecida pergunta. Me viro com alívio em direção a Kentin e me aproximo de sua moto.- o que está fazendo aqui? Não deveria estar no internato?

— Aconteceu um imprevisto. – digo sem saber se devo mencionar o que acabar de acontecer com Castiel. Kentin sorri e desce da moto, se apoiando nela.

— Andar descalça não deve fazer muito bem. Eu até te daria uma carona, mas estou com pressa. - ele diz. –Castiel não está com humor muito bom.

— Ei, Kentin. Tem alguma coisa que o dinheiro não possa comprar?- pergunto tentando desviar o assunto.

— O ar. - diz outra voz conhecida atrás de mim. Dou um pulo de surpresa antes de me virar para Lysandre.

— O ar... droga, por que eu não pensei nisso? - digo frustrada.

— O Armin vai ultrapassar a gente, Kentin. Tessa, acho que você deva voltar para o internato. Aquela menina que anda com você veio falar comigo te procurando e isso é estranho. Acho que essa ideia de que eu sou seu amigo parece que está se espalhando. - Lysandre diz. Poxa, ele é ou não meu amigo? Não sei mesmo o que esperar da F4 e seus membros volúveis.

— Ah.. realmente.- digo sem graça. Começo meu caminho novamente, sem entender essa cena confusa, mas a voz de Lysandre me para.

— Aqui, use o meu tênis de corrida. - Ele me estende um par que estava em sua moto.

Fico surpresa, mas não vou reclamar. Meu pé está doendo muito. Calço o tênis dele que fica pelo menos oito números maiores em mim. Mas é bom ter algo para pisar no meu retorno para o internato. O encaro com sinceridade.

— Obrigada. – digo, mas tanto Lysandre quanto Kentin já estão subindo em suas motos novamente. Nesse momento, uma moto passa ao nosso lado buzinando. Armin (quem eu acredito que seja) nem se dá ao trabalho de parar, apenas acelera mais. Logo Lysandre e Kentin estão na corrida também, e eu percorro meu caminho com um tênis gigante em direção ao internato.


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Notas finais do capítulo

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— Detoni