Capítulo oito

Eu não sou falsa!

“O amor romântico é como um traje, que, como não é eterno, dura tanto quanto dura; e, em breve, sob a veste do ideal que formámos, que se esfacela, surge o corpo real da pessoa humana, em que o vestimos. O amor romântico, portanto, é um caminho de desilusão. Só o não é quando a desilusão, aceite desde o princípio, decide variar de ideal constantemente, tecer constantemente, nas oficinas da alma, novos trajes, com que constantemente se renove o aspecto da criatura, por eles vestida.”

(Fernando Pessoa)

Cadê as câmeras e o Ivo Holanda?

Eu só posso estar em alguma pegadinha.

— Está de brincadeira? O que está querendo agora? — comecei.

Com a minha maior expressão de mal encarada.

— Que foi, Audrey? É claro que somos! — exclamou.

Olhei-a por entre a minha franja e abri a boca, mesmo que ainda surpresa.

— É que ninguém tinha me dito algo assim. — sussurrei.

— Mas deveriam. — o seu sorriso não parecia falso para mim.

— Por que acha isso?

— Sei que nunca fomos próximas, mas você sempre foi uma pessoa legal e nos conhecemos há bastante tempo. Podemos ser amigas? — quis saber.

A primeira coisa que me passou pela cabeça foi o que Evan disse naquela tarde que estava em minha casa: “É claro que no começo fiquei muito irritado, mas depois notei que foi um plano e tanto. Virar amiga da Catherine, ganhar sua confiança, para depois me contar tudo o que ela te segredou. É isso que irá fazer, né?”

— Sim. — foi baixo, porém ela ouviu e me deu um forte abraço.

Dei um fraco sorriso e tentei esquecer aqueles pensamentos quando decidi responde-la, até porque eu realmente queria ter uma amizade com ela.

— Passa o seu número de contato? — e eu obedeci-a prontamente.

E essa foi a história da primeira colega a me adicionar.

— Tudo vai dar certo. — murmurei ao nos despedirmos com um beijo no rosto.

Saber que estava sendo observada pelo demônio de olhos verdes em pessoa me deixava arrepiada da cabeça aos pés, ainda mais por ter notado que tínhamos ficado amigas.

— Boa garota. — provocou-me.

— Ainda não esqueci sobre a camisinha, então não fala comigo! — esbravejei.

Por sorte a Catherine já estava longe. Era só nós dois ali.

— Foi uma brincadeira apenas. — devolveu.

— Por que não levou embora então? Se queria apenas que a mãe não achasse ia ser melhor se estivesse contigo. — opinei com ira.

Ele me irrita.

— Não ia ter graça. — sussurrei.

— E quando matutou essa ideia nessa sua mente maligna imaginou que justo o Logan ia vê-la na minha mochila? — aquilo foi um dos maiores micos que já paguei na vida.

Sua resposta foi rir de mim. Como ele pode?

— Foi melhor do que pensei. — respondeu-me.

— Vai para o inferno. — gritei.

— Só se eu te levar junto, porque depois de você fingir ser amiga da Cat para contar seus segredos tenho certeza que não irá para o céu. — sussurrou em meu ouvido, para depois gargalhar sem dó e nem piedade.

— Eu não sou falsa! — revidei.

Posso ser mentirosa, virgem e antissocial, mas isso não.

— Se não é agora, será. — retrucou.

Aproximei-me e levantei a ponta do meu pé para ficar mais perto da altura dele, encarando-o firmemente.

— Você não me conhece. — saiu em alto e bom som.

— Porém está em minhas mãos até o meu plano dar certo, Drey. — nem sequer pareceu intimidado.

— Posso muito bem contar para a Catherine o que irá fazer. — ameacei.

Seu rosto se tornou vermelho e ele pegou-me pelo braço com força, empurrou-me na parede mais próxima da mesma maneira, tanto que senti a dor alcançar minhas costas.

— Se ousar abrir o bico não te deixarei em paz! — estava realmente zangado.

— Se parar com essas brincadeiras quem sabe tudo sairá como arquitetou, não é? — meu rosto estava impassível, mesmo que por dentro eu me sentia como uma criança assustada.

— Em troca espero que se comporte. — finalizou.

Realmente deu as costas depois e o vi ir em direção ao banheiro. Segui-o depois de um tempo, pensando que ia transar com alguma garota, mas o que vi me surpreendeu. Ele começou a chorar enquanto olhava para o celular e a minha reação foi sair de lá.

Sua expressão não saia da mente.

“Oi. Vai fazer o que no final de semana?” — Catherine.

Por que estava chorando?

O que faria o irritante, idiota, mulherengo e sem coração se debulhar em lágrimas? Será que me enganei esse tempo todo?

“Nada.” — Audrey.

Torcer para a minha mãe não sair para beber e pagar prostitutos vale?

“Então vamos em uma boate no sábado?” — Catherine.

Eu li direito?

O que eu respondo?

“Claro. Onde será?” — Audrey.

Pareço desesperada? Só que eu não poderia perder essa chance.

“Passarei para te buscar as oito. Sabia que pensei que nem ia aceitar?” — Catherine.

Evan passou pela porta com os olhos vermelhos e inchados, porém ninguém pareceu notar. A minha vontade era de perguntar o motivo para que tivesse reagido daquela maneira, todavia tinha a certeza de que nunca ia responder.

“Tem meu endereço? Por quê?” — Audrey.

Fitei o meu “amigo” e “parceiro” do lado negro descaradamente, era como se eu não conseguisse desviar. Presenciar aquela cena realmente me surpreendeu e me fez descobrir outro lado dele.

“Soube que vai sair sábado. Irei também.”— Logan.

Os boatos voam longe mesmo.

“Que bom.” — Audrey.

Não pensem besteira, apenas quis ser simpática.

Uma mensagem chegou, no entanto não era dele.

“Pois é bem quieta, imaginei que não gostasse de sair. Minha mãe sabe onde é a sua casa.” — Catherine.

No mesmo instante lembrei-me que as nossas famílias são amigas.

“Já fui em várias festas.” — Audrey.

Eu mentindo de novo.

As aulas começaram, o intervalo se iniciou comigo sozinha. A Cat infelizmente foi bombardeada de perguntas, porém mesmo assim pude vê-la subir no palco do pátio e pegar o microfone com firmeza.

Sua postura me deixou com inveja muitas vezes.

— Bom dia. Parem de falar que eu o Logan temos um caso, que vamos nos casar e moramos juntos, e muito menos que eu estou grávida. Nós somos apenas vizinhos e nunca chegamos a namorar, entre nós o que existe é só amizade. Os comentários que estão falando sobre nós são inadmissíveis e cruéis, por isso espero não ouvir mais nada sobre isso a partir de agora. — o tom alto e confiante.

Ela tem a minha admiração também.

— É tão utópica a teoria de vocês que nem tem razão para que ela continue. Por acaso já nos viram dando um beijo, de mãos dadas ou com o mesmo endereço? Além do mais, até o final das férias eu estava namorando a Margo. — defendeu-se o Smith.

— Só para não restar mais dúvidas eu vou postar um teste de gravidez no jornal da escola, mas ainda sim espero que nada mais seja falado sobre esse maldito assunto. — deu um ponto final a Lewis.

Quando a Catherine saiu daquele lugar e andou pela multidão algo muito surpreendente ocorreu. Simplesmente o Evan a pegou pela cintura e a beijou com rapidez.

Os alunos bateram palma pelo ato.

Pareceu corresponder no começo, ao ponto de eu ver, com meus próprios olhos, o Evil enfiar a língua dentro da boca dela, contudo logo resistiu e deu um forte tapa nele. Daqueles que doeram até em mim.

— Nunca mais faça isso. — gritou.

— Eu só estava te ajudando. — revidou.

— Vai a merda! — falou um palavrão e correu para outro lugar.

E o sorriso largo do Miller dizia tudo.

Tinha adorado enfezá-la.