Com Os Braços Bem Abertos escrita por FreudDepre


Capítulo 8
Pizza




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— Mãe tá aí?

— Foi ao salão... - responde Seo aparentemente intimidado.

 

O irmão dele, uma figura alta, de olhos mais puxados que o normal para um asiático; forte e com uma presença forte. Tão diferente de Seo que se ele não me avisasse, não poderia descobrir sozinho que são irmãos.

Ele então entra na casa e dá um pequeno empurrão com os ombros no irmão para abrir caminho. E então se aproxima de mim.

— Fala irmãozinho. Você também é daquela banda maluca do meu irmão? - Me questiona.

— Não. Somos colega de classe.

— Ah, sim. Fiquei sabendo daquele curso de... Programação, não é isso?

— Isso mesmo.

 

Ele então me analisa com um olhar de quem me acha suspeito, dá meia volta e vai em direção a geladeira.

— Mãe vai demorar? To morto de fome - reclama.

— Não faço ideia, mas pedi pizza. Deve chegar a qualquer momento - responde Seo.

Ele então abre a geladeira para fazer uma boquinha e faço contato visual com Seo. Ele não vai avisar que é perigoso comer a comida dali?

Seo então me confirma com um sorriso de canto de boca que não pretende avisá-lo sobre nada.

Ele fuça, fuça, fuça, e então tira uma geleia verde, na qual enfia seu dedo o mais fundo possível, e depois lambe.

Instaura-se um silêncio enquanto ele come. Eu não sabia o que fazer, e Seo estava claramente incomodado com a presença do irmão.

— Mas então... o que você veio fazer aqui, Ito? - finalmente Seo pergunta.

— O de sempre, irmãozinho. Atazanar a sua vida.

Seo fica mais tenso, quando Ito completa:

— Relaxa, Seo. Eu só preciso pegar um emprestado com a mãe.

A campainha então soa de novo. É finalmente a nossa pizza. Hisoba entra e também estranha a presença do irmão de Seo, figura que já conhece.

Sentamos os quatro em torno da mesa e comemos calados. Ninguém fala um "ai" que seja, mas o momento inevitável chega e acaba a comida.

— Bem... a mãe tá demorando demais. Avise que eu estive aqui, irmãozinho - fala Ito com uma cara de mal-estar.

— Pode deixar - responde Seo.

Ele então vai embora. Ficamos eu, Hisoba e o morador da casa. Automaticamente a atmosfera muda, e me sinto muito mais confortável.

— Vocês nunca terão uma relação amigável, né? - questiona Hisoba.

— Provavelmente ele não vai me perdoar. E eu nem quero, sinceramente. Não fiz nada de errado. - diz Seo.

Eu então fico sem entender nada, até que Hisoba olha pra Seo, e então olha pra mim.

— Bem, vamos contextualizar. - Hisoba.

— O Ito já pegou eu e o Seo nos beijando uma vez. - completou.

— E ele é uma pessoa extremamente intolerante. - emendou Seo.

— Ah, agora o clima que preenchera essa sala há poucos instantes faz algum sentido. - concluo.

Eles, então, passaram a tarde ensaiando enquanto eu percebia que era cada vez mais inútil continuar ali. Noto que o sol, que antes bastava para iluminar a casa, estava cada vez mais fraco. Decido então que é hora de ir.

— Eu vou indo, pessoal.

— Mas já? Espera a minha mãe voltar que a gente te leva de carro. - pede Seo.

— Não precisa. É bom que eu faço algum exercício físico. E está um clima agradável hoje.

— Bem, então eu te acompanho. Eu que te fiz vir, nada mais justo que te fazer companhia.  - fala Seo.

— Hisoba, eu já volto.

— Na verdade eu preciso ir também. Prometi à minha mãe que a ajudaria com a janta. - responde Hisoba.

— Bem, então vamos todos juntos. - diz Seo enquanto ri.

Estava, de fato, um clima bem agradável. Além do pôr-do-sol que ao pouco esmaecia a claridade da tarde, uma brisa - apesar de fraca - oferecia um vento gélido e confortante enquanto as árvores proporcionavam o agradável som de seus folhas em movimento.

Caminhávamos em silêncio. Apenas Seo assobiava bem baixinho. Hisoba sinalizou que precisava dobrar uma rua que não fazia parte do meu trajeto, e então se despediu de nós com um gesto de "logo mais".

Imediatamente após ficarmos sozinhos de novo, me lembrei de como Seo estava me tratando ao longo do dia, ele era uma pessoa que conseguia cativar aos outros de forma tão rápida.

Enquanto continuávamos pela rua, fiquei prestando atenção nele. Naquela expressão de sempre estar de bem com a vida. Com aqueles assobios. Takeshi tinha todo direito de estar afim de uma pessoa como ele. E foi aí que lembrei que eu poderia agir como cupido.

Era o momento ideal, mas algo dentro de mim disse para eu não fazê-lo. Eu não sabia o porquê. Mas esse mesmo "algo" interno também me dizia que não era por me preocupar com as consequências as quais eu poderia submeter meu irmão. Mas, sim, por mim. Eu não tinha vontade de sair com Seo ou algo do tipo, mas estava tomado pelo sentimento de naquele instante continuássemos só nós dois naquela rua, naquele fim de tarde, naquele clima agradável.

 Ele então dá um sorriso de canto de boca, e me fita com os olhos.

— Sabe, Rino. Eu sei que pode não dar em nada, mas já apanhei muito da vida por guardar os meus sentimentos pra mim. Eu preciso te confessar uma coisa.

— Como assim? - respondo com o coração acelerado.

— O seu irmão... ele é gay?

Fico surpreso, apesar de ter imaginado um número infinito de coisas que ele poderia ter dito naquele momento, e nenhuma dessas coisas eram, de fato, o que ele perguntou.

— Nessa nossa longa jornada sendo irmãos, até onde sei, não. - respondo, com receio de comprometer Takeshi.

— Ah, tudo bem. É muito provável que não seja. Ele deve ser muito popular com as mulheres, não é mesmo?

— É um tópico que ainda não tive oportunidade de conversar com ele, e nunca me contou sobre nenhuma namorada. Mas eu acredito que seja, sim. - devolvo.

O silêncio volta a preencher nossa caminhada. Dessa vez, ao invés de assobiar, ele soprava lentamente para ver a fumaça que se formava. Seo, era com toda certeza, uma pessoa que não conseguia ficar parada.

— Dias como esse me trazem uma plenitude indescritível, Rino.

— Como assim? - indago.

— Não sei. Não consigo explicar. Sou uma pessoa que tem uma família que pode me dar as melhores oportunidades do mundo, mas parece que nada disso realmente importa. Essas coisas, esses objetivos nunca me fizeram me sentir realmente completo. Agora, algo simples como isso, uma caminhada tranquila no fim da tarde com esse vento fresco me trazem uma satisfação que eu não consigo explicar.

Eu sinto, então, um aperto no coração. Tínhamos tanto em comum e eu acabara de me identificar com o que ele estava sentindo. Quando menos percebi, estava com um sorriso bobo no rosto.

— O que foi, Rino?

— O que foi o quê? - questiono.

— Esse sorriso bobo no seu rosto.

— Não vai dizer que está admirando essa bela face que eu tenho... - brinca.

Ele, por alguma razão, conseguira me deixar nervoso com aquele comentário. Antes que fizesse qualquer outro comentário, sem nem ao menos perceber, contei.

— O Takeshi gosta de você, Seo.


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Notas finais do capítulo

Eu sonhei com algo que acontece nessa fic hoje, e então lembrei que ela estava, infelizmente, abandonada aqui. Me descupem. O TCC está me matando. Mas me dediquei a escrever um capítulo hoje, e pretendo não prolongá-la como eu planejada inicialmente. A terminarei quando possível, sem comprometer tudo que já foi apresentado no universo dessa história.



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