Dias e noites em uma pousada no sul escrita por 0 Ilimitado


Capítulo 1
Ato 1 - Sol zero


Notas iniciais do capítulo

O início, como já diz o título. Espero que gostem.



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A minha vida sempre se comparou ao ir e vir do Sol e da Lua, ao cair da noite e ao erguer-se de um novo dia. Sempre me questionei se essa montanha russa de sentimentos consistia com a realidade do mundo inteiro. Descobri com acontecimentos futuros que a cura para todos os males é libertar-se das correntes truculentas que regem o cotidiano e as mesmas pessoas, com os mesmos termos que não querem dizer nada. Apenas: “Vá com Deus – e não volte mais”.
Meus pais organizavam uma viagem para Praia Grande, e diante a conta bancária, decidimos ir para um hotel fazenda.
Sou um daqueles garotos que quer dormir no carnaval. Não espera muito do natal, se intriga e se desanima com o despeito dos outros. Há quem diga que sou um garoto intelectual, e isso infla meu ego, demorei perceber que ninguém sobrevivi sozinho, e que duas bocas são melhores que uma.
Primeiro, para formar a imagem na sua cabeça, seguindo o velho clichê daqueles escritores que não querem ficar criando situações para se autodescreverem, vou direto ao ponto: Loiro, com olhos verdes, um corpo que beira o atlético ao obeso, escondo minhas bainhas e as minhas praias com roupas que esculpem um corpo fictício.
Confesso que comemorei quando meus pais decidiram ir por outro percurso, mostrar o meu corpo sempre foi um pesar. Todavia, contradizendo o esperado e o óbvio, quatro dias se resumiram em um divisor de águas. Remoí vergonha, carisma, prazer e pretensão em um liquidificador da minha própria existência.
Sabe aquela história de destino, sempre vi como baboseira. Relacionamentos adolescentes premeditados a ruína, sempre vendo parceiros de jornada arquitetando o mesmo sepulcro no preciso fim.
Talvez, eu admita, durante este testemunho, que no estado verídico, o meu sentimento quanto ao apego era inveja. Sempre desdenhei o amor adolescente. Tomei um tabefe da vida, que me entregou em uma bandeja prateada o coração fiel, torturado por devaneios tolos por um outro alguém que preferiu a perdição, de uma mulher com o elixir da longa vida grafado na face, coibindo para destruir o meu orgulho.
A sensação que tive enquanto hibernava encostado na janela do carro, foi nula, pois sem expectativas, qual a motivação? Sem planos. Minha feição se assemelhava ao insano se dirigindo ao manicômio tendo a medíocre certeza que a grama não mudaria da cor marrom-barro.
Vi indústrias, fumaça e poluição moral, matinal e perpétua. Vi a beleza entre as árvores, e o girassol transformando raios solares em adubo. O dinamismo no céu, nuvens sendo confundidas com células, em uma guerra silenciosa e sutil. Apoptose nuclear (ou celestial).
Ri poucas vezes, mantive a perplexidade em meus dentes brancos, e fui aos poucos terceirizando minha libertação ao destino, ganhando aspecto de vendaval na mancha branca e profunda feita pela pasta que usei logo após o café.
Minha família sempre foi muito unida. Sabe qual a sensação de ser a ovelha negra, a gota mais pesada em uma evaporação? Uma vontade inigualável e súbita de se esconder por detrás de cobertores? Ahh, sim, sem explicação me sentia assim. Conforme o tempo passa, e os dedos se enrugam, o nexo vai se tornando um antídoto estranho e intragável ou tão fétido, que beira o inaceitável.
Uma irmã, um pai e uma mãe. Moldes brasileiros.
Não sei se tardou chegarmos, ou foi em um piscar de olhos, quando abri “A Divina Comédia” e deixei Pedra Letícia tocar, o mundo danou-se e havia apenas a minha consciência em contato íntimo com as galáxias regendo orquestras planetárias.
Foi neste dia que a vi pela primeira vez. Ohh, a janela do carro serviu como prisma, e na cor púrpura, estava ela, comparada as ninfas de outrora que se camuflavam entre os cabelos de Gaia esperando Zeus e seu coração valente e infiel.


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