Wings escrita por Virginia Salles


Capítulo 6
Capítulo 5 - Contando minha história


Notas iniciais do capítulo

Oi gente. Desculpe-me pela demora. Passei mal esses dias e continuo passando, mas eu tinha que vir aqui escrever um pouquinho.
Descobri que passando mal, eu fico com criatividade, aí eu escrevi uma one shot. Gostaria que quem pudesse desse uma lidinha lá:
Cardiopatia congênita - One shot (http://fanfiction.com.br/historia/578137)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/571123/chapter/6

– O que você pensa que está fazendo aqui? - foi a primeira coisa que eu disse ao olhar com nojo para ele.

– Ô bebê. não vai me convidar para entrar na casa do seu namorado ?

Então uma onda de raiva me atravessou.

– Você não faz parte da minha vida mais. Saia daqui agora. AGORA!

Tentei bater a porta, mas ele colocou o pé na frente.

– Te esperei no restaurante hoje, mas foi uma loira aguada que cantou hoje. Você estava fugindo de mim, Julieta?

– Como você chegou aqui? O que você quer?

– Seu namorado estava lá. Eu simplesmente o segui - Ele disse dando de ombros. - E o que eu quero ? Não é óbvio? Você me pertence Julieta. Suas asas me pertencem Julieta. Quero que você venha para casa comigo. Eu não terminei com você.

– Você me expulsou, seu desgraçado. Você não merece que eu o chame de pai.

– Ju?

Ouvi a voz de Gustavo atrás de mim, e minha postura ficou tensa. Ele parou atrás de mim e num só olhar reparou em tudo. O pote de sorvete caído no chão, minhas mãos em punho, meus olhos com lágrimas e meu ex-pai parado com cara de deboche.

Ele colocou as mãos nos meus ombros.

– Boa noite, senhor. Te conheço?

– Sou Carlos. O pai de Julieta.

– Ex-pai. - eu cuspi.

Ele estendeu a mão para Gustavo que não a segurou.

– Eu sugiro que o senhor vá embora.

– E eu gostaria de falar com minha filha sozinho.

– EU NÃO QUERO FALAR COM VOCÊ, NÃO ENTENDEU? VÁ EMBORA! - eu gritei com as lágrimas já descendo. Gustavo me abraçou e me pôs atrás dele.

– Vá embora senhor Carlos. Ou eu vou tomar algumas providências.

Ouvi a risada dele, e ele disse antes de eu ouvir ele se afastar:

– Você sabe que isso não acabou Juju. Se você acha isso, você está tremendamente enganada.

Gustavo fechou a porta e virando-se me apertou contra o peito dele enquanto eu chorava. Aproveitei para chorar muito, pois eu não tinha um porto seguro assim fazia tempo.

Gustavo me levou para a sala, e ficou me abraçando no sofá até eu me acalmar. Quando eu levantei meu rosto para ele, ele tinha uma ruga de preocupação entre os olhos. Ele passou os dedos nas minhas bochechas, enxugando minhas lágrimas.

– Tudo bem, Ruiva ?

Eu só assenti.

– Quer falar sobre isso? Não precisa ser agora, mas saiba que eu tô aqui.

Parei para pensar que eu guardava o meu segredo por muito tempo. Carlos me ensinou isso, e minha mãe também falava que era pra eu contar a alguém de confiança no futuro. Gustavo era de confiança certo? Ele tinha se provado de confiança. E ele havia me contado a história dele. Estava na hora de eu contar a minha.

Olhando nos olhos dele eu disse:

– Gustavo, minha história não é bonita. Eu nunca contei à ninguém,mas... eu quero te contar sobre ela agora. Sei que você deve estar confuso e eu quero esclarecer tudo, mas você deve me prometer que não contará para ninguém.

Ele percebeu a minha seriedade, e sentou direito no sofá. Assentindo ele disse:

– Eu não só prometo Julieta, como eu também juro carregar seu segredo comigo.

E foi assim que eu soltei minha história.

– Eu disse que eu era órfã, mas aquele na porta era meu pai. Ex-pai, na verdade. Meu pai era cientista e minha mãe artista. Eles se conheceram aqui na cidade, mas minha mãe era uma amante declarada da natureza. Ela pintava isso nas telas dela.

Olhei para Gustavo para ver se ele estava ouvindo direitinho. A atenção dele estava toda em mim. Ele assentiu me estimulando a prosseguir.

– Eles se casaram e meu pai concordou em se mudar para o sítio. Minha mãe era feliz, meu pai nem tanto. Minha mãe ficou grávida, e ele a fez assinar um contrato, que depois ela soube que era a autorização para ele fazer experimentos comigo assim que eu nascesse. Minha mãe não teve escolha. Ele a forçou. Quando eu nasci, minha mãe tentou fugir comigo. Não deu certo. Ele nos levou de volta ao sítio.

"Eu fui crescendo e ele sempre injetava algo em mim. Duas vezes ao dia. Quando eu fiz dois anos, eu senti um calombo nas minhas costas e ele parou de injetar o que quer que seja e parecia extremamente satisfeito. Mamãe me mostrou o que era. Eram calombos que faziam o desenho de duas asas nas minhas costas."

Parei para ver se ele assimilava, e ele parecia assombrado e um pouco incrédulo também. Virei de costas para que ele pudesse ver as marcas, aproveitando que eu estava com um top por baixo da blusa, tirei-a para ele ver. Corei um pouco pela intimidade de tudo isso. Senti ele colocar as mãos nas marcas e me contraí toda, ficando tensa de repente. Mas era o Gustavo, certo? Relaxei e de costas terminei de contar a história.

– Nada aconteceu até eu ter três anos. Meu pai estava frustrado. Teve um dia em que eu brincava e senti uma dor forte na parte de trás das costas. Caí no chão e comecei a gritar. Minha mãe veio correndo mas meu pai barrou-a. Eu gritava por socorro, mas ele não me ajudava. Algo estava rasgando minhas costas, e ele ficava parado. Quando ele me levantou, senti um peso incomum nas costas e virando para trás percebi que tinha duas asas em mim. Olhei para eles tentando entender, mas a única coisa que meu pai disse foi "Ciência, Juju".

"Ele me fazia colocá-las para fora todo dia. Não doía tanto assim depois de ter acostumado. Ele fazia testes. Arrancava as penas. Eu estava cansada de tudo aquilo, mas eu tinha minha mãe. Ela realmente me amava, e me ajudava a suportar tudo aquilo. A gente cozinhava, pintava, cantava e ria. A gente ia vivendo aos pouquinhos. "

Nesse ponto, as lágrimas começaram a descer dos meus olhos.

– Quando eu tinha 13 anos, meu pai foi ao meu quarto no meio da noite e disse que minha mãe havia sofrido um acidente ao tentar fugir do sítio, e que ela não havia sobrevivido. Que era para eu ter tomado isso como exemplo. Nos primeiros dias eu apenas chorei, mas depois eu descobri que ela estava guardando uns papéis. Ela estava tentando nos fazer sair de lá judicialmente. E na noite do acidente ela iria se encontrar com um advogado.

" Um ano depois, meu pai se casou novamente e teve outra filha, Melany. Ele deve ter uns 4 anos agora. A mãe de Melany é cientista também. Eles estavam esperando eu completar meus 18 anos para me mostrar ao mundo. Depois de fazer 18 anos, eles fizeram vários preparativos mas eu discuti com meu pai um dia. Ele me xingou, xingou minha mãe. E como um furacão, entrei correndo em casa, coloquei algumas coisas na minha mochila, abri as asas e saí voando do sítio. Foi naquele dia que eu acabei ficando na frente do seu carro e aqui estamos hoje."

Me virei para ver a reação de Gustavo, e ele ainda tinha o olhar incrédulo no rosto. A mão dele estava estendida como se ainda estivesse tocando minhas costas. Ele olhou para o meu rosto, e enxugou minhas lágrimas de novo antes de dar uma risada nervosa.

– Julieta, assim. Asas? Isso é impossível, sabe?Tipo, eu...

Ele foi ficando mudo. Até eu ficaria mudo. Esse foi o exato momento que eu escolhi para abrir as asas. Elas foram se avolumando atrás de mim, e o queixo de Gustavo foi caindo.

O processo de abertura das asas é limpo, os "calombos" vão crescendo mais um pouco e de repente as asas irrompem da minha pele. Antes doía, porque afinal, elas saem da pele, mas agora a dor não passa de um leve comichão.

Quando elas terminaram de abrir, alcançando o comprimento dos meus braços abertos, eu olhei para Gustavo esperando uma resposta. Como ele não deu nenhuma, eu disse rindo nervosamente:

– Sabe, você pode deixar uma garota chateada sem dar uma resposta.

Ele riu e disse:

– Agora eu tenho meu próprio anjo particular Julieta. Me deixa curtir o momento.

Eu ri e ele foi passando as mãos pelas penas. Eu sentia tudo, ao passar as mãos nas asas é como se passasse pela minha pele. Fechei os olhos, e ele riu sem conseguir se controlar.

– O quê? - perguntei abrindo os olhos

– No dia que eu te atropelei, eu vi uma coisa branca na estrada. Agora tenho certeza que eu não estava doido.

Ele me abraçou do jeito que ele conseguiu e eu passei minhas asas ao redor dele formando um casulo.

Beijando o topo da minha cabeça ele disse:

– Agora eu vou cuidar de você Anjo. Nada vai acontecer contigo, porque eu vou estar com você.

E eu acreditei, porque naquele exato momento, eu me senti completamente segura.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E então? O que acharam da história da Ju?



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Wings" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.