Draw With Me escrita por Nightnyu


Capítulo 1
Capítulo Único




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/57106/chapter/1

O vento frio da noite sacudia seus longos cabelos prateados. O olhar seco dirigido àquela superfície brilhante demonstrava que algo o incomodava. Em alguns mundos, limites não existiam. Mas naquele existia. Uma estranha e brilhante parede de vidro separava o mundo em dois. Em cada metade, havia seres diferentes. Seres que nem milhões de anos poderiam fazer com que se unissem. Pelo medo do desconhecido, ninguém se aproximava daquela parede. Mas ele se aproximava, tanto que seus longos e pálidos dedos percorriam suavemente a superfície lisa do vidro, que mais parecia um fino gelo.


– Parece tão frágil... – Sussurrou. – Por que eu não posso quebrá-lo? – Por fim, rendeu-se ao cansaço e se sentou, apoiando as costas na superfície fria. Em questão de minutos, já havia entrado em um leve sonho.


O sonho não demorou muito. Teve um final infeliz. Seus olhos se abriram rapidamente. Ao contemplar o vazio e o silêncio, acalmou-se. Mas, pelo canto do olho esquerdo, pode ver algo incomum. Algo além do vidro. Virou o rosto lentamente, como se estivesse com medo do que poderia encontrar. E, mesmo tomando essa precaução, se assustou. Era uma criatura não tão diferente dele. De cara, percebeu que se tratava de uma garota.


– ... – Os lábios da jovem se mexeram, como se ela estivesse falando algo. Mas ele não conseguia ouvir nenhum som, mesmo sabendo que possuía incríveis orelhas.

– Não consigo ouvir... – Disse em voz alta. Observou que a garota havia feito a mesma expressão facial que ele. Ela também não havia escutado nada.


Naquele momento, os dois puderam analisar um ao outro melhor. O garoto, alto e pálido, possuía longos cabelos prateados e brilhantes, que escondia parcialmente seus olhos âmbares. A garota, baixa e levemente corada, também possuía longos cabelos, só que pretos, e deixavam bem a vista seus grandes olhos azuis. Ficaram vários minutos se observando, até que ele percebeu um leve sorriso aparecer no rosto da jovem. Em seguida, ela retirou o que parecia ser uma canetinha azul do bolso da calça.


– ''O que será que ela vai fazer...?'' – O jovem pensou. Estava intrigado com a presença daquela garota.


A garota encostou a ponta da canetinha na superfície do vidro e começou a escrever de trás para frente, para que ele pudesse ler.


– ''... Entende a minha língua?'' – Era o que estava escrito. O dono dos cabelos prateados se surpreendeu por dois motivos. Primeiro, a ideia dela foi genial. Segundo, a língua que ela falava era a mesma que a dele. Procurou, um pouco nervoso, uma caneta ou algo semelhante. Conseguiu achar um potinho com tinta que pertencia a seu pequeno irmão. Era o suficiente para escrever. Sentando-se de frente para a jovem, ele mergulhou o dedo indicador direito na tinta e o deslizou pelo vidro, formando letras.

– ''Sim... qual é o seu nome?'' – A jovem abriu um lindo sorriso. Estava feliz por ter encontrado alguém para conversar.

– ''Kagome. E o seu?'' – Kagome... nunca havia visto uma garota com aquele nome onde morava.

– ''Inuyasha.'' – Ele abriu um leve sorriso ao ver a garota tentando pronunciar o seu nome. Pelo jeito, ela nunca havia visto um nome como aquele, também.

– ''Bonito nome, soa engraçado.'' – Inuyasha manteu o seu sorriso.

– ''Como é aí do outro lado?'' – Ele tinha que fazer aquela pergunta. Era uma de suas maiores curiosidades, se não, a maior. Percebeu que a garota fechou um pouco os olhos e mordeu levemente os seus lábios. Será que havia feito uma pergunta ruim? De repente, ela começou a escrever.

– ''... Solitário...'' – Ele se surpreendeu. Onde ele morava, não era solitário. Mas ele se sentia solitário. Era o mesmo com ela ou Kagome estava realmente definindo o lugar?

– ''Por que? Não tem muitas pessoas?'' – Perguntou um pouco receoso.

– ''Tem sim, claro. Mas eu me sinto assim, apesar de tantas pessoas.'' – Kagome escreveu a última letra meio tremida, e Inuyasha não respondeu. Ela estava da mesma forma que ele, e isso foi realmente um choque para o jovem. Ficaram ambos em silêncio por vários minutos, talvez até horas... Até que Kagome começou a fazer alguns traços aleatórios no vidro, revelando um desenho. Ela tinha desenhado ela mesma, só que em uma versão menor e mais fofa. Inuyasha não entendeu. Logo, ela escreveu embaixo.

– ''Sabe desenhar?'' – Ele sorriu. Há quanto tempo não desenhava? Resolveu tentar. Desenhou a si mesmo. Uma versão fofa, igual a que a jovem havia feito, só que não tão bonito como o desenho dela. Ele se sentiu frustrado.

– ''Não ficou bom...'' – Ele lamentou, um tanto sem graça.

– ''Está tudo bem, vamos continuar.'' – Ela sorriu e continuou a desenhar. Inuyasha se sentiu motivado, e a acompanhou.


O tempo corria de forma mágica enquanto os jovens desenhavam naquele grande vidro. Faziam histórias, desenhos aleatórios, caricaturas, desenhavam as coisas e alimentos que gostavam e apresentavam um pouco do ''seu mundo'' um ao outro. Em pouco tempo, já estavam unidos por um laço desconhecido. A companhia um do outro havia diminuído a solidão em seus corações, e isso era refletido nos olhos, que buscavam sempre ansiosamente pelo olhar do outro, através do vidro. Até que Kagome parou de desenhar e abaixou um pouco a cabeça. Inuyasha também parou, e ficou observando-a, esperando que ela lhe dissesse o que havia acontecido. Ela encarou os olhos âmbares do jovem e colocou uma das mãos sobre a superfície do espelho. Depois de alguns segundos, começou a escrever com a mão livre.


– ''É frio...'' – Inuyasha entendeu o que ela quis dizer, e colocou uma das mãos sobre a mão dela, como se quisesse tocá-la, em vão.

– ''Tem razão...'' – E suspirou pesadamente.

– ''Pena que não tem como atravessar... certo?'' – Inuyasha, após ler o que Kagome havia escrito, sentiu uma pontada em seu peito, uma mistura de tristeza e raiva. Por que? Por que eles tinham que ficar separados por aquele vidro imbecil?


No auge da raiva, Inuyasha tomou uma decisão drástica: Ia tentar quebrar aquele vidro. Se levantou de repente, assustando Kagome, e começou a socar aquela superfície maldita com toda a força que tinha. Kagome, desesperada, tentava pará-lo, gritando do outro lado, em vão, já que ele nunca poderia ouví-la. Depois de alguns segundos, o vidro começou a rachar na área onde Inuyasha socava, para a surpresa de ambos. Isso só fez com que o jovem se empenhasse mais em distribuir socos naquele local. Enfim, o vidro acabou quebrando, mas o efeito não foi o que eles esperavam. Inuyasha conseguiu fazer um buraco no vidro, mas uma força desconhecida fez com que o braço direito dele fosse destruído, deixando apenas gotas de sangue atravessarem e sujarem as pequenas mãos de Kagome. Naquele momento, tudo que ela pôde fazer foi chorar.


––––––––––––


Inuyasha já havia saído do hospital, se recuperou, mas o seu braço direito jamais voltaria. Depois daquele incidente, não havia mais ido ao local onde encontrou Kagome. Depois de algumas semanas, não aguentava mais ficar longe dela, e resolveu ir até a parede de vidro. Será que ela ainda estaria lá depois de todo aquele tempo? A última coisa que ele viu foi aqueles belos olhos azuis derramando copiosas lágrimas, algo que ele não queria ver novamente. Ao se aproximar, viu uma garota sentada de costas para o vidro, abaixo do local onde ele havia feito o buraco. Era Kagome. O vidro já havia se recuperado, era como se nada houvesse acontecido. Respirou fundo, estava feliz e ao mesmo tempo triste. Se aproximou, e Kagome sentiu, de forma que se virou no exato momento em que Inuyasha parou próximo dela. Ela fitou os brilhantes olhos do jovem, e logo sua visão se focou no local onde deveria estar o braço direito dele. Inuyasha ficou levemente corado com aquilo. Havia feito uma besteira... talvez.


– ''Pode desenhar?'' – Kagome escreveu no vidro. Inuyasha balançou a cabeça negativamente, e apontou com os olhos para o braço direito.

– ''Tenho um presente para você.'' – Presente? Como ela entregaria algum presente se eles estavam separados? Mas ela continuou. – ''Antes do vidro voltar ao normal, eu consegui fazer com que uma caixa o atravessasse e chegasse até aí.'' – Inuyasha olhou atentamente em volta e viu uma caixa de papelão no chão, próxima a ele.

Realmente, a caixa havia atravessado sem problemas pelo vidro. Ao abrir a caixa, Inuyasha arregalou os olhos e, antes que percebesse, havia começado a chorar. Dentro da caixa, havia um braço direito igual ao seu feito de um material desconhecido e uma canetinha. Ao olhar para Kagome, percebeu que ela havia escrito algo novo, enquanto sorria.


– ''Desenhe comigo...'' – Inuyasha sorriu, ainda com as lágrimas escorrendo pelo seu pálido rosto.


E assim permaneceram aqueles dois jovens. Dois amantes separados por um vidro, duas almas que jamais poderiam se encontrar. Mesmo que nunca houvesse contato entre eles, a conexão que os desenhos e palavras proporcionavam seriam eternos, e aquele amor nunca seria apagado, pois aquele vidro, jamais seria destruído.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Draw With Me" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.