Assim que começou a ouvir vozes no corredor, K. se levantou e gritou para que alguém nos tirasse de lá, me acordando ao fazer isso. Fomos libertados por Yoon-ssi, que assustou-se ao ver nós dois trancados em um depósito, mas K. havida dito que mais tarde explicaria a história toda, mas que agora eu e ele precisávamos ir pra casa, e eu merecia um dia de folga. Ah, e que eu havia sido re-contratada.

Antes que eu pudesse pegar um táxi para casa, K. me puxou e perguntou se tinha algum jeito de eu mandar o instrumental da música para ele ainda naquele dia. Eu tocava piano relativamente bem e tínhamos um teclado em casa, então concordei em gravar a melodia e mandar para ele por e-mail até o final do dia.

Quando cheguei em casa, Ha Eun estava desesperada, dizendo que se tivesse passado mais uma hora, ela iria ligar para a polícia. Quando expliquei o que havia acontecido, ela surtou, mas de um jeito bom. Eu disse a ela que precisava descansar e subi para o meu quarto.

Tomei um banho, que me ajudou a acordar totalmente, e fui direto para o teclado. Fazia mais de seis anos que eu havia escrito aquela música, mas ela ecoava na minha cabeça como se tivesse sido há alguns dias. Com a melodia em mente, meus dedos praticamente se moveram sozinhos sobre as teclas do teclado, e assim que achei que o instrumental estava bom o suficiente, gravei-o no meu computador e mandei o áudio por e-mail para K.

Passei o resto do dia assistindo dramas e à nova temporada de "K-Pop Star", lembrando-me dos alunos da Sorin Art School. Certamente havia alunos tão talentosos quanto a Esther Kim e a Lee Jin Ah naquela escola, e tão divertidos quanto a Seo Ye Ahn naquela escola... Seria uma pena desperdiçar o talento deles só por causa da situação financeira do colégio.

–

Na manhã seguinte, acordei no horário normal e fui para o trabalho. Era estranho pensar que até o dia anterior eu estava pensando que minha vida e meu emprego haviam ido por água abaixo.

Quando cheguei na Gumiho, uma garota do staff me informou que os meninos estavam no estúdio de gravação no quarto andar. Eu nunca havia ido lá, mas não foi difícil encontrar a sala: havia uma enorme janela de vidro que dava para o corredor, e era definitivamente a maior sala do andar.

Lá dentro, encontrei K., Min Soo e Jonghyun sentados em sofás cinza ao redor de uma mesa, jogando conversa fora. Eles pararam de conversar no momento que eu entrei, quando Jonghyun desviou o olhar e K. abriu um largo sorriso.

– Aí está você! - exclamou K., levantando-se - Senta aí, você precisa ouvir uma coisa.

Confusa, sentei-me no sofá que estava vazio, e ele foi até uma mesa de mixagem que havia em frente a um cubículo de vidro. Após clicar em algumas coisas em um laptop, ele se afastou com um sorriso malicioso e a música começou a tocar.

Fiquei pasma. Era a mesma melodia que eu havia mandado para ele, mas em vez do meu simples teclado, ela estava totalmente remixada, com uma batida incrível e efeitos que a deixavam totalmente profissional. Meu sonho nunca havia parecido tão real.

– Como você fez isso? - exclamei.

– Sendo incrível. - ele respondeu e riu de leve - Estávamos esperando você chegar pra começar a gravar as vozes, queríamos saber se você gostou da nova versão.

– Se eu gostei? Eu amei! - exclamei.

– Ótimo, então podemos começar. Jonghyun, pode ir lá, o primeiro verso é seu.

Assim que K. disse isso, a porta se abriu e Fox entrou com Yoon-ssi a seu lado.

– Você voltou! - ele exclamou ao me ver.

– Sim, o K. cancelou minha demissão. - sorri.

– Noona, você não vai acreditar. Eu estava falando com o Yoon-ssi e conseguimos organizar um show beneficente na Sorin pra arrecadar fundos pra escola! Parece que os alunos vão fazer uma espécie de prova e os que tirarem as notas mais altas vão se apresentar.

– Que demais! - respondi.

– Muito legal, não é? Vai ser um jeito de mostrar pra todo mundo que os alunos da Sorin ainda são os melhores artistas.

– Espera, a Sorin Art School, nossa escola? - perguntou Min Soo e assentimos - Ela está caindo aos pedaços, não está?

– Sim, por isso estamos pensando em formas de salvar a escola. - respondeu Fox.

– Não acho que um simples show beneficente vai dar conta do recado.

– Pelo menos estamos tentando. - Fox pareceu estar começando a ficar irritado.

– Desculpa, Maknae, mas acho que o Hyung tem razão. - disse K. e Fox virou-se para ele - Mas, acho que tive uma ideia pra salvar a escola. - ele olhou para mim com um sorriso malicioso. Para mim? Por que para mim? O que eu tinha a ver com isso? - E se... Nós lançarmos "Mine" como um pre-release que os fãs possam comprar online, e todo o dinheiro que arrecadarmos com ela for pra escola?

Meu queixo caiu. Minha música ajudando a salvar a Sorin?

– Isso seria incrível! E como as pessoas sempre podem comprar, o dinheiro entraria pra sempre nos cofres da escola! Será que é possível fazermos isso, Yoon-ssi?

Ele pareceu ponderar por um momento, então respondeu:

– Acho que seria possível sim. Mas vamos ter que investir massivamente nas promoções desse pre-release pra que ele venda tanto quanto estamos esperando. E as coisas vão ter que mudar um pouco naquela escola. Não podemos investir tão massivamente assim e deixar que eles administrem o dinheiro como bem entenderem. Vou marcar uma reunião com o diretor Lee para discutirmos uma possível parceria da Gumiho com a Sorin. Na verdade, vou fazer isso agora mesmo. Vocês podem continuar com as gravações. - ele se curvou e se retirou da sala.

Eu e Fox estávamos sorrindo de orelha a orelha. K. riu de leve e virou-se para a mesa de mixagem.

– Está pronto, Jonggie?

– Sim.

E Jonghyun cantou com sua voz maravilhosa o primeiro verso da música:

"It's early in the morning

Your steps you keep counting

Dodging all raindrops,

One by one"

Eu não podia acreditar que aquela música, a minha música estava sendo cantada pela doce voz de um dos meus maiores ídolos. Quase tive que me beliscar para acreditar que não estava sonhando.

K. pediu para que ele repetisse o verso focando mais na última frase, mas para mim estava perfeito desde o começo.

– O K. está diferente, não acha? - perguntou Fox - O que você fez pra ele te contratar de volta?

– Ah, eu beijei ele. - respondi, distraída.

Fox arregalou os olhos, parecendo ter sido pego de surpresa.

– Você... Beijou ele?

– É, eu estava com raiva. Mas, sinceramente, acho que nada teria mudado se eu não tivesse admitido que tinha escrito "Mine".

– Ah, entendi. - mas ele não parecia ter entendido. Na verdade, parecia ter ficado bem triste de repente, e não disse mais nada.

– Isso! Essa ficou perfeita! - exclamou K., de repente - Hyung, sua vez. Vamos gravar na ordem dos versos em vez de gravar todas as partes de cada um de uma vez.

Min Soo assentiu e tomou o lugar de Jonghyun no cubículo de vidro. Jonghyun voltou aos sofás, mas fez questão de se sentar no que estava mais distante de mim.

E então, o príncipe de gelo cantou seu verso com sua voz angelical:

"You're checking your phone again

Tapping your foot in vain

Is it so hard to say

You wish I was there?"

Ele regravou o verso duas vezes até que K. dissesse que estava bom, mas parecia ter algo errado. Algo que estava estranho desde a gravação de Jonghyun, mas que eu não havia percebido porque estava distraída conversando com Fox. K. pareceu reparar também, e virou-se para nós.

– Tem alguma coisa estranha, não tem?

– Tem. - respondi - Mas não sei o que é.

– É porque é um dueto. - respondeu Min Soo, tirando seus headphones. Ele olhou para mim - É um dueto, não é?

Engoli em seco. A verdade é que eu, na flor da minha adolescência, na época em que passava a maior parte do tempo lendo fanfics sobre o Shortcut e criando cenários imaginários que nunca iriam acontecer, havia escrito a música para que um dia eu a cantasse com K. Eu não havia dito isso na carta porque desde aquela época não queria que ele me achasse idiota, não queria que ele achasse que eu fosse mais uma fã qualquer, então era óbvio que ele não sabia disso esse tempo todo.

– É. - admiti, corando. A compreensão pareceu passar pelo rosto de K. e ele também corou, virando-se rapidamente para Min Soo para que eu não visse.

– É por isso que está estranho. A música foi feita pra ser cantada por um garoto e uma garota, não por um grupo masculino. Isso não vai dar certo. - ele pendurou os headphones no suporte e saiu do cubículo.

– Acho que vamos ter que achar uma garota pra cantar com o K., então. - concluiu Fox.

Era óbvio que K. seria escolhido para fazer o vocal masculino da música, afinal ele era o melhor cantor do Shortcut. Mas quem faria o vocal feminino?

K. suspirou e levantou-se.

– Vou conversar sobre isso com o Yoon-ssi. Vocês podem ir praticar a coreografia ou algo do tipo até eu voltar. - ele se retirou da sala antes que pudéssemos dizer qualquer coisa.