Heath Sparks escrita por ornitorrinca


Capítulo 5
God save the queen - pt 1


Notas iniciais do capítulo

Finalmente! Desculpem por fazê-los esperar tanto, ainda estou me acostumando com umas mudanças no cotidiano. O capítulo está curtinho, mas prometo compensar no próximo.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/570820/chapter/5

Isaac vagava taciturno pelos corredores extensos da mansão, trazendo numa bandeja o café da manhã: torradas frias e um copo de suco de laranja. No canto, dois comprimidos brancos.

O rapaz abriu a porta com o ombro e se deparou com a visão que o atormentava há algum tempo.

Um corpo debilitado, forrado de lençóis e travesseiros repousava sobre a cama de dossel – desnecessariamente espaçosa. O cabelo começava a rarear, e as rugas se acentuavam a cada dia que passava. Estava magro e pálido; o pijama desbotado caia como uma tenda sobre si. Os olhos estavam fechados, mas ele não dormia.

— Eu trouxe o café. – anunciou Isaac enquanto repousava delicadamente a bandeja à beira da cama.

— Heath? – perguntou o enfermo, a voz rouca não passando de um sussurro.

— Isaac. – suspirou o rapaz.

— Ah, meu garoto.- O homem abriu os olhos debilmente. - Não estou com fome...

— O senhor não come direito há dias. Tome pelo menos o suco.

— Tudo bem. - o homem tateou a bandeja em busca do copo até derrubá-lo. Isaac suspirou novamente. – Mas não quero os comprimidos.

— O senhor tem que tomar – Isaac falou firmemente. – Eles vão o ajudar a se sentir melhor.

— Não vão me ajudar, Isaac. Ninguém pode me ajudar...

— Por favor, tome. Por favor...

— Não quero... Sinto muito. - lágrimas irromperam em seus olhos. - Eu sinto muito, Heath...

As lágrimas rolavam pelas feições maltratadas, correndo como um rio pelo vale de rugas que não estavam ali há alguns meses atrás, e culminavam em um pranto desesperado, suplicante. O homem escondia o rosto nas mãos, envergonhado por fazer Isaac vê-lo assim. Este, por sua vez, não fazia nada além de olhar para o chão, os braços trêmulos, usualmente cruzados, pendendo de cada lado do corpo. O lamento de Duncan Sparks crescia mais e mais, e agora já não se assemelhava a choro humano, mas aos berros de um animal em agonia...

 

            Isaac acordou ofegando e ensopado de suor.

Sua cabeça girava. Olhou para os lados, confuso, esfregando as têmporas. Sim... Ainda estava hospedado no melhor (ou menos pior) hotel de Hazel.

Ele já havia perdido a conta de quantas vezes sonhara o mesmo sonho.

Afundou o rosto nas mãos. Sentia uma imensa vontade de gritar, e logo percebeu o quão “adolescente em crise” aquilo soaria. Depois, associou esse pensamento a Heath, cujo processo de amadurecimento havia parado alguns anos atrás, e sentiu o ódio crescer novamente dentro de si.

Pela manhã, se parecia um pouco mais com ele. Olheiras profundas e cabelos apontando para todas as direções...

Respirou fundo. Levantou da cama, recompondo-se pouco a pouco, e dirigiu-se ao banheiro da suíte.

— Idiota. Idiota. Idiota. – murmurava repetidamente enquanto escolhia um terno que não se diferenciava dos demais; murmurava enquanto fazia a higiene matinal e se penteava minuciosamente; murmurou até descer para tomar o café da manhã no saguão do hotel com seu guarda-costas.

— Você está com uma cara ruim. – comentou Argus quando os dois sentaram-se a uma mesa afastada das demais.

— E você tem uma cara ruim. – Isaac respondeu, sem cerimônias, enquanto descascava uma maçã. Argus não se ofendeu.

— Se eu fosse você, não descascava a maçã. – disse o guarda-costas – A casca tem propriedades nutricionais.

— Já que você gosta tanto de cascas, pode pegar as minhas.

— Não, obrigado. Ainda está em estado de choque por causa do... – Argus se interrompeu. Havia cometido um deslize.

Isaac respirou fundo e o olhou, aborrecido.

— Achei que tivesse pedido para não tecer mais comentários a respeito disso.

— Foi mal. Mas você sabe que teria sido diferente se eu estivesse por per...

— Não deve se preocupar com isso – Isaac falou enquanto partia simetricamente os waffles no prato. – Foi muito breve e ninguém se feriu. E eu havia lhe dado uma missão. Você estava cumprindo ordens, de qualquer maneira.

Argos calou-se, taciturno. Sabia que, se não estivesse trabalhando para os Sparks há tantos anos e não tivesse sido incumbido pelo próprio Duncan Sparks a cuidar de Isaac quando passasse desta para melhor, o rapaz não se incomodaria em arrumar um guarda-costas para si. Sempre teve a urgência de querer resolver tudo sozinho. Mas ainda era tão verde...

— E não – o jovem anunciou, de repente - Não estou em choque. Apenas fui pego de surpresa. Aquilo sem dúvida tem muitas lacunas que não foram preenchidas. Mas as coisas parecem um pouco mais claras para mim.

— O que quer dizer?

— Logo, logo você vai saber. – Isaac sorveu um longo gole de chá e se manteve quieto durante toda a manhã até ser chamado no guichê do hotel para atender uma ligação.

— Alô?

Pausa seguida de um suspiro do outro lado.

— Ah, oi. Sou eu, Heath.

Isaac franziu a testa, afastou o fone do ouvido, encarou-o e, em seguida, encarou Argos, formando o nome do irmão com os lábios antes de voltar à linha.

— ...o que você quer? - indagou.

— Olha, eu não quero prolongar muito isso. Jantar aqui em casa, 19h, traje esporte fino, conto com sua presença, blá, blá, blá...

— MANDA ELE TRAZER PELO MENOS UMA GARRAFA DE ABSOLUTE! - berrou uma voz masculina ao fundo.

— Cala a boca, Rolf! - gritou Heath de volta e, dirigindo-se ao irmão: - Pode trazer uma bebida cara, se quiser, eu sei que você pode. Adeus. - desligou, deixando um Isaac atônito ainda encarando o segurança.

— E aí? - quis saber Argos. O jovem hesitou e refletiu por um instante antes da sentença:

— Hoje vamos jantar fora.




Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!