Sanatorium escrita por Rich Kevin


Capítulo 2
Como aconteceu...


Notas iniciais do capítulo

Capítulo um pouco mais longo que o esperado...

Xenti, só um aviso antes de prosseguir: Prometo responder os reviews o mais depressa possível, mas estou muito ocupado ultimamente com as minhas semanas finais na escola (é prova pra não acabar mais, e parece que os pontos sempre estão longe :/ ). O trabalho também pesa um pouco... Assim que tiver tempo disponível, respondo vocês... graxinhas! (< Só para meninas ).



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O tempo se passou numa rapidez incrível. As nuvens ainda permaneciam no céu, no entanto se encontravam muito mais densas e grandes. O vento começava a chegar às costas de Rio de Paulo, o clima ficava bastante gelado, um pouco anormal para a tardezinha de um domingo. Porém, como eu ainda me encontrava desmaiado sobre a estante de madeira avermelhada do meu quarto, poderia cair um meteoro em minha casa que eu não dava à mínima.

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Logo que entrou em sua residência, a garota ligou o primeiro computador que viu e se sentou na cadeira mais próxima. Estava com várias sacolas nas mãos, foi-as abandonando sobre o tapete alaranjado com estampas de círculos ao teu lado de pouco a pouco, enquanto chupava de volta a baba feita pela falta do facebook.

No tempo em que a internet fracassada carregava, a menina aproveitou para se ver no espelho que jazia na parede à esquerda dela. Sua pele morena ainda estava meio suada, devida a tamanha pressa para vir embora do shopping. Ajeitou seus cabelos castanhos que mais pareciam pelos de um gato assustado, limpou alguns ciscos que ficavam sobre os seus olhos pretos, cor de uva passa, e depois deu um sorrisinho de tarada para si mesma.

Ao apitar de uma notificação, percebeu que o Explorer já tinha a deixado automaticamente no seu facebook, enfim podia matar a saudade dos seus posts curiosos sobre a vida alheia. Lara era exatamente do tipo de garota que postava alguma coisa nos grupos, depois se desconectava do face, desligava o computador e o guardava dentro de um baú com cadeado... Tudo isso pra não ver, nem ouvir, nem sentir os comentários, com receio de que alguém pudesse se extrapolar com suas publicações e virar o capeta a quatro. Horas depois, ela voltava para conferir o resultado...

Assim que rolou a barra de notificações, ficou com uma pulga atrás da orelha: Sua pergunta mais recente era sobre o Diabo, só que o assunto do post se transformara surpreendentemente em uma reunião de idiotas no sanatório da cidade. Encabulada, clicou sobre os avisos a fim de saber mais, mas teve como resposta que sua postagem havia sido excluída por um adm.

– Quem foi à vaca que fez isso? Será que eles descobriram que eu mandei vírus para o grupo depois que proibiram as postagens sobre capas? Não, acho que não. São muito ocupados pra isso... Espere, o que é esta coisa?

Lara, com seu grande dom de bisbilhotar, percebeu nas notificações o último comentário que foi dado ao post. Era de uma adm, Carlota, que tratava o seguinte: “Ótimo, então está marcado. Agora, antes que mais alguém veja nossos comentários e nos siga, irei deletar esse post, pois eu sou adm desse grupo e Lady mocinha.”

– Hmm... Lady mocinha, hein? E para onde estes malas estão pensando em ir? – Por alguns instantes, ela passou os olhos observando os comentários mais recentes. Não demorou muito para que descobrisse o que pretendiam os malucos. – Acho que vou fazer uma visitinha ao sanatório Nyah esta noite...

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Acordei com buzinadas agudas que vinham de frente à minha casa. Limpei os olhos e dei um longo bocejo, enquanto tentava reconhecer se o barulho era feito pelo meu carro. Vai que alguém estava tentando me roubar... Entretanto não, não era, pois eu me recordei que não tinha automóvel e que minha bicicleta de marcha não veio com buzina.

Levantei-me da cadeira, frente ao computador, mas não deixei de notar que a página ainda se encontrava no facebook. Foi impossível que não recordasse da conversa de mais cedo, do bate-papo do demônio, então averiguei o horário no relógio, faltavam trinta minutos para às dez da noite.

Por alguns instantes, voltei a pensar se valia ou não a pena seguir aqueles imprudentes até o sanatório... Sei lá, ficava apavorado só de pensar o quanto de ratos de três olhos e baratas tóxicas podiam vir a me perseguir. Só que eu tinha uma fama no grupo, por mais incompetente que ela fosse, e não podia abrir mão de perdê-la pra virar um fracassado como aqueles caras que ficavam inventando que tudo é do diabo... – Indireta pro Luck.

Seguro em ir, andei pelo cubículo com dificuldades para chegar até a tomada de acender a luz. Tropecei em um bocado de tolices espalhadas pelo chão, entre carrinhos e pedaços de pizza, até pensei que uma delas pudesse ser uma ex-namorada minha que devia ter ficado perdida no meu quarto, mas lembrei de que ela se mudara há um ano para a França.

Liguei a energia, abri o meu guarda-roupa e fui para frente ao espelho. Não que eu fosse como uma mulher, que ficava horas e horas tentando se fazer ficar bonita lambrecando o rosto de maquiagem da Avon. Eu já era bonito, estava sempre pronto pra qualquer coisa, até levava uma camisinha no bolso, pois vai que... Logo, peguei meu gel de marca, que comprei com os olhos da cara, e deixei o meu cabelo espetado. Enxaguei o meu rosto pra tirar a baba que ainda estava grudada nas redondezas da minha boca, pronto. Agora, até a rainha da Inglaterra ficaria doida por mim.

Em casa, eu morava com os meus avós. Por sorte, eles se encontravam para a igreja. Não que eles fossem me proibir de sair, muito pelo contrário: Se soubessem que eu estava indo na rua, me mandariam fazer até as compras do mês... Então foi fácil descer as escadas para a sala, esbarrar-me de ombro contra a estante de madeira da copa e quase derrubar a TV de 42 polegadas sobre mim. Depois de me recuperar, peguei a chave extra sobre o balcão de vidro, próximo a dois sofás de couro avermelhado, e segui para a porta.

Do lado de fora, não deixei de notar que as nuvens pareciam rir a minha desgraça, possivelmente desabariam em chuva sobre mim. Por vez, minha Bike moderna e rica em tecnologia estava encostada num muro do quintal, à minha aguarda. Peguei-a rapidamente, montei e dei partida à pedaladas que só iam acabar depois de passar por três quarteirões e mais alguns metros dentro de uma gruta de matinhos, pois o sanatório aonde íamos ficava num lugar desolado, abandonado pelo homem e pelo tempo.

–--

Após ter alcance de visão do grande prédio antigo, destruído parcialmente pelas chuvas que marcavam escoriações em suas paredes e desabamentos de algumas varandas, também pela idade, mais de 50 anos de paralisações deixaram suas portas e janelas em estado de desprezo, desci da bicicleta e me coloquei a continuar a pé. É claro, caminhada é bom e ajuda a manter o corpinho...

Ventava frio, a escuridão só não era total porque o brilho da lua e as energias das poucas estrelas, que transitavam pelo céu descobertas pela maciça quantidade de nuvens, não deixavam. Eu não me importava com o escuro, na verdade nunca o temi. Sempre fui de aqueles a temer apenas o que eu podia ver me fazendo mal – um exemplo, a Xuxa -, aos próprios vivos, pois confiava plenamente que os mortos não me apresentavam sequer algum perigo. Mas... O que eu estava fazendo ali? Se os sem-noção estavam pensando em achar o demônio dentro de um sanatório abandonado qualquer, óbvio que a exploração seria em vão. Não curto muito ele, mas acho que o capiroto tinha coisas muito mais importantes pra fazer do que assustar um bando de escritores delinquentes.

Comecei a perceber que talvez aquela excursão não levaria a lugar algum, seria tempo perdido onde eu poderia gastá-lo tentando causar tretas e me deixar mundialmente conhecido nos grupos da internet. Só que eu já estava ali, desistir a esse ponto era muito desperdiço dos pneus do meu veículo. E também algo alfinetava a mente: A curiosidade de ver pessoalmente como eram os membros do grupo de leitores e escritores sem ser pelas fotos estúpidas entupidas até o ânus de maquiagem e blush.

– Ei! – Escutei um grito que devia ser disparado a mim. Olhei para os lados, nos arbustos, e para perto das árvores que me rodeavam, mas só percebi as gurias quando observei à minha frente. Um grupo de garotas baixinhas se encontrava perto de uma tela de PVC que cercava a entrada do sanatório. Eram todas magrelas como saracuras, seus olhos estavam fitados na minha pessoa enquanto cochichavam coisas entre si. Algumas traziam lanternas.

Encostei minha Bike em uma árvore retorcida cheia de troncos e com a folhagem seca, era próxima do grande bloco quadrilátero de concreto com dezenas de janelas e somente uma entrada, escancaradamente aberta e infestada de teias de aranhas que se podiam notar de longe e mesmo naquele clima tão oculto. Em passos lentos, cheguei até onde as quatro moças se encontravam, ainda fofocando.

– Qual dos rapazes ele é? – Perguntou uma pálida que escondia seus esverdeados olhos, que brilhavam como esmeraldas soterradas nas paredes de uma mina subterrânea, por trás de óculos paraguaios e falsificados. Ela tinha um longo cabelo preto, alisado e bem tonificado, que ia adiante até o meio correto das suas costas. Sua expressão era algo incomum, ao mesmo tempo parecia ser a pessoa mais séria do mundo, mas bastava olhar de novo para se deparar com alguém extremamente sarcástico.

– Acho que é o Luck. – Respondeu outra moça, me fazendo olhá-la. Sua aparência era mais esbelta, também mais esquisita. Portava um tom de pele claro, o mais pálido dentre os que estavam ali – cor de farinha de trigo misturada com cal-, e que combinava perfeitamente com seus perturbantes cabelos azuis, que se dividiam em dois cachos. Apesar de todas serem baixas, era a mais anã delas e, visivelmente, a mais nova também. Por sua voz irritante no estilo Michael Jackson, notei que ainda deveria ser uma pirralha que tinha completado quinze anos há pouco tempo. Sugeri ser Isa pelo senso extremamente escandaloso.

Um enigmático silêncio se fez presente em nosso meio, acho que elas aguardavam a minha apresentação...

– Por acaso eu tenho cara de gay? – Falei na lata, secamente, enquanto dava um pequeno sorriso debochado. Elas me olharam, algumas acenaram negativamente com a cabeça, mas pareciam não entender o motivo do questionamento. – Se eu não tenho cara de gay, com certeza eu não sou o Luck, né? Meu nome é Rich, prazer em conhecê-las.

Dei a mão ao cumprimento, mas a pálida de óculos entrou sorrateiramente na minha frente, interrompendo o meu gesto galante e dizendo palavras sérias e enjoadas:

– Não viemos aqui para nos conhecermos. Viemos para buscar demônios!

–... Ou para morrermos tentando... – Completou alguma com pessimismo.

Pelo jeito arrogante da primeira, devia ser Carlota. Ótimo, ela era mais chata pessoalmente. Só esperava que as outras também não fossem assim...

– O que estamos esperando pra entrar? – Comentei.

– O gay... Digo, o Luck. – Se corrigiu a mais morena entre elas. Possuía longos cabelos castanhos, que combinavam adequadamente com a sua pele da cor do pecado e com a expressão de tédio que marcava o seu rosto. Seu sorriso fraco era tão desanimador, que quase dormi enquanto aguardava ansioso para que calasse a boca. - Sou a Janine. Acho que você já reconheceu a Isa e a Carlota... E aquela gótica ali é a Marys.

Marys... Ela até que era menos maçante ao demônio de perto, tinha uma beleza maior com sua pele de algodão que caiu cedo do pé e seus cabelos negros encaracolados, que rolavam por seus ombros e decotavam sua aparência macabra... Contudo, não me deixei levar por aquela resplandescência... Vai que Marys tinha feito algum tipo de ritual satânico pra me deixar caidinho por ela...

Ótimo. Fiquei junto a elas, escorado na tela de PVC, aguardando alguns momentos pela chegada do exorcista fodão, e fazia o possível para não enforcar uma por uma, pelas conversas bregas e tediosas sobre o preço mais caro de bolsas e sapatos falsos de pele de crocodilo que Carlota encontrava nas bancas de jornal e nos camelôs de baixo da ponte. Não as conhecia nem há 2 minutos, mas já preferia a versão virtual delas, onde não havia bocas, só letras.

– E aí, gurias... – Chamou uma voz bem rouca, que se aproximava amaçando folhas secas que decoravam o chão noturno. De cara, não pensei ser Luck, mas sim em um demônio gripado. Preocupado, olhei junto das garotas para a nossa esquerda e vimos uma sombra preta apontando através de arbustos. Era um vulto tenebroso marcado apenas pelos reflexos do brilho da lanterna que portava em mãos. Com o seu aproximar, notamos que era moreno e tinha olhos, estes pretos, como um eterno buraco negro. Seus cabelos, bem... fugiram de casa, pois estava carequinha.

– Então você é o Luck? – Perguntei demonstrando bastante surpresa.

– Sim, por quê? – Ele retrucou com um olhar de soberania, batendo a luz da lanterna na minha cara enquanto chegava mais próximo do local onde o aguardávamos. – Me acha mais bonito assim?

– Não, mas parece ser ainda mais frouxo que virtualmente. Por outro lado, você deu sorte de estar gripado, assim as garotas não vão notar a sua voz de Polly Pocket.

– Ei...

– Acalmem-se, vocês dois! – Impôs-se Carlota com a moral do capiroto. – Não vão se comer aqui, tá legal, estamos no meio do mato e os animais não precisam ver esse Lemon massacrante. E, se um dos machinhos pensar em cometer gracinhas, não vou poupar a afiar banimento no rabo de vocês...

– Banimento? – Repetiu Luck desentendido, olhando em volta com um notar irônico. – De onde vai tirar banimentos aqui? Da copa das árvores ou do rabo dos esquilos?

– Posso substituí-los por algumas toras de madeira que encontro pelo chão com facilidade, com certeza irão gritar até amanhã e não cessará o ardor tão cedo.

– Tudo bem, Carlota. Já mostrou que sabe ser tão malévola quanto o seu marido. – Falei. – Será que agora podemos seguir o plano, entrar nesse sanatório estúpido e brincar de caça-aos-fantasmas? Logo, logo vai se romper uma tempestade gigante sobre Rio de Paulo, e eu tenho mais coisas para fazer, tretas importantes me aguar...

– O que disse?

– Tetas... É, tetas importantes me aguardam no puteiro da rua Mayson! – Quase escorreguei no torresmo e entreguei minha identidade secreta, por sorte consegui os enganar com uma desculpa patética, que até foi uma excelente ideia para dias futuros... ou noites.

– Tudo bem, então vamos.

O silêncio voltou a dominar naquela pequena mata. Os únicos sons incômodos foram os gemidos que Carlota causava enquanto escalava a tela de PVC, parecia estar sendo vítima de um Hentai bem feroz. Isa subiu rapidamente, quase não se deu por notar, tinha energia de sobra como aqueles bebês catarrentos que sobem, espantosamente, em tudo que veem pela frente, seja de ferro, seja de madeira ou de pregos, cacos de vidro e lâminas afiadas. Mesmo assim, não poupou em reclamar que o ferro estava muito... gelado... O resto de nós subiu sem mais delongas, só Janine que deu um pequeno showzinho ao estilo Anitta-poderosa com demasiado índice de pessimismo.

Distraídos com discussões toscas entre nós mesmos, andamos até a entrada do sanatório sem nem termos a ideia de que, por trás de algumas moitas densas de folhas e galhos, na escuridão da floresta que ficamos, bisbilhotava alguém que seguia os mesmos trilhos que a gente, de trás da árvore onde repousava a minha Bike. Era Lara, com uma expressão sarcasticamente feliz.


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