Sanatorium escrita por Rich Kevin


Capítulo 1
Como começou...




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O céu estava preenchido com espaçosas nuvens cinzentas que davam a entender, que logo, logo, uma tempestade com fortes vendavais iria desabar sobre Rio de Paulo. O município era bem famoso na região, este crédito se dava aos muitos escritores que ali moravam. E como era domingo, todos aproveitavam para escrever mais de seus trabalhos, ou criar tretas em alguns grupos do facebook.

Eu fazia ambas as coisas: Escrevia comédias que ficavam idiotas, de tão banais. E de vez em quando tentava me tornar famoso criando posts com assuntos polêmicos, era um treteiro de nascença, mas tentava não deixar isso visível... Não queria escorregar no quiabo ao ser banido de um grupo que fiquei por tantos anos – mesmo sendo apenas um fantasma na maioria do tempo.

Mas... Naquele dia, eu nem ligava para o céu, para a cidade ou para a minha vizinha, que enfartava na janela da casa dela. Podia estar acontecendo o apocalipse, que eu continuaria a revistar as postagens mais recentes do meu grupo favorito, um sobre escritores e leitores, em busca de achar um assunto decente pra eu discordar de alguém e criar uma bela discussão.

A situação tava difícil. Todos os posts eram antigos, de semanas atrás, com assuntos frescos e nojentos que eu tinha medo de comentar. Além do que, uma das adm’s fura-olho do grupo estava de olho em possíveis treteiros pra ela banir... Como eu disse antes, não podia escorregar no quiabo.

Enfim larguei o mouse em um post que comentava sobre o demônio. Só pra ver até onde a imaginação desses escritores chegava... O que o capiroto tinha a ver com leitores e escritores? Será que alguns membros fizeram pacto com o diabo? Não, não era nada disso. Só se tratava da curiosidade de uma guria enxerida que queria saber se os outros acreditavam nessas coisas...

É obvio, nem perdi meu tempo comentando... Mentira! Escrevi um comentário gigante com a minha opinião aprofundada e em linguagem digna... Estava louco pra alguém me contrariar, mas os infelizes até curtiram. Suspirei fundo, deixei a frescurice daquele grupo de lado antes que eu desse uma de louco e jogasse o computador pela janela. Fiz algo mais importante: Comecei a ver meu reflexo na tela na minha frente.

Eu tinha olhos verdes que brilhavam como ouro no escuro – eita! -, uma pele branca pra ninguém chamar de preta, e cabelos loiros que ficavam espetados com gel de qualidade. Lindão aí... Mas pra ninguém plagiar a minha perfeição, a foto do meu perfil era a imagem de um fantasma de um filmezinho clichê que assisti há alguns anos.

– Se eu fosse mulher, me pediria em casamento!

“Puket”. Uma notificação do facebook interrompeu o caso que rolava entre o meu reflexo e eu. Era mais algum infeliz revivendo o post do demônio, literalmente. Se tratava de Luck, um rapaz com tendências a gay que gostava de fazer pose de fodão para as meninas, mas todo mundo sabia que era corno por parte da namorada.

O retardado causou polêmica nas moças frescas que acompanhavam o post, quando começou a inventar que espelhos eram do capeta, janelas eram do capeta, portas eram do capeta, gatos trabalhavam de segurança. Mas xenti! Pra finalizar, assentiu que sabia exorcizar espíritos.

A conversa rendeu quilos de peixes quando Carlota entrou, condizendo romances entre ela e o chifrudo. Lembram-se da adm chata que citei? Bem, aqui estava ela. Só gostava de mandar, exigir, obrigar e espalhar banimentos pelo grupo. E pra completar, era nerd. Resumindo: Chata pra caramba! Se sentia o último iate-fanta do mundo!

O tédio estava tomando conta de tudo, e eu me vi na obrigação de não deixar. Como tinha fama de piadista, resolvi usá-la nessas horas e sugeri que eles invadissem a casa do Michael Jackson para morrerem com as selfs do cantor. A praga se voltou contra o pragueiro, eles adoraram a ideia e começaram a se fazer de personagens.

“Perfeito, não tenho nada pra fazer, então vou reunir um grupo pra invadirmos a casa de Michael Jackson! Serei a mocinha que espanca o monstro e salva o grupo.” Carlota não se achava nem um pouco.

“Posso ser o esquisitão galante que conversa com os demônios.” Luck propôs. “Mas tem um porem: A casa dele é muito longe... Levaríamos dias pra chegar lá de bicicleta.”

Eis que mais três garotas chegaram. Duas eu conhecia, a terceira não. Uma delas era Isa, a pessoa mais escandalosa do mundo. Rasgava calcinha e criava treta com qualquer um que a contrariasse, e era amiguinha de Carlota, pra variar... Então, quem mexia com ela, levava um banimento no rabo.

Janine era a outra que eu já tive o desprazer de ter conhecido. Diferente das demais, ela não era tão fresca, mas o seu pessimismo maior que o da própria morte a tornava três vezes mais chata que a Isa, sua coincidentemente melhor amiga.

Mas o que me mantinha atônito era a terceira garota, nunca tinha a visto antes no grupo... Ela usava maquiagem preta, certamente uma gótica. Seus olhos se mantinham vidrados para quem a olhasse, realmente era assustadora e meio que satânica, mas tinha uma beleza mínima. Seu nome era Marys Lys.

Dois segundos depois, meu tédio voltou agonizando geral. Não conseguia mais segurar aquela vontade de dormir que só acontece nos domingos à tarde. Fui abaixando lentamente a cabeça, enquanto os surubeiros continuavam com o bate-papo.

“E que tal se invadíssemos outro lugar?” a pessimista Janine sugeriu. “Não tenho medo de morrer cedo mesmo...”.

“Tem algum em mente? Acho o cemitério da cidade uma boa ideia...”

“Eu tenho uma sugestão melhor ainda, Luck. E que tal se entrássemos no sanatório abandonado Nyah, da rua 15? Pensem bem, o local é distante de tudo e de todos, e tem fama de ser assombrado... Poderíamos ficar famosos caso encontrássemos um demônio lá e o pegássemos... Quer dizer, se vocês pegassem-no, pois eu morro de medo dessas coisas!” Comentou Marys, mostrando que mesmo sendo satânica, era fresca.

“Ótimo, e eu posso ser a escandalosa!”. Reconheceu-se Isa.

“Então está acertado. Nossa equipe já está formada: Temos um exorcista, uma pessimista, uma sapata satânica medrosa, uma escandalosa e eu, a Lady mocinha. Mas sinto que ainda falta alguém...”.

Não aguentando, eu dormir sobre a mesa do computador. Meus braços pesaram-se e caíram sobre o teclado, acionando as teclas “M” e “E” curiosamente. Logo, esbarrei meu queixo no enter e pronto, assinei o meu mandato de morte comentando “Me”. Abri os olhos quando comecei a ouvir muitas notificações, vi que alguém curtia o meu comentário e me citavam em outros – mas que comentário? - Foi aí que percebi o meu titanic tinha afundado.

“Ótimo, Rich. Estávamos mesmo com falta de um piadista. Agora a nossa equipe está completa!”

“Mas... Pera aí, eu não posso ir.” Tratei de inventar alguma coisa pra me livrar desse carma. “Tenho que... seguir um arco-íris para achar o meu pote de ouro.”

“Hmmm... Rich Kevin está com medo, é? Acha que as baratas e os ratos vão te comer?” Carlota era provocante. O meu desejo naquele momento era pegá-la pelo pescoço e jogá-la dentro de um bueiro, depois afogar ela até a morte em um chiqueiro com 300 porcos.

Agora me restava duas escolhas apenas: ou recusava a ir e ficava com fama de medroso para o resto dos meus dias no grupo... Ou eu seguia-os e eles descobriam que eu realmente tinha pavor de baratas e de ratos. Precisei ser muito macho pra responder:

“Eu não vou... ficar pra trás!”

“Okay. Temos o grupo, temos o local. Em que horário?”

“Não sei, Isa, mas tenho aula de cultuar o demônio às 18 horas. Terá que ser depois disso!”

“E que tal às 22 horas, na frente da praça da espada? Encontramo-nos lá e vamos juntos para o sanatório, assim os rapazes não vão se comer de tanto medo.” Ela não perdia a chance de alfinetar o sexo forte. “Você pode, Marys?”

“Acho que sim.”

“Ótimo, então está marcado. Agora, antes que mais alguém veja nossos comentários e nos siga, irei deletar esse post, pois eu sou adm desse grupo e Lady mocinha.”

Com a mensagem final de Carlota e a exclusão do post, tudo que pude fazer foi pensar na bobeira que eu havia cometido. Mas antes disso, eu não aguentei de sono e caí sobre o teclado... Enfim as malditas notificações tinham parado e o meu tédio tinha ido para a terra do nunca, visitar o Michael Jackson.


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Notas finais do capítulo

Notas:

"Rio de Paulo": Misturei os nomes de Rio de Janeiro e São Paulo pra nomear essa cidade fictícia. Então, a cidade é falsa, tá legal... :v

"Frescurice": Palavra que eu inventei u-u. Significa o mesmo que fresco/fresca. Vlw?

"Pragueiro": Palavra também inventada. Gosto de inventar coisas no tempo livre... hehe. E seu significado é "quem comete a praga".



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