Sobre Deuses e Escolhas escrita por S Laufeyson


Capítulo 2
Capítulo 2 - Passado Recente


Notas iniciais do capítulo

Oie pessoas! Depois de meses corridos, eis que eu retorno com o capítulo final do spin-off. Espero que tenham gostado e que esteja comigo, Loki e Roxie mais uma vez na segunda temporada.



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Centenas de anos se passaram desde aquele infeliz dia. Balder ainda não havia se casado com Sigyn, justamente porque os boatos de que a princesa seria estéril se espalharam, com grande rapidez, pelas planícies de Asgard e pelos outros reinos. Dessa forma, a pressão para que Balder desistisse da mulher foi muito intensa. Não lhe daria herdeiros e a linhagem morreria ali, mas ele estava relutante.

O assunto “Sigyn e filhos” não o interessava, na realidade, queria apenas provar que era o melhor e que sempre havia sido. Queria mostrar para todo mundo que ele, um simples plebeu, havia conseguido um posto de honra com o rei e iria ser o marido da princesa. Tornando-se um príncipe a partir dai. Almejava apenas a glória que aquele posto representaria e nada mais importava.

Hodr tentou convencer o irmão sobre desistir daquilo, mas apenas conseguiu fazer com que ódio que Balder nutria por ele, aumentasse ainda mais. Acusava o irmão de ter inveja, porque conseguiu sobressair-se sobre todos os asgardianos. Dizia que não havia nenhum homem, em todo aquele reino, que não conhecesse seu nome. E não só em Asgard, mas em Alfaheim e Vanaheim também.

Desse modo, Hodr desistiu de seu irmão.

– Desculpe o meu atraso. – falou a mulher ao aproximar-se do jovem ferreiro. – Tentei chegar mais cedo, mas as crianças acabam comigo.

– Tudo bem, Warla. Não se preocupe. – respondeu. Estava sentado embaixo de uma árvore, em um lugar mais afastado da cidade. Um bosque que bem no meio tinha uma clareira. Era ali que ensinava tudo para a mulher.

Warla tirou a capa e a colocou por sobre o pano onde o homem estava.

– Hoje eu estou animada. – ela sorriu. Não se sentou, mas ao invés disso, estendeu a mão para que Hodr levantasse. – Você está quieto, esses dias. O que foi?

– Não é nada. – respondeu. – é que o casamento de Sigyn será em cinco semanas e eu estou preocupado. Balder não tem bons planos e ela é como uma irmã para mim. Não merecia esse destino desgraçado.

– Também estou muito preocupada. – respondeu a ruiva. – Eu não a vi nesses últimos dias.

– É porque ela está em Vanaheim, com Loki. Semana da noiva, segundo comentou Sif. – Hodr posicionou-se um pouco distante de Warla. – Retornam em dois dias.

– E Balder? – perguntou a ruiva.

– Esqueçamos Balder. – falou ele e respirou fundo. – Me ataque.

– Sim, mestre. – a mulher correu para cima de Hodr. Desde sempre, foi seu professor. Cuidava de seus ensinamentos em luta e todos os dias, depois que Warla saísse da escola, onde atuava como professora, ia até aquele lugar para treinar com ele. Não houve nenhum único dia que essa não tenha sido a rotina dos dois. Hodr havia recebido os melhores treinamentos em luta, por ter crescido com os príncipes de Asgard e por ser filho de um dos soldados, mas pouco a usava. Era um homem de paz.

Em um golpe, tentou dar uma rasteira em Hodr, mas acabou no chão. O homem aproximou-se e se pôs em cima da jovem, beijando-lhe os lábios em seguida. A havia pedido em casamento duas semanas antes e Warla aceitou. Eles se gostavam, mas não tinham coragem de admitir. Precisou de um grande empurrão por parte de Thor para que Hodr tivesse coragem e contasse para a jovem o que sentia. A partir dali, receberam um apoio tremendo por parte dos amigos e das famílias, mas o povo asgardiano sabia ser cruel. Hodr era cego e, aos olhos de todos, um inválido. Mesmo que tenha demonstrado que sua cegueira em nada interferia.

Warla não ligava. O amava com todas as forças que tinha. Não importava se conseguiria vê-la algum dia. Hodr a amava por ela ser quem era e não por sua beleza. A ruiva passou a mão no rosto do deus, sentindo a pele dele em seus dedos. O achava lindo desde muito jovem. Descobriu que amava Hodr antes mesmo de entender o que era o amor.

– Warla, eu acho que... – falou Sif entrando na clareira e paralisando ao ver o casal. A ruiva corou violentamente enquanto a morena virava as costas com rapidez. Hodr apenas levantou-se e esticou sua mão para que sua noiva também se pusesse de pé. -... mil perdões. Eu não sabia.

– Tudo bem. – falou a mulher aproximando-se da amiga. – O que houve?

– Eu não sei. Sigyn voltou da viagem. – respondeu. Era visível que Sif preocupava-se com sua amiga. Haviam crescido juntas e desde sempre a via como uma irmã e o fato de ter se apaixonado por Thor apenas fazia com que se aproximassem ainda mais. Sigyn sabia sobre o amor pelo seu irmão.

– Hodr... – Warla virou-se para olhar o noivo e ele sorriu.

– Vai ver a sua amiga, porque até eu estou preocupado. – respondeu tentando colocar um sorriso no rosto. A ruiva correu até ele e o beijou, saindo rápido com Sif.

...

Quatro meses depois:

Balder espreguiçou-se na cama, quando acordou. Acariciou o braço da mulher ao seu lado e beijou-lhe o topo da cabeça. Nana estava nua, abraçada ao deus, e ele aninhava a garota. Desde o dia em que Sigyn saiu para o dia da noiva, havia enviado uma mensagem para a mulher. Dizia que não poderia ir a Vanaheim, como sempre fazia a cada dez dias, justamente porque a sua noiva estava lá e não seria prudente aventurar que ela ou Loki, desse de cara com ele e a sua amante. Dessa forma, ela viajou até Asgard e não retornou mais para a sua cidade natal. A desculpa era que queria ficar perto de Balder o quanto pudesse.

Nana, na verdade, foi a primeira namorada de Balder e sempre o amou. Não houve um único dia em que não tivesse suspirado ao pensar nele. Foi o primeiro homem de sua vida e jurou que seria o único. Assim era, desde sempre.

A morena continuava deitada em seu peito. Os cabelos, profundamente negros, espalhavam-se no travesseiro e deixava que seu perfume invadisse o ar.

– O que vai acontecer quando você casar? – perguntou docemente. Deu um beijo no peito de Balder que sorriu.

– Serei um príncipe. – respondeu. Ainda matinha os olhos fechados, mas ela sabia que estava acordado.

– Você sabe que eu me referi a nós. – Nana impulsionou-se para que levantasse um pouco. Apoiou o corpo com o braço direito, enquanto o esquerdo permanecia espalmado no peito do deus. O cobertor escorreu pelas suas curvas e os seios, pequenos e firmes, ficaram à mostra. – Como mesmo disse, será um príncipe. Seus passos serão vigiados. Como me encontrará?

– Não pretendo ficar casado por muito tempo. – abriu os olhos, tremendamente azuis, e olhou a mulher.

– O que pretende fazer?

– Já conversamos sobre isso. – puxou o queixo de Nana para perto e tomou-lhe os lábios de uma forma desejosa e tentadora. – Você é uma das melhores feiticeiras que existem em Vanaheim. Apenas me arranje o veneno, que não deixe rastros, que eu trato de selar o destino da minha esposa.

– Mas você terá que dormir com ela, não é? A maldita tradição asgardiana de consumar o casamento, para que tenha validade.

– Somente uma vez. Então serei príncipe e serei somente seu.

– Você já é meu. – respondeu sorrindo. – Não esqueça disso, quando estiver entre as pernas dela.

– Eu não a amo. Sabe que é você que domina meus pensamentos. Não tem com o que se preocupar. - Balder a puxou e fez com que deitasse. Se colocou por cima dela e começou-lhe a beijar o pescoço. - você será a minha princesa e, juntos, chegaremos ao trono de Asgard.

...

Uma semana depois:

Hodr estava sentado nos estábulos e já estava desde antes de anoitecer. Gostava muito de ajudar o tratador com os cavalos e principalmente, com o seu. Era um malhado, preto e branco, de raça Appaloosa. Havia sido um presente de Frigga quando ele completou novecentos e cinquenta e oito anos.

Distraia-se enquanto escovava o pelo do animal, mas não estava desatento o suficiente para não perceber que um casal chegou.

Loki puxou Sigyn pela cintura e tapou a sua boca, assim que percebeu que o homem estava sentado. Por ainda estar de costas, não sabiam se era Hodr ou Balder, mas a suspeita logo confirmou-se quando os olhos leitosos pousaram na direção dos dois.

– É. Acho que já vou indo. – começou a falar e sorriu. – Não vi nada de anormal por aqui, o que é estranho. – Sigyn lançou um olhar para o deus da trapaça que prendeu um sorriso. – Meu cavalo está escovado e alimentado, então posso ir. O tratador só vai retornar as nove para trocar as ferraduras. Até lá, ele ficará completamente sozinho. – caminhou devagar e passou exatamente entre os dois. Virou a cabeça para a ruiva, rapidamente, e piscou um dos olhos. Saiu assoviando.

– Ele sabe. – a princesa sussurrou.

– E daí? – Loki puxou a ruiva pela cintura. Beijando-lhe os lábios.

– Ele vai contar a Balder. – Sigyn falou quando Loki a deixou respirar.

– Hodr odeia o irmão tanto quanto nós odiamos. Não vai dizer nenhuma palavra. – os beijos de Loki saíram dos lábios da jovem e seguira para o pescoço, enquanto os dois se acomodavam em um monte de feno próximo. Essa era a vantagem de se encontrarem no estábulo. Não havia muita gente que andasse por aquelas bandas, ainda mais a noite, e poderiam passar horas apenas um com o outro.

...

Os três dias que restavam para o casamento, da princesa e do soldado, passaram-se rapidamente. O céu amanheceu escuro como se o tempo soubesse o que estava para acontecer. Balder pulou de sua cama o mais cedo que conseguiu, na verdade, nem sequer havia dormido. Hodr não levantou. Se negava a ver aquela tragédia acontecer.

Ele e Warla iriam viajar naquele dia, para Vanaheim, assim que a cerimônia começasse, mas acabaram desistindo da ideia quando Sif lhes disse que deveriam ficar para dar apoio a Sigyn. Sabiam que no momento em que se tornasse mulher de Balder, seriam privados de sua companhia. Hodr sabia disso porque o irmão ameaçava o tempo inteiro. Dizia que Sigyn jamais os veria outra vez, salvo apenas em reuniões formais no palácio e isso se ele permitisse que a plebe entrasse.

Quando finalmente resolveu levantar-se da cama, Hodr ouviu seu irmão dar algumas ordens para alguns tenentes. Dizia que os soldados deveriam usar a armadura de gala e serem distribuídos pelas ruas de Asgard, durante a cerimônia. Uma clara intenção de demonstrar beleza e solenidade, além de ser uma forma de alertar a todos contra os atos de vandalismo ou de manifestações contra o casamento. Sabia que tinha pessoas que não queriam que se casasse com Sigyn.

– Hodr. – Warla bateu rapidamente na porta do quarto do homem, quando esse voltou para se aprontar.

– Oi, amor! – virou-se. Reconheceria aquela voz onde quer que estivesse. A ruiva bateu a porta com força e puxou o seu noivo para que se sentasse. – Eu preciso te contar uma coisa que está me corroendo desde ontem, quando eu vi.

– O que? – alisou a mão da mulher, enquanto ela respirava fundo.

– Loki e Sigyn são um casal. – sussurrou e o homem gargalhou.

– Eu sei. – respondeu divertido.

– E como pode falar “eu sei” com esse sorriso na cara? Eles são irmãos. Isso é incesto.

– Eles não são irmãos. – respondeu o homem. – Meu pai foi um dos soldados que estava com Odin no dia em que encontrou Loki em Jotunheim.

– Jotunheim? – perguntou a loira.

– Loki é um Jotun. – Se Hodr pudesse ver, teria rido ao reparar na expressão que sua noiva havia feito.

– Loki é um Jotun? – Hodr apenas confirmou com a cabeça. – Como? Ele não é...! – O homem pediu para que a ruiva abaixasse o tom de voz, já que agora estava tão histérica que chegava a gritar. -... como, se ele não é um gigante? – concluiu com um sussurro.

– Isso eu também não entendi, mas meu pai garante que era um bebê Jotun.

– Eles não são irmãos.

– Não.

– E se amam?

– Sim.

– Imagino como o Loki deve estar agora. – a ruiva respirou profundamente. Entristeceu-se ao pensar no que os dois estariam passando, naquele momento.

– Provavelmente bolando um plano para fugir com a princesa. – respondeu Hodr. - e a gente precisa ajudar.

– Como?

– Vamos dar a eles uma rota de fuga segura.

– Se explique, porque eu estou dentro. – Warla virou o corpo para encarar o seu noivo quando ele começou contar o plano que havia pensado.

...

– Isso cheira a meia suja. – reclamou o ferreiro. Usava a roupa completa de soldado, do irmão. – Tem certeza que pegou o livro certo?

– Sim. Frigga me ajudou com isso. – respondeu a mulher enquanto colocava o último ingrediente na poção e entregou um pouco do conteúdo para o seu noivo. – Ainda acho que isso seja idiotice. Eu não sou feiticeira.

– Se você tiver acertado, eu terei a cor dos olhos de Balder em questão de segundos.

– Mas e se eu tiver errado?

– Dai você pode escolher aquele sobretudo de veludo vermelho e a espada com o cabo decorado com arabescos. Vai ficar bonito no barco fúnebre. - concluiu recebendo uma tapa da noiva em seguida. Não gostava daquele tipo de brincadeira. Hodr sabia disso e para relaxá-la, puxou pelo braço e a beijou ternamente. Depois que se separaram, entornou todo o conteúdo do frasco e respirou fundo. Não sentiu diferença alguma. – E então?

– Eu consegui. – respondeu Warla quando a película leitosa, que encobria a íris dos olhos de Hodr, começou a desaparecer. No lugar, havia um belo par de olhos azuis intensos. – Você consegue me ver?

– Não. – respondeu seriamente. – Lembre-se que era apenas uma poção para mudar a aparência. Não há nada que possa me fazer enxergar. – A ruiva respirou fundo ao ouvir as palavras do homem. – Agora temos que ir. Temos um casamento para impedir.

...

O soldados, bem arrumados, tomavam seus postos pelas ruas de Asgard. A armadura de gala era tremendamente dourada e impecável. Os elmos estavam sobre suas cabeças, com duas saliências que lembravam chifres, e as capas amarelas dançavam conforme marchavam em direção a seus postos.

Aos poucos as ruas foram tomadas. Os soldados foram distribuídos um de frente para o outro, nos lados opostos, e com lanças em suas mãos. Honravam o casamento de seu líder. Para eles, Balder era o deus perfeito. Deus da justiça e da luz, mas mal sabiam que aquilo era apenas uma máscara. A rua na qual se organizavam era a que ficava imediatamente atrás do palácio. Levava até o mar de Asgard.

Hodr respirou fundo antes de se colocar na frente daqueles homens. Descia as ruas, com as mãos para trás, enquanto ditava as ordens.

– Mudança de planos. Você serão divididos entre os outros setores e essa rua ficará livre. Entenderam? – Todos responderam que sim e uníssono. – O seu tenente os guiará a suas posições.

– Sim, senhor. – responderam os homens e subiram a rua em uma marcha rápida e organizada. Hodr continuou seu percurso até chegar ao final da rua onde Warla o aguardava com um sorriso nos lábios.

– Por quanto tempo dura essa poção? – perguntou.

– No livro diz que é pouco mais de meia hora.

– Ótimo, não posso aparecer assim no quase casamento. – sorriu. – Ande, temos que encontrar com Loki e lhe contar sobre a rota de fuga. Eu sei que ele está planejando fugir.

– Eu não vou. – falou Warla. – Se vão seguir por essa rota, vão precisar de um barco. Eu vou falar com a Rainha Frigga para providenciá-lo enquanto você vai falar com ele. Seja rápido. – beijou o homem e esse voltou correndo a rua. Era cego, mas cresceu naquele lugar. Conhecia Asgard como a palma de sua mão.

...

Warla ajudava o seu noivo a arrumar a sua vestimenta de festa. Era uma cota de couro, com detalhes na cor vermelho vinho e uma parte da armadura, na cor prata, onde guardava apenas seu abdômen e seu peito. Ao terminar, aproximou-se e o beijou.

– Está lindo. – a ruiva sorriu, limpando o batom que ficou nos lábios de Hodr. – Como sempre.

– E você ainda não aprendeu a mentir. – sorriu quando a mulher deu-lhe um leve tapa em seu braço.

– Conseguiu falar com o Loki?

– Sim. Está tudo certo. E você com o barco?

– Está esperando por eles. ­ – Hodr assentiu antes que batessem na porta de seu quarto.

– Está na hora. – chamou o seu pai, segundos antes de um canhão ser disparado e, logo em seguida, alguns soldados saíram pelas ruas anunciando que já era o momento de toda a Asgard, ou aqueles que conseguissem um lugar no enorme salão, se reunisse para a cerimônia. O casamento estava para começar.

Hodr segurou na mão de Warla e partiram sem preocupação. Eram amigos da princesa, e família do noivo, certamente teriam lugar de honra no casamento.

Encontraram os três guerreiros e o restante das seis. Sigyn ainda não havia dado as caras e muito menos Balder ou Loki. Thor conversava com a mãe, até que a rainha se ausentou rapidamente do salão. Acharam estranho a atitude de Frigga, mas acabaram pensando que ela havia ido dar pressa aos noivos ou ver alguma coisa referente ao casamento.

Conversavam tranquilamente até que os soldados foram convocados, por Balder, imediatamente. Alguma coisa estava muito errada e todos sabiam. O burburinho alastrou-se pelo imenso salão até que a notícia que a princesa havia fugido com o irmão, chegou aos ouvidos de Hodr. Ele não conseguiu deixar de mostrar um sorriso largo. Sabia que Sigyn e Loki estavam apaixonados e também sabia que a princesa era corajosa e audaciosa demais para que aceitasse aquele destino de cabeça baixa. Ela lutaria. O trapaceiro também não a entregaria assim. Resistiria até o último segundo.

Os convidados permaneceram no salão até que Balder entrou irado no local. Imediatamente foi até o Pai de Todos, fazendo uma reverência forçada e pedido para que Odin autorizasse a sua partida, com uma pequena guarnição, em busca de Loki e Sigyn.

O Pai de Todos deu sua autorização e Balder convocou uma quantidade de quinze homens. Marcharam pelas planícies de Asgard e por todo o campo, cavernas, rios e cachoeiras. Parecia que haviam desaparecido e Balder sabia o porquê.

Abriu a porta do lugar apressadamente, assustando a rainha.

– Me diga onde estão. – pediu autoritário. Estava fora de si e apenas queria colocar as mãos no casal. Mataria Loki sem pensar duas vezes.

– Bem longe, eu espero. – Frigga mantinha um sorriso largo no rosto. Estava tremendamente feliz por aquilo ter acontecido. Sua menina estaria a salvo daquele destino cruel, como mulher de Balder.

– Sigyn é minha e aquele bastardo a levou.

– Meça suas palavras ao falar dos meus filhos em minha frente.

– Não importa quanto tempo leve, eu vou encontra-los. Eu vou fazer Sigyn a minha mulher e vou matar aquele Jotun maldito.

– Ou você é muito corajoso ou muito tolo. – comentou Frigga seriamente. - Falar dessa forma de seu príncipe, na frente de sua rainha. Sabe que eu posso mandar lhe prender por alta traição, não sabe? E o destino de um traidor não é nada menos que a morte.

– Eu sei, mas a senhora não iria querer que toda a Asgard soubesse que o palácio abriga um monstro e ainda o fizeram de príncipe.

– Isso é uma ameaça, Balder?

– Não, é a apenas uma conversa. – ele sorriu. – Agora se me permite, eu vou encontrar a minha mulher.

...

A noite chegou em Asgard e os soldados regressaram para casa, sem ter encontrado nenhum rastro de Loki ou Sigyn. Acharam apenas o flutuador, onde eles estavam, próximos das cavernas. Todas foram analisadas e nenhum sinal dos dois foi achado. Haviam desaparecido. Balder ordenou que as bolsas, que estavam no flutuador, fossem retiradas de lá. Isso incluía roupas, comida e várias coisas que os ajudaria na viagem. Por causa do que havia encontrado, Balder tinha a certeza que ainda estavam no reino. Sabia que poderiam voltar para pegar o meio de fuga e por isso, montou guarda no local. Não descansaria até pegar os dois.

Hodr estava em casa, com Warla. Comemoravam a fuga do casal com hidromel e bastante comida. Conversavam também sobre o casamento dos dois que seria em três semanas. Ficaram tristes sim, porque Sigyn não participaria dele, mas sabiam que de um jeito ou de outro ela não iria. Se o casamento com Balder tivesse acontecido, ele não a deixaria sair de casa.

Sorriam e comentavam sobre o fracasso do dia até que começaram a ouvir gritos por toda a Asgard. Gritos de completo desespero. Homens, mulheres e crianças em agonia. Warla, mesmo tendo Hodr segurando em sua mão, correu para fora para ver o que acontecia.

Os olhos da ruiva arregalaram-se ao ver as inúmeras sobras invadindo as casas. Perseguindo as pessoas pelas ruas e as derrubando no chão, sem a menor piedade. Tomavam as crianças de suas mães sem pensar duas vezes. As pessoas não passavam de marionetes e isso aconteceu por vários minutos, antes que todo o reino ficar na mais densa penumbra. Os gritos vinham de todos os lugares, um desespero inenarrável.

A ruiva estava estupefata com a cena até que uma das sombras a olhou. Ela começou a respirar rapidamente enquanto voltava correndo para dentro da casa, trancando as portas em seguida. Pediu ajuda para que lacrassem as janelas e toda a entrada do lugar. Hodr e sua família correu para fazer aquilo, mas Warla sentia que não deteria aquelas coisas. Eles colocavam portas a baixo como se não fossem nada.

Hodr, Okrum e ela armaram-se e esperaram. Até que o estrondo foi ouvido e a porta foi a baixo. As sombras entraram sem muita dificuldade. Eram quatro, um para cada um daquela casa, já que Sademai era protegida pelo marido.

Os três partiram para cima, mas acabaram indo ao chão sem muita resistência. Não eram páreo para aquelas coisas. Elas sugaram suas memórias e tudo relacionado a Sigyn. Não deixaram nenhum resquício sequer que os fizesse lembrar da ruiva e assim foi com todos os cidadãos de Asgard e todos aqueles que um dia conheceram a princesa.

...

Uma semana depois:

Loki acordou em sua cama, no palácio. Sentia uma dor de cabeça forte e uma tontura que o fez demorar um pouco mais antes que se levantasse. Se sentia fraco e com enjoos há uma semana e não entendia o porquê. A razão era a mais simples possível: Ele teve as memórias mais fortes ao lado de Sigyn e ter sua mente revirada daquela forma, o debilitou imensamente. Assim como todos de sua família, mas parecia que os outros já haviam se recuperado.

Ouviu alguém bater em sua porta.

– Entra. – mandou sem perguntar quem era. Thor passou por ela agitadamente. Tinha um sorriso de orelha a orelha. – Qual o motivo desse sorriso?

– Hoje é o casamento de Hodr e Warla, não vai?

– Não estou animado para casamento. Ainda mais sendo da plebe.

– Qual é? Eles são nossos amigos e Warla é uma das “Cinco”. Você sabe que elas são as melhores guerreiras de Asgard e por isso, nós da família real, temos que estar presentes.

– Elas desafiaram o pai. Se eu fosse o rei, teria mandando executar por tamanha insolência.

– Ainda bem que você não é o rei, irmão.

– Ainda não. – respondeu e levantou-se.

– Então, você vai? – Thor o encarou.

– Eu tenho escolha?

– Não! Não tem. – O loiro deu um tapa nas costas de Loki e deixou o quarto.

O deus, mesmo contra sua vontade, organizou todas as suas coisas e vestiu o traje de gala: a capa verde em suas costas, a armadura completa e o elmo com os chifres. Tentava lembrar da última vez que tinha vestido aquilo, mas não conseguia. Além disso, tinha a sensação de que estava esquecendo alguma coisa, mas não sabia o que. Esforçou-se, alguns dias antes, mas não conseguiu. Acabou acreditando apenas que era uma sensação boba.

Saiu de seus aposentos e seguiu caminhando em direção as escadas até que parou de frente para um quarto, logo ao lado do seu. Já havia passado por ali nos últimos dias, mas não foi despertado pela curiosidade até aquele momento. Não se lembrava do que tinha naquele lugar e por isso resolveu descobrir. Girou a maçaneta devagar e entrou.

Havia um perfume doce no ar e Loki teve a absoluta certeza de que conhecia aquele perfume. Só não lembrava de onde. Caminhou até a cama e tocou nos lençóis. Ainda estavam desarrumados, como se alguém tivesse dormido e não preocupou-se em esticar os lençóis ao levantar. Seguiu devagar até a penteadeira e reparou na escova jogada de qualquer forma.

Definitivamente alguém dormiu naquele lugar.

Pegou o objeto e o aproximou, reparando o fio vermelho preso. Retirou cuidadosamente e o observou. Tentou fazer uma lista mental das pessoas que tinham aquela cor de cabelo, mas foi interrompido.

– O que faz aqui, Loki? – perguntou Frigga. Usava um vestido lindo, de festa. Estava pronta para o casamento.

– Quem esteve aqui, mãe? – o deus ergueu o fio de cabelo para que Frigga o visse.

– Uma jovem de Vanaheim. – mentiu a deusa. – chegou durante a noite e foi embora hoje pela manhã.

– Eu não a vi. – o deus deixou que o cabelo voasse de sua mão e colocou a escova na prateleira outra vez. Virou-se para sua mãe e acenou com a cabeça. Deixando o quarto no mesmo instante.

Frigga olhou para o lugar e não conseguiu impedir que as lágrimas lhe escapassem. Não poderia dizer a Loki sobre a sua filha, até porque não sabia onde ela estava. Como a rainha já vivia séculos a fio, sabia sobre a visita daqueles que se assentam acima das sombras. Aprendeu a ver os sinais nos céus e também a se proteger, mas aquilo tinha que ser feito no momento em que as sombras estivessem agindo. Era um feitiço que não era permanente. Acabava alguns minutos depois.

Não pensou em proteger Sigyn ou Loki porque os dois estariam bem longe quando eles chegassem e não precisariam daquilo. Na noite em que vieram, ela se lançou o feitiço e tentou fazer aquilo com Thor e Odin, mas não foi rápida o suficiente.

Quando as sombras se foram, acordou e ainda lembrava-se de tudo, mas os outros não. Tamanha foi a sua surpresa ao perceber Loki de volta ao palácio e nada de Sigyn com ele. Perguntou, mas ninguém sequer havia escutado falar da princesa e ela finalmente se deu conta do que aconteceu. As sombras apagaram a sua menina de todas as mentes de Asgard, incluindo do homem que ela amava.

Respirou fundo ao sair do quarto, queria guardar o cheiro de sua única filha mulher. Não poderia esquecer-se dela. Selaria a porta para que os deuses dos deuses não percebesse que ela havia escapado com suas memórias ilesas. Usou magia para fazer aquilo e camuflou a porta com uma parede contínua. Somente a rainha sabia que aquele era o quarto de Sigyn.

E assim seria por quase um século, quando a sua filha voltasse para casa e o quarto pudesse ser, novamente, destrancado.


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Notas finais do capítulo

É isso amores, espero que tenham gostado e até a segunda temporada!
beijão!!

S. Laufeyson.



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