A última dança escrita por Teddie


Capítulo 7
Epílogo: Parachute


Notas iniciais do capítulo

Eu queria agradecer. Agradecer a todos que comentaram, todos os que favoritaram, a quem recomendou, ou até mesmo a só quem leu. AUD só existiu por vocês, e acredite, terminá-la é bem difícil para mim. Eu ri, chorei, me identifiquei, e espero que o mesmo tenha acontecido com vocês. Acho que pelo menos a parte de chorar. Sinto muito por isso.

Eu comecei uma Auslly nova, e adoraria que vocês passassem lá para conferir.

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Austin respirou fundo, estava há meia hora no carro buscando coragem para sair. Não queria ver o que estava por vir. Doeria demais.

O inverno de Miami não era tão rigorosos quanto o de Nova York, então ele estava apenas com um sobretudo preto, e podia ver que a maioria das pessoas usava isso. Do carro pode ver até Dez usando uma roupa completamente preta. Nunca imaginou que Dez soubesse usar somente preto.

Tinha sorte pelos repórteres não estarem lá, ninguém sabia que ele já tinha deixado Nova York, parecia como a primeira vez em que se encontraram, e ele estava disfarçado. Soluçou, tentando não chorar, ele não podia chorar.

Colocou os óculos de sol e bateu a porta do carro, finalmente com a coragem que precisava. A igreja estava silenciosa, e algumas pessoas choravam. A maioria dos colegas de escola de Allicia estava lá, ele se sentia deslocado.

Avistou Dez e Trish na primeira fileira de bancos perto do caixão. Além dos dois, o Senhor Dawson também estava lá. Ficou com medo, da última vez que ele encontrou com Lester, foi expulso da casa sem poder falar nada.

Trish o viu, e acenou. Dez e Lester o viram, e assentiram, como se concordassem com a vinda do cantor. Ele se aproximou calmamente e se sentou entre Dez e Trish.

“Como está, Austin?” Dez perguntou, mas logo revirou os olhos “Esqueça, foi uma pergunta estúpida”.

“Não, tudo bem. Eu vou ficar bem”.

“Ela faz muita falta” Trish fungou, secando umas poucas lágrimas.

Austin agradeceu por estar de óculos escuros, pois assim ninguém veria que ele também quase não estava aguentando. Algumas pessoas reconheceram os cabelos loiros, e começaram a cochichar, o que o fez ficar ainda mais desconfortável.

“Eu não deveria estar aqui” sussurrou para a latina.

“Claro que deveria, você é... era o namorado dela” Trish se corrigiu.

“Não, não era. Eu fiz uma burrada, lembra? Ela morreu me odiando”. Sua voz estava embargada, sempre que lembrava que ela não tinha o perdoado, seu coração se entristecia.

Não por não ter o perdão, mas por fazer uma menina tão doce partir com um sentimento tão amargo.

“Na verdade...” Trish não conseguiu completar.

“ONDE ELA ESTÁ?” uma mulher de aparentemente quarenta anos entrou na igreja correndo e desesperada. Usava uma roupa preta, e seus olhos azuis não estavam tão desesperados quanto demonstrava.

“Penny?” Lester se levantou e foi até a mulher, que chorava agarrada no caixão.

Aquela era Penny? A mãe de Allicia? Austin sentiu a fúria subir pelo seu corpo. Aquela mulher não tinha o direito de invadir o velório de Allicia, não depois de abandoná-la como lixo quando descobriu a doença da filha.

‘É MUITA DOR, LESTER, EU NÃO AGUENTO” ela chamava a atenção de toda a pequena igreja com seus gritos, e os cochichos, que já tinham começado com Austin, aumentaram ainda mais.

Era muito desrespeito com a Allicia, e Austin não podia deixar que aquela mulher estúpida atrapalhasse.

“Austin, não” Dez tentou segurá-lo, mas Austin era mais forte.

Ele puxou a mulher do caixão, segurando-a firmemente, e a olhando nos olhos. Eles transbordavam falsidade, e ele viu que ela não estava realmente triste.

“O que você pensa que está fazendo aqui?” sussurrou, furiosamente.

“Ela é minha filha.” Respondeu em um tom mais alto, e igualmente revoltado.

“Você perdeu o direito de chamar Allicia de filha quando a abandonou” segurou mais forte os braços finos da mulher.

“Eu sei quem você é” retrucou “Eu não sou a única que abandona, não é, seu famosinho de merda?” cuspiu as palavras.

“Eu estava lá quando ela me falou de você” não deixou a mulher ver que ela o tinha afetado “Eu estava lá nas sessões de fisioterapia, eu estava lá para os remédios que ela odiava, e eu estava lá quando ela chorava pela mãe ter a deixado. Você é repulsiva, e todo esse teatro não vai fazer de você a mãe do ano”, a sacudiu com fúria, libertando toda a raiva que ele sentia.

Não só pela mulher, mas por ele mesmo. Libertando a fúria que ele sentia por ter abandonado Allicia, por ter mentido, por tudo de errado que tinha feito com ela.

“Solte-me agora, ou eu te processo por agressão” Austin a empurrou, e por sorte a mulher não caiu.

Não podia mais ficar ali, não conseguia encarar todas aquelas pessoas, a nojenta da Penny sendo hipócrita no velório da própria filha.

Ele finalmente foi ver o caixão marrom e lustrado. Allicia estava tão linda, tão serena que parecia estar dormindo. Usava um vestido branco que ele dera para ela, e os cabelos estavam soltos e para frente. Quantas vezes ele desejou vê-la sem a cadeira de rodas.

Nunca pensou que seria assim.

Passou a mão pelo rosto pálido e frio da morena, sabendo que ela nunca sorria com o toque, como ela costumava saber.

“Eu te amo e sempre vou te amar, Dawson. Adeus” sua voz embargou de novo.

Despediu-se de Trish e Dez, e saiu da igreja sentindo todos os olhares nele.

O cemitério era ao lado da igreja, que era usada apenas para os velórios. Esperaria ali até que ela finalmente fosse enterrada. Assim teria paz com a garota que amava.

O vento frio batia nele, que tirara os óculos de sol há muito tempo. E ali, sozinho, chorou. Chorou pelas promessas quebradas, mas principalmente por não ter mais Allicia, por nunca mais ouvir a voz dela, por nunca mais poder compor com ela.

Chorou por tudo que perdera.

Era muito injusto que pessoas boas como Allicia morressem, quando existiam tantas outras por ai, que com certeza mereciam punição.

Um braço passou por seus ombros e ele pulou de susto, mas não parando de chorar. Era uma mulher, de no máximo vinte anos, com os cabelos rosa soltos. Usava um vestido branco, envelhecido, e, no entanto, um batom preto.

“Quem é você?” perguntou, secando as lágrimas. Estava assustado, que tipo de pessoa doida abraçava um desconhecido. Tudo o que não merecia agora era alguma fã querendo algo em um momento tão difícil.

“Blue Rose” respondeu.

“Blue... o que? Quem tem um nome assim?” a garota revirou os olhos, mas não parecia chateada. Era como se respondesse aquela pergunta várias vezes.

“Culpe Woodstock, não a mim” retrucou, o loiro só a olhou mais confuso “Olhe, eu era enfermeira da Allicia quando ela estava no hospital”.

“Você também a chama...va de Allicia” sentiu uma simpatia imediata pela garota do batom preto.

“Era o nome dela, não?” sorriu docemente para Austin, que retribuiu. Ambos eram tristes “Ela me entregou uma coisa antes de partir. E não se preocupe, eu não olhei”. Entregou a folha dobrada, e se levantou, pronta para ir embora. No entanto, Austin a impediu.

“Como foi?” não precisou completar, a mulher entendia. Ela torceu os lábios pretos, e olhou chateada para Austin.

“Eu estava com ela, assistindo seu programa. Ela ouvia todas as ligações” sorriu para o cantor, mas ele não retribuiu. Olhava para o papel. “Ela não estava bem há um tempo, anemia forte, atrofia. O coração trabalhou demais. Teve um ataque cardíaco enquanto eu buscava um médico”. Os olhos estavam cheios de lágrimas.

Austin pensou que ela deveria estar como ele, se remoendo de culpa. Ele não a culpava, mas sabia que isso não impedia a garota de sentir-se mal consigo mesma por não ter conseguido ajudar a menina.

“Mas ela te amava, e muito. Acho que de onde ela está, ela te ama ainda”. Sorriu para ele e foi embora, seguindo a pé pela rua vazia.

Austin olhou o papel, sentindo as lágrimas voltarem. Ao longe, podia ver as pessoas dando um último adeus para Allicia, ele podia ver o caixão descendo na terra. Penny ainda estava lá.

Tomando coragem, finalmente abriu. Era uma música. Uma musica para ele.

Parachute

I remember life before
Faraway dreams and locking doors
Then you came, then you came


Afraid to fall, to be free
Always were our worst enemy
Isn't what, what you see


I took time to realize
That I couldn't do it by myself, myself

There's no gravity when you're next to me
You always break my fall like a parachute
When you're holding me so well it's like I barely breathe
You always break my fall, my fall
Like a parachute
You're my parachute

With you it all begins
Feeling okay in my own skin
So alive, I'm so alive


I know this life isn't gonna be perfect
The ups and downs are gonna be worth it
As long as I'm, I'm with you

There's no gravity when you're next to me
You always break my fall like a parachute
When you're holding me so well it's like I barely breathe
You always break my fall, my fall
Like a parachute
You're my parachute

Espero que tenha gostado, Austin. Não sei se poderei viver a tempo que veja essa música pelas minhas próprias mãos moles. E com certeza nunca me ouvirá a contando.

Austin, você mudou minha vida, e para melhor. Você me fez acreditar em mim em todos os momentos em que eu não o fazia. Fez-me sentir amada sempre que eu não me amava. Fez-me feliz em todos os momentos em que estávamos juntos.

Não vou negar que você me partiu por dentro, e se minhas pernas inúteis fizessem algo, te chutaria até elas ficarem inúteis novamente. Eu pensei que nunca te perdoaria, mas então eu percebi que eu tenho tão pouco tempo, e tanta pouca esperança sobre tudo, que eu não poderia me prender a sentimentos tão ruins sobre a melhor pessoa que eu já conheci.

Eu vi você mudar aos poucos, vi você triste, vi você feliz, e quero continuar vendo. Espero que eu continue, e se eu morrer, estarei vendo você do céu – considerando que eu realmente vá para o céu. Acho que eu vou. Aturar você é o pagamento para qualquer pecado.

De qualquer jeito, quero mesmo que você saiba que você é meu pára-quedas, meu porto seguro, aquele que me sustenta quando a vida me joga para baixo em velocidade absurda. E eu seria uma suicida se caísse sozinha. Por isso, eu te perdôo, perdôo você por sentir medo, por sempre estar na defensiva e nunca deixar as pessoas te verem como você é. Eu te perdôo.

Eu te amo,

Sua Allicia.

Austin estava boquiaberto. Era a caligrafia torta dela, porque não conseguia segurar o lápis com firmeza. Ele não sabia o que dizer, não sabia o que fazer.

Mas se sentia aliviado, nada apagaria o que ele fizera, mas Allicia o perdoara, ela não morreu com raiva dele, ela ainda era pura e bondosa.

Olhou de novo para onde o corpo estava enterrado, e secou mais lágrimas. Apenas dez e Trish, que estavam ajoelhados ali. Não sabia de Lester e Penny, nem das outras pessoas, e nem se importava, para ser sincero.

Seus amigos estavam ali, a mulher de sua vida o perdoara. Ele ainda se sentia mal por tudo que fizera com ela, mas agora, poderia se perdoar algum dia.

Foi caminhando calmamente até a lápide da compositora, Trish e Dez sorriram tristemente para ele. Ele se ajoelhou como eles e deixou a carta ali.

“Pelo visto você leu” Trish comentou, Dez estava confuso, mas a menina o situou.

“É, eu li” disse somente “Sabe, estou feliz por vê-los novamente, mesmo que a situação não seja propícia”.

“E nós por ver você’ Dez comentou “Gostei do que fez com Penny, ela mereceu”.

Austin deu de ombros, estava mais preocupado com a lápide.

Allicia Dawson

Compositora, amiga, apaixonada.

Fez da música sua vida, fez sua vida com a música.

“O que você pretende fazer agora, Austin?” Trish perguntou.

Ele não sabia, de verdade. Tentaria superar, primeiro. E depois, quando conseguisse, viveria.

Viveria por Allicia.

“Não importa muito, contanto que ela esteja comigo”. Sorriu para os amigos, se levantando e indo embora.

E ela estaria.


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