Rosaceae escrita por Nina


Capítulo 12
Toque de branco


Notas iniciais do capítulo

Hey!
O capítulo de hoje é na loja de noivas, sim!
Espero que gostem.



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Quando cheguei em casa, Jack ainda estava lá incomodando a governanta. Tá, não era verdade, eles já eram mais amigos do que eu e a governanta, e nós nos conhecíamos desde sempre. Ambos estavam na cozinha conversando e rindo, provavelmente de mim.

– Já contaram tudo sobre mim ou tem mais alguma coisa? – Perguntei ao entrar na cozinha.

– Rosie querida, esse seu amigo é um amor. – Disse a governanta.

– Escutou Rosie? Um amor. – E ambos começaram a rir. – E sim, já descobri tudo sobre a sua vida. Mas eu não achei o seu diário.

– Jack, a Rosie não tem nenhum diário. – Disse a governanta. – Ela não gosta de relembrar o passado. Ela não guarda nada além de centenas de livros.

– Então foi por isso que não achei ele. – Jack parou para pensar. – Então deve ter alguma coisa nesses livros.

– Tem. Se chamam palavras e elas formam histórias. – Disse. – Eu não vou ficar escutando vocês falando de mim.

Saí da cozinha e fui para o meu quarto tomar um banho e me ajeitar para dormir. Tinha muitas coisas em minha cabeça naquele dia, muita coisa para procurar e resolver.

O banho foi rápido e logo eu estava de pijama na cama embaixo das cobertas. Eu desliguei as luzes e tentei dormir, mas o sono não vinha. Eu estava tão cansada, mas a mente estava tão perturbada que eu não conseguia nada além de me debater na cama.

Escutei alguém subindo as escadas de meu quarto e soube imediatamente que era Jack, a governanta nunca vinha até o meu quarto quando não era chamada.

– Rosie? – Ele sussurrou. – Você está acordada?

– Não. – Murmurei.

Ele se aproximou e sentou na cama ao meu lado. Ficou ali me observando durante um tempo e depois deitou-se olhando diretamente para mim.

– Como foi? – Sussurrou.

– Melhor do que eu imaginava que seria. – Suspirei.

– Então você irá se casar com Marc?

– Sim.

– Quando? – Perguntou Jack.

– Duas semanas.

– Duas semanas?!? – Jack parecia frustrado e horrorizado.

– Eu sei que é pouco tempo, mas é a única data disponível antes que meu avô... Você sabe. – Virei meu corpo e passei a encarar o teto. – Amanhã tenho que ir atrás do vestido. Acho que levarei o Bob, assim fica bem mais fácil achar alguma roupa.

– E como você levará o Bob para uma loja? – Ele se virou e passou a encarar o teto também.

– É só passar ele para o meu celular e quando chegar lá conectá-lo aos dados dos vestidos, e ele fará sua mágica.

– E depois? Você fará o que?

– Não sei. – Dei de ombros. – Acho que irei fazer a lista de convidados. Talvez eu ligue para a Hanna para ver se ela poderá vir para o casamento.

Ficamos em silêncio depois disto. Eu comecei a fechar meus olhos e me ajeitei na cama de modo que ficasse de frente para Jack. Eu estava tão cansada, meu corpo estava tão leve, minhas pálpebras começaram a pesar e o sono começou a vir.

Eu adormeci assim, sem expulsar Jack do meu quarto, sem me preocupar com o que poderia acontecer, sem fechar a passagem do meu quarto e nem ao menos imaginei o que viria no amanhecer.

A noite foi tranquila como todas as outras noites, sem sonhos novamente. Quando acordei, minha cama estava toda bagunçada e havia um bilhete no criado-mudo que dizia “Me encontre na Les Trois Soeurs Bridal. Lá deve ter algo para o seu casamento que não vai acontecer. Jack”. É, parecia que ele não iria desistir tão fácil.

Me espreguicei e sai da cama. Desci até a cozinha e tomei café da manhã com a governanta me dizendo como tinha gostado do rapaz que passara a noite ali. Então ele tinha ficado ali? Interessante.

Voltei ao meu quarto e coloquei um vestido pois assim seria mais fácil de tirá-lo para provar os vestidos de casamento. Transferi Bob para o meu celular e terminei de me arrumar. Desci até o escritório e peguei a chave do meu carro favorito: o vermelho.

Jack disse para encontra-lo em uma das lojas mais caras de Londres, então eu teria que me apresentar a altura para gastar todo aquele dinheiro em um simples vestido.

Sai de casa e avisei a governanta que não precisaria me esperar para o almoço já que provavelmente levaria muito tempo para achar um vestido que eu gostasse e não fosse absurdamente espalhafatoso.

Parei o carro próximo a loja e peguei minhas coisas. A loja era enorme e tinha uma infinidade de vestidos espalhados por todos os lados. Eu via várias mulheres andando de um lado para o outro procurando o vestido perfeito e os atendentes correndo de um lado para o outro com vários vestidos nos braços.

– Rosie! Que surpresa. – Disse uma mulher nobre que eu não tinha certeza de onde conhecia. – Você veio ajudar alguém escolher o vestido? Talvez para a sua mãe?

– O que? – Perguntei ainda confusa. Do que ela estava falando? – Eu vim escolher o meu vestido.

– Você vai se casar? Que magnífico! Mas com essa idade? Não é meio cedo? – A mulher parou para pensar e deu de ombros. – Quando se acha o amor verdadeiro, nunca é cedo demais. Quem é o felizardo?

– Marc. – Murmurei. – Marc Heck.

– Ele é um amor! Você vão formar um casal tão bonito. Você vai ser uma noiva tão linda Rosie. – Ela suspirou como se imaginasse a cena. – Você veio sozinha escolher o vestido? Por que se precisar de ajuda...

– Rosie, eu estava procurando por você! – Disse Jack me salvando de ter que continuar com aquela mulher que nem o nome eu lembrava. – Você está atrasada! Nós temos de escolher este vestido logo.

Jack me arrastou para outra sessão de vestidos da loja e fingiu que estava irritado enquanto me levava por intermináveis labirintos de vestidos. Em um dos corredores um homem estava esperando impaciente.

– A mocinha resolveu aparecer. – Disse o homem. – Você tem certeza que quer casar?

– Não. – Disse.

– Então por que está aqui? – Perguntou o cara.

– Porque eu devo me casar de qualquer jeito! E você nem me conhece, talvez devesse ficar quieto e vender a porcaria do vestido que vim buscar. - Gritei com ele. – E esse não é um bom jeito de atender as pessoas, talvez assim você perca os seus clientes!

– É Jack, ela é irritada como você disse. – Ele olhou para Jack e suspirou. – O que você procura especificamente?

– Os dados contendo todos os vestidos da loja.

– Para quê?

– Para acoplar me celular nele e deixar a mágica acontecer.

– Do que ela está falando? – Ele encarou Jack.

– Ela tem um programa, um robô, não sei explicar... Só leve ela até lá que ele irá achar o vestido perfeito e assim iremos poupar metade do seu trabalho Sam. – Então esse era o nome dele.

Sam revirou os olhos e me levou até um dos computadores que havia no corredor. Acoplei o celular ao computador e automaticamente Bob começou a pesquisar o vestido perfeito. Apareceram seis vestidos que ele considerava perfeitos e eu os mostrei a Sam que logo saiu para pegá-los.

Desacoplei meu celular do computador e me dirigi a uma sala que Sam disse que eu e Jack deveríamos esperar. Ela era do tamanho médio e tinha as paredes rodeadas de espelhos. Um sofá ficava em um dos lados dela e à direita tinha uma porta onde ficava o provador. Eu e Jack sentamos no sofá e esperamos pela volta de Sam.

– Eu ainda não acredito que você está aqui para escolher o vestido. – Digo. – E também não acredito que você dormiu lá em casa de novo!

– Acredite Rosie, acredite. – Disse ele sorrindo de lado.

Sam apareceu com os seis vestidos pendurados em uma arara que ele arrastava. Ele me passou um deles e falou para eu me trocar enquanto ele e Jack conversavam.

Fui até o provador e comecei a me despir e coloquei o vestido que Sam havia me dado. Foi uma luta extraordinária para entender como colocar aquele vestido do jeito certo, mas no fim eu consegui. Quando saí do provador fui até o meio da sala e pude me ver nos espelhos.

– O que vocês acharam? – Disse contendo o riso. Eu estava horrível.

– Acho que este não é o vestido certo Rosie. – Disse Jack tentando não rir.

– Eu não sei, eu adorei essas faixas estranhas penduradas pelo vestido todo. – Passei a mão no vestido. – Pense comigo, se alguém se machucar é só arrancar do vestido e usar como atadura. É perfeito!

Ele e Sam começaram a rir, eu peguei outro vestido da arara e voltei para o provador. Foi mais uma luta para conseguir tirar o vestido e colocar o outro. E novamente voltei para a sala dos espelhos. O vestido não estava tão ruim, mas não era o vestido perfeito.

– Não é este o vestido. – Disse Jack.

Eu peguei o próximo vestido e o levei ao provador. Levei alguns minutos para tirar o vestido e colocar o outro. Quando estava quase terminado de fechar o zíper do vestido comecei a escutar uma voz de mulher na sala.

– Sam, você terá que ir atender uma outra noiva na sessão 42. Ela disse que tem que ser você e se não for ela irá comprar o vestido em outro local. – Disse a mulher enquanto eu saia do provador. – Eu ficarei aqui em seu lugar.

– Tudo bem Janne. – Sam se levantou e foi até a porta. – Boa sorte Rosie.

– Obrigada. – Disse e fui até o centro da sala.

– Não, definitivamente não. – Disse Jack. – Você engordou uns dez quilos com esse vestido, você até parece que pesa alguma coisa agora, mas essa cor está horrível em contraste com a sua pele.

Revirei os olhos e me olhei no espelho. Ele estava certo, eu parecia mais gorda e minha pele estava com uma cor estranha. Não tinha ficado legal. Desde quando Jack entendia tanto de vestidos?

Peguei mais um vestido e fui me trocar. Peguei os outros três que já tinha provado e deixei em um dos cantos do provador. Quando eu saí para a sala dos espelhos pela primeira vez vi um vestido que me agradou um pouco. Ele era simples e tinha uma cauda sereia. Era branco e tinha pequenos bordados no busto.

– Finalmente algum vestido razoável. – Disse Jack. – Esse leva o meu sim, mas ainda não é o vestido perfeito.

– Eu acho que ficou lindo em você. – Disse Janne. – Mas veja os outros, pode ser que ainda esteja reservado o melhor para o final.

Concordei e peguei o próximo vestido de suas mãos. Entrei no provador e peguei os outros vestidos já provados e entreguei a ela para que ela os guardasse. Tirei o vestido que estava e deixei ele reservado já que era o único até o momento que tinha levado um sim.

Quando coloquei o vestido no provador ele já me parecia perfeito. Ele era branco e prateado e tinha uma saia comprida que com certeza iria arrastar a uns bons dois metros depois de meus pés. Ele tinha pequenas pedrinhas prateadas bordadas na parte de cima dos ombros e a parte de traz era transparente. O problema é que não conseguia fechar o vestido.

– Alguém pode me ajudar a fechar o vestido, por favor? – Disse colocando a cabeça para fora do provador.

– Já vou te ajudar. – Disse Janne se levantando do sofá e indo até o provador.

Ela fechou a porta atrás de si e começou a abotoar o vestido na parte de traz.

– Ele é o seu noivo? – Me perguntou.

– Não. É apenas meu amigo. – Respondi.

– Ele tem namorada? – O que ela queria? Pegar ele?

– Não que eu saiba. – Respondi.

– Ele é gay? – Me perguntou com a maior naturalidade.

– Hã? Não! Por que a pergunta?

– Porque ele é amigo do Sam, bem amigo. E ele entende de roupas e tons. E ele é bem bonito e como você disse, sem namorada. Não é como se todos os dias aparecessem caras aqui para ajudar suas amigas. – Ela realmente achava que ele era gay? Melhor assim então. – Ponto, terminei.

Agradeci e sai do provador. Jack já estava quase deitado no sofá e parecia muito entediado. Janne me ajudou a arruma a saia do vestido e eu me olhei no espelho. Eu parecia uma noiva realmente, o vestido realçava a cor de meus olhos e escondia o quão magérrima eu era, mas não me engordava. Ele parecia perfeito.

– Preciso dizer sim? – Perguntou Jack.

– Não. Mas tenho ainda um último vestido para provar.

Peguei o último vestido e levei ele para o provador. Este vestido tinha detalhes em renda e era todo branco. Ele era mais colado que os outros e definia bem meu corpo. Sua saia se abria em uma sutil cauda sereia. A parte das costas era mesclada entre a renda e a parte aberta, onde minhas costas nuas apareceriam. O véu era comprido e em sua borda tinha mais renda.

Saí da sala e logo vi um sorriso no rosto de Jack e de Janne. Parecia que aquele era o vestido perfeito, era com aquele vestido que eu iria me casar.

– Eu me casaria com você agora se pudesse. – Disse Jack. – Totalmente sim para este vestido. Pode pagar e mandar entregar em sua casa.

– Então este é o vestido? – Perguntou Janne.

– Sim, este é o vestido. – Respondi.

Entrei no provador uma última vez e coloquei minhas roupas. Entreguei o vestido a Janne e acompanhei ela até o balcão no meio da loja. Lá a dona atendia várias ligações o tempo todo e me atendeu o mais rápido que podia. Ela anotou onde eu morava, quando seria o casamento e quando queria que fosse entregue o vestido. Eu paguei pelo vestido, gastando assim parte da minha herança.

Fui almoçar com Jack em um dos restaurantes próximos à loja e enquanto esperávamos nossas comidas ficarem prontas começamos a conversar.

– Ainda não acredito que você irá se casar daqui duas semanas. – Disse Jack.

– Pois passe a acreditar. E você acabou de me ajudar a escolher o vestido desse casamento. – Suspirei. – E agora vem a parte mais difícil: escolher os convidados.

– Simples, é só convidar toda a nobreza. Não é como se fosse difícil. – Murmurou Jack. – E me convide, claro.

– É claro que você vai ser convidado. Quero você comigo lá no altar como meu padrinho. – Digo.

– Você deve estar brincando.

– Não estou não. – Olho bem para ele. – Seu sonho não era estar comigo no altar?

– Mas não era desse jeito! – Reclamou ele.

– Mas é assim que vai ser a partir de hoje Jack! Aceite de uma vez. – Suspirei. – Vai aceitar ou não? Se você não quiser vou chamar o Peter, com certeza ele irá aceitar.

– Tá, eu aceito. – Ele revirou os olhos. – Mas que você entenda que é de má vontade.

– Não é como se eu esperasse mais de você. – Me aproximo dele. – Você não queria me fazer feliz? Suba naquele altar e faça alguma careta para que o sorriso em meu rosto seja verdadeiro. Eu não posso me sentir triste no dia de meu casamento.

– Eu não posso me sentir triste no dia do meu casamento. – Ele repetiu fazendo uma careta.

– É sério Jack!

– É sério Jack. – Ele repetiu. Ele iria continuar com essa infantilidade?

– Eu desisto. – Digo. – Vou achar um novo melhor amigo que goste de mim e possa virar meu amante um dia.

– O que? – Jack me olhou embasbacado.

– Estou só brincando. – Empurrei ele.

Nossas comidas chegaram e nossa conversa chegou ao fim. Seria bom ter um dos gêmeos no altar, talvez assim eu pudesse olhar para ele e sorrir ao invés de olhar para Marc. Eu só sabia que o primeiro sorriso que lançasse a Marc seria o primeiro de muitos outros sorrisos sem sentido. E eles seriam pelo resto de minha vida.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler!
Saudações e até o próximo.
Marina



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