Rosaceae escrita por Nina


Capítulo 1
Olhos cintilantes


Notas iniciais do capítulo

Não tenho muito para falar da fanfic. Era uma das ideias que tinha para um livro, mas acabou que não tenho tempo suficiente ara escrever um livro com capítulos enormes e numerosos, então a ideia passa a ser uma fanfic a partir de agora. Acho que era isso... Portanto prepare-se, pois a fic começa em poucos minutos. Procure um banco no vagão e sente-se confortavelmente e acomode-se para ler. Você terá direito a 3 idas ao banheiro a cada capitulo, nada mais e nada a menos. Os salgadinhos serão vendidos ao decorrer da história. Certifique-se de que suas mãos e pés estão protegidos dentro do vagão. A companhia Marina Express não se responsabiliza por danos, lágrimas, gritos, euforia, raiva, perdas, dor e alegrias. Agradecemos pela preferencia! O passeio começa em 3, 2, 1...



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/570674/chapter/1

Eu sentia. Sentia em minhas entranhas. Era um sentimento que se apossava de meu corpo e minha mente. A única coisa que importava naquele momento era dançar e sentir meu corpo se movimentar ao ritmo da música. Dançar era como respirar: tão simples e natural que eu nem percebia que estava acontecendo.

Eu precisava ser perfeita, dar tudo de mim. Era meu último dia em Veneza, meu último dia na terra natal de meu falecido pai, minha última chance de impressionar meu avô e provavelmente minha última chance de dançar. Vovô, ou Duque Lewen como era mais conhecido, nunca aceitou o fato de eu ter abandonado o meu dever como herdeira e ter seguido meu sonho de ser dançarina.

Todas as vezes que nos encontrávamos havia algum motivo para brigar. Esta era a última chance que eu tinha para convence-lo de que aquela era minha vocação, não a de carregar o legado dos Lewen nas costas. Eu não estava preparada para isso.

Dançar era minha única saída do mundo dos nobres. Por isso fugi de casa havia três anos. Mas o sentimento de liberdade não durou muito tempo. A guarda particular da família me encontrou três dias depois e me arrastaram de volta para casa. Como forma de me fazer continuar em casa um trato foi proposto: Eu tinha até os vinte e um para mostrar ao meu avô de que dançar era minha vocação, ou eu teria que assumir o ducado dos Lewen e me casar com um nobre qualquer.

O problema é que meu avô estava seriamente doente e como legitima herdeira eu teria que assumir o ducado ou renuncia-lo. Isso fez com que meu prazo de seis anos se reduzisse pela metade. E como grande conservador das tradições, meu avô faria com que eu assumisse o legado de qualquer jeito. Para ele eu assumia o ducado ou eu estava morta.

Meu leque de opções não era muito abrangente. Mas uma pequena esperança ainda estava alojada em meu peito. Sonhar nunca é demais.

Com o ducado não vinha apenas um título de nobreza. Com ele vinha a total responsabilidade sobre as propriedades e empresas da família. Vinha as reuniões e os encontros com outros nobres. Vinha o casamento. E ainda vinha com todos os problemas sociais, políticos e estruturais do país.

A apresentação passou tão rápido quanto o simples despertar. Finalmente pude olhar diretamente para a plateia do Teatro La Fenice. As palmas eram acolhedoras e reconfortantes. Era bom saber que minha despedida da dança tinha o mesmo som de fundo que todo parabéns em aniversários, de todo fim de discurso com belas e sabias palavras e de todo fim de uma boa canção de acampamento. Todos traziam consigo sentimentos bons e a certeza de que foi bom enquanto durou.

Me despedi mais uma vez do público e sai calmamente do palco. Minha vontade era de nunca sair dali, mas o sentimento de dever e culpa palpitava em minha mente. Eu precisava assumir meu papel e parar de fingir que poderia ser outra coisa. Eu precisava pensar em minha família, principalmente em meu avô que estava quase morrendo.

O camarim era sempre um local acolhedoramente pequeno e abafado. Desta vez ele parecia enorme e solitário, frio e cinza, sem cor e sem vida. Porque as despedidas tinham que ser tão cruéis?

O leve farfalhar das cortinas na parede era familiar de mais, o cheiro era simplesmente bom o suficiente e o espaço era reconfortante como o abraço de mãe. Agora, triste, meu coração se partia em mil pedaços. Era como ter que escolher qual dos seus dois amores você preferia perder, mas a escolha não ser realmente sua.

O leve som do toque na porta me despertou de minha tristeza. Limpei as lágrimas que escorriam pelos meus olhos, as quais sequer havia percebido que começaram a cair. Se fosse para enfrentar o Duque Lewen, seria com um sorriso no rosto e sem nenhuma expressão que demonstrasse submissão.

Para minha grande surpresa não era meu avô que entrou em meu camarim. Um homem realmente bonito e educado entrou e me cumprimentou com um leve beijo em minha mão. Ele aparentava ter quarenta anos, tinha olhos castanhos, pele branca, os cabelos negros e seu porte era elegante de mais. Provavelmente era mais um nobre querendo alguma coisa.

Convidei-o a sentar-se na cadeira que havia em minha frente. Assim o fez e pôs-se a procurar em seu paletó seu charuto. Quando o achou começou a tragar e contaminar o ar com cheiro de canela.

– Senhorita Lewen, é um prazer finalmente conhece-la. Sou o Conde Filippus II, da França. Lembra-se de mim? – Ele me encarou e aguardou pela resposta. Balancei minha cabeça negativamente. – Mas é claro que você não se lembra. Era apenas um bebê quando à vi pela última vez. Era um grande amigo de seu pai, homem maravilhoso ele. Bom, mas não foi por isso que vim aqui. Hoje em minha casa terá uma festa e eu gostaria que a senhorita comparecesse.

– Obrigada pelo convite, Conde Filippus. Mas creio que não será possível comparecer à sua festa. Meu avô quer que eu volte para Inglaterra hoje mesmo e assuma minha posição.

– Senhorita Lewen, deixe-me convence-lo. Conheço Harrison Lewen a muito tempo. Não há como ele rejeitar minha oferta.

O ar estava agonizante. Aquele cheiro de canela estava impregnando em minha alma já. Eu precisava tirar aquele Conde de meu camarim. E logo.

– Conde Filippus, eu conversarei com meu avô e verei o que posso fazer.

– Me prometa Rosie Lewen que irá convencer seu avô e que irá comparecer à festa de hoje.

Ele realmente tinha me chamado pelo nome? Que intimidade ele pensava que tínhamos? Eu nem o conhecia.

– Eu prometo que farei o possível.

– Ótimo. – O Conde se levantou. Beijou minha mão novamente e se dirigiu para a porta. Antes de eu conseguir fechar a porta, ele deu meia volta e abriu um grande sorriso. – Antes que eu me esqueça. Quero que você conheça na festa de hoje o Senhor Heck. Garanto que vocês vão se dar bem.

E com isso ele partiu. Nenhuma outra informação, nenhuma outra indicação, nada. Só a pequena intimação de participação de sua festa. E também o fato de conhecer esse tal de Senhor Heck. Que esse cara pensava que era? Agora que eu nunca mais iria chegar perto de alguém com o sobrenome Heck!

Fechei a porta do camarim e me joguei no sofá que havia no camarim. Fiquei ali deitada por cerca de dez minutos, momento que minha cabeça começou a latejar por conta do cheiro e da fumaça do charuto do tal Conde.

Bufei e levantei do sofá. Me dirigi ao banheiro que tinha no camarim para me trocar. Lá minhas roupas já estavam prontas. Troquei-me e aproveitei meus últimos minutos para guardar tudo o que eu pudesse do camarim em minha mente.

Quando meu tempo acabou, sai do camarim e fechei pela última vez sua porta. Dali para frente eu só me preocuparia com o ducado e com a situação do país. Era o meu finalmente adeus para a dança.

Meu avô e minha mãe me esperavam na frente do teatro. Eles pareciam ansiosos e temerosos ao mesmo tempo. O que eles pensavam que eu iria fazer?

A cara de alívio do Duque Lewen ao ver que eu carregava minhas malas sem nenhuma resistência foi surpreendente. Até que ele tentou esconder o sorriso, mas não adiantou.

– Você fez a escolha certa querida. Só precisamos agora treina-la e prepara-la para tomar meu lugar algum dia.

Após dizer isso, ele me ajudou com a bagagem. Colocou-as no porta-malas do carro e entrou no veículo. Entrei logo depois e aguardei pelo seu típico sermão.

– Escute, Rosie. Eu sei que você queria que as coisas fossem diferentes, mas é assim que nós vivemos agora. Os livros que você lê sobre tempos passados mostram a você uma época em que não existiam os títulos de nobreza. Mas se você voltar mais na história, verá que já existiram nobres na época antiga, antes da era Moderna.

– Eu sei vovô, mas eu não entendo o porquê foi instituída a nobreza novamente. Isso só faz com que a população fique dividida mais uma vez. Nem rei nós possuímos! A única coisa que aconteceu foi que as pessoas da burguesia se auto intitularam nobres. E você foi um desses! Você tem alguma ideia de como as pessoas pobres vivem? Creio que não. Nem eu sei, mas garanto que a vida deles não deve ser nada fácil. Pelo menos eles não se parecem com bonecos sendo controlados!

Vovô me encarou e eu desviei meu olhar, não iria continuar a debater questões polícias e sociais com a pessoa mais conservadora de tradições que eu conhecia. Nada estava certo no mundo agora.

Minha mãe me contava quando pequena a história do mundo. Antes da era que estávamos vivendo, teve a era Moderna. Foi uma época em que a tecnologia se desenvolveu muito rapidamente. Tudo girava em torno da velocidade, da informação e da facilidade.

Muitos burgueses eram donos das empresas que criavam e forneciam esse tipo de produto. Mas eles começaram a competir entre eles e isso acabou gerando uma guerra tecnológica.

O único modo de acabar com essa guerra, foi um tratado que fizeram por volta do ano 2042. O tratado dizia que mais nenhuma tecnologia deveria ser criada por mais de uma empresa. E foi assim que os burgueses começaram a se tornar mais ricos.

Quando apenas uma empresa vende um determinado produto e não há concorrência, o preço é absurdo. Vovô foi um desses burgueses que enriqueceu. Sua empresa era uma das que mais arrecadavam lucros. Ele se tornou um dos homens mais ricos do mundo.

Em 2068, outro tratado foi feito entre os burgueses. Eles instituíram novamente a nobreza, agora formada por poderosos e ricos burgueses. O tratado contem a assinatura de cada um dos representantes das doze famílias nobres. E todos os anos ele deve ser renovado com a assinatura de um dos representantes.

Há somente uma das assinaturas originais que permanece no tratado. A do meu avô. E com sua doença se alastrando, outro herdeiro deveria assumir seu lugar. E para quem sobrou esta responsabilidade? Isso mesmo, para a querida e frágil neta do Duque, eu.

Eu era totalmente contra esse regime que vivíamos. Os pobres estavam cada vez mais pobres e oprimidos. Os ricos cada vez mais ricos e todos pareciam bonecos, todos falsos assumindo um papel. Fingiam ser quem não eram. O mundo era uma mistura da época Moderna e da Idade Média. Lá estavam os nobres cercados por sua preciosa tecnologia.

E lá estava eu, querendo revolucionar o mundo com minhas ideias. Lá estava eu querendo fugir da nobreza. Lá estava eu tentando ser quem eu não era, mas quem eu queria ser.

– Rosie – Vovô calmamente me chamou o que me fez encara-lo. O que ele queria agora? – O Conde Filippus II me procurou. E sim, você pode ir a festa dele.

– O que? Isso quer dizer que não precisamos voltar para a Inglaterra hoje?

– Sim querida. E isso quer dizer também que você deverá se portar como a legitima herdeira na festa. – E lá vinha o lado ruim da festa. Ter que ser quem eu não era. – O Conde também me falou do Senhor Heck, acho que você deveria conhece-lo. É um rapaz de boa família e tem apenas três anos a mais que você.

– Vovô, eu aceitei assumir o ducado, mas eu ainda não aceitei me casar. Vá com calma.

Vovô riu e começou a dar mais instruções para o motorista. Aquele não era o caminho para o hotel onde eu estava hospedada. Onde estávamos indo?

– Vovô? – Aguardei e ele nada disse. – Duque Lewen? – Ainda sem nenhuma reação. – Senhor Harrison Lewen será que dá para me responder?

Ele começou a rir novamente e me encarou.

– Diga, Rosie.

– Onde estamos indo? Eu preciso me arrumar para ir para a festa.

– Estou te levando para a casa nova que comprei aqui em Veneza. Seu pai iria adorar ela. – Vovô sorriu tristemente. Havia quinze anos que meu pai tinha morrido. Acho que ele nunca superou a perda de seu único filho. Ele adorava minha mãe, mas ela não era sua filha. Como eu tinha apenas três anos, ele me adotou e me trata até hoje como sua filha e não como neta. – Você vai ama-la também. Tem um quarto enorme, um jardim todo florido e uma biblioteca com todos os seus livros favoritos.

– Espero que nela também tenha uma sala de música e um salão de baile.

– Rosie... Não abuse da sorte. O combinado é que você nunca mais volte a dançar. Você deve se dedicar como herdeira.

– Meu avô, eu sei. Mas e quando eu estiver sem fazer nada? Eu poderia matar meu tempo dançando no salão.

– Rosie, a casa tem um salão de baile. Você poderá dançar lá se não tiver nenhum compromisso. Mas nenhum mesmo. Você só não poderá voltar a dançar em público e se apresentar para as pessoas.

– Bom, é melhor do que nada. – Dei de ombros e abracei-o.

Quando chegamos em nosso destino pude contemplar a mansão que ele havia comprado. Esperei o carro parar e saí correndo dele para explorar cada canto da casa. Não demorou muito tempo, mas um local eu ainda não havia achado: meu quarto.

Como uma pessoa pode não achar seu próprio quarto?

Vaguei mais uma meia hora pela casa e desisti de procurar. Fui até o gabinete de meu avô e perguntei onde era meu quarto. Ele riu e me encaminhou para a biblioteca.

Por que ele estava me levando para a biblioteca? Eu queria ver meu quarto!

Chegando lá ele virou levemente a cabeça de uma das estatua de leopardo que havia na lareira. Uma das paredes revelou uma abertura secreta e vários degraus surgiam dela e levavam para algum lugar lá em cima.

– Por que este cômodo?

– Veja por si só Rosie.

Subi desesperadamente as escadas e me deparei com o melhor cômodo da casa. O teto era metade de vidro e metade de monitores. As paredes eram dos mesmos materiais. Havia uma sacada enorme e a vista era do jardim.

Tinha tudo o que eu precisava e muito mais. Toda a tecnologia possível estava naquele quarto.

– Querida, clique na tela que tem em cima da sua cama.

Peguei a tela em minhas mãos e cliquei. A tela se acendeu e nela havia escrito “Diga o que quer”.

– Diga que paisagem você gostaria de ver Rosie.

– Eu gostaria de ver nossa casa na Inglaterra.

As telas nas paredes e no teto projetaram a imagem de nossa casa e a cena era maravilhosa. Eu estava em um cômodo dividido em dois locais distintos do mundo.

– Isso é fantástico! Como o senhor conseguiu isso?

– A empresa Lewen’s está desenvolvendo novas tecnologias. Essa é uma delas. Esta tela controla tudo neste quarto, desde ligar os aparelhos até escolher que roupa fica adequada em você. Espero que as roupas que sua mãe escolheu fiquem bem em você. Espero você lá em baixo em três horas.

Ele começou a se dirigir para a escada e sorriu para mim.

– Ah, antes que eu esqueça. Ele é um robô Rosie. Ele pode falar com você e ele tem um nome, mas ninguém sabe qual. Ele foi programado com a sua voz e só obedece a você. Espero que se deem bem.

E com isso ele partiu.

Sentei na cama e olhei bem para a tela. Eu queria conversar com meu quarto realmente? Seria uma boa ideia? Bom, não custava nada tentar.

– É-é... Você fala?

“É obvio que eu falo. Fui programado para isso” Meu quarto me respondeu. Realmente essa era a coisa mais maluca inventada.

– Bom, já que você fala, poderia me dizer seu nome?

“Meu nome é Z-4289. Mas pode me chamar de Bob.”

– Muito prazer Bob. – Eu comecei a rir de mim mesma por estar falando com uma máquina. – Bem, eu preciso me arrumar para a festa do Conde Filippus II, será que você poderia me ajudar?

“Será um prazer Senhorita Lewen”

– Bob, me chame apenas de Rosie. Se vamos passar um tempo juntos, é melhor nos tratarmos bem.

“Como quiser Senhorita Lewen... Quer dizer, Rosie.”

Eu sorri e me dirigi para o banho. Eu estava precisando daquilo. Estava precisando relaxar e me limpar. O banho de espuma revelou-se milagroso.

Depois que saí do banho vestida com meu roupão comecei a secar meu cabelo e fiquei conversando com Bob. Era bom ter alguém para conversar.

– Bob, hora de você fazer sua mágica. Me dê o vestido perfeito para a festa de hoje.

“É para já”

As araras do guarda-roupa começaram a girar e se movimentar. Várias peças de roupa passavam pela porta de vidro do armário e eram maravilhosas. Mas nada se comparava ao vestido que Bob escolheu.

Ele era longo e vermelho. Seu decote em forma de coração era todo trabalhado e bordado com pequenas pedrinhas pretas. Tinha uma abertura na saia o que fazia me sentir sensual mas sem ser vulgar.

“Eu diria que os acessórios perfeitos seriam o 143 e o 127. E o sapato perfeito seria o 390”

Algumas gavetas e armários se abriram e revelaram joias maravilhosas e sapatos divinos. Procurei as numerações que Bob tinha dito e ele estava certo, ficaram perfeitos.

– Obrigada pela ajuda Bob.

“É o meu trabalho.”

Terminei de me arrumar e olhei-me mais uma vez no espelho do quarto. Lá estava eu linda e maravilhosa, mas não era eu. Era apenas uma construção social, maquiagem e roupas bonitas. Talvez eu começasse a ser assim sempre.

“Você está muito bonita Rosie.”

– Obrigada. Mas não se parece comigo... Bob, você poderia me mostrar o Teatro La Fenice?

As paredes me mostraram o teatro que a poucas horas eu havia deixado para sempre. Eu sentiria falta de lá.

– Obrigada Bob. Até mais tarde.

Desci para a sala e lá estava meu avô me aguardando. Ele me recebeu com um caloroso sorriso e me levou até o carro.

A jornada até a casa do Conde Filippus II não levou muito tempo, o que foi bom. A festa estava exatamente do jeito que eu imaginei que estaria: cheia de gente chata e falsa reunida em um lugar.

Não havia passado nem dez minutos e já estava me arrependendo de ter ido à festa. A bebida era horrivelmente doce e o calor estava insuportável. Dancei com alguns cavalheiros que insistiam em me ter como parceira. Não foi tão divertido quanto dançar sozinha, mas dava para o gasto.

Depois de duas horas de festa e nada de interessante acontecendo resolvi sair daquele salão. A brisa gélida da noite foi bem-vinda. O jardim do Conde não se comparava com o da casa do vovô, mas era belo mesmo assim.

Sentei-me em um dos bancos e fiquei a observar a paisagem. O céu estava repleto de estrelas e a lua estava cheia e iluminava boa parte do jardim.

– Uma garota como você não deveria estar aqui fora sozinha.

Olhei para traz e vi apenas o vulto de uma pessoa atrás de mim. A pessoa era claramente um homem pela voz e era mais alto do que eu. Bom, não que precisasse de muito para ser mais alto já que eu tinha apenas 1,63 de altura.

– Eu prefiro ficar aqui sozinha ao entrar novamente naquele salão e escutar aquelas pessoas hipócritas falando de como a empresa delas vai bem.

– Você fala como se não fosse uma dessas pessoas.

– E eu não sou! Eu fui obrigada a ser assim, e eu não quero. Tudo está errado... Espera, por que eu estou falando isso para você? Esqueça isso e apenas me deixe aqui.

Ele se aproximou e sentou-se do meu lado, mas do lado contrário do banco. Seu rosto ainda estava coberto pela sobra e eu não conseguia vê-lo.

– Por que ficou aqui? – Perguntei já irritada. Eu queria ficar só.

– Porque acredito que você quer mudar o mundo, só não sabe como. Eu sou assim também, não aceito os ideais da nobreza e por isso me rebelei contra ela. Mas algumas consequências vêm com seus atos. Por isso venho alertá-la de que você deve pensar bem no que irá fazer.

– Eu não vou fazer nada! Eu apenas quero ficar sozinha apreciando a natureza e os meus pensamentos. Será que eu posso?

– É claro madame, mas antes me responda algumas perguntas. Primeiramente, qual é seu nome? Ou eu terei que adivinhar?

– Meu nome é Rosie Lewen. Pronto, poupei-o de tentar adivinhar.

Eu queria que aquela conversa acabasse logo. Parecia que quanto mais eu queria que ele fosse, mais ele ficava.

– Neta do Duque Lewen, acredito eu. – Ele se calou durante um tempo. Parecia me avaliar. - Você é famosa. A garota que se rebelou contra a nobreza, fugiu e seguiu seu sonho de ser dançarina.

– Pena que esse sonho acabou e essa garota agora tem que assumir seu papel na família.

– Você fala como se fosse o fim do mundo...

– E não é? – Eu gritei e acabei assustando ambos. – Desculpe-me, mas pense comigo. Imagine que a coisa que você mais ama seja tirada de você. Ela apenas se despedace e suma. Você já sentiu isso alguma vez?

– Já. Quando a morte levou minha mãe.

E nesse momento eu me calei. Eu não tinha o direito de falar mais nada. Eu havia perdido meu pai, mas era tão nova que nem me lembrava dele. E a única coisa que perdi foi a dança, mas isso não contava como uma morte.

– Eu sinto muito. – Murmurei mais para mim mesma do que para o estranho.

– Não sinta. Ela era uma boa pessoa e tentava ajudar os necessitados. Mesmo sendo uma nobre, ela tinha um coração puro como o de uma criança de rua.

– Espera, você é um nobre? – Perguntei intrigada - Por que você não está na festa?

– Sou, era, não sei. Essas festas são muito entediantes e além do mais, não fui convidado.

– E depois vem me julgar do porque eu não estar na festa. Você tem mais alguma pergunta sobre mim ou eu posso fazer as minhas a você?

– Tenho uma última pergunta: o que você pensa sobre mim?

Nesse momento ele virou o rosto para mim e eu pude finalmente ver suas feições. Ele possuía os olhos mais verdes e brilhantes que eu já tinha visto. Parecia uma explosão de estrelas no espaço. Seu cabelo era castanho e estava todo despenteado. Sua pele era branca e fazia com que seus olhos se destacassem mais.

– Bem, eu penso que você é um maluco que invade festas sem ser convidado, incomoda donzelas em jardins e possui os olhos mais brilhantes que já vi. Tirando isso, você é uma pessoa estranha que nem o nome eu sei. É uma pessoa que perdeu a mãe. É um nobre e um tremendo tapado por continuar tentando conversar comigo.

Ele começou a rir e se levantou do banco. Começou a andar em direção ao salão.

– Onde você vai? – Perguntei antes mesmo que me desce conta.

– Vou voltar para o salão e vou deixa-la com seus pensamentos, como você mesma pediu. Foi um prazer conhece-la Rosie Lewen.

– Mas você não pode entrar naquele salão! Você não foi convidado!

– Será? – Ele disse com um meio sorriso nos lábios.

E com isso ele partiu para a escuridão do caminho de volta para o salão. Só agora eu percebia como eu estava relaxada ao falar com ele. Percebi também o calor que ele emanava ao meu lado. E agora o frio me abatia acompanhado com minha solidão.

Quem era aquele cara? Eu nem perguntei o nome dele! Como eu era idiota. Só sei que eu sentiria falta do estranho de olhos cintilantes. Mas eu tinha certeza que ainda o veria várias vezes.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Obrigada por ler! Saudações e até logo. Marina



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Rosaceae" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.