A casa de Kagome não ficava muito distante do parque. Não era uma casa enorme, mas era aconchegante por dentro. Inuyasha percebeu isso ao entrar. Se bem que, para duas crianças, aquela casa realmente parecia gigantesca. Kagome levou o novo amigo até a sala e apontou para um sofá branco, enquanto ligava a televisão, colocando em um canal infantil.


– Senta no sofá, vou buscar umas roupas pra você, senão o resfriado mal pode te pegar! – Inuyasha riu disfarçadamente. Por ser um hanyou, ele não ficaria doente tão fácil, mas a preocupação que a garotinha sentia por ele o fazia feliz. Não era uma humana como as outras. Inuyasha sentou-se no sofá e observou tudo em volta, com curiosidade. A casa estava bastante bagunçada, com vários papéis e brinquedos no chão. Inuyasha pegou alguns papéis e percebeu que eram desenhos.


– Opa, desculpa a demora, aqui está a suas roupas, Inucchan. – Kagome colocou as roupas no colo de Inuyasha, e começou a recolher os papéis do chão, um pouco sem graça pela bagunça.

– Você... fez estes desenhos? – Inuyasha se levantou e ajudou a garota a recolher os papéis.

– Sim... – Ela sorriu, agradecendo pela ajuda.

– S-São belos... você desenha bem... – Inuyasha entregou os papéis para Kagome e balançou levemente as orelhas.

– Obrigada, Inucchan! Agora vá se trocar, o banheiro é ali! – A garotinha achou graça e apontou para uma porta, perto da cozinha.


Inuyasha andou até a porta indicada e entrou, retirando suas roupas molhadas e vestindo as que Kagome havia lhe dado, mas achou esquisito o fato de Kagome ter roupas de garoto em sua casa. Quando saiu do banheiro, encontrou Kagome na sala com um pijama branquinho e pantufas. Em suas mãos, a garota tinha uma tigela cheia de biscoitos.


– Gosta de biscoitos de chocolate? – Ela perguntou, ao notar a presença do hanyou.

– Sim... – Inuyasha sentou-se ao lado Kagome, no sofá.

– EBA! Vamos nos divertir bastante essa noite, Inucchan. – Kagome pegou um biscoito e o aproximou dos lábios do amigo. - Diga 'AAH'. - Inuyasha sorriu e abriu a boca, permitindo que Kagome colocasse o biscoito dentro dela.


Aquela noite foi muito divertida. O pequeno hanyou nunca havia se sentido tão feliz. Eles comeram doces, brincaram, assistiram desenhos e jogaram videogame. Kagome às vezes puxava as orelhas de Inuyasha quando ele a vencia em um jogo de luta, enquanto ele ria e dizia que ela devia praticar mais. O tempo passou rápido, e eles só perceberam quando começaram a sentir sono.


– Kagome... seus pais não vão chegar? – Inuyasha perguntou, um tanto curioso.

– Não... eles me deixam sozinha aqui em casa e vão trabalhar, eles só vem nos fins de semana pra trazer comida, roupas, brinquedos... E claro, para me obrigarem a estudar. – Kagome fechou a cara e mostrou a língua. Embora ela tentasse disfarçar com caretas, o hanyou percebeu que, de uma forma um pouco diferente, ela era como ele: No fundo, se sentiam sozinhos.


– E você, Inucchan, onde você mora? É longe daqui? – Kagome perguntou enquanto dividia o último biscoito de chocolate com Inuyasha.

– Eu não sei... estava com o meu irmão mais velho, mas ele sumiu de repente... e eu me perdi de casa. – Inuyasha abaixou a cabeça, imaginando se o irmão tinha o deixado de propósito.

– Amanhã de manhã, vamos sair cedo, e eu te prometo que vamos conseguir achar a sua casa! Agora vamos dormir, senão o bicho-papão vai pegar a gente! – Inuyasha se sentiu mais tranquilo com as palavras da garota, mas se surpreendeu com a última frase.

– Você acredita em bicho-papão? – Ele perguntou, arqueando uma sobrancelha.

– E-Eu? Que nada! Só bebês acreditam em bicho-papão! – Kagome corou levemente e mordeu os lábios, tentando fingir que era adulta.

– É? – Inuyasha segurou o riso e decidiu brincar um pouco. – Então o que é aquilo se mexendo ali, atrás de você? – Kagome arregalou os olhos, e saltou para trás de Inuyasha, gritando. – HÁ! Brincadeira! Então quer dizer que você tem medo de bicho-papão... – Inuyasha abriu um sorriso travesso.

– Muito engraçadinho, Senhor Inuyasha! – Kagome se afastou do amigo, com a cara emburrada. Ele havia descoberto seu ponto fraco.

– Você vai ver o que é engraçado! – Inuyasha pulou em cima de Kagome, derrubando-a no chão, e começou a fazer cosquinhas. Ele era mais forte e conseguiu imobilizá-la rapidamente. A garota soltou uma enorme gargalhada, não conseguia nem respirar direito.

– Só paro se disser ''Eu tenho medo de bicho-papão''! – O hanyou parou por um breve momento, mas ameaçando continuar. Kagome não queria dizer, mas seu rosto já estava vermelho e ela não aguentava mais dar risada.

– EU TENHO MEDO DE BICHO PAPÃO! – Inuyasha se levantou, com pose de vitorioso, e começou a rir.

– Kagome medrosa! – A garota percebeu que não adiantava dizer o contrário, e começou a rir também. Vários minutos se passaram, e depois de brincarem mais um pouco, o sono chegou de vez. Inuyasha percebeu que Kagome começou a bocejar bastante.

– Kagome... é melhor você ir dormir... – O hanyou falou, encarando a garota. Ela se levantou, puxando a mão do amigo.

– Então vamos... – Inuyasha estranhou.

– ''Vamos''? – Kagome não respondeu, ele, então, apenas a seguiu.


Kagome levou Inuyasha até seu quarto. Era bem colorido, com vários desenhos colados na parede e bonecos de pelúcia espalhados pelo chão. Tinha uma cama de casal bem grande no quarto, coberta com lençois estampados com vários animais diferentes. Kagome subiu na cama, e indicou com a cabeça para que Inuyasha fizesse o mesmo.


– Kagome, porque você dorme numa cama de casal? – Inuyasha subiu na cama lentamente.

– É que... olhando para uma cama, e para um quarto tão grande assim, parece que a minha solidão é pequena. – Kagome sorriu e se deitou. Inuyasha ficou observando o rosto da amiga.

– Não vai deitar? – Ela perguntou, apontando para o espaço livre ao lado dela. Inuyasha balançou a cabeça positivamente, um pouco sem jeito, e se deitou. Kagome apagou o abajur, e o quarto ficou mergulhado na escuridão. Inuyasha sentia que a garota estava um pouco triste.

– Kagome... não fique triste... agora você não está mais sozinha. Eu... não abandonarei você. – Kagome se virou, encarando Inuyasha, e sorriu. Mesmo que ele não pudesse ver.

– Obrigada... você é o melhor amigo do mundo... não, do universo! – A pequena abraçou Inuyasha, e ele, um pouco surpreso, acabou retribuindo com o mesmo carinho. Os dois adormeceram logo depois, Inuyasha e Kagome tinham certeza que jamais estariam sozinhos novamente.