Este era para ser um grande dia na vida de Jack. Seria o melhor, se ele não estivesse dando a mínima para isso. Ele estava prestes a se casar com uma garota troféu, dona de longos cabelos loiros que mais pareciam fios de ouro que desciam por sua cabeça e se arrastavam no chão, e lindos olhos verdes que lembravam esmeraldas perfeitamente lapidadas pelo melhor joalheiro do mundo. Rapunzel era seu nome.

Jackson Overland Frost. Um homem que possuía uma beleza única, cabelos brancos como o primeiro dia de inverno, pele tão clara que chegava a ser rosada, seus olhos azuis como o céu, o mar, as asas de uma borboleta, um filhote de arara azul voando pela primeira vez. Enfim, ele era realmente um menino extremamente bonito, que arrancava suspiros não só de garotas, como também de muitos meninos pelo mundo afora. Dotado com a magia da neve o do frio, Jack era capaz de congelar o que ele quisesse (inclusive o tempo). Carregava na alma trezentos anos de vida, mas seu corpo permanentemente congelado aos dezoito.

As vidas desses jovens se chocaram no último dia de inverno, seis anos atrás, quando Jack brincava com os cristais de gelo que fazia. Ela podia vê-lo, e isso o deixava feliz, mas não era grande coisa, já que agora ele havia se tornado uma estória famosa em várias partes do mundo. Seus últimos feitos salvando o mundo da arte das trevas foram grandiosos, e logo sua fama se espalhou. Sua vida nunca mais fora a mesma, mas ele gostava disso.

Eles conversavam, e logo passaram de completos desconhecidos para grandes amigos. Ela apresentou para ele seus melhores amigos, que logo se tornaram amigos dele também. Merida foi a primeira. Quando a viu, Jack pensou que sua cabeça estava em chamas, demorou uns segundos para perceber que aquela era a cor natural de seu cabelo. Seus olhos eram de cores idênticas, mas a moça tinha olhos bem maiores que os de Jack. Era linda, sem dúvida. Nunca em sua eternidade Jack viu uma garota como aquela. Não somente possuía uma aparência extraordinária como também uma personalidade forte. Jack gostava de compará-la a um leão, apesar de muitas vezes ela causar a impressão de que ela era mais compatível com uma raposa.

Logo após foi a vez de Jack conhecer Soluço. Nomezinho legal, eu sei. Mas ele fazia parte de uma das poucas famílias vikings que sobraram na Noruega, e seu pai seguia as tradições ao pé da letra. Ele era um garoto magricela, com o rosto rechonchudo e olhos verdes como os da loira. Seus cabelos eram castanhos, como os de ninguém no quarteto. Curiosamente ele não tinha o pé esquerdo. Jack nunca quis tocar no assunto, com medo de ofender o garoto. A amizade dos dois cresceu mais rápido do que com as meninas, até mesmo com Rapunzel.

Eles cresceram, e Jack ficou paralisado. Cinco anos se passaram então, e Merida encorajou Jack a fazer o tão esperado pedido à Rapunzel. Assim o fez da maneira mais romântica que podia. Ele foi pressionado a fazer o que fez, e noivou contra sua vontade, mas ele enganava seus pensamentos fazendo com que ele mesmo pensasse que era exatamente isso que queria.

-Só mais meia hora. Quer ajuda com isso?-Soluço entrou no quarto de repente assustando Jack. Ele apontava para a gravata azul do noivo. Ele nunca teve muita habilidade com esse tipo de coisa. Ele nunca se importou com isso, para falar a verdade.

Soluço era o padrinho de casamento. Quando Jack pediu para fazê-lo, Soluço fingiu um sorriso. Há mais de anos ele queria tê-lo só para si, mas nunca teve coragem de direcionar a palavra a ele uma vez sequer.

-Obrigado-Jack disse deixando o pescoço livre para que seu padrinho fizesse o serviço. O que nenhum dos dois sabia era que os sentimentos de Jack eram recíprocos.

-Quem diria, não é?-Soluço falava enquanto dava o nó na gravata- Quem diria que esse dia chegaria? Jack, o garotão selvagem aqui, finalmente foi domado!- Soluço brincava para disfarçar a dor que sentia. Suas brincadeiras machucavam ambos.

-Pois é. -O noivo olhava diretamente nos olhos do outro

-Jack, não...

O rosto de Soluço foi chegando mais perto, suas respirações se confundiam e seus lábios quase se tocavam. Queriam isso mais que qualquer coisa no mundo. Soluço puxava Jack pela gravata. Fecharam os olhos. Jack esperou pelo beijo, mas nunca chegou.

A porta se abriu subitamente e Soluço jogou-se na direção oposta, numa tentativa frustrada de disfarçar o que acabara de acontecer ali.

-Vamos logo com... O que estão fazendo?- Disse Flynn. Ele era amigo de Jack também e já vinha suspeitando dos sentimentos que Jack tinha pelo viking. Ele deu um sorriso irônico, como se ele já soubesse a resposta.

-NADA! O Soluço estava só... Me ajudando...- Jack adiantou-se a explicar

Flynn ignorou-os completamente e tirou Jack do quarto para poder terminar os preparativos com ele do lado de fora. Flynn era amigo de Jack, mas também era de Rapunzel, e não queria vê-la triste hoje.

Soluço decidiu que iria ter uma atitude. Ele estava prestes a se declarar ao Jack, dizer tudo o que tinha para dizer, mesmo que isso arruinasse sua amizade, mesmo que isso colocasse a companhia de Jack em jogo. Ele precisava fazer isso.

-Jack! Espera!- Mas não o fez. Ficou com muito medo dele não sentir o mesmo. E se sentisse, de que adiantaria agora? Ele estava perto de se casar, não iria partir o coração de Rapunzel dessa forma- Boa sorte...

O sorriso que Jack tinha no rosto desapareceu por completo. Ele tinha alguma esperança de pelo menos terminar o que começaram no quarto. Beijar quem ele ama uma vez, apenas.