Meu corpo doía completamente, minha cabeça parecia que iria explodir e meus olhos ardiam como se eu estivesse com pimenta nas retinas, debruçada sobre uma fogueira quente. Meu peito parecia que ardia em brasa, meus braços pesavam como se fossem feitos de ferro, minhas pernas estavam doloridas, como se eu tivesse corrido mais de cem quilômetros. Abri os olhos lentamente, mas tornei a fechá-los quando uma luz forte e intensa me atingiu, como se eu estivesse em uma praia, em um dia ensolarado.

– Abra os olhos, minha criança – falou uma voz doce, encantadora e ancestral.

Obedeci a voz tripla, que parecia vir de três mulheres diferentes e á vi.

As três formas de Hécate, a deusa da magia, estavam á minha direita, me olhando enquanto sorriam.

Levante-me devagar. Meu corpo ainda estava doendo pra caramba, mas consegui me manter ereta ao encarar a deusa e olhar para o cenário á minha volta.

Eu estava em um lugar estranho. Dia e noite estavam juntos ao mesmo tempo, com o sol, brilhante e quente, á leste, e a lua, pálida e fulgurante, á oeste. Parecia que eu estava na divisória entre o dia e a noite. Árvores grandes e fortes estavam espalhadas pela floresta, flores diversas estavam dispersas pelo campo verde. Eu estava no centro do jardim, entre a noite e o dia, em uma trilha de tijolos dourados e prateados, cada um levando ao dia e a noite, respectivamente. Ao longe eu podia ver uma grande arvore que parecia estar cheia de frutos, semelhantes á maças, mas os frutos eram dourados, como se fossem feitos de puro ouro.

– Que lugar é esse? – eu perguntei.

A Hécate do passado sorriu para mim.

– Este é o ponto onde a noite e dia se encontram e se saúdam.

– Onde ficaria isso? – eu perguntei novamente.

– Em nenhum lugar que seja do conhecimento de qualquer criatura mor-tal, seja humana ou divina.

– Você quer dizer as feiticeiras?

As três faces da deusa assentiram.

– E por que você me trouxe para cá?

A Hécate do futuro falou, com sua voz velha e ancestral:

– Eu gostaria de dizer-lhe uma coisa.

Fiquei esperando.

– E o que seria?

– A Noite voltou á vida, você sabe; e graças ao Ritual da Ascensão das Trevas que Circe executou, Érebo, o poderoso Guardião e Consorte de Nyx, também esta ganhando forças.

Eu olhei para a deusa com cara de interrogação.

– Isso era pra me animar?

A face mais jovem da deusa sorriu.

– Acalme-se, criança. Ainda temos muito á lhe dizer.

– Então falem de uma vez – eu disse impaciente. – Detesto esse mistério todo.

– Nyx e Érebo ressurgiram – a jovem continuou a falar. – Mas os Sete Lunares podem fazê-la voltar ao seu aprisionamento eterno.

– O que são estes Sete Lunares? Nyx me falou que precisava desses sete para alguma coisa – eu falei. – E ela disse isso como se eu fosse parte disso.

– E você faz.

– Mas por quê? O que eu irei fazer? O que são esses Sete Lunares? Quem são eles? Se eu sou uma, onde estão os outros seis?

– Tudo ocorrerá em seu devido tempo criança – a Hécate do presente disse. – Por hora, tudo o que eu posso lhe falar é que vocês, os Sete, serão aqueles que trarão a paz de volta á nós, libertando-nos das trevas e da escuridão.

– Como iremos fazer isso? Onde eu posso encontrar os outros lunares?

– Na hora certa, todas as suas duvidas serão respondidas.

– Mas por que nós? Por que eu?

– Você é a feiticeira eclipsada. Traz em si tanto a luz quanto á escuridão. Sua magia é forte e destrutiva, de modo que você terá que tomar muito cuidado na hora em tiver que usá-la, senão ela á consumirá.

– Por onde devo começar?

As três formas da deusa começaram a desaparecer, assim como todo o lugar em que estava. Mas, antes de sumirem por completo, as três Hécates falaram, em uníssono:

– Mantendo-se viva. Os outros seis guerreiros virão até você.

Então a deusa desapareceu e eu desmaiei... de novo.