“Que bom que um dia você nasceu. E melhor ainda é saber que estás presente em minha vida. Feliz aniversário, Sara. Precisamos comemorar!”

– Gil.

Ela lê aquele cartão em cima de um embrulho e sorri agraciada. Uma surpresa! Mesmo tendo acabado de acordar foi até a porta receber esse presente. O entregador simpático, um presente simpático. Tudo estava tão bem... Exceto a ausência dele.

Grissom sabia que ela queria que o presente fosse sua presença.

Ela havia dito enquanto descansavam depois de fazer amor. Dizia que sentia sua falta, que o travesseiro não é tão confortável quanto seu peito. E ele lembrava disso todas as noites antes de dormir.

Sua voz pedindo pra ficar. Seu sorriso triste aceitando sua decisão...

Tudo isso não saia da sua memória. Apesar de apaixonado por sua entomologia, precisava rever seus conceitos humanos e emocionais. Havia alguém que preenchia algo diferente em sua vida e que, por mais difícil fosse dele acreditar, havia alguém que só era feliz com ele. Sentia que sua paixão por Sara estava mais forte do que qualquer paixão e ele precisava voltar...

Ela abriu delicadamente o embrulho com os olhos marejados. “Antes de dormir” era o nome do livro que ele a presenteou. Um suspense incrível. Ele sabia de cor seus gostos, por isso não conseguiu evitar o aperto em seu coração: Ah, a saudade...

Suspirou fundo e deixou o presente em cima da cama e foi ao banheiro. Apertou o botão do telefone antes de tomar banho para ouvir as chamadas de voz. De Greg, Nick e Cath lhe desejando parabéns. Seus amigos foram tão importantes ultimamente que ela nem sabia como explicar. Sorriu deixando as lágrimas de alegria e saudade descerem junto com a água que lhe molhava.

Saudade de Grissom. De Warrick, que seria o primeiro a lhe dar parabéns. Todo ano ele chegava em sua casa para acordá-la com uma guerra de travesseiros. Esse ano ninguém teve cabeça para isso. Era Grissom longe, Warrick não estava mais entre eles... Muitas dores.

Terminou seu banho relaxada, com suas dores amenizadas por terem ido embora com as lágrimas. Secou o cabelo ainda no banheiro e foi para o quarto. Vestiu uma roupa aconchegante, pois seu aniversário seria em casa, degustando do vinho que Grissom deixou da última vez que esteve com ela, o qual ela não tomou para sentir um pouco de sua presença todos os dias. Mas ao chegar na sala...

– Gil?

Sim! Lá estava ele, de costas, colocando algo na sua estante. Ele virou bruscamente e com aquele olhar desolador, sorriu de lado. Sem poupar tempo, Sara correu para seus braços.

– Sua presença era o melhor presente que você poderia me dar... – Disse com o rosto afundado no cheiro bom que tinha seu pescoço.

– Que bom que gostou do presente, honey. Eu não estava bem. – Disse fazendo-a o olhar.

– O que aconteceu?

– A saudade realmente é algo... Inexplicável. – Disse sincero. – Nunca senti isso com tanta intensidade. Doía, sabe? Afetou minha saúde. Eu não conseguia mais me alimentar direito, eu... eu... Ah, Sara, não sei... – Tocou seus lábios delicadamente com os seus.

– Gil, por favor, fica. Também dói aqui.

Ele sorriu. Como podia haver sentimento assim? Sara mergulhada naqueles azuis de seus olhos e ele no chocolate mais doce dos dela. A vontade era só de morar naquele abraço, mandar o mundo parar, esquecer que tinha uma vida pra viver apenas aquele momento.

– Aqui estou e não sairei a não ser com você.

Depois de um momento de silêncio, Sara o beijou. O beijo mais necessitado que já deu, os olhares mais precisos, o abraço mais apertado. Tudo era mais intenso do que antes e não conseguiu evitar o pedido.

– Faça amor comigo...

Que “ordem” extraordinária. Amor não faltará.

Nem hoje, nem enquanto a última faísca desse sentimento durar.