Karina despediu-se do namorado e continuou com seu café. Estava cansada, não iria à faculdade. Conferiu se Cobra estava acordado àquela hora com uma mensagem. Como sempre, desde que começaram a treinar juntos, o rapaz estava sempre à sua disposição. Combinou de se encontrarem na academia e assim o decidiram fazer. Enquanto caminhava, um sentimento de culpa começou a crescer dentro do peito de Karina. Esse tempo todo a lutadora estava se enganando sobre o campeonato mas hoje acordara decidida. Iria ganhar o Ultimate Brawl. Depois iria resolver-se com Pedro. Passou pelo Perfeitão o mais discretamente possível, afim de evitar que o namorado a visse rumando para a academia.

Quando chegou, Cobra estava mexendo no celular. A garota aproximou-se sorrateiramente por trás do rapaz e, antes que ele pudesse reagir, prendeu-o em um mata-leão. Depois de risadas serem trocadas entre os dois, K o soltou e disse:

– E aí, mané.

– Oi, K. Vem cá, cê vai no Ultimate Brawl ou nem rola?

– Eu... eu ainda não me decidi, Cobra. - mentiu a lutadora.

– Cê tá com medo?

– Claro que não.

– Então por que você parece que tá se escondendo atrás dessa promessa que desde o início não pretendia cumprir?

As palavras de Cobra a atingiram fortemente e a deram mais forças para ir contra o que disse a Pedro. A garota fitava o chão, até que decidiu parar com o fingimento. Encarou Ricardo bem fundo em seus olhos e disse:

– Cobreloa, hoje eu vou ganhar aquele campeonato e levar aquele troféu.

– Aí sim, hein. Botei fé. Bora, te levo no meu carro. Mas se esconde que não quero dor de cabeça com o guitarrista.

Ao entrar no carro de Cobra, o nervosismo de Karina passou. Agora não havia mais volta. Ela iria lutar no Ultimate Brawl não importando o quanto custasse. Chegaram no local e a garota surpreendeu-se com a quantidade de pessoas que estavam ali. Muay Thai sempre foi um esporte em constante crescimento quando a questão era popularidade, mas ela nunca presenciou aquilo. Quando o lutador estacionou, a dupla foi direto para a inscrição. Registraram-se como representantes que lutariam pela Academia de Gael. Por Cobra já lutar há tempos como profissional, já tinha fama entre os lutadores e ganhava algumas encaradas de seus possíveis adversários.

Já Karina, apesar de já ter lutado em campeonatos, nunca foi muito ativa, mas por andar perto do lutador, recebia olhares de ameaça. Posicionaram-se em uma área e aguardaram as chaves de combates serem montadas. Enquanto mais um participante era escolhido aleatoriamente para lutar, K e Cobra viram aproximando-se uma figura familiar.

– Qualé, gente. Cês também vão lutar? - perguntou Wallace, abraçando os companheiros.

– Vamos sim, cara. Cê vem com a gente? - disse Cobra.

– Ô, mas é claro, chefia. Vem cá, Karina, Pedroso não se importou de você vir aqui não? Porque ele e a Pretinha tão num festival, cê sabe, né?

– Ah... sei sim, Wallace. Ele não liga não. Até disse que só volto pra casa se tiver com o troféu na mão. - mentiu a lutadora, rindo falsamente.

– E você tá afim de voltar, né? Então bora ganhar esse troféu?

– Ih, Negão, não se empolga não porque pra você levar troféu precisa ganhar de mim. - disse Cobra.

– Ih, relaxa aí, Serpente. Tô numa categoria diferente. Ganhei massa pra caramba.

– Saquei. É pra ter uma chance de ganhar, né?

Todos riram e observaram a chave de combates, já montada. O campeonato feminino seria primeiro, então Karina seria a primeira da Academia de Gael a lutar, logo, começou seu aquecimento. Estava um pouco enferrujada, mas isso não a impediria de tentar ganhar o campeonato. Enquanto aquecia-se, recebia dicas e instruções de seus colegas de academia. Finalmente, quando subiu ao ringue, já completamente equipada, tomou a posição de guarda e começou a analisar os movimentos da adversária. Pelo jeito que ela posicionava-se e pelos seus socos com defesa aberta, Karina já percebeu que ela era apenas uma iniciante, sendo assim uma luta fácil para a loira. Depois de ela mais uma vez errar um chute, K deu-lhe uma rasteira e, quando a mesma levantou, desajeitada, aplicou-lhe um chute alto, que treinou com Cobra. Ao acertá-la bem no queixo, não houve jeito. A adversária foi nocauteada. Karina desceu já pulando nos braços de seus amigos, sorrindo. Estava determinada a acabar com seus oponentes.

Enquanto isso, no festival, a Galera da Ribalta acabara de passar pela primeira fase da Batalha de Bandas. Enquanto Otto Maniacs cantaram uma música original, cantaram sem muita vontade ou animação. Já a Galera da Ribalta cantou um cover de Make it Stop com muita animação. Estavam engajados e Sol, como sempre, arrasando na cantoria. Se os Otto tivessem se empenhado mais, talvez fossem capazes de vencer a Galera da Ribalta, mas eles felizmente conseguiram ganhar. Enquanto aguardavam no camarim, Solange percebeu a cara de chateado de Pedro e decidiu falar com o rapaz.

– Pê, cê tá bem? Que que houve?

– Ah, não é nada não, Sol. - disse o rapaz.

– Pode falar, cara. Somos uma banda. Estamos aqui pra isso.

– A Karina não tá aqui... ela disse que vinha pro festival mas não tá aqui...

– Relaxa, Pedroso. Ela deve ter só se atrasado ou você não viu ela, sabe? Nada demais. - disse Luiz Cláudio.

– Não é isso, Luca. A K nunca se atrasa. Não tem porquê, sabe? Ela nunca se arruma toda e gosta de cumprir horário. E eu olhei cada canto dali. Não a vi em lugar algum.

– Ei, não se preocupa. Se ela realmente não veio, algo muito importante deve ter acontecido. - disse Rominho, dando tapas nas costas do guitarrista.

– É... deve ser...