Relembrando...

–Gostaria de conversar com vocês na diretoria-Anuncia Clarita a Tati e Binho.

Ok,agora eles estão ferrados.Por mim,não há nada de errado nisso,contanto que eles se amem de verdade e tenham em mente que ainda são crianças.

–T-ta bom-Gagueja Binho evidentemente nervoso.

POV LUANA

Depois de Clarita ter tido uma conversa de mais ou menos meia hora com Tati e Binho,ela pede para que eu vá até a sala dela.

–E ai-Digo enquanto me sento em sua frente - Eles estão encrencados?

–Possivelmente sim,na verdade,não sei como cuidar desse caso,mas acho errado duas crianças da idade deles namorando.

–Talvez seja.- Digo-Mas não precisa ficar preocupada,Clarita.Sei que são muito novinhos,mas acho que eles não vão levar o namoro muito a sério.

–É,eu espero.-Diz ela. - Mas mudando de assunto,tem alguma notícia deles?

Minha mãe e tio Beto ! Sinto uma pontada de dor no coração. Durante as últimas horas,eu estava feliz e quase relaxada,mas ao me lembrar deles,sinto que irei desabar no chão.

–Não. -Digo tentando conter as lágrimas.-E você ?

Clarita me lança um olhar suplicante,e percebo que está no mesmo estado do que eu.

–Não, minha querida,sinto muito.

Tudo dentro de mim desaba.Quero gritar e chorar,mas concluo que preciso ir embora.Não quero que Clarita me veja assim,isso só a trará mais preocupação.

–Ta,tudo bem,não tem problema.-Digo me levantando da cadeira.-Preciso ir agora,estão me esperando para jantar.

Clarita compreende meu estado,e apenas se levanta da cadeira e me dá um longo abraço sem dizer nada.

–Até mais, tia.-Digo tentando sorrir,e saio pela porta tentando conter as lágrimas.

Encontro Duda na sala,que imediatamente me olha preocupado.

–Você estava chorando ?-Pergunta.

–Preciso ir embora-É tudo o que respondo,e enterro meu rosto em sua camisa.

–O que aconteceu ?-Diz ele colocando seus braços ao meu redor.

–Não estou muito disposta-Respondo.

–Lu,ta tudo bem ?-Pergunta Mili atrás de nós.-Está chorando.

–Ela não está muito bem,acho melhor eu ligar para o motorista.-Diz Duda se afastando e pegando o celular.

–Lu, o que você tem ?-Pergunta Mosca.

–Não estou muito bem,acho que peguei uma gripe.-Digo secando as lágrimas.

–O motorista já está vindo.-Informa Duda me abraçando.-Acho melhor o esperarmos lá fora,assim você toma um ar.

Concordo com a cabeça.

–Querem ajuda ?-Pergunta Mili preocupada.-Podemos chamar a Clarita.

–Não, obrigada.-Respondo.

–Vem,vamos,-Diz Duda me levando até a porta.

–Que pena que vocês não podem ficar.-Comenta Mosca.-Melhoras Lu.

–Obrigada.-Digo.

Duda me conduz para fora,e fecha a porta.

–Ei,o que foi ?-Pergunta secando minhas lágrimas.

–É complicado,por favor,não me faça falar sobre isso.

–O que você quiser.-Diz ele evidentemente preocupado.

******

Ao chegar na mansão,vou direto para meu quarto,sem ao menos falar com Duda,o que o deixa realmente preocupado.Ele bate na porta pelo menos umas sete vezes querendo conversar,mas respondo que tudo o que preciso é ficar um pouco sozinha.Valentina também bate a porta para me chamar para o almoço,mas respondo que não estou com fome.

Certa vez,quando tinha uns sete anos de idade, estava na escola e a professora nos mandou fazer um cartão para o dia dos pais.Fiquei empolgada e fiz um cartãozinho azul e com algumas estrelinhas coladas.Porém,foi ai que caiu a ficha:"Eu não tenho pai."Comecei a observar todos os meus amiguinhos sentados ao meu lado,sorridentes e contentes dizendo coisas do tipo "Meu pai vai adorar o meu cartão!"

Lembro-me de ter ficado tão mal,que a professora foi obrigada a ligar para minha mãe vir me buscar na escola.Quando cheguei em casa,fui direto para meu quarto e chorei a tarde inteira.Essa foi a vez em que mais chorei na minha vida,exceto por hoje.Hoje chorei tanto que acabei dormindo,e acordando somente quando ouço uma batida em minha porta.

–Pode entrar.-Digo.

A porta se abre,e Júnior entra no quarto e senta-se ao meu lado da cama.

–Estou preocupado com você.-Diz.

Suspiro.

–O que Duda te falou ?-Pergunto.

–Ele me contou o que aconteceu e disse que você está mal.-Diz ele.

–Bem,não é verdade,estou bem Júnior.-Digo.-Deve ser coisa da cabeça dele.

–Nem preciso perguntar a alguém se você está mal,só de te ver,poderia perceber isso.-Diz ele enquanto me levanto.

Sim,eu estou mal.Ao observar meu reflexo refletido no espelho,a pessoa não se parece nada comigo.Meus olhos estão inchados e meu rosto está todo borrado de rímel,meus cabelos estão rebeldes e completamente amassados.

–Oh.-Deixo escapar enquanto me observo.

–Pois é.-Comenta Júnior.-Quer conversar ?-Você sabe que pode contar comigo.

–Tudo bem.-Concordo me sentando ao seu lado.-Não posso discordar que fiquei mal,mas é nada demais,é até idiota,e eu prefiro guardar pra mim .Ok ?

–Ta bom.-Ele suspira.-Certas coisas precisamos guardar para nós.

–Isso mesmo.-Digo.

–É melhor você tomar um banho,e depois descer para o jantar,não comeu nada desde manhã.

–Claro.-Digo.-Aliás,obrigada por se importar comigo.

–Não foi nada Lu.-Ele me abraça e retribuo o gesto.

******

Enquanto a água cai pelo meu corpo,fico pensando na sensação estranha em que tive quando abracei Júnior,não sei explicar,mas é algo especial.Sei que ele foi sincero com suas palavras,ele realmente gosta de cuidar de mim.Começo a pensar em Duda,e de como me sinto mal em te-lo evitado todas as vezes que ele bateu em minha porta,mas eu realmente precisava ficar sozinha.

Saio do banho,visto um vestido preto cheio de rendinhas,uma sapatilha preta,prendo uma parte do cabelo com uma presilha e decido ir me juntar aos outros durante o jantar.Paro no meio do corredor quando ouço vozes.

–.... que bom que cheguei em casa!

–É,muito bom mesmo.-Diz Duda desapontado.

Estou logo indo para a sala de jantar,quando sinto alguém atrás de mim desesperadamente pegando em meu braço e me virando de frente ao seu encontro.

–Gabi ?-Digo assustada.-Nossa,quase me matou de susto!

–Desculpa.-Diz ela incomodada com algo.-Mas preciso te dizer uma coisa.

–Pode falar.-Digo estranhando seu comportamento.

–A Carmem chegou!

–Quem é essa Carmem ?-Pergunto confusa.

–Ouça Lu.-Continua ela.-A Carmen é minha tia e dona dessa casa.Quando ela conheceu sua mãe,elas não se deram bem,e a Carmem odeia a Carol.Por isso,é bom ela não saber que você é filha dela,se não você não poderá mais ficar aqui.Já falei com o Júnior,a Valentina e o Duda e eles concordaram.Vamos falar que você é filha de um amigo do Júnior.

–Tudo bem.-Concordo alarmada com tanta informação.

Não gosto nada dessa ideia.Algo me diz que pode dar alguma coisa errada.Não gosto de ter que ficar na mansão da mulher que odeia a minha mãe e mentindo que sou filha de outra pessoa.E por que será que a minha mãe me mandou para cá ?Será que ela não sabia que essa tal de Carmem é a dona da mansão.Todas essas perguntas se enrolam em minha mente me deixando tonta.

Quando chegamos á sala,Júnior,Duda e uma mulher na casa dos cinquenta anos estão sentados no sofá.Percebo Duda me observar atentamente com a testa franzida.

–Tia,quero que conheça a Luana,filha de um amigo meu.-Anuncia Júnior.

–Ha,olá jovenzinha,eu sou Carmem.-Diz ela me estendendo a mão.

–É um prazer conhece-la.-Digo apertando sua mão.

–Gabriela!Querida sobrinha,onde estão seus modos ?Não vai dizer um olá a sua tia ?-Diz Carmen.Ela tem uma voz nem um pouco agradável,fazendo com que tudo o que ela diz pareça uma ameaça ou acusação.

–Claro tia,já ia cumprimenta-la.-Diz Gabi incomodada.

–Dona Carmem!-Diz Valentina entrando na sala.-Não havia percebido que a senhora já chegou de viagem.

–Ha,até que enfim algum empregado se deu o trabalho de perceber que já cheguei!-Exclama Carmem rudemente.-Onde estão o resto para me ajudar a carregar todas essas malas ?! Mas que bando de incompetentes !!

Realmente não gostei dessa mulher,ela é rude demais.Mal chegou,e já está causando um escândalo. Agora compreendo porque minha mãe e ela não se davam bem.Olho ao redor da sala,e observo que não sou a única que não gosta dela,todos estão com um olhar de frustração.Pelo jeito,não vai ser nada fácil.Essa mulher me parece a verdadeira bruxa.