End of all days escrita por Bruna TWD


Capítulo 7
Eu não conhecia esse seu lado.


Notas iniciais do capítulo

Espero que estejam gostando da história, é importante pra mim! Boa leitura!!



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“O mundo como nós o conhecemos se foi. Mas manter a nossa humanidade? Isso é uma escolha.”

–The Walking Dead

Foi mais fácil do que eu pensei: todos concordaram em nos acompanhar até Chicago. Quanto mais gente, melhor. Miranda foi falar com Morales sobre isso, ela saiu de sua barraca:

–Morales não disse nada, só aceitou ir. Acho que ele vai dar um pouco de trabalho.

–Tudo bem. É muito importante que ele venha conosco. – Falei.

Eu fui até Fred para falar um pouco com ele. Ele estava estranho, com seus lábios secos, suando frio e com as mãos geladas. Parecia ter visto um fantasma, não sabia por que estava assim, fiquei preocupada. Ele me olhou de uma forma que jamais havia me olhado e então saiu. Eu por um momento fiquei com medo dele, mas percebi que ele também poderia estar com problemas, então deixei pra lá.

Comecei a arrumar minhas coisas quando Andy entrou em minha barraca com uma arma:

–Você precisa aprender a atirar. Não vai conseguir muita coisa sem saber usar isso aqui. – Ele jogou a arma pra mim.

Eu peguei a arma.

–Nossa, ela é bem pesada. Mas como eu vou aprender a atirar em tão pouco tempo? Você sabe que sairemos amanhã cedo.

–Sei disso. Também sei que você conseguiu aprender a usar aquela coisa que tínhamos no laboratório da escola em apenas três horas. O resto da turma demorou uma semana para aprender. Você consegue aprender as coisas muito rápido, mais rápido que qualquer um. Só basta você ter concentração, coisa que eu sei que você tem de sobra quando quer. Vamos, quanto mais cedo começarmos, mais cedo você aprende.

Ele foi saindo da minha barraca, parecia animado com aquilo.

–Andy, espera. – Ele me olhou – Como VOCÊ aprendeu a usar armas? Eu vi o jeito que você usava aquela espingarda, foi ágil, esperto. Nunca me disse sobre esse seu “talento”. Você não usava a arma do seu pai daquele jeito.

–Só o que precisa saber é que eu sei usar, isso já é o bastante. Anda logo, quero terminar logo com isso.

Ele falou isso com um tanto de arrogância. Nunca vi Andy falar daquele jeito com ninguém, muito menos comigo. Não quis pensar muito sobre isso, só o segui. Quando chegamos à floresta, ele tirou uma mochila das costas com algumas armas, munição e algumas garrafas. Ele montou um tipo de alvo há uns metros de onde eu estava com as garrafas. Ficou do meu lado e me deu uma arma:

–Essa aqui é uma pistola 38, semiautomática. Não é muito difícil de usar, mas tem de ser precisa no tiro, não temos muita munição pra ela.

–Ela é pesadinha. Como recarrega?

–Calma. Uma coisa de cada vez. Primeiro tenta atirar.

Eu peguei a arma meio sem jeito, apontei para uma das garrafas e puxei o gatilho, nada saiu. Ele riu e falou pegando a arma da minha mão:

–Foi mal, esqueci de falar da trava. Essa parte aqui do lado da arma é a trava – Ele falou apontando para uma parte pequena que estava vermelha. – Quando está vermelha, é por que está travada. Aí você só arrasta ela para destravar – Ele fez o gesto – Desse jeito. Agora você.

Ele travou de novo e me deu a arma. Eu peguei, olhei a trava e destravei. Apontei pra uma das garrafas e apertei o gatilho novamente. Consegui acertar.

–Caramba, acho que sou boa nisso.

Ele riu e disse:

–Você não acertou a garrafa certa. A certa era aquela ali. – Ele apontou para uma garrafa, que estava há 7 garrafas de distância da que eu acertei. – Eu vi você mirando naquela lá, não nessa.

Credo, eu sou ruim.

–Mas pelo menos acertei uma.

–Se fosse um Walker, você teria errado e perdido uma bala. Agora mira direito.

–Tá, foi mal.

Apontei de novo e atirei. Dessa vez eu consegui acertar a garrafa certa. Ele só me olhou e pediu para continuar, nem um parabéns ele me deu, fala sério!

Ele me mostrou mais duas armas e me ensinou a recarregar cada uma delas, a mirar com cada uma delas e a desmontar cada uma delas. Foi um dia inteiro tendo aula com esse cara. Ele estava sendo tudo, menos o Andy que eu conhecia. Estava diferente, não um diferente bom, um diferente estranho. Não gostava do novo Andy, mesmo ele sendo muito bom com armas.

Quando acabamos, voltamos para o acampamento.

–Andy, eu preciso que você me diga onde aprendeu isso tudo. Parece que você entende tudo sobre armas e você nunca falou disso. Por favor, só me explica.

–Julie, eu não quero falar sobre isso.

–Por favor, Andy. Por favor?

Eu fiz uma cara de cachorro que acabou de cair da mudança, sei que ele não resiste a essa cara. Já fiz ela para conseguir várias coisas, e eu precisava dela para conseguir tirar essa história dele.

–Tá bom, eu falo. – Sabia que ia dar certo, sempre dá. – Você se lembra daquele verão, há dois anos, que eu disse que iria para um acampamento?

–Sei. O acampamento para meninos. Eu me lembro sim, até por que não me deixaram ir com você. Eu não queria passar um verão inteiro sozinha.

–Então, foi lá que eu aprendi a atirar. Aprendi muita coisa sobre armas e terminei de aprender com algumas aulas depois da escola. Meu pai queria mesmo que você fosse, mas sua mãe se negou até o fim. Ela disse que não deixaria que você encostasse em nenhuma arma de fogo, nunca.

–Mas por que seu pai quis que você tivesse aulas de tiro? O que ele esperava disso?

–Ele nunca me disse, mas eu sei que agora está sendo muito útil para mim e é isso o que importa. Você não acha?

Eu concordei, mas no fundo sabia que aquela história estava mal contada. Algum dia eu ainda consigo a verdadeira história. Sempre consigo o que quero quando preciso. Quando chegamos ao acampamento, já estava quase tudo pronto. Todos já haviam arrumado suas coisas nos carros para que nós saíssemos dali. Como só sairíamos no dia seguinte as barracas ainda estavam armadas, mas elas são fáceis de desmontar. Já não era tão cedo, eu estava tão cansada. Só peguei alguma coisa para comer e fui direto para minha barraca. Fred me olhava com um olhar estranho, o mesmo olhar que fez pra mim mais cedo. Eu precisava descobrir o que havia de errado com ele, mas estava muito cansada. Queria logo ir dormir.

Acordei já de manhã, todas as barracas estavam sendo desmontadas. Me arrumei para começar a desmontar a minha também. O que me preocupava era o carro, não tínhamos um. Acho que todos os carros já estavam cheios. Fui falar com Ed.

–Bom dia, Ed.

–Bom dia, menina. Dormiu bem?

–Sim.

–Que bom!

–Então Ed, preciso falar com você sobre uma coisa importante.

–O que é, menina? Pode falar.

–Eu e os meninos precisamos de um carro. Acho que não tem espaço nos outros carros. Como a gente faz?

–Fica calma, menina. Pensamos nisso antes de você. Você também não precisa se preocupar com tudo.

–Como vocês resolveram isso?

–Andy foi tentar achar um carro bom.

–Ele foi com quem?

–Foi sozinho, não quis...

Não deixei ele terminar.

–Pra onde ele foi?

–Calma. Ele só...

–Só me fala pra qual direção ele foi. – Ele ficou me encarando. – AGORA!

Ele apontou para o sul e eu sai correndo. O que deu na cabeça do Andy? Sair sozinho, sem a ajuda de ninguém. Fala sério, ele precisa raciocinar um pouco. Eu já estava cansada quando finalmente consegui ver ele, de longe, entrando em um carro para ver se funcionava. Quando eu fui chegando perto dele, um grupo apareceu. Parecia uma família. Eles gritaram pedindo a ajuda de Andy, pelo menos foi o que eu achei. Andy olhou para eles e viu suas armas, eles começaram a apontar para Andy e começaram a ameaçá-lo. Eles eram em três e tinham apenas duas armas. Andy não pensou duas vezes: começou a atirar. Logo o primeiro caiu no chão e os outros também começaram a atirar contra Andy.

Eu não conseguia sair do lugar, fiquei com medo. Foi aí que vi um bando de Walkers indo em direção ao Andy, eles foram atraídos pelo som dos tiros. Eu gritei para o Andy sair dali, mas ele estava concentrado em matar aquela gente. Por que isso se ele podia muito bem fugir dali? Não, ele não queria aquilo. Acho que não me escutou, mas viu os Walkers. Atirou em todos e depois conseguiu atirar no último daquele grupo. O que eu percebi foi que ele não apontou para suas cabeças, ele só atirou pra derrubar, não pra matar. Eu consegui me aproximar sem que ele percebesse para ver o que ele queria fazer. Andy então chegou perto de um deles e começou a falar:

–É nisso que dá vocês se meteram com a pessoa errada.

Ele pegou um martelo, que estava com uma das pessoas, e começou e martelar a cabeça do cara. Ele martelava forte, mas tentava não ir muito fundo. Percebi então que ele fez aquilo para que o cara sentisse a dor extrema antes de morrer. Então ele pegou a arma e atirou em sua cabeça. Depois foram os outros dois: um homem mais velho e um jovem, ele parecia ter nossa idade. Andy fez a mesma coisa com o velho, mas deixou o jovem por último. Ele então levantou a blusa e mostrou o tiro de raspão que o garoto deu nele.

–Olha o que você fez, idiota. Sabia que isso dói? – Ele riu – Mas isso aqui deve doer mais!

Ele pegou o cabo da arma e começou a bater no rosto do menino, quebrando seu nariz. Depois ele bateu em sua nuca e começou a bater mais em seu rosto. O pior não foi essa cena, mas o rosto dele de felicidade por estar fazendo aquilo. Ele não fez aquilo para sobreviver, fez aquilo por puro divertimento. Foi horrível ver a cara dele de satisfação quando terminou o serviço.

–Andy? – Eu falei com uma voz de aterrorizada. – O que você fez?

–Julie, eu...

Ed chegou com mais dois caras do acampamento.

–Escutamos tiros, vocês estão bem? – Ed perguntou – Viemos o mais rápido possível.

Eu olhei para Andy, que olhava para mim com cara de assustado. Percebi que ele não queria que eu visse aquela cena. Percebi também que ele não queria que eu falasse a verdade para Ed, queria que fosse um segredo entre nós. Como eu já falei antes, eu conheço cada olhar de Andy, e aquele era um olhar de realmente nervoso e preocupado.

–Está tudo bem, Ed. Eu achei Andy aqui e um grupo chegou. Eles nos viram e começaram a atirar. Nós fizemos o mesmo.

Eu, de alguma forma, consegui que Ed não visse os corpos. Não sei como fiz aquilo, só sei que fiz. Ainda bem que fiz.

–Eles estão pra lá. Pegamos as armas. – Andy falou e mostrou as armas no chão.

–Ainda bem que estão bem. Vamos, ainda temos que achar um carro.

–Tá tudo bem, eu ajudo Andy a terminar de procurar. Vocês podem voltar. Não deve aparecer mais gente aqui. Podem ir, de verdade. Obrigada!

Eles ficaram meio confusos, mas voltaram para o acampamento. Quando saíram, eu olhei para Andy. Não queria falar nada, apenas olhei, pois ele também conhece cada olhar meu e entenderia o que estava passando pela minha cabeça naquele exato momento.

Andy me mostrou um lado que eu jamais imaginei que seria um lado dele. Sei que todos têm lados que não queremos mostrar, mas achei que o lado sombrio de Andy era uma coisa mais leve. Nunca pensei em uma coisa dessas: violência. Ele nunca gostou disso.

Todos nós mudamos com um tempo, ainda mais no mundo de hoje. Todos nós temos o lado bom e o lado ruim, não dá pra negar. Mas saber controlar cada lado quando necessário é muito importante. O mundo consegue nos mudar, mas nós precisamos saber se essa mudança faz bem e, se não fizer, devemos esquecer essa mudança e seguir em frente. Se Andy representa uma ameaça para mim e para Fred? Isso eu não sei. Espero, do fundo do coração, que não represente.


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Notas finais do capítulo

Comenta aí sua opinião, é importante pra continuação dessa história! Acompanha minha outra fanfic também! Beijos!!!



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