Uma semana depois, sexta-feira.

– Ah, por favor Emy! Parece que você tem cinquenta anos neste vestido!
​​ Eu e Lilith estamos aqui a mais de uma hora na mesma situação: provando todas as combinações possíveis de roupas para a festa de Matt. Na verdade, eu tinha até esquecido dessa festa, até minha melhor amiga aparecer ontem a noite em minha casa com umas três malas cheias de vestidos, saias...

Depois de uma semana obviamente tediante, aulas em que não prestei a minima atenção (agora me arrependo terrivelmente disso, já que três provas foram marcadas para terça-feira) e não fiz nenhuma amizade. (Tudo bem que eu não me esforcei para isso mas...) Agora estamos em plena sexta-feira, o dia festa.

​​ Lembro que ontem, quando Lily bateu em minha porta e me lembrou da festa, estranhei que fiquei animada. Mas hoje, a sensação esta sendo completamente substituída por nervosismo.

– Desculpe Lil, mas eu desisto.

Mais um minuto com ela me lançando este olhar, e eu estaria morta.

– Pare com isso, Wrenemy! Vamos a esta festa de qualquer jeito.Deixe que eu escolho o vestido perfeito para você.

Por mais que tenha odiado esta ideia, estou cansada demais para discutir.
​ Lilith pega uma de suas malas, e começa a jogar todo seu conteúdo em minha cama, fico impressionada com quanta coisa aquele objeto carrega.

Depois de cinco minutos, ela olha para mim com cara de que acabou de descobrir a América.

– Acabei de achar o vestido perfeito, Emy. Eu nem sabia que tinha uma peça de roupa assim!

Ela me mostra o vestido... e devo admitir que fico de boca aberta.

Se trata de um modelo justo e bem curto, preto como a noite, mas nas laterais há delicadas listras curvas prateadas entrelaçando-se.

Lilith nota minha expressão e abre um sorriso de orelha a orelha:

– Ahhhhh! Sabia que você ia amar! Agora se arrume e vamos logo.

Saio do banheiro e me olho no espelho da porta do meu armário e não me reconheço.

Minha animação diminui um pouco quando olho para meu lado esquerdo. Não que seja a primeira vez mas, fico espantada com a beleza de Lilith. Por mais que ame minha melhor amiga, chega a dar raiva. Ela esta com uma saia vermelha justa, que vai desde um pouco abaixo do umbigo, até a metade da coxa. A garota usa uma blusinha super curta com alças finas, a peça é branco-gelo com rendas pretas no decote.

Depois de rapidamente escolher um salto baixo azul marinho, começamos a maquiagem. Optamos por algo mais simples, mas o resultado final é inacreditável. Estamos... perfeitas.

– Tem certeza de que você não colocou algum tipo de feitiço em mim? – Pergunto, realmente em dúvida.

Lilith ri, e vai em direção a porta. Eu a sigo.

Pegamos “emprestado” o carro de minha mãe. Lilith esta dirigindo, o que é preocupante. Lil tem quinze anos e já sabe dirigir, mas ainda não tirou a carteira. Ou seja, se formor pegas pela policia não só estarei de castuigo, mas ambé presa!

Nem tenho tempo de me preocupar se ela irá descobrir pois Lilith acaba de estacionar na frente da casa de Matt. Está lotada. Pessoas entram e saem de todas as portas da casa, incluindo as janelas, circulando para lá e para cá com cerveja e líquidos misteriosos em copos vermelhos. Música alta cobre o lugar. A festa é muito maior do que eu esperava.
Passando pelo pátio, já somos alvo de muitos olhares, e isso é meio que estranho.

– Wow!

– Eu sei Lily, eu sei – Estou mesmo surpresa.

Continuamos andando em direção a casa de dois andares em nossa frente. Assim que passamos pela confusão do pátio (não que aqui dentro esteja muito diferente), Lilith olha para mim e fala:

– Vamos achar seu amigo...

Reviro os olhos e continuo andando, tomando cuidado para não esbarrar em ninguém.

Não demora muito, e Matt nos encontra. O garoto olha rapidamente para meu vestido.

– Uou.

– Uou?

– Uou.

Sinto minhas bochechas pegando fogo.. Espero que ele não tenha notado.

Lili solta uma risada. Olho para ela e percebo que seu sorriso com certeza ganharia o recorde de mais malicioso.

– Ahn, então Matt! Esta é minha melhor amiga, Lilith. – Digo, rápido demais, antes que ela diga algo que me deixe ainda mais envergonhada. ​Lentamente, Matt se virou para Lilith.

– Olá, sou Matt...

– Oi! Não se preocupem comigo, vou beber algo e deixar vocês dois sozinhos

Ela pisca para mim, e vai até o que parece ser a sala de estar.

Eu e Matt ficamos em um constrangedor momento de silêncio. Já me arrependo profundamente de ter vindo a esta festa. Então, ele me olha com aqueles lindos olhos castanhos e, obviamente, fala algo que me derrete por inteiro:

– Aposto que você fica ainda mais bonita na pista de dança.

Estou no pátio de trás da casa, sentei em uma das cadeiras em frente á pequena piscina. Estava torcendo para que não houvesse mais ninguém aqui, mas claro, não tive tanta sorte. Pelos últimos dez minutos tive que ouvir um casal falando sobre como estão apaixonados um pelo outro.

Estou tonta e muito enjoada. Lembro de ter me afastado de Matt e pego a bebida mais forte que consegui encontrar, os dois copos com cheiro mais forte na verdade. Agora, me arrependo profundamente disso.

Percebo que não é só a tontura que me incomoda. Não faz sentido eu estar me sentido assim, dançar com Matt foi incrível! Dançamos por umas quatro musicas, não falamos muito, mas não paramos de rodopiar pela pista de dança nem por um segundo.

Tudo bem, eu nem o conheço. Talvez ele seja um assassino... mas não pude deixar de sorrir ao lembrar de como me senti ali, com apenas uma leve camada de ar nos separando

Agora o sentimento parece distante... Como se tudo aquilo tivesse acontecido com outra pessoa...

Saio do banco alto em que estou sentada no pátio traseiro da casa. Quando bato os pés no chão, sinto minha mente voltando a realidade, além da dança com Matt, além de toda aquela festa. Não consigo mais ignorar a situação que se encontra minha vida. Este é o motivo de eu ter simplesmente saído como uma louca de perto de Matt, não consigo mais ignorar. Me sinto sufocada, e estou assim desde que cheguei e Lancaster. Até antes disso.

As mudanças começaram depois que meu pai faleceu. Minha mãe sempre trabalhou, mas não desse jeito. Ela e meu pai trabalhavam perto de nossa antiga casa, em Nova York. Nossa vida nunca fui sossegada, sempre havia aquela onda de agitação entre nós. Mas as coisas eram diferentes... Digo toda hora a mim mesma que é obvio que as coisas mudariam. Quer dizer, meu pai morreu quando eu era bem mais nova, e desde então somos só nos três: eu, meu irmão e minha mãe.

As mudanças deram início seis meses depois do acontecimento. Nossa primeira parada então foi Tampa. E eu não fazia ideia do porquê de estarmos ali.

Os anos foram se passando e nós fomos nos mudando. Sim, eu e meu irmão reclamávamos, perguntávamos o porquê. Mas minha mãe sempre respondia com a mesma frase: vai melhorar.

Todos nós sofremos com a perda de meu pai, cada um de seu jeito. Mas ainda não sei o que está acontecendo com minha mãe.

Digo, só concordei em me mudar de Santa Barbara pois sabia que Lancaster era a apenas algumas poucas horas de lá. Não sei se conseguiria continuar passando por isso sem Lily.

Meus devaneios são interrompidos quando tropeço no banco em que estivera sentada. Estou sentindo-me cada vez pior, então decido encontrar Lilith e ir embora.

Entro pela porta dos fundos, passo pela cozinha e chego á sala. Minha visão fica turva, as bebidas eram mais fortes do que eu pensava. O que eu tomei? Paro de andar, e me sento no primeiro sofá que vejo.

Quando me sinto um pouco melhor, volto a procurar. Continuo a caminhar.

Estou parada perto do lugar onde algumas pessoas estão dançando. Não sei que horas são, mas não ligo. Sinto uma vontade imensa de correr até lá e me mover ao som da música. Começo a caminhar. Volto a me sentir tonta, mas isso não me impede.

Lil diria que eu estou bêbada. Não me sinto bêbada! Sim, continuo com dor de cabeça, mas não me sinto mais distante! Me sinto bem!

Quando percebo, já estou pulando, rodopiando e cantando junto com a música... Decido que é minha música favorita! Estou cantando ainda mais alto, é maravilhoso!

Percebo algum movimento ao meu redor. Me viro e vejo um garoto á minha frente. Por um segundo penso que é Matt, mas então vejo que o cara parece mais velho, talvez dezesseis anos. Ok, a maioria das pessoas aqui é mais velha, mas... sei que não o ví antes. Caso contrário, me lembraria.

Teno me aproximar para perguntar seu nome mas tropeço em seu pé, então desisto.

Sem uma palavra, ele também começa a se movimentar ao som da música. É quase como se estivéssemos dançando juntos.

Continuo rodopiando e rindo, e vejo um começo de um sorriso em seus lábios.

Não sei nem o nome dele, mas dançamos a noite toda.