O estranho eremita escrita por 0 Ilimitado


Capítulo 3
Ato 3 - Centelha de menino




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/569255/chapter/3

“Seu espírito vagava através daquelas paredes, talvez atrás do enigma que não conseguiu decifrar enquanto vivo.”


Quando morava no antigo bairro dos Passademos, no raiar dos meus sete anos, minha diversão era diferente de todas as outras que eu procurava na face das outras crianças, enquanto elas moldavam seus amigos com algumas brincadeiras e anedotas baratas, a poeira dos livros de meu pai erguiam os meus, eles me ouviam, e quando eu ansiava dizer algo, minhas personagens diziam por mim, o sofrimento de ser isolado desde pequeno se refletiam nas minhas histórias, tantas vezes doloridas, anfiguris sem alma e nem vertente, apenas um modo de expressar o que nem o criador saberia exemplificar.
Infelizmente, ainda me indago com certas questões que ficariam melhor guardadas no baú arcaico da desilusão, minha plena juventude foi marcada pela perpétua isolação, meus pais me deixavam trancafiados, em dias frios, quentes, úmidos e secos, resumindo... Em qualquer dia que houvera passado.
Mesmo que seja uma vaga lembrança, deve ser compartilhada a você, por debaixo do pé de laranjeira, foi o mais longe que pude ir de mãos dadas aos meus superiores, criando identidades com capas duras, criando fronteiras invés de pontes.
Meu pai ensinava os modos na mesa, o apocalipse não trajava mudanças climáticas drásticas como no antigo testamento, cair um garfo no chão significava ir para o inferno, e isso eu conheço bem, não abrutalhe sua imagem, devo muito a esse homem, contudo bambus marcaram minhas costas, e foi assim que aprendi, educação imposta, rígida, sua incisão diante de mim, arquitetou o quão duro sou com o meu próprio erro. Cabelos sempre bem penteados, negro-morte, magro, com músculos que se definiam através do paletó, tinha corpo de atleta e alma de executivo, que não permitia falhas. Fios brancos deveriam ser obliterados no primeiro encontro. Um homem vaidoso enfim.
Minha mãe, católica árdua, rezava ajoelhada a cama, enquanto raios solares refletiam seus cabelos em meus olhos, cabelos que oscilavam entre uma coloração amarronzada e ruiva. Um corpo que lembrava uma silhueta, um casal perfeito aos meus olhos. Não sei se uma crença em algo maior nesse momento me faria sentir melhor essa volúpia angustiante, para ela, o processo valia a pena, tantas vezes apanhara, que o modo que encontrou de cobrir as feridas, foi com orações, mesmo que pensamentos infiéis se demonstrassem presentes.
Quando ordenava trancafiar-me ao quarto a espera da minha tia, a dona da casa, meu coração era posto em um frigorífico para porcos decapitados.
O meu túmulo de lamentações formou-se sob aqueles cobertores que cheiravam veludo e fluidos corporais... Não quero continuar, essa dor enrustida que tanto sinto e procuro acobertá-la a procura de mistérios, são para ocultar os meus, quem olha para os meus olhos não veem o meu passado. Continuarei com as minhas desvendas. É mais fácil falar através delas.
Quando desci o grande túnel em mágica velocidade, encontrei-me diante de uma sinuosa profundeza fria, esse deve ser o prazer de todos os eremitas, procurar ocultismos mesmo que a sina disso seja as profundezas penumbrosas e gélidas de um túmulo.
As cores pareciam passar por um prisma, a púrpura refletia a linda luz que provinha das rochas pintadas e enigmáticas, uma água descia pelas costas e rasgava o âmbito em dois pedaços, segui até sua fonte, onde parecia mais um castelo enviesado pela escuridão do que uma caverna propriamente dita.
Um gosto metálico, de cinzas, atingiu meu paladar, a sinestesia nunca se demonstrou tão presente. Veio na minha cabeça a imagem do velho expedidor, não posso jurar, todavia sentia a sua presença naquele lugar, seu espírito vagava através daquelas paredes, talvez atrás do enigma que não conseguiu decifrar enquanto vivo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O estranho eremita" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.