Soul Rebel escrita por Aspen


Capítulo 2
O Futuro Presidente


Notas iniciais do capítulo

Aí está: Para quem estava ansioso pela aparição de Jack, o gostosão, e pelo primeiro contato dos dois, esse capítulo é dedicado à vocês. Agradeço de coração aos comentários do capítulo anterior, tem como vocês serem mais perfeitas? Impossível! Ah, tem um pouco de Jelsa também... Minha pena dos Jelsa Shippers ficam para as notas finais. Espero que gostem! PERDOEM OS ERROS GRAMATICAIS!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/569228/chapter/2

Talvez fosse a insanidade de sua mente que, nos últimos meses, estivera perigosamente perturbada. Mas algo em seus olhos o atraia. Era como se a sua íris esverdeada, tão incomum em tempos como estes, lhe proporcionasse prazer, mesmo que indiretamente. O que era estranho. Nunca fora atraído por olhos, ou por fios dourados como estes.

Talvez seja eu quem precise de terapia, pensou consigo, enquanto a garota em sua frente parecia dormir com os olhos abertos, completamente fora do mundo real.

— Que preciso dizer para sair daqui, afinal? — Disse finalmente, após longos minutos de um silêncio assustador.

— Rapunzel, não é? — Perguntou, e ela assentiu levemente com a cabeça, enquanto alguns fios extremamente lisos caiam sobre seus olhos. — Diga o que quiser.

— Como o que? — A loira costumava enrolar uma mecha de cabelo com os dedos finos e pálidos.

— Ahn... — Tinha que admitir, ele não sabia o que estava fazendo e nem como deveria fazer. Era inexperiente mas, mesmo assim, se sentia no dever de estar ali, a interrogando, a estudando, a admirando. E era por uma causa nobre. — Como foi o seu dia, por exemplo.

— Não saio por aí contando como foi o meu dia para estranhos — relutante, continuava a encaracolar seus fios com os dedos.

— Não sou um estranho. Sou seu amigo agora — insistiu, forçando um sorriso amarelo para a garota, que continuava inexpressiva desde que chegou.

Havia quadros por toda a parte. Fotos de palhaços sorridentes, e algumas pinturas renascentistas, como O Nascimento de Vênus que, segundo cientistas, deixavam as pessoas mais dispostas e abertas para conversas. Mas tudo isso parecia não fazer efeito algum à loira, que balançava as pernas finas escondidas pelas meias.

Após mais alguns minutos de silêncio, e a feição incrédula de Rapunzel diante a situação, ela resolveu quebrar o gelo, mais uma vez: — Não acha que é muito jovem para estar aqui? — Jack ergueu uma sobrancelha, franzindo a testa. — Digo, você não parece muito mais velho que eu.

— Do que está falando? — Ele mordeu o lábio inferior, tentanto conter um sorriso. — Tenho mais de sessenta anos. Não vê o cabelo branco?

A loira pareceu assustada, e entusiasmada ao mesmo tempo. Não acreditava no que via.

— Vi muitos Masculinos hoje — revelou, se levantando da cadeira discretamente e indo em direção ao rapaz sentado na poltrona preta, em sua frente. — Vocês me deixam um tanto acanhada, entende? — Jack não entendia a proximação da garota e puxou a prancheta para seu corpo, mas ainda sim sem fazer nenhum movimento brusco, para que a mesma não se afastasse. — E você é tão... — Rapunzel hesitou, mas logo passou, delicadamente, uma de suas mãos sobre o cabelo curto do rapaz. Logo após sobre seus olhos, sobre o nariz e sobre sua boca, tão fina como a de um bebê. Como a de bebês que via em livros de Biologia. Jack deixou escapar um leve sorriso, e uma risada abafada pelas narinas. Isso tudo era tão estranho e, ao mesmo tempo, tão bom. — estranho. — Disse finalmente, fazendo o rapaz a olhar meio desajeitado. Rapunzel tirou bruscamente sua mão do seu rosto e se sentou novamente na poltrona branca aconchegante que estivera sentada momentos antes. — Espero ser bonita assim quando tiver sessenta.

Um sorriso travesso surgiu no rosto de Jack, que não conseguiu conter a pergunta.

— Então você acha que sou bonito?

A pergunta fez com que Rapunzel ficasse paralisada e, percebendo o forte rubor em suas bochechas, Jack deixou escapar uma fino riso. Foram pouquíssimas palavras com ele, sim, mas fora a maior conversa que tivera com um Masculino desde que teve contato com um. Eles a deixavam mesmo acanhada.

Mas antes que pudesse responder a pergunta de seu Terapeuta Observador, a fina buzina tocou, o que indicava que sua hora havia acabado. Rapunzel teria que voltar para a Vila 7.

— Hora de ir — Jack disse, observando o relógio colorido que se encontrava na parede atrás da poltrona da garota.

— Ah, claro — a loira levantou o mais rápido que podia, tentando esconder o quão envergonhada estava de dizer algo tão estúpido. Passou a mão sobre sua saia amassada e se dirigiu rapidamente para o elevador incolor que ficava em uma das extremidades da pequena sala. Tudo isso durou segundos.

Rapunzel já estava no elevador quando Jack resolveu dizer algo: — Aliás, meu nome é... — mas o elevador já havia descido, e a visão da garota que a poucos instantes estava ali, desapareceu. — ...Jackson. — Terminou, mesmo que a essa altura não fosse preciso.

Deitou o pescoço sobre as costas da poltrona e fechou os olhos, respirando fundo. Levantou-se para, então, abrir a porta quase imperceptível do cômodo, que era da exata coloração das paredes. Não que fosse contra a elevadores, visando que Jack era contra a quase tudo daquele país, mas ele era extremamente claustrofóbico. Ficar num lugar tão minúsculo quanto o elevador o dava calafrios.

Ao sair, observou instantâneamente outras portas pelo estreito corredor se abrindo. Eram centenas de terapeutas, vestindo jalecos brancos e com pranchetas rabiscadas. Jack olhou para sua prancheta e tudo que tinha eram folhas em branco. Não havia visto ou ouvido nada que fosse incomum, exceto pela estranha aproximação da garota, mas ele preferiu não escrever isso.

Andou mais um pouco, se batendo vez ou outra nos ombros de outras pessoas, que resmungavam, mas sem fazer alarde. Cumprimentava muitas pessoas que ao menos conhecia, e forçava um sorriso para todos que passavam. Jack então observou um rosto conhecido, que chamou sua atenção de longe. Era Eugene, seu braço direito.

— Ei, Big Jack! — Exclamou, chamando a atenção de todos pela informalidade que falava com o "Futuro Presidente", o que o deixou um pouco envergonhado. Eugene fez menção para que ele se aproximasse, e foi o que ele fez.

— E aí, que aconteceu lá dentro? — Perguntou, cumprimentando o amigo com um abraço desajeitado.

Enquanto os dois andavam lado a lado, Eugene vez ou outra virava o pescoço para observar certos glúteos.

— Ah, essas Femininas, são umas loucas... — Disse, rindo da pequena lembrança de momentos antes.

— Eu que o diga — Jack concordou, colocando uma das mãos no bolso do jaleco.

— Você acredita que a minha paciente pegou no meu pênis? — Os dois riram juntos, como sempre faziam. — Quero dizer... — Eugene tentava recuperar o fôlego, enquanto andava e olhava para a bunda das mulheres que passavam pelo extenso corredor. — Ela não entendia como eu não tinha seios e uma vagina. Elas não aprendem isso na escola?

— Isso aqui tá tudo errado. — Disse um pouco mais sério e intrigado. — Essa coisa de não poder conhecer uma pessoa do mesmo sexo antes dos dezessete, nem ao menos estudar sobre eles, entende?

— Claro que entendo cara, nós estamos nessa juntos, você sabe. — Eles pararam numa máquina de café expresso, onde Eugene esperava o copo encher do líquido deliciosamente quente. — Você teve o privilégio de não entrar nisso. Mas eu estive lá. — Com o copo já cheio, eles andavam em direção às escadas. — E não sabe o quanto é ruim ficar excitado só por vê-las — Disse, fazendo os dois rirem. — É sério, é sério.

— Sinto pena de você, cara. — Jack brincou, risonho. — Acho que não existe nada mais aterrorizante do que ser considerado o "Próximo Presidente", entende? Toda essa pressão. — Disse um pouco mais acanhado, subindo mais um lance de escada às pressas. — Você ao menos pode recuperar o tempo perdido agora.

— Com uma mulher em casa fica mais difícil a cada dia — revirou os olhos, tomando o último gole de café e o jogando de longe em uma lixeira de aço, errando a direção e deixando o copo caído em um dos corredores por onde passara. — Mas estou tentando. — Dizendo isso, soltou um beijo com as mãos para uma mulher de cabelos negros como a noite e uma beleza extremamente exótica, que ficou vermelha e saiu, às pressas, como se não houvesse visto nada. Eugene deixou escapar uma risada convencida. — Ela é uma delícia, não é?

— De certo modo.

— De certo modo, cara? — Eles estavam parados agora, encostados à parede branca. — Onde está o Jack e o que você fez com ele?

— O Jack está com a cabeça prestes a explodir ultimamente. — Disse se referindo a si mesmo na terceira pessoa.

— Tá, eu vou te deixar sozinho. — Eugene deu um leve soco no ombro do amigo e se virou. — Ah, antes que eu me esqueça; reunião hoje. Nós vamos acabar com eles. — Dito isso, saiu corredor afora.

Jack bufou. Respirou fundo mais uma vez. Com uma das mãos livre, massageou as têmporas com os olhos fechados, tentando inutilmente acabar com a dor de cabeça habitual.

Seus dias eram tão cheios. Reuniões. Reclamações. Preparações. Mais reuniões. Disfarces. Tudo isso o deixava inquieto, além de muitas preocupações. Ninguém que conheceu tivera que lidar com tantos problemas, e isso o irritava profundamente. Todo esse mundo ridículo, estereotipado, recluso e nem um pouco democrático era exaustivo. Tudo isso somado ao dever de ser Presidente de todo o mundo, de toda a nação, mesmo discordando de tudo que havia nele.

No corredor que estava, poucas pessoas se encontravam ali. Andou um pouco menos estressado pelo corredor e encarou o rumo que teria que tomar: Um estreito elevador. Não havia outra saída.

Exalou todo o ar que podia até seus pulmões queimarem e entrou, devagar, no elevador, que abriu a porta somente pela presença do rapaz ali. Já dentro, as portas se fecharam, e ele sentiu que as paredes invisíveis do elevador estavam ficando cada vez mais estreitas.

Os pingos de suor já começavam a brotar em sua testa pálida e ele apertou, rapidamente, o botão 200. Já sabia que a viagem até a Sala Presidencial era uma eternidade, mas pensou que apertando rápido, ao menos o iminente sufoco que passava acabaria rápido.

O elevador começou a se movimentar e ele sentiu um nó se formar, tanto no seu estômago quanto na sua garganta. Era como se o ar estivesse faltando. Os seus pulmões estavam em brasa, ele podia sentir que estava morrendo. Com os olhos arregalados, era evidente sua feição aterrorizada. Ele apertava incesadamente os botões, para que a porta se abrisse e ele pudesse sair correndo daquele lugar horroroso, mas de nada surgia efeito. Apenas um botão podia ser pressionado por pessoa.

Subindo numa velocidade incomum, o elevador finalmente chegou ao térreo e abriu as portas com certa lentidão. O ar finalmente voltou, e Jack saiu, ofegante, do local que ele assemelhava ao inferno. Ou pior.

As pessoas em volta o olhavam incrédulas, sem entender o porquê de o rapaz estar tão suado e ofegante. Ele estava num elevador aconchegante e climatizado, que mal poderia ter acontecido, afinal?

Ele respirava com as mãos nos joelhos, recuperando o fôlego. Sentiu uma mão delicada e gélida tocar suas costas, uma mão muito conhecida.

— Você está bem? — Ela perguntou, passando a mão por entre os fios platinados do rapaz, que se ajeitou rapidamente, ficando ereto.

— Estou bem, Elsa, nada com o que se preocupar. — Ele movimentou a cabeça, para que ela tirasse sua mão dali. — Você viu meu pai por aí? — Disse, mudando o foco do assunto.

Elsa deu um sorriso triste. Odiava ser rejeitada por Jackson, mas mesmo assim, continuava insistindo nele.

— Não saiu da Sala Presidencial desde que chegou.

— Ah, que bom, então — disse, andando rapidamente para longe da garota, que tinha os olhos azuis, tão intensos, somente para ele. Na maioria das vezes.

— Quer que eu vá com você? — Gritou para que Jack conseguisse ouvir. Mas ele não respondeu. Elsa preferiu acreditar que ele estava longe demais para escutá-la mas, sabia que, no fundo, ele a havia ignorado. Como sempre fez desde que foi escolhida como seu Par Ideal. — Tudo bem, então. — Disse para si mesma, andando na direção oposta do albino.

Jack tinha seus passos firmes e rápidos. A cabeça agitada, o cérebro carregado de preocupações. Se tudo desse errado e fosse presidente algum dia, com certeza eliminaria esses elevadores.

Parou então em frente à Sala Perigosa, como preferiu chamá-la. Respirou fundo e bateu algumas vezes na porta, até a mesma ser destrancada automaticamente. Jack empurrou a estrutura de aço, que abriu rápida e silenciosamente. A poltrona, como sempre, estava virada para o lado oposto da porta de entrada. Presumiu que seu pai estivesse sentado ali, observando a grande parede de vidro e as pessoas do outro lado.

A sala era extensa. Alguns quadros enfeitavam o local, havia duas estantes cheias de livros grossos e empoeirados em uma das paredes. O chão era de cascalho, e as paredes num tom escuro. Um lustre realmente grande e luxuoso dava um ar mais nobre ao local, além de muitas prateleiras lotadas de garrafas de vinhos velhos. Se não fosse pela bandeira roxa, com um símbolo quadrilátero branco no centro, ninguém saberia que aquilo era uma Sala Presidencial.

Jack andou um tanto relutante até uma extensa mesa, que ficava na frente da grande poltrona. Seu pai não dizia uma palavra, e Jack se perguntou mesmo se ele estava ali. Sempre fora tão agitado, reclamão, que o silêncio naquela sala era aterrorizante.

— Você continua evitando a Elsa, então? — Seu pai disse, finalmente, e sua voz rouca e grave inundou o local. — Que vergonha.

— Não sei a razão que a escolheu para ser meu Par — falou, rancoroso. Elsa sempre fora uma grande amiga, ela era intrigante e, ao mesmo tempo, sentia afeição por ela que, um ano após sair de Corona, ficou viúva por causas desconhecidas. Desde então, fora diagnosticada como par de Jack, e todo encanto que ele tinha por ela, quase desapareceu. Mas não sumira por completo, ele ainda podia sentir algo por ela, mas não era amor. Talvez pena. — Quero dizer... Eu nem mesmo fui para Corona, como é de seu conhecimento.

Ele se aproximou da mesa, deixando sua prancheta sobre a mesma e fitando um jornal jogado em meio a outros papéis. Não era curioso, mas quando o assunto eram notícias do que estava acontecendo no mundo, seus sentidos logo se alertavam e era impossível ir contra isso.

— Você tem o sangue limpo, não precisa ir para Corona para saber disso — esbravejou. Sua voz era capaz de balançar todo o edifício. — Pode ter a Feminina que quiser, a hora que quiser, e sabe disso.

— Claro, claro — respondeu, totalmente desatento à conversa de seu pai. Seus olhos estavam em apenas uma coisa: o jornal sobre a mesa.

— Além de que, Femininas são só distrações — riu do seu próprio comentário. — Nós somos superior a todo tipo de gente, você entende, meu filho? — Norte esperava que Jack respondesse algo, mas o mesmo continuava completamente inerte. — Eu te fiz uma — Norte finalmente virou a poltrona para encarar o filho, que tinha seus olhos arregalados e vidrados no jornal que tinha em mãos. O homem barbudo se levantou brutalmente, puxando com força o jornal da mão do rapaz, e o rasgando em milhares de papéis. — Saia já daqui! — Gritou. O rosto ruborizado demonstrando tamanha aflição.

Jack estava certo. Estava certo o tempo todo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

É, o capítulo não foi bem como vocês esperavam, né? Mas eu tentei, ao MÁXIMO, capturar a essência deles, mesmo que tenha sido um pouco modificada, devido ao enredo da história. E agora para os Jelsa Shippers: ÔH, VIDA SOFRIDA!!!!!!!!!!!! É a life, gente, isso acontece. Enfim, espero que tenham gostado, isso foi só para vocês entenderem o que o Jackson Overland, O Futuro Presidente, passou no primeiro dia de trabalho. Mereço comentários?