Soul Rebel escrita por Aspen


Capítulo 1
Trenm


Notas iniciais do capítulo

Hello, guys! Primeira coisa: Se você está aqui, obviamente é porque vai tentar ao menos ler a história, e eu agradeço profundamente por isso. Segunda coisa: Visando que Corona se trata de um país quase-pós-apocalíptico, a mentalidade das pessoas desinvoluiu; e eu sei que essa palavra não existe, mas vocês entenderam. Apesar de a história ser uma distopia e ser retratada num futuro distante, o dinheiro que iria ser investido na tecnologia de lazer, foi investido na restruturação do planeta, fazendo com que o país fosse um país que, comparado com um aí opa é um país pobre, bem parecido com o lugar onde America morava no livro "A Seleção", mas não chega a ser tão pobre assim. Não há tanta tecnologia enovadora, então não pensem em ver carros flutuantes ou coisas assim, muita coisa não mudou. E isso ficou enooooooooooooooorme............. Sorry! Vejo vocês nas notas finais!!!!!!!!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/569228/chapter/1

Talvez fosse o extenso banheiro constituído de centenas de cabines sem portas, talvez fosse o jeito como se sentia desconfortável ali, completamente exposta para outras Femininas. Deveria ser mesmo as gotas gélidas que deslizavam, cortantes, sobre sua pele pálida. Ou a luz das cinco da manhã, que rasgava o teto incolor. Mas algo estava diferente, podia sentir.

No dormitório 60, em meio a centenas de Femininas desnutridas e desengonçadas, se sentia sozinha em seu próprio casulo, os tais pensamentos particulares que se tem quando se sai da cama, e ao tomar banho, assim como ao se vestir.

"Como devem ser?", pensava, enquanto roía as unhas pequenas que, se fossem roídas mais um pouco, sangrariam.

Normalmente, aos dezessete anos, uma Feminina — ou até mesmo um Masculino — estaria aos nervos, imaginando quem seria aquele o escolhido para passar a vida inteira ao seu lado. Com quem teria o seu único filho, e que este seria completamente normal, mandado também para viver as experiências de um Jovem em Corona.

Mas Rapunzel pensava em seus pais, aqueles que lhe proporcionaram a vida e que residiam na República, onde sonhava ser enviada.

Ela era diferente, e não havia percebido isso até o momento em que Anna chegou, eufórica.

— Como devem ser? — Perguntou Anna, sonhadora, enquanto abotoava o uniforme branco de manga longa com o emblema de Corona no peito esquerdo.

— Que disse?

— Não se faça de boba, Rapunzel — disse, enquanto abotoava o uniforme da amiga. — Digo dos rapazes; como devem ser, afinal?

Assim que Anna abotora seu uniforme, ela agradeceu com um sussurro. Olhou-se na parede espelhada do dormitório, assim como todas as Femininas.

Meias de algodão branca subiam por suas pernas finas, parando perfeitamente cinco centímetros acima dos joelhos, como era ordenado. A gravata borboleta azul estava firme, assim como a saia de pregas, que pendiam da cintura até dois centímetros abaixo da meia. Os sapatos pretos estavam devidamente engrachados e afivelados. Ela estava igual a todos os dias, a não ser pelo chip implantado debaixo de sua pele, no pulso, que por sinal, todas tinham ganhado por terem completado dezessete anos.

— Não devem usar saias. — Brincou, fazendo Anna rir.

O barulho ardente e irritante do alarme soava por todas as quatro enormes paredes do dormitório. Uma euforia tomava conta do local, pois este seria o dia que as Femininas encontrariam, pela primeira vez, Masculinos de verdade.

Ao completar dezessete anos, o indivíduo não é mais observado por câmeras e sensores, ao invés disso teriam, todos os dias, sessões com um Observador Terapeuta. O que se fazia com eles era desconhecido, mas a sensação de não ser mais vigiado por câmeras era reconfortante.

Todas foram, aos tombos, para a Estação, onde um automóvel quilométrico as esperava. Era o Trenm que, assim como todos os automóveis, era pintado com a cor de ferrugem, relacionado à Vila 7, que era onde as Femininas do Lote 57 se encontravam.

Rapunzel foi puxada por Anna para uma das dezenas portas do Trenm. Um fino laser verde subia e descia na altura dos olhos cor esmeralda de Rapunzel. Já estava acostumada com todo esse protocolo, era comum desde que atingira os sete anos de idade. O laser servia para detectar qualquer sinal de doença contagiosa no individuo.

Após concedida sua entrada, seus pés tocaram o tão conhecido carpete vermelho. Depois de um mês que passara longe de suas amigas, socializando com outras femininas mais novas num acampamento de verão, sentia saudade do chão confortável e das cabines de cortinas crespas com cheiro de terra molhada.

— Bonjour, mes amis! — A voz de Anna ecoava, ainda a puxando ferozmente, agora pelos corredores do Trenm.

À medida que ela andava, e Rapunzel ia sendo arrastada, Anna olhava, cautelosamente, as cabines pelas janelas de vidro que as mesmas continham.

Rapunzel sentiu seu ombro sendo trombado contra outro ombro ossudo. Era Astrid, a garota mais detestável da Vila 7. Era possível ver a raiva inundando os olhos azuis de Astrid, que arqueou a sobrancelha e mordeu os lábios, enfurecida.

— Olha por onde anda, esquisita! — Desdenhou, com sua habitual feição de superioridade.

— Do que me chamou? — Com um brusco movimento com as mãos, Rapunzel fez Anna parar de puxá-la e, assim como tantas outras Femininas no corredor, olhar a cena que estava acontecendo bem ali.

— Deixe isso pra lá, Rapunzel. — Pediu Anna, agarrando novamente a mão de sua amiga. — A Maria Sangrenta só fala asneiras, vamos sair daqui.

Parecia que a medida que a raiva de Astrid ia aumentando, seus olhos mudavam de cor e as narinas aumentavam de tamanho, como um touro.

Do que me chamou? — Repetiu a fala de Rapunzel, sentindo como se fosse explodir. Não era chamada assim há anos atrás, isso trazia lembranças horrorosas a sua mente pertutbada. — Vadia! — Gritou enfurecida. Era quase possível ver as veias alteradas em seu pescoço fino.

Astrid ia avançar. Iria acabar com Anna. Mas já era tarde demais.

Os seus batimentos já estavam a 100 por hora. Uma luz ofuscante saiu de seu pulso, causado pelo chip que continha abaixo de sua pele. Uma onda de dor tomou conta do corpo de Astrid, desde a ponta de seus dedos ao último fio de cabelo.

Astrid se contorceu e caiu, de joelhos, no chão do corredor.

Instantaneamente, a dor sumiu e ela encarou os olhos arregalados das Femininas que a olhavam, assustadas.

— Os batimentos cardíacos... — Uma Feminina, que a olhava ao longe, disse num sussurro.

E era, de fato. Os batimentos cardíacos são o grande medo dos jovens de 17 anos, que não tem mais surpervisão de professores nos Trenms. O Chip, no caso, foi implantado com muitas finalidades, e isso foi aprendido na escola.

Era apenas para Femininas que completavam 17 anos, pois estas, agora, estariam sempre perto de Masculinos. Como estas e estes não sabem quem são, na realidade, seus pares, a dor ocausionada pelo chip impede que eles continuem insistindo numa pessoa, se o sentimento pelo próximo conseguir virar amor e seus batimentos cardíacos atingissem 100 batimentos por minuto.

Amor. Todas ali tinham medo até da palavra. Foram ensinadas na escola que amar, antes dos 18, é crime grave. Ninguém queria amar, ninguém deveria amar.

Astrid levantou calmamente e, como se tudo que ocorreu ali fosse imaginação de todas, ela sorriu para Anna, que ainda estava assustada com a cena.

— Me espere quando sair de Corona, Anna. — Disse Astrid, com desdém. — Vai se arrepender de tudo isso.

E como se nada tivesse acontecido, Astrid saiu corredor afora, balançado sua habitual trança loira e revirando os olhos.

Anna estava assustada. E se tudo o que Astrid falou fosse sério? Se alguma coisa a acontecesse quando saísse dali? Não queria, de jeito nenhum, pensar sobre aquilo. Tudo que envolvesse ameaças, ouriçava os pelos de Anna e a deixava com os olhos arregalados por dias.

— Fica calma, Aninha. — Rapunzel disse, ficando na ponta dos pés para beijar a testa alva de Anna. — Ela não vai fazer nada contra você, fica tranquila.

Anna forçou um sorriso amarelo e, com seus dedos entrelaçados aos de Rapunzel, andou pelo corredor sem dizer nenhuma palavra. Rapunzel estar calada era, de fato, uma novidade assustadora. Já Anna calada, era aterrorizante.

A poucos metros de onde estavam, Rapunzel observou a despenteada cabeleira ruiva da garota que mais adorava em toda Corona — mas é claro, ela só conhecia as garotas do acampamento e as da Vila 7.

Puxou Anna corredor adentro, assim como a mesma fizera com ela, e bateu bruscamente na porta de correr da cabine. Merida puxou a porta com um sorriso largo no rosto e abraçou fortemente Rapunzel, ignorando a presença de Anna ali.

De fato as duas não se gostavam tanto, mas Anna, ainda sim, se sentiu desconfortável com a situação e largou a mão de Rapunzel, entrando rapida e silenciosamente dentro da cabine.

E então, apenas se sentando frente a frente com Merida, Rapunzel pode ver as fundas e escuras olheiras que a ruiva tinha debaixo dos olhos. Era como se ela não tivesse dormido há dias.

— Que aconteceu com seus olhos? — Rapunzel perguntou, enrugando a testa.

Merida soltou uma risada sarcástica, cruzando os braços atrás da nuca e fechando os olhos, como se estivesse sonhando acordada.

— Não tenho dormido, sabe? — Disse, na mais pura normalidade. — Os dias nunca foram melhores.

— Duvido como uma pessoa pode ter dias bons sem dormir.

— Descobri tantas coisas, Punzie... Você nem imagina quantas — Se gabou, piscando para a loira, que escondia interesse nos olhos.

Mas Rapunzel podia imaginar. Merida era do tipo que de nada tinha medo, já desafiou as autoridades muitas vezes, e já ficou encarcerada por semanas. Mas ela não dava a mínima, por isso sempre desrespeitou as regras.

Rapunzel tinha medo de que, algum dia, os Homens de Preto ficassem cheios de Merida e resolvessem por um fim em sua vida. Mas isso seria, no mínimo, impossível, já que eles iriam ter gasto 17 anos de pesquisa acima da ruiva levada que criaram.

— Que houve com a Trancinhas, hein?

Merida se referia a Anna que, desde a hora que entrou na cabine, não havia dito uma palavra. Ficou apenas parada, observando atentamente os raios de sol que penetravam as janelas da cabine do Trenm em movimento.

— Ela chamou Astrid de você-sabe-o-que.

— Ah, a Maria Sangrenta — revirou os olhos. — Ela é mesmo uma vadia, não é, Anna?

Anna continuou calada por alguns segundos, para então encarar Merida, que olhava atentamente para ela.

— Você não acha que ela seria capaz de me fazer algum mal fora daqui, não é?

O medo na voz de Anna era evidente. Estava trêmula, os olhos cheios d'água.

— Ela está com medo da Hofferson? — Perguntou retoricamente à Rapunzel, que assentiu com a cabeça. — Céus! Eu vou acabar com ela quando sair daqui, eu te juro, Anna. Ela não vai te enconstar um dedo, sequer. — Disse, cerrando os punhos. — Ah, se não fosse esses malditos chips...

Anna e Merida não eram mesmo próximas, nem chegavam a ser amigas. Mas devido ao ódio que ela nutria de Astrid, nunca deixou que ela fizesse mal algum para qualquer pessoa, não se pudesse evitar.

As cornetas soaram pelo aparelho de som embutido nas paredes das cabines. Poucos segundos depois, a voz de Norte Overland, presidente supremo, ecoou em todos os lugares do Trenm.

É a mesma coisa todos os anos. Ele conta a história de Corona, um país que renasceu das cinzas de um lugar chamado Europa. Ele lista os desastres, as secas, a elevação do nível dos mares que engoliu quase toda quantidade de terra e, principalmente, as doenças que levaram para a quase eminente extinção humana. O resultado foi Corona, um lugar onde todos os jovens, dos zero aos dezoito anos, são estudados e selecionados, para que, ao completarem a maioridade, conheçam seus pares e já saiam dali casados, para morar nos dois únicos países que existem além desse, estes são República e Gestapo.

— Monstro — dizia Merida, entredentes.

Após seu discurso anual, as cornetas soam novamente e a voz de uma Feminina ecoa em todas as cabines, porém de um jeito mais dócil.

Era Elsa Arendelle, uma mulher de face desconhecida, que intrigava muito Anna por conter o mesmo sobrenome que ela. Assim que identificou a voz da mulher, Anna arregalou os olhos e desviou a atenção das janelas. Ela ainda tinha a esperança de que Elsa fosse alguém de sua família.

— É ela! — Animou-se, apoiando o rosto sobre as mãos.

"Bom dia, Femininas. Aqui quem vos fala é Elsa Arendelle, portavoz da Vila 7. Como já é de vosso conhecimento, cada uma de vocês ganhou, em sua estadia ao Acampamento de Verão, um chip especial, que fora implantado abaixo de uma fina camada de pele, no pulso de cada uma de vocês. Assim como o chip, lhes trago boas novas: Vocês terão, pela primeira vez, contato com os Masculinos da Vila 8. Irão vê-los todos os dias, pontualmente no Instituto Chesrie, para terem aulas de Preparação À Vida Adulta. Tenham cuidado para não cometerem delitos. Tenham uma boa semana."

— Ah, cala a boca! — Esbravajou Merida, revirando os olhos e se recostando em seu estreito sofá. — Ela é só mais um instrumento daquele Monstro.

— Ele não é monstro, Merida. Ele é descendente do homem que nos salvou, é por isso que todas nós estamos aqui agora. — Rapunzel resmungou, cruzando os braços e trombando seu corpo contra o estofado.

— Tudo bem, tudo bem. — Revirou os olhos, encostando a cabeça contra a vidraça da janela. — Mas a Elsa ainda é só um instrumento.

— Ei! — Repreendeu Anna, irritada, e Merida apenas soltou uma risada fina pela narina.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E então, gostaram? Foi pequeno, eu sei, mas isso tudo é só para vocês entenderem um pouquinho do dia-a-dia dessas meninas que amamos tanto. Aliás, tem como não amar? As tretas estão por vir, eu prometo. Enfim, se gostaram, comentem, se não, comentem também. Alguma duvida? Comentem. Alguma reclamação? Comenta aí. Sugestões? Chega junto, meu camarada! Beijos de luz.