A Casa Ao Lado escrita por LittleAliceTrain, Jeane


Capítulo 9
Porão


Notas iniciais do capítulo

Bitch i m back, by popular demand.
Escrito por mim e pela minha coautora. espero que gostem.
Bjs. Little Train.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/569202/chapter/9

 O sol ainda não esta totalmente a pino. Caleb está ao meu lado. 
 Caminhamos até a porta.

— Tem alguém na casa? - pergunto.
Ele para com a mão no trinco.
— Não – diz – a essa hora não.
 Ele se cala e abre a porta. 
 Percebo que o lugar é assustadoramente parecido com a minha casa. A mesma madeira escura nas paredes, o mesmo piso no chão. A disposição dos cômodos parece ser o mesmo. A casa está totalmente diferente do que me lembro. Os móveis estão imaculadamente limpos, os estofados parecem novos, o papel de parede cor de creme parece recém colocado, porém, a mesma atmosfera pesada paira no ar.
— Como isso aconteceu? – 
pergunto a Caleb.
 Ele olha para mim, mas não me responde. 
Eu não insisto.
Seguimos até um corredor próximo as escadas. O garoto está calado. Sua face demonstra certa concentração. Ele evita me olhar e não fala comigo desde que entramos. Ele parece estar até um pouco assustado.
 Seguimos até um corredor com paredes brancas, livres de qualquer decoração. Tem uma porta a direita e uma ao fundo. As portas de madeiras envernizadas estão fechadas. Ele começa a adentrar o corredor, mas nessa hora, o som de uma porta nos faz parar abruptamente.

 Mais que depressa Caleb agarra meu pulso. Ele olha pra mim e pede silêncio colocando o dedo indicador sobre os lábios. Não preciso que ele insista. Sou puxada para dentro da porta mais próxima. Estamos em um quarto cheio de janelas cobertas por cortinas claras. Parece um ateliê. Vários rolos de tecido, manequins enrolados em mais tecido, chapeleiras, araras, cabides, armários. A sala parece completa. Uma grande bancada de trabalho ocupa o centro da sala.


Sinto uma pressão no pulso e percebo que Caleb ainda não me soltou. Ele está me encarando, seus dedos estão sobre os lábios novamente. Silenciosamente ele abre uma fresta na porta. Meu pulso ainda está na sua mão, mas ele solta o aperto. 
— Ele se foi - Caleb diz depois de um tempo e me solta.
— Você disse que ninguém estaria aqui! - meu sussurro sai bastante audível e esganiçado - Quem era?
 Caleb engole em seco.
— Meu pai - diz - não era pra ela estar aqui. 
Não diz mais nada, nem esclarece o assunto. 
Dessa vez com mais cautela, seguimos pelo corredor até a última porta. Caleb a abre e revela uma escada de madeira que desaparece na escuridão. 
— O porão - anuncia.
Meu coração dispara. Lembro-me imediatamente do sonho. A visão de Liz amarrada a uma cadeira domina minha mente. Lembro da sua face riscada de lágrimas e do pedido de socorro
 “– me ajude...”
 - E se ela estiver lá em baixo? – pergunto.

 - Srta. Likens acredito que não seja a coisa mais sábia a se fazer...  - Caleb se coloca em frente a porta escura.

 – Mas e se ela estiver lá? - persisto - eu preciso saber.

 Ele não ameaça se mover. Recuo um passo e cruzo os braços. Algo em minha mente estala.

 Caleb... O que exatamente tem atrás dessa porta? - pergunto pausadamente.

 - Absolutamente nada. Eu só não quero que você desça - diz - Pode ser perigoso. Essa escada está aí há anos.

 Gargalho de forma esganiçada. - Você ta vendo 'idiota' escrito na minha testa? - digo elevando o tom. Meu sangue ferve. Liz está atrás daquela porta. Eu tenho certeza.

 Caleb franze a testa, parecendo confuso com o que eu acabei de dizer. É incrível como ele consegue ser tão literal.

 - Eu não acreditei em uma só palavra que você disse - explico impaciente.

 Ele me encara sério.

 - Eu vou descer - diz com autoridade - eu não vou demorar. Por favor, senhorita, fique aqui - Posso enxergar um olhar leve de súplica.

 Agarro seu colarinho e o torço com força e o puxo com a intenção de afastá-lo da porta. Só quando o rosto alvo de Caleb está a apenas alguns centímetros dos meus e eu posso sentir sua respiração quente em minhas bochechas do rosto que caio em mim: eu não faço a menor ideia do que estou fazendo. Engulo em seco.    A porta entreaberta range atrás de Caleb. Até os ruídos da porta pareciam perceber a droga da tensão sexual.

Caleb também parece perceber já que ficou vermelho quase instantaneamente. Solto minhas mãos rapidamente e me afasto. Ele se recompõe mais rapidamente que eu e antes que eu possa fazer alguma outra objeção, ele se esgueira pela porta e a fecha atrás de si. Assim que ouço uma fechadura ser travada me lanço à porta com os pulsos erguidos.

P.O.V Caleb

 O breu se espalha por cada cantinho do porão assim que fecho a porta. O cheiro de naftalina que o cômodo exala é quase insuportável. Sinto meu maxilar contraído por debaixo de minha pele vergonhosamente vermelha. O pulso acelerado de meu coração é a única coisa que consigo ouvir até que ouço o som estrondoso do outro lado da porta. Zoey esmurra a madeira e grita meu nome sem parar. Tento ignora-la o melhor possível e começo a descer os degraus velhos que rangem com meu peso.

 O célebre riso de deboche de Valentine Van Fossan ecoa pelo cômodo. Ela bate palmas.

  - Que namoradinha mais bárbara a que você conseguiu arranjar, Caleb, mas eu tenho que admitir que ela é deveras formosa. Até mais do que eu, não acha? Sabe... Procurar por companheiras atraentes é um extinto natural para manter a linhagem desejável. Mas fantasmas não procriam,pobre irmãozinho, detesto ter de lembrá-lo.

  - Vale, não somos fantasmas - digo com frieza - você sabe disso muito bem.

 Quase posso sentir seus olhos me fuzilando.

 - Pode chamar do que quiser Caleb, você nunca vai ter chance com ela assim como eu nunca tive chance com o David e assim como nós nunca vamos libertar nossas almas vazias dessa casa imunda. - a voz de Valentine começa a ficar trêmula e se ela não fosse minha irmã, diria que está prestes a chorar.

 - Vai ser diferente, Vale.

  Digo, mas minhas palavras são vazias.  Como das outras vezes, os dias passarão e o pesadelo só ficará pior.

 - Ah, Caleb - ela diz acariciando minha face com uma benevolência nada típica de Valentine - sua ingenuidade seria comovente se não fosse tão irritante.

  Eu afasto sua mão de forma ríspida.  Zoey continua a esmurrar incansavelmente a velha porta.

  - Ela não é minha namorada.

  - Hã?

  - Você. Antes você disse que ela era minha namorada - repito.

  Vale revira os olhos e sorri debochada.

  - Francamente, Caleb, você sabe o que é sarcasmo?

  - Claro que sei o que é sarcasmo, mas o que isso tem a ver com...

  Meus tímpanos parecem explodir quando sou interrompido por um grito animalesco. Não faço idéia de qual direção o grito veio exatamente. Foi como se o cômodo inteiro estivesse agonizando de dor.

Involuntariamente tapo meus ouvidos e vejo Vale fazer o mesmo. Ela olha em pânico para um canto do porão coberto pela penumbra.        O grito parece vir de lá.

 Gradativamente, percebo os murros de Zoey cessando. Posso sentir sua preocupação.

 As batidas na porta recomeçam novamente, dessa vez com mais desespero.

  - ELIZABETH! -  Zoey chama seu nome vezes seguidas. Ela acerta murros e pontapés com a porta. Tenho receio que a madeira velha e pesada não resista a sua fúria.

Vale se encolhe no chão com as mãos nos ouvidos enquanto bate a cabeça na parede num frenesi desconcertante.

Posso ver seus lábios se movendo, mas não consigo ouvir o que ela diz. Abruptamente, como começou, o grito para.

Corro até Valentine e a envolvo com meus braços, impedindo-a de continuar batendo a cabeça contra a parede.

— Faça parar. Faça parar. Faça parar, por favor - ela suplica sussurrando com os olhos apertados

Ouço passos mais que apressados nos degraus de madeira. Zoey passa por mim, mas nem me olha. Ela parece estar mergulhada em um topor. Ela se dirige ao canto escuro e desaparece na penumbra instantaneamente. Mais um grito. Dessa vez de Zoey.

 - QUE PORRA VOCÊ FEZ COM A MINHA IRMÃ?

Ela me empurra e me tira de cima de Valentine. Em todos esses anos, nunca vi minha irmãzinha tão indefesa quanto ela estava ali, com Zoey pressionando seus pulsos contra o chão. Ela não conseguia parar de chorar e pude ver a expressão de puro ódio de Zoey se afrouxando.

 Lentamente, a garota solta dos pulsos de Valentine se levanta e sai correndo até a parte mais escura do porão. Suas mãos tremulas tateiam as paredes frias de pedra em busca de algum interruptor. Em vão. O porão não tem luz faz muito tempo.

 Corro ao encontro de Vale.

— O que aconteceu, Valentine? - pergunto.

Ela funga e soluça enxugando as lágrimas com as costas da mão trêmula.

— Me ajude aqui, Caleb - Zoey pede com a voz perceptivelmente abalada.

 Continuo a fitar Valentine por alguns segundos, mas ela nem sequer me olha nos olhos. Aninho-a no chão com cuidado novamente e vou até o canto onde Zoey me chamou.

 No escuro, percebo-a segurando um corpo miúdo. Ela parece muito abalada. A garota em seu colo está desacordada. É Elizabeth, tenho certeza.

— Ela ainda está respirando - ela diz antes que eu pergunte.

— Ela está bem?

Zoey me olha com uma mistura de ódio e desespero nos olhos. É claro que ela não esta bem.

 - Vamos levá-la lá para cima. Não quero mais continuar nesse lugar.

 Concordo.

 Olho para trás e vejo que Valentine continua no chão fungando baixinho.

 - Tenho que ajudar minha irmã também – digo.

 Zoey me olha e concorda.

 - Vou levá-la  primeiro e depois eu te ajudo com Elizabeth, pode ser.

 Ela concorda.

Aproximo-me com cautela de Vele. Envolvo meus braços nas suas costas e atrás de seus joelhos e a levanto. Ela não parece perceber nada. Levo-a escada acima. Vejo a porta pendendo miseravelmente das dobradiças destruídas por Zoey. Carrego minha irmã pelo corredor até o ateliê, aonde ainda a pouco estive me escondendo de meu pai. Aninho a numa das poltronas.

 - Você vai ficar bem? – pergunto.

 Vale me olha e pela primeira vez desde o grito, parece perceber minha presença.

— Não era ela, Caleb. – sussurra tão baixo que quase não posso distinguir as palavras – Não era ela.

 “O que você quer dizer?” quero lhe perguntar, mas ela se vira na pequena poltrona e olha para janela. Mais uma vez, sei que sua mente esta divagando. Demorara  para conseguir arrancar mais alguma palavra dela.

 Saio e fecho a porta delicadamente.

 Volto ao porá.

 Zoey está no chão com Elizabeth. Ela parece muito abalada. Não é pra menos. Ela nota minha presença antes que eu chegue na metade da escada. Ela se Poe de pé com a irmã nos braços. A garota parece não pesar mais que uma pena. Me ofereço para carregá-la, mas Zoey se recusa.

 Ela é forte. Vou na frente e ela logo atrás. Subimos as escadas, atravessamos o corredor e paramos na porta da frente. Mantemos-nos em silencio absoluto nesses poucos segundos.

 - Não posso levá-la para casa - me diz cortando o silencio com sua voz fria.

  Lembro-me da situação. Que merda que eu fui fazer!

 - Pode deixá-la aqui – ofereço mesmo sabendo a resposta que virá.

 - Eu pretendo nunca mais voltar para dentro dessa casa maldita, me entendeu? – ela fala tão comedida e calma que faz os pelos da minha nuca se arrepiarem – Eu quero um lugar, longe daqui. Faça meus pais se esquecerem de mim também, qualquer coisa.

 Seu pedido me assusta. Sinto o tamanho do seu desespero.

 - Conheço um lugar – digo finalmente. Não é tão longe daqui.

 Ela concorda com a cabeça.

 - E quanto aos meus pais? – questiona friamente.

 Exito. Não quero ter que fazer isso de novo nunca mais. Ela percebe meus pensamentos e me olha. Seus olhos verdes são como facas.

 - Tudo bem – digo finalmente.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

depois de tanta demora, né. Não pretendo desistir de escrever essa história não. Mas provavelmente nossa relação sera assim, caro leitor. Desculpa. Beijo na alma.
Comentários são mais que bem vindos.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Casa Ao Lado" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.