Holy Sins escrita por itsinthewaterb, posledozhdya


Capítulo 4
III




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            O cansaço consumia tudo o que Anita poderia chamar de corpo, da ponta dos dedos até a alma, passando por cada célula de seu corpo. “Porque não podia ser mais simples?” Era a pergunta que sempre aparecia em sua mente, atormentando seus pensamentos, era tão estafante lutar contra si mesma, contra o seu pai, e contra os seus sentimentos.

 

            Estava acordada há umas duas horas e continuava na cama, deviam ser dez da manhã, Adele não havia sequer dado notícias, ela não tinha outras amigas... Aonde ela poderia estar? Anita decidiu não se perturbar mais e se encolheu mais ainda em sua posição fetal, enrolada em um cobertor grosso, esperando a neblina matutina passar. Mas ela não passou. Adele não apareceu, e Anita achou bom levantar, queria se afundar nas cobertas e esquecer todo o resto, mas tinha um anjo para decidir o que fazer com ele.

 

            Vestiu uma calça preta e uma camiseta estranha que estava jogada no armário, parecia ser de Adele, mas ela não iria se importar. Anita sentia uma pontada de tranqüilidade em saber que não havia ninguém na casa, seu pai já estava na Organização há horas, isso a deixava com um pouco mais de tempo sem ter que pensar em anjos e demônios. Ela desceu as escadas vagarosamente, analisando cada quadro daquelas paredes, cada foto, cada retrato. E deixou as lembranças a engolirem, a envolverem em seus braços, deixou-se afogar em memórias distantes.

 

 

[Memories]

 

 

            - São todos representantes da família, Anita, desde o século passado. Todos trouxeram grandes motivos de orgulho para nós. - o homem falava e falava, e a pequena garotinha se afogava naquelas cores, esquecia das palavras. Alguns quadros eram lindos, como o de uma mulher, linda, de olhos escuros como a noite e com um vestido branco, outros metiam medo, como o de um senhor careca, com um pequeno óculos na ponta do nariz, mas todos pareciam ser muito especiais, muito distantes de Anita.

            - Eu vou ser como eles, papai? - ela perguntou, medrosa. O homem balançou a cabeça negativamente e parou de caminhar, seus olhos fitaram a parede por algum tempo, aquele silêncio Anita conhecia bem. Um não. Ela abaixou a cabeça, entendendo o seu lugar, e voltou a ficar atrás do homem, andando vagarosamente, calada. Enquanto ele falava e falava, e ela se afogava mais uma vez na tinta à óleo.

 

 

[/Memories]

 

 

            As lágrimas rolavam soltas. “Não estou chorando por eles, estou chorando por mim” Tentava se convencer, em vão. Quando ela despertou das lembranças sentiu as pernas doloridas e as costas cansadas, estava sentada nos degraus da escada. Se levantou enxugando aquelas malditas lágrimas geladas e caminhou até a porta da frente, a abrindo completamente, sentiu o vento frio bater em seu rosto, que corou instantaneamente, e um sorriso, pequeno, mas um sorriso preencheu sua face. O frescor da manhã. Ela decidiu procurar Christian, mas, dessa vez iria esquecer o pai, esquecer o que devia fazer, iria apenas investigar.

 

 

***

 

            Um dia inteiro de caminhada, droga! Por que um anjo tinha que ser tão difícil de se encontrar? Tudo que ela havia conseguido eram dois calos nos pés e um calor incrível. De noite frio, de tarde quente, odiava o tempo daquela cidade. O plano já estava em sua mente, iria voltar pra casa, o cansaço estava voltando, e com ele os pensamentos ruins. Seus passos eram lentos, quase arrastados, só conseguia pensar em chegar em algum lugar vazio logo e levantar vôo. Foi quando começou a ver uma sombra espreitando atrás dela. Anita engoliu aquela desconfiança, não estava nem um pouco interessada em saber de alguém a estava seguindo. Mas a sombra continuou e o pânico começou a aflorar, brotando vagarosamente, fazendo-a perder a noção de direção, e quando deu por si, estava em um beco sem saída.

 

            - Merda! - ela odiava becos, a lembravam da vez em que quase foi atacada por um bando de marmanjos enormes. Estava pensando em sair dali quando a sombra apareceu ao seu lado, segurando seu braço com uma força que fez ela sentir uma pontada de dor, mas nada fora do normal. Só serviu para aumentar um pouco o pânico que desabrochava. - Mas que dro... - ia terminar a frase, foi quando viu o rosto do rapaz, e ela reconhecia aquele sorriso que lhe fazia sentir frio na espinha, era o mesmo cara, líder do bando de antes.

            - Você sabia que eu voltaria ... Não sabia, gracinha? - ele sorriu, aqueles dentes num sorriso retorcido reviraram o estômago da garota.

            - Você está me machucando ... - olhou para baixo, na direção do seu braço, na esperança de que ele entendesse a mensagem. Ele entendeu, e ignorou. Anita sentiu aquela coisa ferver de novo dentro de si e não se reprimiu dessa vez, ela se deliciou com o gosto maravilhoso que esse sentimento causava em seus lábios. Ela sorriu, segurando o braço do rapaz com sua mão livre, e o jogou contra o chão com toda a força que conseguiu. Um estrondo abalou a estrutura do muro do beco, que tremeu timidamente. Os olhos dela ficaram vermelhos outra vez, num vermelho sangue líquido, espesso, profundo. Os dele arregalaram de horror.

 

            Ela parecia descontar tudo que a espremia e arrancava suas forças naquele rapaz, distribuía seu sangue por todo o lugar, sentia o sentimento borbulhar junto com os socos que atingiam aquele corpo e derramavam gotas de sangue. Até que ela parou. O rapaz tinha uma expressão estranha, algo que lhe causou dor. Era como se ele pedisse piedade sem conseguir falar, seus olhos estavam fechados e a respiração era fraca, e então ela conseguiu ver, era só um humano. Não tinha nada a ver com toda aquela raiva que ela engolia diariamente. Anita estremeceu, se levantando do corpo dele, aonde estava ajoelhada, e caminhou de costas até bater de encontro com o muro. Uma voz ecoava na sua cabeça, aquela maldita voz mais uma vez. “Monstros, Anita” Seu lábio inferior tremia enquanto ela analisava o sangue espalhado pelo local

 

            - É incrível o que um demônio pode fazer, não é, Filha? - uma voz estranha invadiu o local, preenchendo as lacunas de silêncio e sangue, preenchendo com uma neblina negra e densa. Anita sentiu outra vez o pânico.

            - P-pai? - perguntou, aflita, se fosse seu pai ela estaria morta ... Mas não era a voz de seu pai, e não era a silhueta de seu pai. Ela ergueu o olhar para analisar melhor, era um homem jovem, muito bonito, talvez duas vezes mais alto que ela, o cabelo preto e liso se encurvava para trás, com certeza preso por alguma coisa, o rosto triangular sustentava um sorriso debochado e a pele branca contrastava com os olhos vermelho-sangue. Um demônio.

            - Leon, mas para você, só Pai. - o sorriso continuava lá, e o horror de Anita também. Ela poderia se afogar em suas dúvidas se quisesse, de tão numerosas. - É tão gratificante vê-la adulta e tão forte. Sabe, de todos os meus meio-demônios você é a mais forte. - ele caminhou vagarosamente, se aproximando um pouco do corpo. - Mas não é tão forte quanto um demônio completo. - ele balançou a cabeça negativamente, cutucando o corpo do rapaz com o pé direito. - Eu poderia transformá-la em um de nós, Anita. Um completo. - sua voz era persuasiva, quase doce, se não fosse pelo frio e vazio que ela trazia.

            - Eu ...  - seus pensamentos se embaralhavam, se fosse um demônio completo seria milhões de vezes mais forte, seria inteira e suficiente. “Monstros, Anita” Seria alguém, pelo menos para uma das raças. - Não. Eu estou bem assim. Obrigada pela oferta, Leon. - a voz tremia, igual ao resto to corpo, e a dor que a imagem daquele rapaz ensangüentado lhe causava era imensa.

            - Vamos, querida. Tudo que você tem a fazer é acabar com esse inseto, prove que você é capaz! - a voz se tornou ameaçadora, tentadora demais. Anita queria deixar as lágrimas escaparem outra vez, não tinha idéia do que fazer. Odiava se sentir espremida, sem saída.

            - Eu ... Eu não posso ... - resmungou, tentando impor o seu lado, tentando parecer ameaçadora. Seu pai de verdade estava ali, na sua frente, e ela simplesmente não fazia nada, o gosto do medo estava outra vez em sua boca, suor.

            - Que pena, você tem potencial, é a minha preferida ...  - ele balançou a cabeça negativamente. - Eu vou estar por perto, quando mudar de idéia é só me chamar. - ele sorriu outra vez, deixando a desaprovação de lado, e saiu caminhando vagarosamente.

 

            Ela deixou-se cair de joelhos no chão, e ficou analisando o rapaz por uns instantes. Ainda respirava. A confusão era como uma sopa de incertezas em sua cabeça, algo que ela mal conseguia sustentar. Ela se levantou, respirou fundo e saiu andando do beco escuro, as luzes da rua iluminaram um pouco a imagem de uma garota cheia de sangue caminhando arrastada pelas ruas da cidade, algo não muito agradável. Ela agradecia por aqueles lados da cidade serem mais vazios. Não havia casas, muito menos lojas, apenas destroços, restos de fábricas e coisas do tipo. Enquanto se arrastava para casa as palavras de Leon bombardeavam sua cabeça, “Eu vou estar por perto” Era algo que realmente a preocupava, ela conhecia muito bem os demônios, jamais insistiriam em algo que não lhes desse lucro. Então ele realmente acreditava que ela pudesse mudar de idéia.

 

            A cada canto, cada sombra, cada vazio, que ela olhava ela via a escuridão de Leon, via seus olhos vermelhos, sentia aquele frio irritante. Seus lábios tremiam. Uma sombra passou com rapidez ao seu lado e ela resolveu apertar o passo, mas havia perdido a direção, sempre se perdia. Olhava para trás quando esbarrou em alguém, seu coração disparou, seus lábios secaram, tudo em uma fração de tempo.

 

            - Perdida? - uma voz suave como veludo atravessou seus sentidos, cortando em pedacinhos qualquer insegurança. Não era Leon, e, mesmo sem saber quem era, ela abraçou aquele corpo, de olhos fechados ficou agarrada ao pouco de esperança que tinha. Sanidade era boa em uma hora dessas. E o silêncio tomou conta. O rapaz a abraçou, retribuindo, observou-a por uns instantes, analisando suas roupas, manchadas em sangue, e seu cabelo grudado na testa de suor. - Alguém te machucou? Te fizeram mal? - Ela queria responder, droga! Queria falar, mas não conseguia, aquele abraço, aquela voz ... Era bom demais para ser verdade. - Tudo bem, se não quiser falar, tudo bem. Apenas me ajude a descobrir. - ele sorriu, segurando no queixo de Anita e levantando seu rosto, ela hesitou, não queria abrir os olhos, tinha medo de ver Leon ali, ou o seu pai, ou Adele, ou qualquer um. Para ela, era apenas um anjo que veio lhe salvar a vida. Mas ela os abriu e viu uma face maravilhosa, era branco, quase como a neve, seus olhos eram azuis, quase brancos, ela poderia jurar que eram lentes, seus lábios rosados e aquele sorriso tranqüilizador eram perfeitos, ela estava hipnotizada, apenas concordou com a cabeça. - Um começo! - o sorriso dele se tornou maior.

 

 

***

 

            - Então te atacaram mesmo? - ele perguntou, tinha um dos braços enrolados na cintura de Anita, enquanto ela praticamente era carregada por ele. Ela assentiu que sim. - Ufa, e ele fugiu, te fez muito mal? - os olhos dele estavam aflitos, a preocupação fulminava em seu olhar, mas ela se sentia no lugar mais seguro do mundo.

            - E-eu... Ele... Eu fugi. – afirmou com a voz fraca, quase inaudível, ele fez uma careta.

            - Monstros. - ele grunhiu, cerrando os dentes, Anita se assustou um pouco, jamais havia escutado essa palavra referindo-se à humanos. Mas ele sorriu outra vez. - Desculpe estar sorrindo em uma hora dessas, é que, sua voz é incrível. - ele balançou a cabeça negativamente. - Como eu sou idiota ... Enfim, sou Christian, Christian Davis. Ou só Chris. - ele deixou uma interrogação no ar, como se perguntasse o nome dela, mas Anita estava assustada demais para hesitar, estava assimilando a idéia de que aquele ser maravilhoso era o anjo que ela deveria matar.

            - Anita, Anita Louvain. - ela respondeu, sem tirar os olhos do caminho, tinha medo, horror extremo em olhá-lo outra vez. E por outro lado pensava em como ela não havia percebido que era ele.

            - Então, quer ir ao hospital, Anita? Talvez haja alguns ferimentos e eu não quero te deixar em casa pensando que não fiz o que deveria ser feito. - ele sorriu, olhando-a, e ela não conseguiu evitar olhá-lo outra vez. “Tão maravilhosamente perfeito ...” pensava, enquanto tentava organizar os pensamentos. Droga, por que sempre eram tantos de uma só vez?

            - Não! Não, hospital não. Eu estou bem, Só com fome ... Faminta. - disse a última palavra em um sussurro, ele riu um pouco com isso.

            - Eu te levo pra comer em algum lugar. - ele parou por uns instantes, com certeza pensando em aonde iriam. - Conheço uma lanchonete próxima daqui, tudo bem se eu te levar lá?

            - Ah, claro que sim. - ela sorriu pela primeira vez desde que os dois haviam se encontrado, ele assentiu.

            - Ótimo. - a abraçou com mais força, Anita parecia um boneco de papel molhado que iria se desfazer a qualquer momento. As mãos de Christian tocaram a pele da cintura de Anita, por acidente, e ela sentiu um arrepio percorrer toda a extensão de seu corpo, ele se assustou terrivelmente, soltando-a por uns segundos e tirando sua jaqueta de couro, que vestiu em Anita logo depois. - Você está gelada, precisa se aquecer. - justificou o ato, puxando-a pela cintura outra vez e caminhando vagarosamente, esperando ela voltar a acompanhá-lo.

 

 

***

 

            - E é isso, meu pai me obriga a fazer o que ele quer, minha irmã é mais passiva do que eu e eu sou tratada diferente porque eu sou ... - ela iria dizer que era um demônio, um descuido mais e estragaria tudo. - Eu sou adotada. - ela resmungou, bebendo um gole do chocolate quente, ainda perdida naqueles olhos maravilhosos, mas a consciência havia voltado, o que era bom.

           - Que droga hein ... Bom, quero que saiba que você ganhou um ... - ele parou para pensar. - Cúmplice! - sorriu, deixando-a mais hipnotizada ainda. - Sempre que quiser pode me procurar - ele pegou uma caneta jogada encima da mesa, talvez o garçom tivesse esquecido, mas não importava, o que importava é que ele estava escrevendo um número no guardanapo, assim que terminou o dobrou e entregou à Anita, fechando a mão dela, e a apertando com suas duas mãos. Ela sorriu em resposta.

            - Claro, vou procurar sim. Desculpe por te atrapalhar ... - ela iria terminar a frase, mas Christian interrompeu.

            - Não, você tornou meu dia bem melhor. Obrigada por aparecer. - ele apertou mais uma vez a mão de Anita e soltou-a, se levantando. - Quer que eu te deixe em casa? - se ofereceu ainda sorrindo.

            - Não! - foi automático, se seu pai a visse com o anjo que ela deveria matar... Era melhor nem pensar nisso. - Meu pai é conservador demais ... Além disso moro meio longe, mas obrigada por tudo. - ela guardou o guardanapo no bolso da calça e já ia tirar o casaco, quando ele a interrompeu.

            - Fique com ele, eu não me importo. - ele deu um último abraço nela e ela se esticou na ponta dos pés para permitir-lhe deixar um beijo estalado em sua testa. E os dois saíram juntos, mas para caminhos separados.

 

            “Você acaba de assinar sua sentença de morte, Anita Louvain, se aproximou de quem não deveria ...” Seus lábios se contorceram em uma careta. Mas no fundo ela sabia, havia sentido, eles já se conheciam, aquele perfume, aqueles olhos ... Eles pertenciam à ela, como ninguém jamais havia pertencido.


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Notas finais do capítulo

Letty: Anita se phodeeu, Anita se phodeeu o/
Sorry, amo ver meus personagens sofrerem... sou estranha? :B
e eu tenho tara pelo Leon, seilá... ELE É TÃO SEXY *_*

Bia: eu sou obrigada a estar aqui sempre né -q, anyway, a mesma coisa de sempre, se ler dê review, faz bem pro coração, pra mente e ainda ajuda as escritoras a melhorarem mais e mais, valeu :}

Letty²: Bia no momento está com uma doença de vicio no twitter e quase escreveu 'se ler dê RT' em vez de 'se ler dê review', então se ela for responder as reviews e aparecer algo relacionado com o twitter onde não devia aparecer... perdoem essa pequena (literalmente Oõ) viciada :B



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