(POV Alice Tsukino)

Quando o surtou começou eu estava chegando à livraria. Para minha extrema e maravilhosa sorte encontrei Leo saindo da mesma e correndo em minha direção.

– Você está bem? – Ele tentava recuperar o fôlego – Tem alguma noção do que está acontecendo?

– Sei tanto quanto você – Tentei não parecer desesperada – Alguma ideia de para onde ir?

Antes que Leo pudesse dar sua resposta, uma garotinha com os olhos vidrados começou a se aproximar rapidamente de nós.

– Ali! – Ele apontou para a lanchonete do outro lado da rua. O lugar tinha o formato de um hambúrguer e não possuía muitas janelas. Perfeito.

Corremos até lá, Leo forçou a porta algumas vezes, mas não conseguia abrir.

Merda, ouvi-o sussurrar.

Estávamos prestes a desistir – até porque mais pessoas como aquela menininha começaram a aparecer –, quando um cara com cabelos grisalhos que aparentava ter uns 50 anos abriu passagem e gritou para para que entrássemos. Este fechou a porta e colocou alguns pesos por trás dela assim que pusemos os pés para dentro.

– Estão ok? – Perguntou o senhor.

– Estamos sim. Sou Alice, e este é Leo. Obrigada por nos ajudar.

– Nessas horas o que mais devemos fazer é ajudar uns aos outros – Ele sorriu carismático – Sou Brian. Este é Luiz – Apontou com a cabeça para um jovem mais ou menos da nossa idade. Seus cabelos eram negros e bagunçados contrastando com a pele branca. Seus olhos se assemelhavam a um belo par de esmeraldas brilhantes.

O rapaz se levantou exibindo belos braços e olhar um tanto... misterioso.

– Algum de vocês foi mordido? – Ele perguntou sério. Surpreendi-me ao ouvir a voz rouca e grave.

– Mordido? – Leo indagou.

– Pelo visto não – A moreno revirou os olhos e deu de costas.

– Não liguem para ele, acabou de perder um amigo. – O senhor sussurrou a última parte.

Aproximei-me dele para poder falar mais baixo.

– E quem são aquelas? – Apontei para as garotas que estavam sentadas ao fundo do estabelecimento.

– Ah, são Aurora e Victória. Vá lá conversar com elas, as garotas são bem gentis.

∴∴∴

(POV Juliana)

– PORRA! – Samanta soltou um berro no banco de trás.

– Eu não acredito nisso – Reclamou o motorista, já descendo do carro para ver o estrago que havia causado.

E foi naquele momento que me dei conta de que sequer sabia o seu nome.

Primeira anotação no bloquinho do fim do mundo: Perguntar o nome do taxista gostoso.

– Nós vamos para casa. Moramos perto daqui. – Falou o senhor que nos acompanhava saindo junto com sua esposa.

– Espera! – Gritei – Está muito perigoso, é melhor ficarmos todos juntos.

– Obrigada, querida, mas não sobreviverei nem um dia sem os meus remédios. – Afirmou a senhora alegremente. Pera, alegremente? – E o garanhão aqui também não – Ela terminou dando soquinhos no marido.

Pensei em oferecer ao menos uma carona, ou quem sabe que passássemos em uma farmácia qualquer para buscar os remédios, mas o casal já tinha se afastado acenando para nós.

– Acho que eles são meio loucos – Resmungou Sammy.

– Você acha, queridinha? – Ironizou o outro rapaz – Agora saia de cima de mim, temos espaço o suficiente para ficarmos distantes já que esses velhos saíram daqui.

– Meu filho, NÃO TEM MAIS POLICIA NESSA PORRA PRA ME PRENDER POR AGREDIR UM VIADO, então pensa antes de falar assim comigo. – A ruiva ameaçou.

Samanta sendo Samanta.

– Não posso sair do carro um segundo que essa louca começa a querer matar todo mundo? – Júlio gritou lá de fora. – Já que você é tão esquentadinha vem me dar uma força aqui, acho que atropelei uma garota.

– Você o quê? – Perguntei surpresa.

– Ainda fica bravo quando pergunto da carteira de motorista... tsc. – Ela provocou.

Após alguns instantes se debatendo e discutindo, ambos voltaram carregando uma bela garota desacordada. Esta tinha cabelos castanhos curtos ondulados e uma expressão serena. Samanta se ajeitou no banco e Júlio repousou a garota no colo do moço.

O taxista voltou para frente e ligou o motor. Ou pelo menos tentou.

– Merda!

∴∴∴

(POV Luiz Henrique Santana)

Era torturante pensar em como o caos havia se estabelecido em tão pouco tempo. Pessoas morrendo, algumas se transformando em “zumbis” e outras enlouquecendo.

Encostei a cabeça na geladeira tentando me livrar de certos pensamentos.

– Sei que perdeu seu amigo – Brian adentrou na cozinha – Mas não deve ficar se remoendo pelos cantos, nem sendo grosso com pessoas boas.

– Você não conhece aquela garota para dizer se ela é ou não boa.

– Eu também não te conheço.

Bufei derrotado.

– Eu podia ter salvado.

– Não, não podia. E se tivesse feito qualquer coisa fora do seu alcance também estaria morto.

Levantei o olhar para encará-lo, mas observei algo ainda mais distante. Foquei na pequena janela que havia próxima as pias da lanchonete. Enxerguei algumas pessoas em volta a um táxi todo arregaçado.

– Se você precisar de qualquer coisa – Brian continuou falando e se aproximando – Pode contar comigo pra tudo. Tudo.

Arqueei a sobrancelha ao perceber o jeito que o grisalho enfatizou a última parte.

Recuei alguns passos.

Eu estava sendo assediado por um quarentão?

– Hãn, e- eu acho que aquele pessoal precisa de ajuda – Apontei para a janela, rezando para que o outro parasse de me encarar como se eu fosse uma picanha ao ponto.

– Olha aquele taxista... – Ele sussurrou.