Dante

Confesso que procurei a ruiva durante toda a cerimônia e fiquei aflito em não encontra-la. Eu estava um pouco preocupado, afinal, era altamente obrigatório estar presente em todas as cerimônias, e não tinha chance alguma dela se esconder nas dependências da escola, a não ser que alguma coisa estivesse acontecido como doença ou etc. Após o discurso eterno do diretor houve a entrega dos diplomas junto aos nossos distintivos, eramos soldados e pela manhã da próxima segunda-feira saberíamos nossos postos. Bati o pé inquieto, diferente de todos os meninos ali eu sabia bem o que eu seria, trabalharia com o meu pai no comando dos exércitos ou no treinamento de soldados menores de idade, mas os outros poderiam ser tanto espiões altamente qualificados quanto reservas mal pagos, tudo dependia do seu rendimento durante a vida.

Assim que descemos do palco apressei o passo para ir de encontro ao meu pai, ele me me esperava com um sorriso no rosto e braços abertos, ocasião rara em que eu o via feliz e sem nenhuma preocupação. Retribuí o sorriso me sentindo grato por te-lo orgulhado, me permiti também abraça-lo por alguns segundos, mas a dúvida que titubeava em minha cabeça não cessava.

– Anya está doente? Ela não estava na plateia para a formatura– tentei fazer o meu comentário parecer um pouco despreocupado, talvez isso inibisse um pouco as suposições sobre o meu interesse nela. Meu pai porém, mal pareceu dar atenção a isso, ficou um pouco nervoso e inquieto na hora de responder, e todo o bom humor havia acabado.

– Sim, ela passou mal hoje pela manhã, não sei se sobreviverá– suas últimas palavras foram como uma facada em meu coração, senti um misto de tristeza e arrependimento. Tristeza por ter sido indiretamente o culpado de sua vida breve, e arrependimento de não ter me aproximado dela antes. Mal passou pela minha cabeça a irresponsabilidade de meu pai, que ocupado de mais com o trabalho não deveria ter lhe dado a atenção necessária em algum momento de sua vida.

– Fico triste por ela, nunca tive a oportunidade de ter uma conversa de verdade.

Quando saímos de lá o pátio já estava quase vazio, as pessoas se dirigiam para a festa que teria logo após a cerimônia, o único momento do ano em que nos permitíamos festejar um pouco e desfrutar das despensas cheias após a primavera. Passei em meu quarto para tomar uma ducha e esfriar um pouco a cabeça, a ideia de Anya morta me perturbava um pouco, até porque nas poucas vezes que a vi, ela estava viva e bem, apesar de não sorrir muito. Balancei a cabeça espalhando uma grande quantidade de água por todo o boxe, joguei um punhado de água no rosto e decidi que não pensaria mais naquilo, eu agora era um soldado e deveria aprender a lidar com a morte da melhor forma.

A festa foi incrível como todas as outras, a diferença era que como um dos formandos, houve a tradicional dança entre os pares. Fiquei com uma das meninas da minha turma que era apenas alguns centímetros menor do que eu, o que era uma vantagem enorme entre militares. Também era bem bonita, tinha os cabelos escuros bem arrumados e usava um vestido da cor de seus olhos, azuis. No meio da guerra viver de aparências é besteira, por isso a uns anos atrás a maioria dos soldados preferiu mulheres fortes a bonitas, quando aparecia uma que tivesse as duas qualidades, era uma forte candidata a um casamento. O nome dela era Helena, me despedi dela no final da noite e fui para o meu quarto, teria muito o que fazer para conquistar Helena no meu final de semana de folga.