Premonição Chronicles 2 escrita por PW, VinnieCamargo, MV, Felipe Chemim, Jamie PineTree


Capítulo 9
Capítulo 08: Merry Xmas, Bitch!


Notas iniciais do capítulo

Escrito por João R.C.



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O Natal é uma das datas comemorativas mais aguardada e apreciada. É a época em que famílias se reunem, trocam presentes, demonstram carinho... Uma das poucas época em que realmente interagem e que nos faz sentir um pouco mais feliz e bem encaixado. Sempre pensamos nele como uma data feliz, mas é apenas mais um dia. E como todos os dias, existe a tristeza, existe a dor e existe a tragédia.

Só não existe escapatória.

Aquela frase perseguiria Anna pelo resto da viagem.

"A maldição de Santa Muerte. Você desencadeou a profecia..."

Anna se lembrava da expressão no rosto de todos ao seu redor quando ouviu a frase. Também se lembrou de cada detalhe de sua visão, assimilando as duas versões dos acontecimentos e associando-os as pessoas que via. Seria por causa dela que essas pessoas estavam vivas?

O clima do local estava pesado e ditas pessoas estavam cansadas e chocadas demais para tentar discutir tudo o que se passara. Logo todos foram divididos e colocados em lugares para tentarem dormir.

***

Seu marido e filha adormeceram no chão do barco, encostados na parede. Já era madrugada, o acidente ocorrera dez horas atrás. Mesmo assim, Anna não conseguia dormir.

A mulher andava lentamente pelos bordos do navio, olhando para direção onde a ilha se encontrava. Automaticamente todas lembranças vinham a sua mente, a morte de várias pessoas que se encontravam no barco com ela. Ela se lembrava da própria morte.

Todas imagens perturbadoras que vira se tornariam fantasmas que a assombrariam pelo resto de sua vida. Tudo que deveria importar era que estavam salvos, sua família estava salva. Mas por que não conseguia deixar o resto de lado? Por que essa sensação de que algo estava errado, de angústia, não a deixava?

Durante sua caminhada, avistou uma garota de cabelos castanhos. Ela encarava o mar, o vento de desfazendo em seu rosto. Anna reconheceu a garota, Ruth, e resolveu se aproximar.

– Também não consegue dormir? - Anna reparou que os olhos da garota estavam vermelhos e seu rosto um pouco inchado, estava bem claro que estava chorando.

Ela se virou para Anna, mostrando um olhar um pouco distante.

– Não consigo tirar aquelas cenas da minha cabeça... Tantas pessoas morrendo e eu não podia fazer nada. Meus próprios amigos morrendo e eu não podia nem reagir...

Não havia muito o que se dizer em situações como essa. Anna não sabia por que não tinha desabado até agora. Tudo que fez foi colocar sua mão sobre a de Ruth e segurar com força.

Ruth se emocionou e abraçou Anna, pondo-se a chorar novamente.

– Obrigado... - Ruth conseguiu dizer em meio as lágrimas.

Uma outra jovem, loira, se aproximou. Anna também a reconheceu, seu nome era Lena. Ela estava colada com Ruth basicamente o tempo todo.

A loira beijou a testa de Ruth e apoiou sua mão em Anna.

– Como você está? Sua família está bem? - ela perguntou.

– Eles estão bem, graças a Deus. - Anna encontrou algum conforto em poder afirmar isso - Os dois estão dormindo agora.

– Não vai ser fácil, - Lena começou, encarando o mar abaixo dela - Esquecer tudo que vimos. Mas a vida continua não é? - Ela se virou para Anna e sorriu. Por algum motivo, Anna conseguiu sorrir também.

***

Quando chegou em terra firme, Ruth recebeu inúmeras ligações de seus pais. Eles souberam do que acontecera na ilha e estavam mortos de preocupação. Queriam pegar o primeiro avião que conseguissem e ir até lá, mas Ruth lhes assegurou que estava tudo bem, que ela estava bem. E esperava, do fundo de seu coração, que fosse verdade.

***

Dois dias se passaram desde o acidente. Alguns dos sobreviventes estavam de volta na cidade, tentando seguir em frente e esquecer-se de tudo que acontecera.

Ruth e Lena se encontravam no shopping, fazendo compras para o Natal.

O lugar estava todo enfeitado. Pisca-piscas percorriam todos pontos de luz e entradas de lojas, se enrolavam em pilastras e piscavam em ritmos diferentes que, misturados com as músicas natalinas que tocavam, davam um ar de festividade. Ruth adorava aquilo tudo. A garota dançava pelo caminho, balançando os cabelos e cantarolando.

A manhã estava um pouco fria e as duas vestiam calças jeans. A garota natalina estava com uma camisa branca e uma pequena jaqueta preta. Já a loira, estava apenas com uma camisa azul de tom escuro. Ruth obrigara Lena a usar um dos gorros que havia comprado mais cedo. Lena gostava do Natal também, mas não tão exageradamente como Ruth. Ainda assim, a loira estava bem animada.

Candy canes and mistletoe

Jack frost snipping at your nose

But all of this means nothing... Without you!

De repente as duas pararam em frente a uma TV de alguma loja. Estavam passando notícias sobre o acidente. A contagem de mortos não foi baixa. Um helicóptero sobrevoava a ilha e mostrava a destruição e as partes da ilha que continuavam intactas. A filmagem seguinte mostrou cenas reais filmadas durante o desastre. Toda a correria, o medo, o caos... Tudo diante de Ruth novamente.

Naquele momento Ruth sentiu como se isso fosse persegui-la pelo resto de sua vida. O sentimento veio e se foi na mesma velocidade. A garota não podia se deixar abalar. Precisava seguir em frente.

***

A Dolphin Label se encontrava no centro da cidade. Começara como um pequeno selo mas depois do sucesso de Lis, tornou-se uma grande gravadora, tendo inúmeros artistas famosos sob seu nome.

A estrela pop estava na sala de reunião com o dono e os diretores da gravadora. Uma enorme mesa se encontrava no centro da sala, todos eles estavam sentados e tentavam convence-la de ficar. A garota estava em pé, perto da porta, não se importou suficiente para se aproximar. Seu contrato de cinco albuns já tinha acabado e Lis estava optando por não renovar. Isso causou uma grande discussão entre os membros da gravadora.

– Minha decisão já está tomada. Tenho fãs o suficiente para me apoiarem no começo da minha carreira independente. Vou poder ter mais contato com eles, que são a verdadeira razão de eu chegar onde eu cheguei hoje.

– Mas Lis... - um deles começou, mas Lis o cortou rapidamente.

– Não! Não tente dizer nada... Precisam entender isso. Vou finalmente poder ser eu mesma. Cantar minhas próprias músicas. E vocês não podem mudar minha decisão.

A garota se virou e abriu a porta, mas se virou antes de sair e sorriu para as pessoas na sala.

– Sou muito grata por tudo que vocês fizeram por mim. Vocês me fizeram realizar um sonho. Mas preciso seguir meu próprio caminho. Agradeço por segurarem minha mão e me guiarem até aqui... - Seus olhos começaram a se encher de lágrimas e alguns dos diretores se emocionaram também - E agora eu peço, que me deixem bater as asas sozinha.

Suas palavras eram sinceras. Por mais que a gravadora estivesse lhe estressando nos últimos anos, ela não podia negar que eles abriram todas as portas para ela. E agora era hora dela seguir por uma delas.

Tom esperava por Lis do lado de fora do prédio. Ela correu e pulou em seus braços. Sua felicidade era contagiante.

– Então Lis, quais são seus planos para o dia?

– Eu, vou dar uma volta pela cidade e aproveitar a nova liberdade. E você, pode ir arrumar os enfeites de Natal. Você falou deles a semana inteira e ainda não teve tempo de organizar tudo, então pode ir! Estou te dando folga de mim! - ela riu.

***

Gabriel e Bella ficaram mais próximos depois do acidente. Os dois estavam a caminho do shopping para finalizar suas compras de Natal.

Gabriel andava calmamente sorrindo para as pessoas que passavam. Algo bem diferente do que de costume, pois sair de casa não era uma coisa que costumava fazer, mas ele sentiu que precisava mudar isso. O acidente deve ter mudado um pouco de todos que o presenciaram.

Bella estava ao telefone, conversando com Filipe e marcando planos para a noite seguinte, o tão esperado Natal, quando avistou um rosto conhecido na calçada.

Mas não era um rosto qualquer, não era algum conhecido do passado, não era algum parente de qual não se lembrava direito. Era Lis. Sua ídola estava a menos de vinte metros de distância. A garota não conseguiu se segurar, ela desligou o celular rapidamente e soltou um grito histérico.

Lis percebeu que a garota olhava para ela com aquele olhar que ela já conhecia e resolveu se aproximar.

– Olá! Qual o seu nome? - a estrela perguntou para Bella. Gabriel estava imóvel.

– M-m-m.. Meu no-o-ome é Be-bella... - a garota parecia estar prestes a entrar em combustão.

– Prazer te conhecer, Bella.

– Pode me dar um autógrafo? - Bella perguntou, recuperando a dignidade.

– Eu também quero um! - Gabriel finalmente se pronunciou.

– Eu tenho uma ideia melhor... Que tal darmos uma volta pelo shopping?

***

Thomas estava no telhado da mansão de Lis. Já havia colocado um Papai Noel gigante que ficava acenando para as pessoas e algumas renas enroladas em pisca-piscas. Agora precisava passar as outras duas caixas de pisca-piscas pelo telhado.

O garoto dava seus passos com cautela, porém não foi o suficiente. Ele escorregou e começou a deslizar para a ponta do telhado.

Thomas tentava se segurar em algo para parar sua queda, mas falhava. Quando chegou na ponta viu um linha de pisca-piscas e se agarrou a eles. Por mais impossível que parecessel, os pisca-piscas conseguiram aguentar seu peso.

Ele balançava, pendurado pelo enfeite, tentando subir ao telhado novamente. Indo de um lado para o outro até conseguir alcançar alguma coisa. Depois de algumas tentativas ele chegou ao topo e com um impulso, se jogou no telhado. Ficou um bom tempo apenas encarando o céu e respirando fundo. Seria uma péssima época para morrer.

***

Vanessa estava conluindo suas compras de Natal.

Apesar do tumulto que a época causava, Vanessa gostava do Natal. Pode-se dizer que é a data em que está mais calma. Ela poderia até mesmo ter uma conversa séria se insultar alguém. Afinal ela não fazia de propósito. Ela não tinha culpa da estupidez das outras pessoas serem tão provocantes. Seu objetivo agora era apenas aproveitar o feriado, e compras... A mulher adorava fazer compras. Sentia prazer em reconhecer o quão bom era o próprio gosto para essas coisas.

***

– Ai meu Deus...

– Que foi, Ruth?

– Vanessa... - ela respondeu apontando para uma ruiva saindo de uma loja de roupas e então a menina se escondeu atrás de Lena.

A mulher estava com o cabelo preso e vestia um lindo vestido azul.

– Quem é Vanessa? - Lena perguntou, intrigada.

As duas estavam perto da praça de alimentação, que estava lotada. Muitas pessoas encararam a cena, tentando entender o que se passava.

– Ela estava no acidente... E no navio... É a mulher com quem eu dividi o quarto...

– Oh...

– É... Bem isso mesmo.

Lena se virou para Ruth, que ainda se escondia por trás de suas costas.

– Mas isso ainda não é motivo pra se esconder. Ela provavelmente nem vai se lembrar de você.

– Podemos então passar rapidamente pra ela não me ver?

– Ai Ruth... Tudo bem.

– Perfeito.

Ruth acelerou o passo a frente, mas já devia saber que não daria certo. Seus pés não eram confiáveis. Ela tropeçou e caiu por cima da ruiva.

Enquanto tentava pedir desculpas e levantar a colega, Ruth podia ouvir os risos de Lena.

– Ei, eu conheço você... - A ruiva começou. - Ruth. Eu tive que dividir meu quarto como você durante o cruzeiro.

– Oi!..

– Tinha que ser você mesmo pra me derrubar.

– Me desculpa. Você está bem? Com tudo que aconteceu...

– Fora o atraso que você está me causando e o trauma do acidente que você está trazendo de volta... Sim, fantástica! - Ela respondeu sarcasticamente.

– Não vou te atrasar mais. Foi, hm... algo... ver você de novo. Tchau.

Ruth correu de volta pra Lena e saiu às pressas daquele lugar.

– Menina doida... - Vanessa disse para si mesma, mas com um sorriso no rosto.

***

Bella não conseguia acreditar. Ela estava realmente saindo com sua ídola.

Graças ao feriado tão próximo, a única ala do shopping realmente lotada eram as de brinquedos e de roupas. Logo, não tiveram problemas para chegar a ala de jogos sem que trezentas pessoas parassem Lis para pedir um autografo.

Mais precisamente, haviam apenas outras duas garotas por perto, Ruth e Lena. Era uma coincidência enorme, Bella pensou. As duas se juntaram ao trio e o grupo partiu para competições.

A primeira coisa foi um jogo de tiro, os cinco jogavam entre si. Incrivelmente, Lis era uma das melhores jogadoras. Ela e Lena foram as últimas que restaram depois de dez minutos de jogo, atirando freneticamente nos inimigos que apareciam na tela. O cenário do jogo parecia ser pós-apocalíptico e as criaturas que surgiam pareciam ser mutações resultantes um ataque nucelar. Armas de brinquedo conectadas a plataforma eram a forma de controle do jogo, e o piso parecia ser monitorado por algum sensor que transmitia os movimentos ao personagem do jogo. Ao final, Lena foi a vencedora.

Em seguida partiram para um jogo de dança onde Bella estava deixando todos no chão, até Ruth mostrar seu talento escondido. As duas dançaram no último nível, uma espécie de música japonesa eletrônica. Gabriel não conseguia nem acompanhar o que estava acontecendo e a música não terminava. Os pés das garotas já estava as matando e as duas desistiram simultâneamente, caindo de joelhos na plataforma de dança. O fim do jogo foi recebido com aplausos e gritos de torcida do resto do grupo.

Lis estava adorando a tarde. Fazia tempo que não conseguia sair e se tivertir tanto. Que não conseguia passar um dia como se fosse uma pessoa normal. O grupo então finalmente se sentou para comer alguma coisa e Lis explicou toda sua situação e por que estava tão mais aberta com os fãs.

– Achei ser a hora perfeita para isso. Não sei se vocês ouviram falar do acidente na ilha... - Lis foi interrompida por pequenos risos dos novos amigos - O que foi?

– Nós também estávamos lá, - Gabriel começou - Todos nós estavamos na ilha. Você não deve ter percebido por ficar isolada do resto das pessoas.

– Isso é incrível e uma coincidência enorme também.

– Então você realmente não tem mais ajuda da gravadora? - Ruth perguntou.

– Não. Estou totalmente por conta prória.

– E tem alguma ideia de por onde começar? - A pergunta veio de Lena dessa vez.

Antes que Lis começasse a falar, Bella lhe deu uma brilhante ideia.

– Existe um site chamado StageIt. Muitos artistas independentes usam ele para fazer pequenos shows online.

– Isso é perfeito Bella! - Lis exclamou - Posso me apresentar amanhã durante a noite de Natal. Vai ser perfeito para contar tudo que aconteceu.

Seus lanches finalmente chegaram e o que seguiu naquela tarde foram as maiores patetices que ja tinham visto, de imitações baratas com vozes estranhas até batatas fritas sendo usadas como dentes para posar em uma foto.

***

Ruth e Lena caminhavam de volta para suas casas. As duas em silêncio e abraçadas, observando a noite iluminada pelos enfeites. E a noite ficou ainda melhor quando Lena quebrou o silêncio.

– O que acha de passar o Natal comigo?

– Hm? - Ruth apenas se surpreendeu com a proposta.

– Imagino que estivesse planejando passar a noite sozinha, mas se quiser, eu não me importaria de ter um pouco de companhia - Ela sorriu.

– Vai ser um prazer...

Então as duas se beijaram mais uma vez. Parecia que o Natal compensaria tudo pelo que passou.

And so I'm offering this simple phrase

To kids from 1 to 92

Although it's been said

Many times, many ways

Merry Christmas... To you...

***

Por volta das oito todos já estavam em suas casas. Lena foi direto ao computador e começou sua pesquisa. Algo vem incomodando ela desde o acidente.

***

A manhã começara calma e o dia prometia. Todos prepararam seus planos para a noite e se empuseram a arrumar algo para fazer durante a tarde.

Ruth tentou fazer uma torta para levar à casa de Lena, mas suas habilidades na cozinha se mostraram quase inexistentes. As esperanças da garota de levar comida para a noite se foi junto com a torta e seu pano de prato. Todos nas chamas.

Anna estava com o resto de sua família, comemorando com um amigo oculto. O habitual encontro familiar. Todos alegres, comemorando e fazendo piadas sobre pavê.

Lis passou sua tarde entrando em contato com seus amigos no ramo da música, contando-lhes a novidade e pedindo conselhos a alguns.

Todos estavam finalmente retomando suas vidas.

***

Santa baby, just slip a Sable under the tree for me

Been an awful good girl

Santa baby, then hurry down the chimney tonight

Esse era o primeiro Natal de Ruth longe dos pais. Ela pensava que seria uma noite solitária, mas Lena mudou sua perspectiva.

As duas estavam no apartamento de Lena, já tinham trocado presentes e agora estavam rindo das bobagens que passavam na televisão e olhando idiotices na internet. Era bem diferente do que Ruth estava acostumada com, mas ela estava se divertindo muito. Ao invés da habitual ceia de Natal, elas estavam preparando alguns hambúrgueres para comerem durante a apresentação de Lis.

***

Lis estava em sua mansão. Era difícil acreditar em como as coisas estavam indo bem.

Seu caminho estava limpo e um futuro brilhante a aguardava, seu primeiro passo era a apresentação, que seria em menos de uma hora.

– Nossa, nunca ví essa mansão tão vazia. - Thomas sentou-se no sofá e entregou uma taça de vinho para Lis.

– Dispensei todos empregados. Teremos a noite de Natal só pra nós dois.

– Perfeito, mas... Algum deles preparou o jantar antes de ir?

Lis sabia que tinha se esquecido de algo. E pela cara que ela fez, Thomas não precisou que ela respondesse.

– Okay. Você tem um show a fazer. - Ele disse levantando - Eu vou sair e comprar algo pra comermos enquanto você se apresenta.

– Então corra! A apresentação dura apenas trinta minutos.

– Indo!

Lis assistiu enquanto o rapaz corria em direção a porta e então percebeu que a sala estava pouco enfeitada e logo soube o que faria até a apresentação começar.

***

Anna estava em casa, com sua filha, aguardando o marido chegar do trabalho para poder conversar e se distrair um pouco. Apesar de ser um feriado, ele não conseguiu folga do trabalho e chegaria no final da noite.

Ela não gostava do que o silêncio fazia com ela, das lembranças que o seguia. Então Anna aproveitou para passar um tempo com a pequena Anna Bella.

As duas estavam deitadas no sofá. A menina assistia à alguns especiais de Natal que passavam na televisão. Fora isso a casa estava silenciosa. Não se ouvia barulhos vindo da rua nem nada. Era uma noite calma.

Ela continuou assistindo ao programa, acariciando os cabelos de sua filha.

Talvez ela consiga esquecer sobre o acidente, talvez essa estranha sensação de que algo está errado suma.

E essa noite parece ser justo o que precisa.

***

A estrela pop estava termiando a decoração de sua mansão. Thomas tinha feito um ótimo trabalho. Renas robóticas iluminadas estavam no teto de sua casa, próximas a um enorme Papai Noel. O garoto tinha realmente passado a semana inteira falando sobre quão grandes eram os enfeites, sobre os pisca-piscas resistentes e a enorme árvore.

Ela passava mais pisca-piscas ao redor de uma estante quando derrubou um porta retrato. Era um de seus pais. Lis abaixou para pegar a foto e recolher os cacos de vidro, quando percebeu que a foto estava dobrada... A foto completa mostrava os pais com um grupo de pessoas que ela nunca tinha visto. O verso da foto tinha uma lista de nomes, quase todos riscados, menos os de seus pais.

A garota não compreendeu do que se tratava e resolveu deixar aquilo de lado. Ela tinha trabalho a fazer e poderia perguntar aos pais pessoalmente quando voltasem. O computador já estava ligado e pronto para o espetáculo.

Chegara a hora. Sua primeira apresentação independente. Uma taça de vinho estava ao lado de seu notebook, provavelmente a quinta da noite, enquanto ela lia as mensagens dos fãs e respondia com emoção.

– Vocês devem estar pensando o por quê desse show. É uma história um pouco longa, mas em resumo, eu deixei minha gravadora e estou por conta própria agora. - Ela dizia para webcam enquanto preparava o rádio.

– Esse show é minha forma de mostrar pra vocês uma nova fase da minha vida. Eu vou ter muito mais possibilidades de me abrir com vocês e de ser eu mesma

–Eu queria cantar uma de minhas músicas originais, que não tive a chance de lançar por conta da gravadorsa, mas depois de pensar um pouco, decidi que o melhor jeito de começar seria com uma música de Natal. Então resolvi ir com uma clássica.

Logo, o som do piano preencheu o local e Lis deixou sua voz lhe guiar.

Chestnuts roasting on an open fire

Jack Frost nipping on your nose

***

Pequenas palmas foram ouvidas, vindas da sala. Anna foi verificar e encontrou sua filha sentada no sofá, vidrada na televisão. Um notebook estava conectado ao aparelho e a tela mostrava apenas um cronômetro.

– O que está fazendo filha?

– É o show da Lis, mamãe! Já vai começar... - a garota disse e então começou a acompanhar o cronômetro em voz alta. 5... 4...

Quando o contador chegou ao zero, uma jovem loira surgiu na tela. Rapidamente foi reconhecida. Lis, a cantora que estava presente na ilha. Uma das sobreviventes. A garota digitou algumas coisas para os fãs e então preparou algum aparelho de som para tocar uma música para ela cantar.

Anna resolveu se sentar com a filha e assistir o show. Aquela sensação não a deixara.

***

Lena estava lendo as notícias sobre a ilha. Ruth não conseguia entender por que ela continuava a pesquisar sobre aquilo. Era como se algo sobre o acidente estivesse incomodando ela.

Mas nesse momento, ela não ligava. Só queria companhia, alguém para estar ao seu lado nesse momento.

O clima foi repentinamente quebrado, porém, quando Ruth percebeu um cheiro de queimado, vindo da cozinha. Seu instinto a fez levantar em um salto e correr até lá. Fumaça saía da sanduicheira e começava a preencher o local.

A garota se aproximou e tentou puxar a tomada do aparelho. Esta, já se encontrava meio solta, e quando a Ruth a puxou, faíscas foram lançadas contra seu rosto e a sanduicheira começou a pegar fogo.

Lena chegara na cozinha e se espantara com toda situação, se juntando a Ruth logo em seguida no meio de toda a confusão.

***

They know that Santa's on his way

He's loaded lots of toys and goodies on his sleigh

A cantora passeava pela sala, com movimentos lentos, balançando o quadril. Sem interromper a música.

Logo se aproximou da árvore de natal, derramando um pouco de seu vinho durante seus passos, e começou a desenrolar o pisca-pisca, passando-o por seu pescoço.

Ela deu um passo à frente e se assustou quando o pisca-pisca apertou seu pescoço. Não esperava que fossem realmente tão fortes. A garota acabou escorregando no vinho derramado e caindo. O pisca-pisca apertava mais ainda seu pescoço agora.

A base da árvore era tão resistente quanto o fio, impedindo que a árvore saísse do lugar. Lis se debatia no chão tentando se livrar do pisca-pisca, mas tudo que conseguiu foi chutar o rádio, que agora tocava uma de suas músicas.

Oh baby, let me breathe

Love me or set me free...

***

Quando Lis começou a se enforcar, Anna retirou sua filha as pressas da sala e se voltou a TV. Ninguém estava ajudando a garota, ela devia estar sozinha.

A mulher tentou ligar para a polícia inúmeras vezes, mas nenhuma tentativa teve sucesso. E então o desespero tomou conta de Anna, por não saber o que fazer.

***

Thomas ainda estava na fila quando resolveu abrir o link do show no celular. Ao perceber o que estava acontecendo ele tentou correr, empurrou algumas pessoas no caminho e então saltou a mesa que se encontrava diante dele. O estacionamento estava distante ainda e uma leve garoa começara a cair. Por mais que corresse, ele sabia no fundo que não chegaria a tempo.

***

Ainda se debatendo, Lis tentava se livrar do fio. Seus pulmões já estavam em chamas. Suas mão feridas das tentativas inúteis de tentar passá-las por debaixo do fio. Ela já não tinha mais certeza se valia a pena continuar lutando... Mas não podia desistir. Juntou suas forças e tentou se jogar para frente mais uma vez. A tomada do pisca-pisca se mexeu, se soltando um pouco.

***

Ruth e Lena tentavam desesperadamente apagar as chamas. Quando finalmente conseguiram, puderam ouvir um pequeno gemido, vindo do quarto. Ao voltarem perceberam que o show de Lis havia começado, mas a garota não estava cantando. A tela exibia Lis, se enforcando com o pisca-pisca de uma árvore de natal. Ela estendeu a mão na tentativa de conseguir se apoiar em alguma coisa, mas não havia nada por perto.

***

A garota não mais se debatia. Nem ao menos se mexia. Não tinha energia no corpo o suficiente para fazer nada. Foi então que a tomada do pisca-pisca se soltou mais um pouco e causou um curto-circuito. Depois da descarga elétrica seu corpo e a árvore entraram em chamas.

As trinta mil pessoas que estavam conectadas podiam apenas se recostarem e assistirem ao show de horrores.

Anna estava ajoelhada diante da televisão, sem conseguir mais reagir.

Ruth chorava e gritava enquanto abraçava Lena.

Thomas só pode desabar, encostado na porta de seu carro. E então a chuva caiu.

O sentimento que eles compartilhavam agora, a sensação de não poder fazer nada, os jogou em uma profunda tristeza, escurecendo o que era para ser uma noite alegre.

Se transformando em um Natal negro.


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Notas finais do capítulo

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