Premonição Chronicles 2 escrita por PW, VinnieCamargo, MV, Felipe Chemim, Jamie PineTree


Capítulo 5
Capítulo 05: A Queda de um Astro


Notas iniciais do capítulo

Escrito por Jamie PineTree.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/568798/chapter/5

A Queda de um Astro

"Pode ser amanhã ou em um milhão de anos

O sol que conhecemos não existirá mais

Seu calor não passará de plasma

Gélidos paradoxais

Escuro como um fantasma

E a Terra irá de encontro com o ex-astro

O rei do universo se despedaçará

Com a morte no seu rastro

Seu reinado chegou ao fim

Mas as estrelas nunca morrem

Elas esperam em vosso jardim

Somem por uns tempos da sua mente

Esperando para renascer

E ser um rei novamente."

Era como uma espiral, uma estranha espiral para baixo, as cabeças giravam e ricochetearam com o impacto. Era possível escutar a morte cortando o ar sobre aqueles corpos sujos de areia.

As pessoas olhavam incrédulas, gritavam e tentavam se afastar como podiam. A queda foi dolorosa e nada suave mas um astro tinha que chamar a atenção para sua entrada de qualquer jeito.

E aquele se saiu muito bem.

A melhor parte de descer de um helicóptero mal pilotado no meio de uma praia lotada era que todos olhavam como se aquele fosse o fim do mundo.

E realmente parecia ser o fim do mundo para aqueles que preparavam para desembarcar, quando a coluna de areia se dissipou, tudo voltou ao normal e a praia ganhara um rosto diferente mas as atenções ainda continuavam voltadas para os ocupantes da máquina voadora que tentavam se acalmar do susto.

– O que achou da nova música? - Foi a primeira coisa que ele conseguiu dizer quando desembarcou.

– É linda! Profundo sem parecer triste, mostrando a superação depois do decline. - Disse a garota ao lado tirando os óculos escuros e pegando as malas. - Usaremos essa esta noite.

– Não minta. - Ele riu. - Sou um cantor e não compositor mas acho que combina com a situação. Esse é o nosso decline, não poderia existir lugar mais horrível do que esse.

E ali estavam eles, em uma ilha que nem os próprios se lembravam mais onde ficava.

– Você vai ver como vai ser bom trabalhar aqui Mau. Você precisa de mais ar puro, um bronzeado, novos amigos.

– Amigos? Em que mundo você vive? Eu não preciso de amigos, eu preciso de fãs.

Mau. Maurício Malinowsky para o resto, apenas sua irmã mais velha Vivian e seus poucos e únicos amigos lhe chamavam de Mau.

– Vai ser um pouco difícil. Deve ter sido um pouco assustador ver um helicóptero caindo quase sem controle em cima de tanta gente mas depois dessa noite vai ser diferente.

– Acredite, é bem melhor chegar em um helicóptero do que em um simples navio apagado. As pessoas precisam ver esse corpo.

Os dois deixaram o helicóptero e caminharam desajeitados pela praia indo até o hotel onde ficariam e trabalhariam.

Maurício com 22 anos e Vivian no auge de seus 27. Cantores, irmãos, artistas ainda não reconhecidos e tão pouco valorizados que agora iriam passar uma semana naquela ilha com cheiro de algas mortas apenas para cantar para várias pessoas que nem pareciam saber o que era música de verdade.

Mas aquele era o máximo que iriam para ter um público que realmente quisesse ouvir sem ter que pagar.

Pelo menos uma coisa boa estava acontecendo no ponto de vista dele, várias pessoas antes assustadas, agora reparavam curiosas nele em sua irmã.

Os dois são ruivos, olhos de um verde profundo e pele bastante clara. Maurício era alto e encorpado com poucos músculos marcados pela camisa e Vivian exibia "sem querer" os seios grandes demais para o biquíni e uma grande saia rasteira.

Reparavam também nas enormes tatuagens coloridas que ele mantinha nos braços e também no violão preso em suas costas.

– Será que a Bella já chegou? - Vivian olhava a sua volta.

– Provavelmente não.

– Gosto do jeito carismático dela e daquele jeito amiga de todos, de sua fisionomia delicada e da personalidade forte da garota com os olhos mais azuis que existiam.

O helicóptero decolou deixando a ilha, não havia mais volta para eles. Só restava seguir em frente.

– Para onde vamos agora? - Perguntou ele.

– Primeiro vamos seguir aquela multidão. - Apontou Vivian para um afastado aglomerado de pessoas.

=-=-=-=-=

– Tudo pronto para amanhã Tobias? - Perguntou a repórter vestida com um terno cinza para seu câmera.

– Sim, os organizadores já indicaram o local para a gravação do campeonato. Somos a única emissora aqui.

– Ótimo, agora vamos. - Disse ela entrando na van. - Precisamos reunir o maior número de entrevistas possíveis, os nomes mais importantes da farmacologia estarão aqui esta noite e esse será o maior furo jornalístico na vida de Serena Rabelo. - Ela falou dela mesma na terceira pessoa.

– Para a sede da Animal Rescue?

– Sim, notícias quentes me esperam.

=-=-=-=-=

Aquelas pessoas se mostraram com um público, faixas eram erguidas por organizadores e um potente megafone informava que os candidatos teriam tempo de treinarem para um campeonato de surf que aconteceria no dia seguinte.

– Temos mesmo que ficar aqui?

– Temos sim. Olha só aquele rapaz.

Maurício olhou do mesmo modo que vários também faziam, ele deveria ser o favorito da competição e se dependesse da torcida, o prêmio já era dele.

– Você consegue Dudu! - Gritava uma garota para o surfista de 1,80 de altura, toda vez que ele balançava a cabeça seu cabelo rebelde mudava para uma franja e depois para um topete novamente. Ele mostrava estar impaciente, pensando na vitória que conseguiria e ansioso para pular na água com sua prancha.

Sua fã #1 continuava gritando palavras de incentivo e ele retribuiu com um olhar caloroso antes de escutar barulho do apito e correr para as ondas.

Vivian perdeu o provável tal Eduardo no meio dos outros surfistas e desistiu de procurá-lo, as pessoas que estavam em sua frente bloqueavam a visão dela.

Depois de alguns minutos do começo, todos os surfistas voltaram inclusive o Eduardo, Vivian tentou ir até ele mas outra ruiva furiosa sem querer chegou primeiro e acabou se batendo com o rapaz.

– Oh, me desculpe... - Ele disse sorrindo para ela.

– Você está maluco?! Quem você pensa que é?! Você sabe quem eu sou?! - Ela gritou.

– Calma, foi sem querer... Eu...

A ruiva ordenou que ele ficasse calado e se recompôs do encontro desastrado. Vivian lançou um olhar fuzilante para ela.

O surfista franziu a testa em desaprovação e ia na direção de sua fã #1 quando a socialite gritou novamente:

– Hey, espera, volta aqui. Desculpa pelo ataque.

– Tudo bem, esquece isso. - Ele respondeu seriamente dando meia volta.

– Espera, quero conversar com você. - Ela pediu. - Você que estava lá agora, não era? Parece ter ido bem fofinho.

– Ah, obrigado. Meu nome é Eduardo. – O surfista se apresentou gentilmente e Vivian se derreteu com o sorriso dele mesmo não sendo para ela.

– Meu nome é Vanessa. - A mulher se apresentou para ele também, o que fez a outra ruiva dar meia volta irada com o irmão logo atrás.

=-=-=-=-=

Depois de passearem horas pelo restante da praia, eles foram até a civilização procurando pelo hotel que de jeito nenhum poderia ser chamado de cinco estrelas.

– É aqui mesmo que vamos ficar? - Maurício perguntou perplexo.

– Parecia ser bem mais bonito no panfleto. - Ela disse com uma expressão de quase nojo.

– "Magma Hotel", que nome pobre!

– Deve ser por causa do vulcão.

– Que vulcão? Como assim? Aquilo era um vulcão? - Ele arregalou os olhos.

Quando estavam sobrevoando a ilha, Maurício não se deu conta que aquela imensa falha geológica que brotava no centro da ilha era um vulcão.

– Uma simples montanha é o que não era mas pense em como vai valer a pena. - Disse ela. - Superar seu medo, que tal?

– Não é tarde demais para chamar o helicóptero de volta. - Ele brincou.

– O destino te trouxe para cá apenas para termos uma chance. É o que precisamos, outras pessoas também tem seus sonhos e esse é o nosso.

– Quanto tempo ficaremos aqui antes que eu me mate? - Ele fingiu um gesto de enforcamento.

– Sete dias. Apenas sete dias e voltaremos para casa.

=-=-=-=-=

Os dois voltaram a caminhar quando Vivian parou de repente para falar com um casal que carregava um animal estranho, que mais parecia ser uma mistura de um rato com esquilo.

– Qual é o nome dessa gracinha? - A ruiva perguntou pegando na patinha dele como se estivesse o cumprimentando.

– Sidney Prescott. - O rapaz respondeu.

– Olá Sidney, qual seu filme de terror preferido?

Os três riram com aquilo, Vivian fez carinho no animal que se escondeu nos cabelos da loira e deixou que o casal seguisse seu destino. Ela olhou para o irmão com metade de um sorriso imprimido no rosto. Ele a ignorou por tê-lo deixado esperando e entrou no Magma Hotel.

Vivian foi com as malas para a recepção enquanto ele aguardou no salão de visitas. Vários sofás velhos que deveriam ter cinquenta anos ou mais espalhados naquele imenso salão revestido com madeira do chão ao teto.

A decoração natalina já estava sendo feita chegando ao cúmulo do ridículo com uma palmeira servindo como árvore de natal, fora isso, a impressão que tinham era de estarem em uma floresta.

Mas existia uma floresta de verdade, logo atrás do hotel e no meio dela, aquele imponente vulcão que todos dizem está adormecido há séculos. Era isso o que as pessoas ao seu redor falavam.

Em todos os lugares desse mundo, ele foi enviado justamente para perto de um vulcão.

Sua fraqueza foi descoberta pelo destino, a simples sensação de ver algo se inflamando em sua frente, tanto a chama que sai de um fogão quanto a simples queima de uma vela lhe trazia aquela terrível lembrança de volta. O dia que ganhou sua cicatriz, a cicatriz que escondia de seus amigos e até dele mesmo por baixo da tatuagem no braço esquerdo.

Maurício afagou rapidamente seu braço, podia sentir o fogo destruindo sua pele naquele momento. As pessoas ao lado olharam de um jeito estranho, não entendendo aquele gesto que o ruivo acabara de fazer, ele lançou um olhar rude para elas mas não as culpava pela impressão. Sempre sofreria com isso.

O calor aumentara e ele começou a transpirar embaixo daquele lustre imitando cristal que balançava mesmo sem o vento quente.

Tentou se desconcentrar daquela cena até que escutou uma discussão vinda da recepção e para sua surpresa, Vivian era a protagonista.

– Essa máquina deve estar com defeito como tudo nesse hotel. - Ela falava como se quisesse bater na pobre moça do outro lado. - Não viajamos essa distância toda para nada! Faça. Seu. Trabalho.

– Me desculpe senhora. Iremos resolver o problema o mais rápido possível. - A recepcionista nem sabia mais como se desculpar.

– O que houve? - Ele teve que se intrometer antes que alguém fosse parar no hospital.

– Uma mega confusão foi o que houve. - Disse ela batendo os pés levantando uma quase invisível poeira. - Nossa apresentação aqui foi cancelada e novas reservas foram "desreservadas" de algum jeito.

– Espera, como assim?

– O cartão de crédito foi recusado. - Explicou a moça oriental da recepção.

– Mas eu já dei outro cartão, nunca tivemos problemas com isso.

– Desculpe mas esse também foi recusado. - A recepcionista entregou o cartão de volta.

– Isso é impossível! Mais do que impossível! Eu sou Vivian Malinowsky, acho que você não deve saber quem é mas vou avisando que tenho dinheiro o suficiente para comprar todo esse hotel.

As pessoas da fila ao lado, as que esperavam atrás deles e os outros funcionários olharam para ela, algumas ainda faziam comentários mas Vivian não deixava se envergonhar.

– Tente este então. - Maurício procurou outro cartão e deu para a irmã que por sua vez deu para a recepcionista.

– Cristina Fontinni? - Ela perguntou com seus olhos semicerrados.

– É da nossa mãe, algum problema Perry? - Maurício a encarou. Perry era o nome escrito no crachá dela.

– Não, problema nenhum, pelo contrário. O cartão foi aceito. - E sorriu falsamente. - Preciso de apenas mais alguns minutos para colocá-los de volta no nosso sistema.

– Acomodações ainda melhores de preferência, tipo a suíte presidencial ou a cobertura. - Vivian fez questão que todos escutassem.

– Acho que não será possível. - Devolveu. - Os únicos quartos disponíveis estão em um nível inferior aos anteriores.

– De jeito nenhum. Não tenho mais a minha suíte? Onde acham que eu vou dormir? Junto com a criadagem? - Maurício perguntou tanto para a recepcionista quanto para Vivian.

– Sentimos muito mesmo mas ainda temos lugares disponíveis em quartos duplos.

– Não posso ficar no mesmo quarto com sei-lá-quem por uma semana. - Vivian mostrou o dedo do meio para a recepcionista que para sorte deles não viu o gesto.

– Até aí tudo bem, podemos ir para outro hotel bem melhor que esse de qualquer maneira. Dinheiro é o que não falta.

– Melhor não Mau! - A sensatez da ruiva voltou. - É difícil conseguir outros tão em cima da hora. Papai ainda nem sabe que usamos o cartão de crédito dele para pagar o helicóptero e imagina a mamãe quando descobrir que pegamos o cartão dela.

– Tinha que falar isso na frente da funcionária? - Ele a olhou pedindo que ficasse quieta.

Perry, a recepcionista asiática deu um riso escondido e continuou digitando sem falar mais nenhuma palavra.

=-=-=-=-=

Era uma cena típica de café da manhã, nem estava mais no horário mas ninguém no casarão da família Malinowsky acordava cedo. A casa que já pertencera a todos os membros de várias gerações e que duraria para sempre mesmo que a família mais importante da Rússia (e consequentemente do Brasil também) não existisse mais. Essa era a política deles.

O pai sentado na cabeceira da mesa enquanto a mãe estava sentada na direção oposta com um infinito de manjares coloridos dispostos em simetria.

Ele vestido de terno lendo a folha de economia do jornal com uma xícara de café em uma das mãos, já sua esposa lia mensagens de texto no celular e ajeitava o cabelo ruivo com algumas mechas já brancas.

Ambos em silêncio, a comprida mesa que podia suportar até 14 cadeiras tinha apenas 4 lugares, dois deles ocupados e outros dois que ainda estavam vazios.

O mordomo da casa apareceu retirando os pratos e os talheres dos dois assentos vazios e isso chamou a atenção da dona da casa.

– O Maurício não vai descer Alfred? - Perguntou ela para o mordomo.

– Ele já saiu senhora Cristina. - Respondeu timidamente.

– Estranho, ainda é cedo para a faculdade. Não acha Ernest? - Ela olhou para o marido.

– Tanto faz, chame o motorista e a Vivian por favor Alfred. - Ele se levantou pegando sua maleta.

– A senhorita Vivian saiu junto com o irmão e o motorista ainda não voltou senhor. - Alfred disse.

– Para onde eles foram? - Ernest não conseguira perder seu sotaque russo mesmo depois de tanto tempo.

– Para o heliporto. Eles embarcaram hoje cedo.

– Heliporto? - O casal perguntou.

– Sim, o piloto do helicóptero ligou confirmando o embarque dos dois.

Alfred respondeu e pediu licença da sala voltando para a cozinha, ele sabia que um problema surgira só de reparar na reação dos dois. O próprio sabia que os irmãos se meteram na maior das confusões.

– Isso é impossível! - Cristina exclamou. - De onde tiraram dinheiro e o para onde foram?

– É o que vou descobrir agora. - Ernest tirou seu celular do bolso e acabou deixando sua carteira cair. E ele se espantou ao vê-la soltando um xingamento em russo.

– O que foi? Aconteceu alguma coisa? - Cristina se aproximou.

– Está vazia! Minha carteira está vazia, sumiu tudo. Os cartões, o dinheiro, os cheques. Tudo mesmo.

– Alfred! - Ela gritou o mordomo que apareceu em seguida. - Você viu se eles saíram com malas por acaso?

– Sim, eu mesmo ajudei na preparação. Algo mais em que posso ajudá-la?

– Tudo bem pode ir. - Ela o dispensou e foi até a própria bolsa procurando pela sua carteira e teve a mesma reação que o marido.

Não precisou que falassem mais nada, os dois já sabiam que Maurício e Vivian saíram escondidos. Cristina pegou a bolsa com raiva nos olhos e foi para porta.

– Aonde vai? - Perguntou ele.

– Ligar para a polícia e depois trazê-los de volta. Se acham que vão fazer o que querem seja lá onde for, estão muito enganados.

Ela saiu batendo a porta atrás dela. Tanto Cristina quanto Ernest odiavam o fato de que Maurício sonhava em ser cantor e que Vivian, mesmo assumindo o papel de substituta na presidência da empresa da família também seguia o mesmo caminho.

Para eles, ser um artista era como ser o bobo da corte de um rei, um mero entretenimento e nada mais. Eles se sentiam que erraram.

E ela estava disposta a corrigí-lo do seu jeito.

Cristina chegou a rua vazia e arborizada procurando por um táxi quando encontrou uma de suas vizinhas e conhecida de seu filho.

– Olá Sra. Malinowsky! - Disse a garota que caminhava ao lado de um rapaz.

– Você é a Isabella não é mesmo?

– Sim acho que sim. - A jovem loira brincou. - O Maurício e a Vivian já saíram? Eu queria ir com eles mas tive que passar no mercadinho primeiro.

– Sei, o mercadinho. - Cristina não conseguia entender o motivo de uma garota rica preferir trabalhar em um simples mercadinho. - A propósito, você sabe para onde eles foram?

– Sim, vou encontrar com eles mais tarde. Algum problema?

– Nenhum, mas você irá me levar até lá. Agora mesmo.

=-=-=-=-=

Maurício voltou para o salão de visitas enquanto Vivian continuava esperando por uma solução.

E naquele momento ele parou para pensar em como estaria a situação em sua casa, seu pai nem deve ter se dado conta do sumiço deles mas sua mãe já deveria ter acionado todos os policiais do Brasil.

Não por estar preocupada com seus filhos e sim para castigá-los pela atitude, Ernest e Cristina Malinowsky não dariam um centavo para que os dois continuassem naquela louca ideia. Mas é para isso que o cartão de crédito foi inventado.

Nem imaginava o que sua mãe iria dizer ou fazer quando descobrisse as imensas faltas frequentes na faculdade de administração. Maurício com certeza não era o filho mais adequado para gerenciar o império que seus bisavós construíram do nada.

Ele sabia que nascera para brilhar, com fogos de artifícios explodindo seu nome e tudo mais, mesmo que ninguém soubesse disso. Essa era a sua verdade.

"Você pode odiar sua família, mas você não deixa de estar ligado a eles."

=-=-=-=-=

Cinco horas de viagem, pela primeira vez dentro de um avião, era isso o que o garoto enfrentara até chegar ali, sabia que tinha inúmeras ligações de seu pai mas Gabriel andava com seus colegas de turma até chegar ao vilarejo. Santa Morte em espanhol era o nome do lugar.

– Eis me aqui Santa Muerte.

O lugar onde sua vida começaria.

Ou terminaria.

=-=-=-=-=

– No que está pensando? - Vivian surgiu ao lado dele o tirando de seu devaneio.

– No Sr. e Sra. Donos da Razão. - Disse desinteressado. - Também conhecidos como Ernest e Cristina Donos da Razão.

– Você não vai estragar esse passeio pensando neles vai?

– E se a gente matasse logo eles e ficasse com o dinheiro? - Ele realmente não quis dizer aquilo daquela forma mas saiu antes que percebesse.

– Temos uma vida toda pela frente para cuidar disso mas enquanto estivermos nessa ilha, o mundo lá fora não existe. Imagine que estamos esperando o convite para a fama.

– Tudo bem, isso não fez sentido. - Ele conseguiu rir.

– Esqueça isso, tenho boas e más notícias.

– Qual é a má?

– A má notícia é que nos colocaram em outros quartos já ocupados, a boa notícia é que ainda vamos cumprir nossa agenda de apresentações aqui no hotel.

Ele se levantou descontente.

– Não precisamos ficar aqui Vivian. Eles nos trataram como se fossemos qualquer um, somos melhores que esse lugar e que essa gente, podemos encontrar algo mais do nosso nível.

– Esse é o problema Mau. - Ela suspirou. - Tivemos sorte de conseguir cantar aqui e também acho que merecemos coisa melhor mas o mundo não funciona assim. Tudo ficou mais complicado agora que papai bloqueou nossos cartões e o dinheiro que temos e o que vamos ganhar é pouco.

– É como se o meu destino fosse escolhido por uma máquina com resultados totalmente aleatórios. Uma hora estamos comprando metade do mundo e na outra não conseguimos nem pagar por um mísero quarto de hotel.

– Eu sei meu irmão, de vez em quando a gente precisa descer um pouquinho do nosso pedestal para subir de novo depois. O destino apronta com todos.

Maurício andava de um lado para outro do salão, questionando se sua existência ali era válida? Se realmente fazia parte daquele quebra-cabeça?

– Só queria que fosse diferente, quero ser lembrado como alguém importante e não como o número quatro de uma fila qualquer, um figurante que mal aparece ou aquele cujo ninguém se importa. Estou escrevendo a minha vida agora e ela precisa pelo menos ser boazinha comigo.

– Eu me importo com você mais do que pensa. - Vivian o puxou de volta recostando a cabeça no ombro dele. - Pode ser que demore um pouco mas já fizemos história por estar aqui.

– Sei disso mas não quero continuar apenas como o carinha que está aqui só por estar aqui, eu deveria ser um membro importante e tudo o que vejo é que estou sobrando, estou feliz e triste ao mesmo tempo. Sou um astro e mereço ser tratado como um.

– Você é bipolar, isso sim. Só que um astro não fica lamentando o esquecimento. Um astro mostra para que veio e não se importa em destruir quem estiver na sua frente.

– A maior crueldade, é a falsa esperança. Mas se é para encarar essa chuva de pedras quentes, é melhor saber onde vou ficar para assistir o show de camarote.

– Mesmo achando esse lugar um tédio, estamos na temporada de férias e nenhum outro nessa área ou até mesmo desta ilha inteira terá vagas, então você irá ficar no quarto 018 e eu no 020. - E lhe entregou a chave do quarto 018.

Ele pegou a chave contrariado e passaram pela recepção feita de bambu até o elevador que demorava uma eternidade para chegar. Um dos elevadores estava quebrado e eles entraram numa pequena fila de pessoas que aguardavam, era mais fácil esperar do que subir vinte andares de escadas.

A mesma mulher da praia estava ali, dessa vez com uma roupa diferente, acompanhada por um carregador de malas franzino com várias sacolas ao redor, eles eram os primeiros da fila do elevador.

Ela parecia estar incomodado com algo e sempre mudava as sacolas de mão.

– Esse lugar é tão primitivo que não tem nenhum serviço decente. - Ela reparou na ferrugem ao redor. - Muito menos seguro, posso até ser esfaqueada no banho até que façam alguma coisa.

– Não é tão ruim trabalhar aqui, tem um toque exótico e até mesmo afrodisíaco. - Disse ele com más intenções.

– Meu braços nãos foram feitas para carregar peso. - Ela não escutou nada do que ele dissera. - Devo ter comprado metade da ilha. E nem consegui encontrar o queria, preciso de uma anel novo. Uma pedra preciosa para outra pedra preciosa.

Ela riu tirando o cabelo da frente dos olhos e colocando um óculos escuro.

O homem nada disse, simplesmente pegou todas as quase centenas de sacolas e as colocou ocupando todo o cubículo depois que as portas se abriram com um rangido. Aguardou que ela lhe desse uma gorjeta mas a ruiva seguiu em frente.

– Vocês podem esperar mais um pouco. - Ela disse com desdém quando viu que os próximos da fila eram os ruivos. - Preciso de um pouco de espaço.

– Já esperamos tempo demais. - Maurício segurou as portas antes que elas se fechassem.

– Tudo bem. - Ela arfou. - Mas sem contato físico.

A mulher desviou o olhar dele sem acreditar que Vivian usava uma bolsa igual a dela, a que deveria ser um modelo exclusivo na imaginação das duas.

As duas combinavam em muito, tanto na aparência quanto no jeito de agir.

Vivian olhava para Vanessa que retribuía mesmo por trás dos óculos escuros, como se surgisse um clima de rivalidade.

Como se dissessem para a outra: "Eu sou a ruiva mais badass dessa ilha."

Maurício fingia que nada acontecia e os três ficaram frente a frente até as portas se fecharem e o elevador sair do térreo. O ruivo tinha seu lado sensitivo e sabia que havia uma energia diferente no ar.

Maurício não conseguia ver seus olhos da mulher por causa dos óculos mas concluíra que deveriam carregar uma aura poderosa, difícil e autoritária. Mas era como uma máscara para a verdadeira dona daquela personalidade marcante que tentava esconder seu lado triste.

Faltava um pedaço do seu coração, o pedaço mais importante que perdera para sempre e nem todo o luxo do mundo poderia repor.

A mulher em si era bela mas a mancha em sua alma era grande, seu passado não deveria ser um dos melhores e pode ser que isso ainda a afete, mas ela era uma guerreira com desejos em sua fina máscara.

=-=-=-=-=

Não demorou muito para que o elevador chegasse ao segundo andar, Vivian e Maurício saltaram e deixaram a socialite sozinha.

– "Uma pedra preciosa para outra pedra preciosa." - A ruiva imitou a outra ruiva.

Os dois combinaram de tirar o resto daquela tarde para descansar e a antes que anoitecesse, eles ensaiariam para a apresentação que fariam para o hotel e para as vilas de Santa Muerte.

Ele abriu a porta do quarto 018 que parecia ter saído de um filme de verdade, por fora parecia ser caído mas por dentro era quase aceitável na opinião dele. Duas camas de solteiro estavam ali, uma delas estava com a sua bagagem e a outra com duas malas que esperavam pelo dono.

Colocou seu violão em uma poltrona, as malas embaixo da cama e em seguida foi até a varanda do quarto. E lá estava ele vulcão e suas atrações.

O Dedo do Diabo como era conhecido por todos o monumento com um formato incomum que parecia estar apontando para baixo.

– Apontando para o próprio inferno.

Aquela face enrugada feita de pedras que parecia olhar direto para ele, como se quisesse cuspir fogo de propósito. Ele e o vento quente caçoavam do ruivo fazendo aquele dia voltar em sua mente, sussurrando o seu medo e por mais ilógico que parecesse, eles sabiam que aquilo o assustaria.

Desviou o olhar de imediato, não queria sentir de novo aquela mesma sensação do salão de estar, então repousou no parapeito da varanda olhando para um navio que se preparava para deixar o cais.

Mas Maurício não se importava com a cena do salão, ou com navio. Ficou pensando no que fazer até o horário do jantar e ali esperou a tarde toda deixando que a sinfonia das ondas o levasse para outra dimensão.

Não queria ligar para seus pais, talvez para seus amigos e saber como estavam as coisas no grupo de músicos formado por eles. Maurício tirou seu celular da mala. Bruna, Sophia ou Juliano? Para qual dos três ligar primeiro?

A porta do quarto se abriu atrapalhando seus pensamentos e por ela entra um rapaz nem tão confuso por o ver ali.

– Também perdeu sua reserva? - Perguntou o jovem.

– Para nosso azar sim. Sou Maurício! - E o cumprimentou com um aperto de mãos.

– Sou Gabriel! - E exibiu um sorriso em seu rosto infantil. Ele parecia ser uma criança em um corpo adulto literalmente falando.

Logo ele foi desfazer a sua mala e Maurício percebeu um jaleco entre as roupas e isso combinava com sua energia de menino adulto, pressentiu que vinha cuidado e atenção aos detalhes da parte dele.

– Você é médico? - Perguntou despreocupado.

– Digamos que quase, não sou formado ainda mas um dia vou ser e nem preciso perguntar para saber que você deve ser músico. - Ele apontou para o violão.

– É a minha paixão.

Até que ele estava se dando bem com aquele desconhecido. O que era realmente estranho gostar de alguém tão rápido, Maurício teria subornado o garoto para que o quarto fosse só dele em seus padrões normais.

Batidas na porta mais uma vez e ele atendeu, um dos funcionários do hotel estava ali sorridente com alguma coisa em mãos.

– Senhor Malinowsky e Senhor Luz?

– Sim. - Gabriel respondeu do outro lado do quarto.

– Queremos pedir desculpas pelos problemas.

– Podemos sobreviver por mais um dia. - O ruivo respondeu.

– O hotel também está convidando os senhores para um evento que acontecerá esta noite. - Continuou ele. - A Animal Rescue, uma associação para os direitos dos animais marinhos está organizando algumas atividades e uma apresentação musical beneficente.

– Uma apresentação musical! - Vivian surgiu atrás do homem que se assustou dando uns passos para trás. - E a melhor parte é que conversei com a responsável, uma tal de Eva-não-sei-do-quê e nós vamos poder tocar lá! Não é demais?

– Parece ser sim. - Ele respondeu, ela estava eufórica, apertava os ombros do pobre homem e ria com a ideia.

– Muito demais! - Gabriel compartilhou da felicidade dela.

– Tudo bem, onde será isso? - Maurício perguntou para o funcionário.

– Na trilha para a floresta, perto do vulcão.

=-=-=-=-=

Já estava escurecendo e ele mal podia acreditar que estava realmente ali.

Era seu primeiro dia e aquele vilarejo não era um dos melhores mas Gabriel estava contente por realmente estar ali. Não gostava muito de sair de casa mas estava pronto para se tornar um médico de verdade, trabalhar com pessoas de verdade e sentir a realidade delas.

Aquela ilha esperava por Gabriel Luz para dar-lhe um novo início em seus 18 anos.

Metade de sua turma estava tão empolgada quanto ele e a outra metade era tão superficial que não conseguia se encantar com a quase beleza do lugar. Gabriel podia não ser o mais inteligente ou o mais propenso a se formar mas sabia que era esforçado o bastante para não ser como aqueles.

Ele queria ajudar pessoas. Não pelo dinheiro e sim pelo prazer de salvar uma vida. Ou várias se possível for.

A Ilha Vermelha tinha uma beleza diferente, não era paradisíaca nem nada na opinião dele mas ela tinha a sua história e seu diferencial, um ecossistema admirável e isso é ótimo pois o garoto amava peixes e a natureza onde não basta apenas olhar e sim apender junto com ela.

Mesmo que ele fosse alto, magro e com olhos claros como o cabelo, um tipo que não fazia tanto sucesso entre as garotas mas ainda sim, seu rostinho de menino bobo lhe destacava entre os fortões.

Caminhar naquele sol fraco no meio da tarde era ótimo para pensar no futuro, afinal ele tinha toda uma vida pela frente e não podia desperdiçar focado apenas em livros, precisava se aventurar mais e aproveitar o calor, ele colocou seu moletom na areia e sentou-se ali para observar o movimento e o barulho relaxante do mar.

Aquilo o lembrava de quando sua mãe o levava ao mar todos os fins de semana, e como o dia em que um acidente de carro pôs um fim na alegria de todos. Ver a vida dela ir embora enquanto o sangue manchava seus braços e ele nada podia fazer para impedir. Seu pai tentara não desabar na frente do garoto ainda pequeno mas todas as noites ele o escutava chorando no quarto ao lado.

Ele sabia que era triste demais pensar naquilo durante sua estada mas a cada momento a falta que sua mãe fazia se acentuava mais e mais. Ele sentia que queria chorar mas seria a primeira lágrima para uma inundação.

De que agora sua vida teria motivação, ele já perdera uma vida e jamais deixaria isso acontecer mais uma vez.

Desviou seus pensamentos e também visão para o que estava atrás de seu corpo, atrás do hotel em que ele e seu colega estavam, de algumas casas do vilarejo e da pequena selva, o vulcão que era responsável por grande parte da fama da ilha.

Tateou os bolsos e pegou um maço de cigarros colocando um entre os dentes, o que parecia ser irônico para alguém que orientava os outros a não fumar e ficou escutando a vida toda sobre seus perigos, principalmente seu pai quando descobriu que o filho sempre lhe roubava um ou outro filtro.

Agora sim já estava tarde, o sol sumia aos poucos deixando tudo mais alaranjado.

Já estava na hora para ir até a Animal Rescue, Gabriel levantou e limpou-se da areia voltando para o hotel onde encontraria Maurício e sua irmã para que os três fossem juntos.

Acendeu um cigarro enquanto andava e assoprou a doce fumaça olhando para o vulcão.

E ele o respondeu com outra fumaça também.

=-=-=-=-=

O salão de jantar do hotel era imenso, fileiras de mesas com um pequeno arranjo de flores brancas, distribuídas em um espaço retangular e no final dele havia um palco com refletores e instrumentos musicais. Sua decoração era repleta de plantas falsas e de arabescos imitando o verde da floresta.

– Admito que não é tão ruim assim. - Vivian disse sorrindo percorrendo todo o salão. - Amanhã estaremos aqui cantando para toda essa gente. Vai ser incrível!

– Já consigo escutar, o barulho dos flashes e das palmas. - Maurício visualizou o salão com várias pessoas os aplaudindo e sentiu um bom arrepio com isso.

– Tudo bem mas precisamos ensaiar primeiro, esse vai ser o nosso primeiro show de verdade e tem que ser perfeito.

– Está pensando o mesmo que eu? - Havia um olhar malicioso no rosto.

– Pode apostar! - Vivian pegou um dos violões e entregou para o irmão, já ela segurava um microfone ainda desligado e olhava para os assentos vazios.

A garota apertava o microfone com força enquanto Maurício se preparou e seus dedos desferiram os primeiros acordes do violão para tocar a versão acústica do mash-up que eles mesmo fizeram: "Burn/Burning Up."

Maurício: (Vivian)

"Dont put me off, 'cause I'm on fire (Oh whoa)

And I can't quench my desire (Oh whoa)

Don't you know that I'm burning up for (Oh whoa) you love

You're not convinced that (Oh whoa) that's enough

Vivian:

When the lights turned down

They don't know what they heard

Strike the match, play it loud

Giving love to the world

We'll be raising our haids, shining up to the sky

'Cause we got the fire, fire, fire

Yeah, we got the fire, fire, fire

Vivian e Maurício:

And we gonna let it burn, burn, burn, burn

We gonna let it burn, burn, burn

Gonnna let it burn, burn, burn (Maurício: I'm burning up)

Burning up for you love (Vivian: For you love)

I'm burning up, burning up for you love

For you love"

Os dois combinavam em uníssono, ela tinha um soprano delicado e ele um tenor dramático com um talento inegável no violão, a música terminou com um abraço energizado entre os dois que não perceberam que um rapaz com uma câmera gravara toda a performance.

=-=-=-=-=

Já era noite quando Gabriel encontrou Maurício e Vivian na entrada do hotel, os dois rapazes estavam de camiseta branca, calça jeans e cabelos bagunçados, Gabriel com um moletom cinza e Maurício com um moletom roxo xadrez. Vivian vestia um longo vestido rosa liso com flores estampadas na cintura, uma bolsa tiracolo, brincos pequenos e a cabeleira ruiva solta.

Os três esperavam pelo veículo chamado pelo hotel para levá-los até a Animal Rescue, fazia calor naquela noite, como se estivesse vindo diretamente do solo rachado abaixo deles.

Dois rapazes passaram por eles, um dos garotos olhava para cima enquanto andava como se estivesse admirando o quanto o céu sobre a natureza era mais bonito. Ele estava tão ocupado com aquilo que não percebera que derrubara um caderno com vários adesivos de estrelas.

– Ei! - Gritou Maurício pegando o caderno. - Você deixou cair isso.

– Muito obrigado, muito obrigado mesmo. Minha vida não é a mesma sem meu diário das estrelas. - Disse o garoto de cabelos castanhos.

– Tudo bem, então. - Maurício não pode deixar de reparar em como aquele garoto se parecia muito com um de seus amigos, o mesmo cabelo, os mesmos olhos e também o jeito sensível e sonhador.

– Wendel! Vamos logo! - Chamou o outro garoto mais afastado.

Wendel agradeceu mais uma vez e se juntou ao outro agarrando-o e dando-lhe um beijo quente antes de sumirem da vista do ruivo.

– Ele se parece com o Juliano, realmente idêntico. - Disse Maurício para Vivian.

– É, outro gay. - Ela revirou os olhos com desdém.

– Me lembre de ligar para a Bruna, Sophia e o Juliano quando isso acabar.

Vivian concordou olhando para o lado quando viu o que tanto estavam aguardando. Um jipe com o logotipo da organização parou perto deles e uma garota com aparência hippie vestida com um biquíni e shorts saltou e foi até o grupo.

– Olá! Sou Valentina mas podem me chamar de Val, serei a responsável para levar vocês em segurança até a Animal Rescue hoje e não vamos perder mais tempo, subam que eu mostrarei tudo, a ilha é muito melhor de ser vista durante a noite só para preservar seus mistérios.

Eles nem tiveram tempo de se apresentarem quando entraram, o jipe disparou veloz para fora do hotel e a garota não parava de falar com seu sotaque argentino.

Passaram primeiro pelos vilarejos de Santa Muerte, um lugar que não parecia ser tão pobre e morto como imaginavam, Valentina ia contando detalhes de sua fundação feita por colonizadores espanhóis até os dias atuais sempre terminando cada frase com um sorriso meigo.

A Ilha Vermelha tinha seus encantos e isso ninguém podia negar, depois da vila, o jipe passou pela praia, o cais e finalmente adentrou na ampla floresta. Pequenas casas ainda eram vistas e se distanciavam na medida que o jipe acelerava sobre a estrada iluminada artificialmente.

=-=-=-=-=

A instalação da Animal Rescue surgiu no fim da trilha, ela era decorada com azulejos que formavam desenhos de animais marinhos variados em sua fachada que brilhavam sob a luz da lua.

– Acho que chegamos. - Disse Gabriel.

– Chegamos sim e tenho certeza que vão gostar. - Val parou o jipe bruscamente e o estacionou de frente para vários seguranças.

Os quatro desembarcaram e caminharam até a sede, Vivian andava com dificuldade segurando a barra do vestido para que ele não sujasse com aquela terra úmida quando percebeu o irmão olhando para o vulcão no horizonte.

O verdadeiro astro da ilha, pronto para mostrar seu poder.

– Mau? - Ela se aproximou e tocou o rosto gélido dele. - O que houve?

– Não sei, é uma sensação estranha. - Ele virou afagando o braço.

– Sensação estranha? Como "naquele dia"?

– Acho que sim mas não deve ser nada, tenho certeza disso.

– Não negue Mau por favor, eu sempre soube que você tinha esse lado sensitivo e me arrependo por não ter acreditado em você quando aquilo aconteceu. Está com medo do vulcão?

A pergunta não o pegou de surpresa mas no fundo ambos já sabiam da resposta.

– Vai ficar tudo bem. - Ele sorriu. - Mesmo que isso exploda eu vou continuar vivo de qualquer maneira mesmo. - Deu de ombros e ela pareceu acreditar.

– Vocês vem ou não? - Gritou Gabriel um pouco mais afastado.

– Vamos lá? - Ele pegou a mão dela.

Os portões se abriram e duas pessoas se aproximaram do quarteto.

– Se eu soubesse que seria tão chique assim eu teria ficado no hotel. - Cochichou Gabriel para Maurício que concordou com uma careta.

– Se arrependimento matasse...

– Não me façam passar vergonha, por favor. - Vivian disse tentando disfarçar. - Sorriam e acenem rapazes. Sorriam e acenem.

– Bem Vindos à Animal Rescue, sou Eva Mendel, uma das fundadoras do projeto. - A mulher que veio recepcioná-los estava vestida de um jeito que mostrava todo o poder de uma dama. - E essa é a minha assistente:

– Eu sou a Mônica. - A garota se apresentou.

– Sou Gabriel!

– Sou Vivian!

– Todo mundo já sabe que sou a Val.

– E eu sou Maurício, Mau se preferir.

Eva cumprimentou todos com um aperto de mãos e um sorriso, Maurício sentiu que sua energia estava repleta de coragem e também confiança, o tipo de pessoa disposta a ajudar quem fosse em qualquer situação.

– Espero que aproveitem o show beneficente e é muito bom contar com mais uma apresentação musical, essa noite será diferente de todas as outras mas tenho que ficar aqui esperando os próximos convidados e a minha assistente irá mostrar tudo para vocês.

– Acho que já lhe vi antes. - Vivian se esforçou para lembrar da fisionomia da Mônica. - Lógico, a garota que torcia para aquele rapaz que estava treinando no campeonato de surf. O mais bonito de todos.

– Sim, era o meu irmão. Ele também está aqui e faço questão de apresentá-los depois, me sigam por favor.

Os três foram atrás garota com exceção de Valentina.

– Tenho que ir, preciso fechar meu quiosque. - Ela respondeu antes que Maurício perguntasse. - Mas eu volto logo.

– Podemos nos ver mais tarde?

– Pensei que nunca perguntaria. - A garota piscou para ele e voltou para o jipe.

=-=-=-=-=

Tudo dentro da Animal Rescue estava decorado minuciosamente, certamente a Eva não economizara no que deveria ser uma simples apresentação arrecadaria fundos, várias pessoas lotavam o espaço com trajes comportados e isso fazia os dois únicos vestidos de moletom se sentirem deslocados.

Mônica levou os três para conhecer todo o local e também o palco.

– Espero que gostem da noite. Será inesquecível! - Disse sorrindo para o trio.

As cortinas se abriram e uma garota com seu violão começou a cantar sem nervosismo, olhava para a plateia sentindo que estava preparada e deixava sua voz fluir. Ela não parecia ser só mais uma cantora esnobe que os irmãos sempre escutavam falar.

Lis Araújo tinha música em seu coração e ninguém podia tirar isso dela.

"See, i see a lighthouse even when it's still so dark out

I know i'll make it to shore"

Todos se concentravam na garota quando uma coisa chamou a atenção do ruivo. A mulher de cabelos curtos ao seu lado estava petrificada, as pessoas ao lado não perceberam até que a escutaram gritar e uma confusão se formou.

O mesmo homem que estava no salão do hotel aproximou-se gravando aquilo com a câmera que tirara do bolso.

– Aconteça o que acontecer, nunca pare de gravar. - Ele disse para si mesmo.

Foi aí que o mundo conheceu, escutou e sentiu a razão pelo medo do ruivo.

E assistiram seu maior pesadelo ao vivo, em cores e em 3D.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Se gostaram desse capítulo, nós escritores temos várias fanfics como essa e que valem muito a pena darem uma olhada, comentários são sempre bons e nos ajudam bastante. Até o próximo! :)



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Premonição Chronicles 2" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.