Premonição Chronicles 2 escrita por PW, VinnieCamargo, MV, Felipe Chemim, Jamie PineTree


Capítulo 20
Capítulo 19: Deixe-me Descansar em Pedaços


Notas iniciais do capítulo

Escrito por Jamie PineTree.



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Pessoas se matam, se destroem e fazem outras pessoas sofrerem, mas toda a culpa cai sobre os ombros cansados da Morte. Seu vestido de noite que dizem ser feito com as linhas de cada ser que levou até consumi-la em um manto pesado, retratada como uma fúria selvagem sem limites ou uma sádica que se diverte cortando as linhas da vida.

Como todas aquelas 14 pessoas se encontraram naquela ilha, outros já sentiram o hálito gélido em seus pescoços alertando de sua presença. Só aqueles que já morreram conheciam o brilho do olhar vazio. Ela não quer ser a responsável pelo fim da vida e sim levá-las de volta para o começo. Um lugar onde podemos ser quem quisermos, sem rótulos. Almas que já deram o seu melhor ao mundo.

Mas seria a Lady Death uma inimiga? Talvez ela seja alguém que conhece o seu passado, que enxerga sua lista sem o prazer de tirar pessoas de suas famílias. Talvez a Morte fosse uma vítima de seu próprio trabalho. Uma condenada à destruir corações e transformar alegria em luto.

Muitos acreditam que o destino pertence à ela, outros dizem que suas escolhas decidem o amanhã e que a Morte é só uma representação dos atos da humanidade.

A Morte esta dentro de cada um de nós e só existe uma coisa muito pior do que ela:

O Ser Humano.

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Orfanato Católico para Meninos Nossa Senhora do Perpétuo Sacrifício - Março de 2007

Aquela data seria o passe para fora daquele orfanato. Kris Lange poderia ser ainda uma criança tímida com 17 anos, mas finalmente poderia livrar-se da tortura constante que era morar ali. Desde que sua homossexualidade foi revelada, o garoto só pensava em fugir para qualquer lugar que o aceitasse.

Sempre empurrado pelos corredores e era agredido por outros órfãos, até as freiras isolaram ele para tentar convertê-lo de volta para o "caminho certo". A religião presente naquela instituição fazia Kris sentir-se cada vez mais sozinho, anotando todos os doze anos de tortura dentro de um caderno.

Apesar de odiar viver no orfanato, Kris imaginava que seus pais fizeram aquilo por acharem que seria o melhor para ele e o pensamento de conhecer as pessoas que o abandonaram nunca passou pela sua cabeça. Revirar o passado poderia trazer verdades e explicações dolorosas demais para aceitar.

Ele passava quase todo o tempo trancado em seu quarto, fingindo que não se importava quando o chamavam de estranho e que ele seria mandando para o inferno antes mesmo de morrer.

A única companhia de Kris surgiu quando alunos de uma faculdade de Veterinária montaram uma adoção de animais na rua em frente ao orfanato. Bancadas com diversos cachorros e gatos que já viram o pior de seus donos.

Uma jovem loira distribuía sorriso tentando convencer algum pedestre a adotar um daqueles bichinhos. Kris se encantou com o modo como ela agia, e pela primeira vez sentiu que queria fazer o mesmo, ele então se aproximou da bancada.

– Olá! - Disse a loira quando o viu. - Você gostaria de dar um novo lar para algum dos nossos pequenos anjos.

– São tantos que eu nem poderia escolher.

– Acho que tenho a coisa certa para você. - Ela pegou um gato com pelos pretos e o colocou nos braços de Kris.

– Ele é muito lindo! E tem a mesma cor de olhos que os meus.

– E ainda não tem um nome, fique a vontade para escolher.

– Luke! - Kris disse com um sorriso. - O nome dele vai ser Luke.

– Fico feliz que tenha gostado e agora o Luke saberá como é ser amado.

– Os animais são mais sensíveis que os humanos. Somente aqueles que são puros de coração, podem entender o quanto é gratificante cuidar de um animalzinho.

A moça se sensibilizou com as palavras de Kris, era exatamente assim que ela pensava e agia.

– Todos os anos, a faculdade oferece uma bolsa de Veterinária para jovens de instituições carentes. Eu posso indicar você se quiser. - Ela disse. - O mundo precisa de mais pessoas como você.

– Eu adoraria, mas não sei se o orfanato vai permitir.

– Quem precisa deles? - A loira fez uma careta. - Esse é o meu número, se você precisar, é só me chamar que eu irei providenciar tudo.

– Nossa! Obrigado, mas eu ainda não sei o seu nome.

– Verônica, mas pode me chamar de Roni.

Os dois se despediram e Kris levou o gato escondido para seu quarto, todos os órfãos fizeram um acampamento no jardim e ele ficou sozinho no imenso quarto com mais ou menos cinquenta camas vazias. O problema era o barulho de goteira que vinha de algum lugar fazendo com que ele acordasse.

Não que ele estivesse com medo, mas por segurança, colocou a mão embaixo da cama e sentiu o pelo macio de Luke, aquilo o tranquilizou e Kris voltou a dormir, horas depois aquele barulho o acordou de novo e mais uma vez Kris colocou a mão embaixo da cama apenas para verificar se seu gato estava ali e de fato estava.

Na manhã seguinte, Kris encontrou pedaços de páginas do seu diário por todo o quarto, era difícil acreditar que a história de sua vida não existia mais. Foi aí então que se lembrou do Luke e olhou para debaixo de sua cama, não havia nada além de poeira, Kris então seguiu assustado até o banheiro onde escutou o barulho de goteira da noite passada.

Abriu a porta do banheiro e pisou em algo molhado e viscoso, acendeu a luz oscilante e pode visualizar a enorme poça vermelha no piso. Acima dele, algo estava pendurado e vazava o liquido rubro, o corpo do seu gato estava pendurado pelas próprias tripas, junto com a cabeça decepada e desfigurada do felino.

E um gritou com uma mistura de pânico, nojo e ódio. Um grito ampliado e retumbante, que podia ser escutado por toda a cidade.

– Você fez isso? - Uma freira desacreditada apareceu atrás dele.

– Não! - Ele chorava. - Eu lhe juro Irmã Joaquina que não fui eu.

– Foi sim. Você é o demônio!

A freira desmaiou quando Kris foi na direção dela, o garoto ignorou a síncope da beata e saiu pelos corredores deixando pegadas de sangue por onde passava.

Todo o ódio e fúria que Kris sentia se transformou em força física. Desceu a escadaria de madeira rangente e passou correndo pelo hall de entrada até chegar na rua escura, ele olhava para tudo ao seu redor e conseguia finalmente sentir a liberdade que tanto desejara.

Kris então reparou na silhueta de uma garota, não que sentisse qualquer atração por mulheres, mas sabia que a conhecia de algum lugar. A loira estava parada de frente para uma clínica veterinária desativada.

Era ela, justamente a pessoa que estava procurando. Verônica.

– Eu ainda vou comprar esse lugar. - Disse ela quando Kris se aproximou. - Pensou no que eu te falei?

– Sim e acho que vou aceitar a sua proposta.

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Semanas Antes

O comprido e largo corredor Texas Redneck Bar estava como de costume, repleto de casais que namoravam no escuro, era ali onde Kris estava com seu mais recente funcionário, Jeferson.

Os dois se conheceram em um bar da ilha, o veterinário ficou tão bêbado depois da morte covarde de Wendel, que acabou trancado por acidente dentro do banheiro. Kris tentava não se envolver demais, a morte de Wendel ainda estava fresca e ele decidira dar um tempo antes de embarcar em outro relacionamento. Mas Jeferson tinha um atraente rosto juvenil, um cabelo castanho e olhos bastante azuis.

Depois de todos os olhares e mensagens de texto, ele finalmente cedeu e percebeu que poderiam ter algo a mais. Que deveria aproveitar o tempo que tinha com uma pessoa que gostava dele. Não era tão difícil notar o desejo carnal que crescia para Kris.

– Que bom que você aceitou sair comigo Kris. - Disse Jeferson.

– Acho que não poderia recusar. Você é o primeira coisa boa que me aconteceu desde muito tempo, minha vida está uma bagunça.

– Está falando do Wendel?

– Não quero falar dele, o que eu tive com Wendel foi lindo e está guardado no meu passado. E quero que continue lá. - Respondeu seco.

– Eu estou gostando de verdade de você. - Jeferson sorriu. - Eu sinto que temos uma ligação especial, como se conhecêssemos há muito tempo. Poderíamos até fazer um filme nosso qualquer dia.

– Isso explica essa câmera que você sempre carregando. - Disse Kris pegando o objeto e o ligando.

– O que vai fazer?

– Gravando em 5, 4, 3, 2...

– Larga isso vai. - Jeferson tirou a câmera da mão dele. - Não é agora.

– O que foi? - Kris estranhou. - Era só uma brincadeira.

– Não é isso, eu preciso ir, tenho um compromisso. - O garoto se levantou, colocando a câmera de volta no pescoço e pegando seu casaco.

– Ainda vamos nos ver de novo? - Kris segurou a mão dele

– Não se preocupe. - Jeferson o beijo no rosto. - A gente ainda vai brincar muito mais tarde.

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Agora

Kris seguia pela floresta segurando a lâmina de uma das flechas lançadas pelo Corvo e ia na frente, Shinji seguia ao seu lado, Anna olhava sempre ao redor procurando por seus outros amigos, cada minuto que se passava era mais um minuto longe de Anna Bella.

Ela também procurava por árvores frutíferas, todo o seu conhecimento sobre sobrevivência na selva, finalmente estava sendo útil. A chuva já tinha cessado quando o grupo chegou em um clareira, dali podia se ver o cume do vulcão, mas ainda era difícil dizer em que direção deveriam seguir. Aves e outros pequenos animais passavam ocasionalmente por eles, Kris avistara um mico e poderia jurar que se tratava de Wendy.

– Será que era para cá que ele queria nos trazer? - Perguntou o oriental. - Não parece ter nada aqui.

– Deveríamos voltar. - Bella disse. - Pode ser uma armadilha.

– Lógico que é uma armadilha. - Continuou Kris. - Aquele cara poderia nos matar ali mesmo. Espero que a Ruth ainda esteja viva, assim demora mais para a minha morte.

Bella olhou desacreditada para ele, Kris tinha esse defeito de não controlar o que falava e sempre conseguia olhares de repulsa como aquele.

– Espera um pouco. - Vivian alertou. - Estão escutando esse barulho?

– Não! Só você mesmo colega. - Kris respondeu.

– Quando foi que eu te dei essa intimidade? Pode ir tirando esse "colega".

– Nossa! Ficou parecendo a Roni agora.

– Você dois podem parar? - Anna os reprendeu. - E a Vivian está certa, parece ser o ruído de um motor.

O barulho se tornou mais audível e os cinco procuraram pela origem do som. Anna olhou para cima e percebeu o que deveria ser um helicóptero pairando em cima do lugar onde estavam.

– Finalmente meus pais perceberam a minha falta e mandaram um helicóptero me buscar. - Vivian sorriu junto com Bella.

– Como sabiam que estávamos aqui? - Kris perguntou.

– Nunca duvide do poder de pessoas ricas querido.

O helicóptero continuava a descer levantando uma cortina de poeira durante o processo. Shinji e Anna Clara se abraçaram e outros exceto Vivian, continuavam a olhar esperançosos para a máquina que descia lentamente.

O grupo já comemorava a liberdade daquele pesadelo, a melancolia azul dera lugar a um brilho que combinava com o brilho da luz do Sol. O helicóptero finalmente pousou e um homem desembarcou, o grupo começou a caminhar em direção ao seu salvador quando repararam em um pequeno detalhe.

A máscara de Lobo que o homem usava.

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O clima dentro da cabana continuava o mesmo, Serena e Clarisse conversavam afastadas sob a audição atenta de Abigail, que cuidava para que o fogo não apagasse. Anna Bella ainda estava nos braços de Nina tentando-se manter distraída até a volta de seus pais enquanto a bióloga conversava e Greg olhava fixamente para as janelas.

– Ele ainda está lá fora? - Nina perguntava sobre o Coelho.

– Não sei, mas aposto que esse peludo deve estar por trás desse sequestro.

– Quando é que iremos para casa? A Sid ficou sozinha com Pussy e Dick lembra?

– Parecem nervosos. - Abigail se aproximou segurando xícaras vazias para eles. - Vão precisar de um pouco de chá para se acalmarem.

– Não senhora, nem sabemos como agradecer por essa hospitalidade. - Clarisse sorriu tímida.

– Irão me agradecer se pararem de me chamar de senhora, meu nome é Abigail.

– Tem mais alguém na casa além da gente? - Nina indagou. - Tivemos a impressão de que havia alguém rondando a cabana.

– Devem ser os vizinhos, eles não me veem receber visitas e ficam preocupados. Só isso.

Nina ficava cada vez mais tensa, nenhum vizinho preocupado estaria usando uma máscara de coelho ou agiria daquela maneira, ficar ali com um de seus possíveis sequestradores era mais aterrorizante do que as bonecas empoeiradas espalhadas pela cabana.

– A chuva já passou, é melhor irmos embora. - Serena tentou passar novamente pela porta que foi bloqueada gentilmente por Abigail.

– Ela tem razão, precisamos encontrar os pais da Anna Bella antes do anoitecer. - Nina também se levantou com Greg que carregava a criança.

Abigail sentiu que o Coelho apenas esperava para iniciar a outra parte do plano e precisava mantê-los ali o máximo que podia.

– Tudo bem, deve ter um mapa aqui em algum lugar e ele os levará para a cidade.

– Ainda bem! - Serena exclamou.

– Vocês devem estar congelando. - A mulher se encaminhou para uma pilha de alguns lençóis puídos.

– Não é necessário. - Nina recusou com um sorriso. - O frio nunca me incomodou mesmo.

– Tem algum telefone por aqui? - Serena perguntou. - Talvez seus vizinhos tenham um.

– A ilha não é como a selva de concreto que estão acostumados. - Abigail pousou sua mãos enrugadas no rosto da ruiva. - Tudo nessa ilha tem um propósito, e isso aconteceu apenas para te mostrar o caminho para ser uma pessoa melhor.

– "Pessoa melhor"? Quer saber? - Serena encarou Abigail bruscamente. - Não vou ficar aqui esperando o nada acontecer. Eu mesma vou procurar o caminho para fora desse fim de mundo.

Serena marchou até a porta, o movimento de seu andar fez com que um papel dobrado caísse de seu bolso, o vento fez o papel chegar ao pés de Nina, que não deu importância.

– É melhor alguém ir atrás antes que ela se perca por aí. - Abigail apontando para Greg.

– Eu vou ver o que ela vai aprontar, qualquer coisa pode me chamar. - Greg foi atrás da ruiva que marchava furiosa sem saber para onde iria.

Abigail apenas concordou e foi até a cozinha enquanto Anna Bella estava ao lado de Clarisse que contava algumas histórias sobre a religião Wicca.

Mesmo cega, Abigail tinha maestria no manejo de facas, ela cortava as folhas em uma velocidade incrível, depois as colocava dentro da chaleira para fazer a infusão e quando a mesma ficou pronta, Abigail colocou um pó escuro sem que os outros percebessem.

Nina foi a única a aceitar a bebida e serviu-se sem notar o acréscimo do ingrediente.

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Ruth sumira depois da perseguição e se separara do grupo de propósito, sacrificando sua segurança para livrar as amigas e a namorada dos mascarados.

A chuva já havia passado, Lena estava em prantos temendo pela vida dela, Mônica estava ao seu lado dizendo palavras de incentivo que parecia não surtir efeito algum, Valentina ia na frente prestando atenção no caminho e Lana na retaguarda procurando por qualquer movimento que pudesse estar atrás delas.

Lana enxergou um pequeno ponto de luz se aproximar e sentiu uma flecha em chamas passar a centímetros do seu rosto, atingindo uma árvore, outra flecha surgiu. Outras flechas rodearam o grupo forçando-o a entrar ainda mais no coração da densa floresta.

– Não podemos parar agora. - Disse Lena. - Temos que continuar procurando a Ruth, ela tem medo de ficar sozinha.

– Eu sei Lena, mas já está escurecendo e ficará ainda mais perigosos com esses animais loucos por aí. - Mônica falou. - Nós encontraremos a Ruth mais cedo ou mais tarde, confia em mim.

A mata fechada não deixava que a luz fraca do sol daquela tarde penetrasse no topo das árvores, pequenas frestas de luz mostravam o caminho que deveriam seguir, o terreno se mostrava cada vez mais íngreme e com buracos escondidos pelas folhagens.

As pernas de Mônica fraquejaram quando ela pisou em um dos buracos, Lena tentou segurá-la, mas Mônica se desequilibrou e rolou por um pequeno barranco, caindo com o rosto na lama pegajosa.

– Eu estou bem, mas acho que tem lama dentro dos meus ouvidos.

Lena, Valentina e Lana foram até ela com mais cuidado e ajudaram a garota a levantar e se limpar da queda não teve maiores consequências.

– Mônica! - Valentina exclamou ao reparar na pele descoberta da garota. - Você fez uma tatuagem?

– Foi logo depois da morte do Edu, todas as noites eu entrava no quarto dele tentando sentir a presença dele, o cheiro do perfume no travesseiro e os prêmios de surf pareciam bastar, mas então eu percebi que queria uma lembrança para toda a vida, além da minha memória.

A garota revelou para as outras a tatuagem de uma rosa dos ventos, a mesma que Eduardo possuía, Lana e Lena pareceram gostar da homenagem, menos Valentina.

– O que foi Val? Não gostou do que eu fiz?

– Tatuagens me fazem lembrar do Maurício. Ele foi mais que um amor de verão para mim. - Valentina respondeu cabisbaixa.

– Ele devia ser muito especial para você, não é mesmo? - Perguntou Lena.

– Mais do que eu pensava, ele veio me encontrar durante o Natal e durante as nossas conversas, eu percebi as nossas semelhanças, ele me contou a história de como havia ganhado sua cicatriz e também de uma coisa que até hoje me deixa muito intrigada.

– Essa família Malinowsky deve ser amaldiçoada. - Lana disse. - Só assim para acontecer tantas tragédias, uma atrás da outra.

– Verdade. - Mônica afirmou. - Eu li na internet que o pai deles era um dos donos do Spa onde o ruivo morreu. Isso fez com que a polícia descobrisse o uso ilegal das camas de bronzeamento e parece que agora vão enfrentar vários processos na justiça.

– Mas o que foi que te disse Val? - Continuou Lena.

– Sobre o primo dele, um garoto chamado Angelo que tinha desaparecido e desde então, ninguém teve mais notícias. Eu estava fazendo o meu trabalho como guia junto com a Eva, e estava levando dois jovens para o hotel, quando no finalzinho da viagem eu reparei de verdade no garoto e ele se batia com as características dadas pelo Maurício.

– Você acha por acaso que os dois eram a mesma pessoa? - Lana perguntou. - O garoto da ilha e o primo do músico?

– Eu desconfiei e até comentei com a Eva sobre isso, depois ela me disse que ele se chamava Angelo e admitiu que era mesmo o primo do Maurício e da Vivian.

– Melhor esquecer eles, precisamos focar na nossa situação agora. Lana tomou a frente da trilha sendo seguida pelas outras.

As garotas voltaram para o caminho que antes que escurecesse o bastante para continuar a ida até a praia, o vilarejo não era a melhor opção mesmo sendo habitado.

– Estão escutando isso? - Valentina se alertou. - Parece ser água corrente.

– Deve ter um rio por aqui, isso significa água fresca e talvez um lugar para passarmos a noite. - Lana disse.

As quatro apressaram os passos e depois de alguns minutos, encontraram um rio que jorrava água cristalina por entre as pedras.

Lena se aproximou do leito do rio e fez uma concha com as mãos dentro da água, tomou o primeiro gole e cuspiu logo em seguida.

– O que foi? - Valentina perguntou.

– Essa água tem um gosto estranho, como se fosse ferro. - E então percebeu que a água daquele rio tinha uma fraca coloração rubra.

– Água vermelha e gosto de ferro. Isso é o que estou pensando? - Lana perguntou para os outros que não souberam responder. - Sangue?

– Ruth! - Lena gritou.

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Greg tentava seguir a jornalista enquanto ela andava procurando por qualquer indício de civilização mesmo sabendo que não era seguro, a terra ainda úmida escondia pedras nas quais ela tropeçava e se enfurecia cada vez mais pensando que talvez o mérito pelo seu trabalho não valesse mais a pena.

– Espera um pouco, Serena Gomez. - Greg gritou já esbaforido de tanto andar.

– Vê se aprende que meu sobrenome é Rabelo e não Gomez! - Ela gritava. - R-A-B-E-L-O!

– Deixa de estresse ruivinha, só quero ajudar. - A voz dele era áspera mesmo quando não tentava ser.

– Me ajudaria se ficasse longe de mim. - Ela não atenção e continuou andando pela floresta escura.

– Não vê que essa sua atitude só piora as coisas? Estamos tentando sobreviver aqui e não precisamos de alguém para atrapalhar.

Serena virou-se de volta para Greg, não por ter escutado as palavras dele e sim por ter se assustado com a sombra de uma pessoa com manto preto que andava na direção deles. O youtuber percebeu uma pessoa com a máscara de um porco recuando o braço e suspendendo a marreta que carregava como se estivesse o chamando para a luta.

Greg colocou Serena de lado com calma, enquanto a jornalista tentava manter-se escondida.

– Você quer brigar? - Greg avançou para o Porco. - Então vamos brigar!

O Porco lançou um "óinc" e avançou com a marreta, Greg foi mais rápido e desviou do primeiro golpe, seja lá quem fosse, sabia lutar e não tinha medo de machucá-lo. Greg conseguiu tirar a arma dele e passou a atacá-lo com socos pelo corpo, o Porco caiu no meio da grama e lançou um chute bem forte na barriga de Greg que recuou um pouco.

O mascarado continuou investindo com chutes e pontapés, Greg alcançou a marreta do Porco e arremessou na direção do rosto dele deslocando a máscara, por um segundo ele enxergou o rosto da pessoa ali, o Porco rosnou com raiva e colocou a máscara no lugar.

Greg se levantou pronto para investir de novo, mas o Porco não respondeu, apenas se afastou ignorando sua marreta e deu as costas.

– O que foi? Desistiu antes de virar presunto?

Parecia mesmo que se oponente abdicara do combate, Greg ficou sem entender e deixou que se afastasse, ele então voltou sua atenção para Serena como se dissesse que agora estava tudo bem.

– É uma armadilha! - A ruiva gritou detrás dos arbustos.

O Porco surgiu atrás dele com uma seringa e a perfurou no braço de Greg antes que ele pudesse reagir, aos poucos o tatuado notava seus sentidos irem embora, o mascarado continuava olhando sem expressão para ele e esperou que Greg se rendesse ao efeito do sedativo.

Serena escondeu-se de novo, temendo que ela fosse a próxima, aquela já era matéria o suficiente para poder contar sua história ao mundo, ela observou a cena entre as folhagens de um arbusto e o corpo de Greg sendo arrastado com dificuldade para a direção oposta.

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Lena olhou para o céu que permanecia em nuvens escuras, a terra morta sob seus pés e o barulho das folhas arrastando-se sôfregas entre os troncos deixavam ainda mais óbvio o medo que sentia.

A água do rio estava completamente vermelha e se tornava mais espessa na medida que se aproximavam, o coração de Lena gritava que Ruth estava morta, que mais um nome foi riscado sem pena da lista.

Every night in my dreams I see you, I feel you

That is how I know you go on

Ela lutava para não chorar, os ruídos da selva reforçavam seus medos, não era o melhor lugar do mundo, mas era onde a sua alma gêmea estava e ela iria até o fim. Mônica estava com medo de se aproximar mais, o vazio espiritual pela perda de seu irmão continuava, ela olhava para Lena que agora chorava de antemão.

"Far across the distance

And spaces between us

You have come to show you, go on"

Lana que sempre se mostrou potente, agora estava fragilizada, imaginando o que faria se o mesmo acontecesse com Greg, manter esse pensamento distante de sua mente só reforçava o desejo de encontrá-lo. Com vida pelo menos.

"Once more, you open the door

And you're here im my heart

And my heart will go on and on"

As quatro garotas visualizaram uma massa boiando perto de um paredão de pedra, dali poderia se sentir o cheiro de ferrugem do sangue. Lena apressou-se ainda mais, correndo cega por lágrimas e dor, as outras a seguiram e escutaram o grito de pavor da loira.

Lena tirou puxou o corpo o corpo de Ruth para a margem, ela estava quase azul pela perda de sangue e um profundo rasgo fora feito em sua testa. Um dos olhos da garota estava afundado dentro do rosto inchado e havia várias escoriações pelo corpo dela.

"You're here, there's nothing I fear

And I know that my heart will go on"

Era impossível para Lena ter a confirmação de que não poderia ter mais aquele corpo quente ao seu lado, lembrando da garota que queimou o jantar de natal e que caiu dentro da piscina do navio e em cima da mesma ruiva várias vezes.

Ruth morreu sabendo do amor de Lena por ela e isso bastava para morrer feliz.

"We'll stay forever this way

You are safe in my heart

And my heart will go on and on."

Valentina, Lana e Mônica choravam em silêncio, cada uma sentindo um pedaço delas sendo arrancado durante os gritos de Lena. Ninguém tinha coragem de se aproximar para prestar qualquer ajuda e no fundo, acharam que seria melhor assim.

Aquela era uma dor que sentiriam para toda a vida.

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O sonífero colocado no chá de Nina fizera efeito e a bióloga caiu no sono, Clarisse estava distraída demais zelando pela ansiedade de Anna Bella. A garotinha pensava a todo o momento em seus pais, ela nunca ficara tanto tempo longe dos dois ao mesmo tempo.

Abigail estava envolta em um manto com tons que variavam de cinza e preto, a mulher andava pela sala arrumando ou limpando alguma coisa, mantendo sua mente distraída dos sussurros que vinham de todos os lados, encorajando-a para dar continuidade da profecia.

Ela aproveitou o momento para verificar sua caixa de madeira, a senhora da ilha separou a boneca com o símbolo do pentagrama de todos os outros, depois conferiu as madeixas vermelhas que foram arrancadas de uma boneca e a deixou de lado, em seguida o menor boneco de todos onde ela arriscou um sorriso vazio ao pegá-lo. A próxima representação, uma boneca de cabelos compridos e escuros que foi atirada pela janela, fazendo com que ele caísse dentro de uma poça feita pela chuva.

Ainda havia outros que esperavam, ela retirou com cuidado a cobra em cima da representação do Curandeiro e alisou a face do fantoche por alguns segundos, Abigail virou-se para conferir se Clarisse não estava observando e então destroçou o boneco com as próprias mãos.

Em seguida, reuniu o que sobrara e os colocou perto da cobra, de volta na caixa.

– O verdadeiro significado de descanse em pedaços.

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O Lobo caminhou até eles com uma faca dentada na mão direita, enquanto o helicóptero levantava voo.

Shinji e Kris se puseram na frente das mulheres que davam passos para trás. Anna sussurrou disfarçadamente para Bella e Vivian o que combinou com Shinji caso algo como aquilo acontecesse, as duas assentiram dizendo que estavam de acordo.

– Agora! - Anna gritou.

Shinji e Kris avançaram para cima do Lobo, que impôs sua arma pronto para atacar. Nisso, Bella e Vivian correram para um lado e Anna para o outro. Mas o Lobo não esperava que Shinji e Kris também se separassem e fossem para lados opostos.

Agora todos os seus alvos corriam para quatro direções diferentes, uma estratégia que Shinji sabia que daria certo, assim o mascarado iria atrás apenas de um, enquanto os outros escapavam. O Lobo apesar de frustrado, também era esperto e foi atrás de Anna Clara.

– Fica longe da minha mulher! - Shinji desviou sua rota, passando a correr atrás do Lobo que tentava alcançar Anna Clara, o mascarado voltou-se para Shinji e os dois entraram numa luta corporal.

Shinji foi derrubado facilmente, o homem atrás da máscara era maior que ele e não teve dificuldade para fazer isso, ele então observou Shinji tentar se recuperar, tinha um pouco de sangue escorrendo do rosto dele, mas nada de grave.

– Ainda não acabou. - Disse o mascarado antes de começar a se afastar. - Esse é só o começo.

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Lana, Mônica e Lena estavam em volta da fogueira improvisada por Valentina que mantinha o olhar vidrado no fogo. O corpo de Ruth foi enterrado provisoriamente ali na margem do rio, as garotas cavaram a cova com as próprias mãos e não se importaram. Ruth merecia ter um pouco de dignidade.

Lena ainda podia enxergar o rosto de sua namorada como ele era antes, o rubor nas bochechas dela, olhos azuis que brilhavam a todo momento, os dentes sempre perfeitos e contraste com a boca rosa e macia.

– O que vai acontecer com a gente agora? - Perguntou Lena.

– Creio que o Kris seja o próximo agora. - Lana respondeu. - Mas pode ser perigoso para todos, mesmo eu, a Mônica e a Lena que não estamos na lista.

– Como aconteceu com o namorado da Andreia, ele também estava na lista. - Mônica disse. - E tem também o namorado da Nina, que ninguém sabe onde foi parar.

– Está sendo igual ao que o livro dizia. - Lena falou atraindo a atenção das outras. - Lista de sacrifícios, civilizações desaparecidas e almas condenadas. Só não consigo entender os tais Cavaleiros. Val, você falou dos Cavaleiros do Sacrifício dentro da casa abandonada, mas ainda não explicou o que eles são.

– Nem toda a História do mundo é aprendida na escola. - Valentina disse percebendo todos os olhares. - Anos atrás, eu conheci uma médium chamada Billie Dean, e ela me explicou o que sabia, os Cavaleiros são os servos dos espíritos dessa ilha, que por alguma razão, mataram todos os habitantes, esses espíritos tiveram seus amuletos roubados e então foram destruídos. Os Cavaleiros são moldados em categorias e escolhidos por eles para realizar seus desejos aqui na Terra.

– Da mesma forma que Greg, Nina e outros? - Lana fez a pergunta.

– Acho que sim, esses servos passaram por muitas coisas e cada ação deles resulta em sua categoria final.

– Existem mais pedaços de quebra-cabeças em cada centímetro dessa ilha, como nas ruínas que é uma prova disso. A Ruth tirou várias fotos naquele dia, mas não conseguimos decifrar todas as figuras e textos em latim. - Lena falou.

– E voltaram para terminar o que começaram. - Mônica disse. - Esses servos são pessoas de carne e osso, pessoas que tem um forte motivo para fazerem isso. Mas quem seriam?

– Não sei, mas ninguém mexe com Lana Flowers e sai impune disso. - Lana se levantou. - Fugir não adianta mais.

– O que pretende fazer? - Valentina se levantou também.

– O corpo da Ruth deve ter vindo daquela pedreira que é bastante alta, eu vou até lá e ver se consigo descobrir o caminho até a praia.

A garota de cabelos azuis não escutou e começou a escalar as primeiras pedras, a subida não parecia ser difícil e a inclinação era favorável. Lena, Mônica e Valentina observaram-na se elevar no paredão rochoso.

Lana logo conseguiu chegar ao topo onde tinha uma vista incrível do pôr-do-sol, ela conseguiu visualizar o vilarejo de onde vieram e também um pouco do vulcão escondido pelas nuvens.

– Consegue ver a praia? - Valentina gritou.

Lana se alegrou ao ver o pedaço de mar mais a frente. Ela tentou dizer o caminho, mas uma sombra puxou-a e as três garotas a viram ser levada por um mascarado.

– Nossa diversão começa agora. - Uma voz falou.

O Urso tapou a boca de Lana antes que ela gritasse e a fez dormir depois de injetar uma seringa em seu braço.

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Anna Clara parou de correr, sabia que o plano do marido foi um sucesso, a aeromoça sorriu e tentou normalizar a respiração aliviada, precisava agora encontrar Bella e Vivian na mata fechada. Não demorou para perceber duas sombras mais adiante, quanto mais ela se aproximava, as sombras iam se revelando como sendo um homem e uma mulher.

Estavam restaurados em seus melhores momentos. Aqueles que ela não conseguira salvar, mas Maurício e Andreia estavam felizes em vê-la.

– Lembra-se de mim Anna? - Perguntou o ruivo.

– É meio impossível esquecer, depois de tudo o que aconteceu. - Anna Clara não estava mais alheia, ela já tinha visto muitas coisas estranhas nos últimos meses e aqueles dois fantasmas só faziam parte do pacote.

– E antes de qualquer coisa. - Andreia se pronunciou. - Quero deixar claro que não tive nada a ver com a sua queimadura.

– Eu disse que não ia embora daqui tão cedo.

– Às vezes, o mundo dos vivos se mistura com o mundo dos mortos. - Andreia falou. - Somos partes de você Anna, só você pode nos ver.

– A Ruth já se foi pela manhã e mais um será levado à noite.

– O Kris! Eu estava com ele agora mesmo. O mundo está caindo ao meu redor e eu estou queimando por não conseguir fazer nada para impedir.

– Você ainda tem uma chance, encontre o lugar onde os sacrifícios serão feitos. O coração da ilha.

– E onde fica isso? Preciso chegar lá o mais rápido possível.

– Você terá ajuda em particular, pode não parecer, mas ele irá te ajudar a chegar até o coração da ilha. - Maurício começou a se afastar junto com Andreia. - Não podemos mais ficar nesse plano astral.

Antes que Anna Clara pudesse pedir mais informações, Maurício e Andreia sumiram em luz vermelha. A claridade a desorientou por um momento, mas agora ela precisava descobrir onde ficava o coração da floresta.

A comissária continuou andando para o ponto de encontro onde havia marcado com os outros, algumas árvores e flores eram fáceis de serem identificadas e isso serviria como auxílio, seu coração continuava aflito, mas seu cérebro tentava passar a imagem que tudo daria certo.

Ela se aproximava do local e viu duas cabeleiras de longe, uma ruiva e uma loira. Anna correu até elas e percebeu que as duas estavam caídas no chão com finas flechas em seus pescoços. Havia outra pessoa ali além delas, O Coelho caminhava ao redor com um grande facão em mãos, parecia esperar por algo.

Anna se escondeu atrás de uma árvore antes que ele a visse, o mascarado analisou as garotas e pegou Vivian colocando-a nos ombros e seguiu deixando Bella para trás. O Coelho já estava distante quando a comissária se aproximou da loira. A flecha no pescoço de Bella não era uma flecha e sim uma espécie de dardo tranquilizante.

Kris e Shinji a encontraram depois. Anna se apiedou do marido ao ver o ferimento, quando eles perguntaram o que aconteceu, ela explicou dizendo que haviam levado Vivian.

Mais uma pessoa para se preocuparem.

– Você não vai passar por tudo isso sozinha. - Shinji abraçou a esposa que continuava nervosa. - Eu vou cuidar de você até o final e vamos encontrar a saída desse jogo.

=-=-=-=-=

Bella acordou de volta no mercadinho, por mais que gostasse daquele lugar, foi onde perdeu Thomas. O único inocente daquele pesadelo.

Tudo continuava igual desde a última vez, o mesmo balcão e a prateleiras, o mesmo Gabriel que olhava para ela com cara de bobo e o mesmo Maurício que nunca em vida entrara ali.

– Eu sinto tanto a sua falta Biel. - Ela sorriu com os olhos cheios de lágrimas. - De vocês dois na verdade.

–Eu também. - Gabriel disse. - O tempo que passamos juntos foi muito curto, mas foram os melhores meses da minha vida.

– Você sempre soube que isso iria acontecer, não é mesmo? - Bella perguntou para o ruivo.

– Suspeitei desde o princípio, eu sabia que minha hora iria chegar e por isso aceitei ir naquele Spa. E Você se mostrou uma pessoa muito forte Bella, a Lady Death vai ter bastante trabalho antes de tentar te levar.

– Eu queria tanto que fosse diferente.

– Esse é o nosso destino Bella, o problema é ter que lidar com ele. Mas não fique triste, estaremos com você quando chegar a hora.

– Eu, você e Maurício somos a Trindade Profana lembra? - Gabriel pegou a mão da loira.

– Não começamos nossa amizade juntos, mas ficaremos unidos para sempre. - Maurício fez o mesmo.

– Para sempre! - Ela abraçou os dois, emocionada.

– Nós precisamos ir agora. - Gabriel disse.

– Espera Biel! - Bella se aproximou e segurou o rosto do garoto, culminando em um beijo de alguns segundos. Os lábios de Gabriel estavam ansiosos, mas não se descontrolaram, era uma mistura de emoções harmoniosas que eles sentiram pela primeira vez.

– Você não sabe o quanto esperei por esse momento. - Ele sorriu.

Gabriel e Maurício começaram a se afastar, tristes por ter que deixá-las, mas sabiam que tinha trabalho a fazer.

– Para onde vão agora? - Ela perguntou antes que eles sumirem na luz vermelha que os esperava fora do mercadinho.

– Agora nós vamos buscar o Kris. - Os rapazes disseram ao mesmo tempo.

=-=-=-=-=

Bella já havia acordado de seu devaneio e ela seguia o rastro deixado pelo Coelho junto com Anna Clara, Shinji e Kris. Vendo o tempo se arrastar e a insegurança crescendo e lançando cada um de seus integrantes sob a luz fria do juízo final.

O ser mascarado continuava andando carregando o corpo inerte de Vivian, ele sabia que estava sendo seguido e isso fazia parte do plano.

Anna Clara sentia que estava cansada, a dor de cabeça piorava e seu corpo pedia por descanso, mas ela não conseguiria dormir e nem queria. Tinha medo dos sonhos que tanto a perturbavam. Eram reais, eram mensagens, seu subconsciente apontava para o óbvio, apontava para sua missão.

– Agora é a minha vez, não é? - Kris perguntou desolado para a visionária. - Tudo indica que a Ruth já deve estar morta.

– É verdade. - Anna não conseguiu responder e Bella fez isso por ela. - Isso parece um romance suicida, todos nós procuramos nossa morte sem querer e nossas ações só confirmam isso.

– É por isso que todos precisam ter ainda mais cautela. - Shinji disse.

– Era isso o que o Maurício tentou fazer, nos alertar de tudo o que está acontecendo antes que fosse tarde demais. Só que não adiantou.

– Bella, você se lembra quando eu te expliquei tudo o que estava acontecendo? - Anna Clara saiu do silêncio.

– Sim. Você, o Gabriel e a Ruth foram até a casa da Vivian. Eu não conseguia entender o que estavam falando sobre dizer que o Maurício não foi morto em um acidente e sim pela própria Morte e que aquilo o que aconteceu no frigorifico foi premeditado.

– Ainda não sabíamos como tudo funciona e talvez nunca desvendaremos todos os segredos, mas sim. Tudo aquilo que o Gabriel me contou não parecia ser real, mas eu não teria feito nada sem ele e a carta de Maurício. - A voz dela era tranquilizadora. - Acha mesmo que seus amigos iriam desistir?

– Não, mas eu não consigo ser como eles. Todos nós já estamos mortos, essa ilha é só o purgatório para decidir quem vai para o céu ou o inferno.

– Não fala assim Bella, por favor. - Shinji pousou sua mão no ombro dela. - Eu lembro da Vivian. Quando ela entrou no barco, fazendo o possível para que ninguém visse o rosto, não a conheço e também não sei nada da sua vida, mas ela sempre se mostrou forte mesmo destruída por dentro pela perda do irmão.

– O Maurício não pensava no antes ou depois dos seus atos, ele vivia o momento para logo mais se preocupar com as consequências, já a Vivian premeditava tudo o que fazia, calculava suas ações para se sair bem no final, só que não deu certo dessa vez e agora ela corre mais perigo ainda.

– É por isso que precisamos continuar seguindo em frente. - Anna continuou. - Ela é a sua melhor amiga e faremos o que for para salvá-la.

– Espera um pouco pessoal. - Kris chamou atenção de todos. - Parece que descobrimos o coração da ilha.

O Coelho parou de frente para uma caverna onde o Ovelha esperava por ele, o grupo se aproximou com cuidado, observando e escutando com atenção o que se passava. Era possível notar várias inscrições desenhadas ao redor da entrada da caverna.

– Agora eu me lembro que a Ruth mostrou várias fotos no celular de inscrições na parede das ruínas. - Anna disse. - Parecem ser as mesmas.

– E essa inscrições estão interligadas de algum jeito com as ruínas, são como hieróglifos, mas esses são diferentes. - Kris completou.

Outros dois mascarados surgiram, cada um carregando mais uma pessoa desacordada.

O Urso carregava Lana, o Porco puxava Greg pelos pés e o Coelho continuava com Vivian. Os dois primeiros mascarados depositaram suas pessoas na porta da caverna, o Coelho fez o mesmo simplesmente largando a ruiva que se estatelou no chão.

O Ovelha não gostou e partiu para cima do peludo apontando o seu machado para o pescoço dele.

– Se fizer isso com ela de novo, eu mesmo mato você!

Anna Clara, Shinji e Kris tentavam entender o que os mascarados queriam sequestrando os três, já Bella ficou se perguntando o motivo do Ovelha tratar Vivian daquele jeito em especial.

– Eu vou até lá! - Kris se levantou.

– Ficou louco? - Anna o puxou de volta.

– Temos que tirá-los antes que façam alguma coisa com eles.

Kris tentou se levantar de novo, mas sentiu uma lâmina atingir sua perna, o grupo se assustou ao ver o Lobo atrás dele, o mascarado puxou Bella para ele e manteve sua faca no rosto da loira.

– Eu disse que era só o começo.

O Urso e o Porco apareceram e seguraram Anna Clara e Shinji que se debatiam, Kris estava rodeado por mascarados sem saber o que fazer. O Ovelha se aproximou dele, enquanto os outros se afastavam.

Foi só uma questão de segundos antes de o veterinário ser atingido com força na cabeça.

=-=-=-=-=

A cabeça de Kris doía, girava e sua visão estava turva, a última coisa que lembrava era ter visto um homem com máscara de ovelha tê-lo acertado na cabeça, depois fora arrastado ainda sob o efeito do impacto.

E agora estava deitado em uma espécie de altar de pedra, dentro de uma caverna, preso pelo pescoço em uma espécie de coleira feita com ervas venenosas e correntes de metal, que prendiam seus braços e pernas. Não havia como se libertar.

Era possível ver a luz de prata da lua pela abertura no teto da caverna. O lugar era um pouco escuro, mas deu para que o veterinário visualizasse 14 estátuas segurando velas que iluminavam o lugar, 8 delas já apagadas.

Cada uma das estátuas tinha um símbolo em baixo de seus pescoços de pedra. Como se fossem amuletos formados por pedras preciosas, porém, nenhum deles tinha a pedra.

O pânico o dominava, ele não conseguia responder, só encarava seu destino com temor nos olhos. Não havia sinais dos outros, ele olhou para o lado e viu Vivian engatinhando pelo chão, sem saber para onde ir ou o que fazer.

Ele pensou em gritar por ela, mas não adiantaria.

O coração do veterinário parou de susto ao ver uma pessoa com máscara de ovelha, surgir das sombras com um machado e caminhar até ele.

– Oi Kris! Surpreso em me ver?

– Onde estou? - Ele perguntou com raiva. - O que vai fazer com a gente?

– É aqui onde realizamos os sacrifícios da ilha. - Falou com a voz abafada pela máscara sorridente. - E você será o sacrifício de hoje.

O mascarado se aproximou ainda mais e deslizou a lâmina do machado pelo peitoral nu do veterinário.

– Kris! - Vivian gritou ainda desorientada.

– Ela não tem nada a ver com isso, deixe-a em paz!

– Sei disso, eu nunca machucaria uma pessoa que amo.

– Conheço essa voz. - Vivian disse. - Mas não pode ser verdade.

– Vocês se conhecem? - Kris estava incrédulo. - Será que dá para acabar logo com esse drama e mostrar quem é você? - O Ovelha ignorou Kris e se aproximou de Vivian e pegou com cuidado as mãos dela.

– Não fique com medo Vivi. - Sussurrou no ouvido dela. - Vou ajudar você a sair daqui.

– Eu não acredito que é mesmo você! - Ela o abraçou chorando.

– Senti tanto a sua falta, falta do Maurício e até mesmo da Bella.

O Ovelha estava de costas para Kris quando tirou a máscara, Vivian acariciou a pele do rosto dele tendo a confirmação de quem era. O veterinário só conseguiu ver o cabelo castanho dele.

– Não machuque o Kris por favor, ele não merece.

– Sim, ele merece, vim atrás dele nessa ilha só para encontrá-lo e ter minha vingança. E que mal faz ajudar a Lady Death e cumprir minha vingança de uma vez só?

– Vingança? Do que está falando? - Kris continuava confuso e acorrentado no altar.

– O que é tão difícil de entender Kris? Foi muito fácil pintar meu cabelo e falsificar a minha identidade. Aliás, mal posso esperar para tirar essa tinta castanha e voltar para meu ruivo natural.

A pessoa por trás da máscara de Ovelha se revelou para Kris causando um espanto para ele.

– Jeferson!? - Kris quase teve uma síncope ao ver o rosto do seu quase novo relacionamento.

– Eu mesmo, mas pode me chamar de Angelo ou simplesmente como aquele que você atropelou no verão passado.

=-=-=-=-=

Nina acordou no meio de um cemitério, a loira estava deitada com o corpo doído por estar deitada em cima de uma lápide, não havia viva alma por ali além dela. Neblina e folhas mortas preenchiam o lugar. Nina não sabia o que fazer e passou a procurar por uma saída, mas para todo lado que ía, ela acabava voltando para onde começou.

Um brilho roxo começou a sair de seu bolso, ela lembrou-se da ametista e a pegou. A pedra estava diferente e figuras desconexas tentavam formar algo em sua superfície, Nina percebeu que se tratava de uma bússola que apontava para algum lugar, ela então seguiu as instruções da pedra até chegar em outro túmulo. O túmulo de Vanessa.

"Love will come and love will go

But you can make it on your own

Sing that song, go, oh won't you leave me now

Tinha várias flores mortas em volta da foto da ruiva, mas o semblante dela continuava o mesmo. Vanessa foi retirada de sua vida de uma forma brutal, assim como seus pais e idem com seus amigos. Nina não sabia se era amor de verdade o que sentia por Vanessa, mas era um sentimento forte demais para ser ignorado. Uma paixão a primeira vista intensa o bastante para lembrar-se para sempre.

Vanessa não estava mais presente em sua vida como uma mecha ruiva no cabelo, e sim dentro de seu coração e mente, como uma lutadora que deixou sua marca no mundo.

People grow, and fall apart

But you can mend your broken heart

Take it back, oh won't you leave me now

Os pensamentos sobre a ruiva foram deixados de lado, quando a loira escutou ruídos abafados vindos do túmulo. Pessoas gritavam por ajuda. Nina então tentou mover a enorme pedra de mármore que recobria a lápide, ela não era forte o suficiente, mas se esforçou ao máximo para saber o que tinha ali dentro.

Oh Nina, you should go Nina

'Cause I ain't never coming home

In a road, won't you leave me now

Quando conseguiu, viu que se tratava de um profundo buraco, onde havia três pessoas amarradas ali dentro e reconheceu-os como sendo Greg, Lana e Vivian.

O trio tentava se libertar e gritar, mas nenhuma palavra saía de suas bocas, o coração de Nina apertou-se ao ver os seus amigos naquele sofrimento. Ela queria tirá-los de lá, mas o buraco era muito profundo. Os ocupantes do buraco pararam de repente, ficaram com os olhos vidrados na loira e abriram suas bocas novamente e o que veio a seguir foi ainda mais assustador.

And I've been living on the road Nina

And then again you should know Nina

'Cause that's you and me

Both in a road, won't you leave now."

Uma nuvem de vespas saía de seus corpos e subiam velozes até a loira, a bióloga tentou fechar a tampa da lápide, mas os insetos a alcançaram e cobriram seu corpo. O debater de Nina só servia para enfurecer ainda mais as vespas que começavam a ferroar seu rosto. Ela caiu no chão desesperada, enquanto sentiu um par de mãos a segurando.

Nina abriu os olhos e se deparou de volta na cabana, com Abigail "olhando" para ela.

– Calma querida, foi só um pesadelo. - Abigail disse.

Nina levantou desorientada ainda sobre o efeito do sonífero, ela caiu no chão e se deparou com um papel na sua frente, ela o pegou e o desdobrou curiosa.

Era a foto dos sobreviventes no barco, com os rostos dos que estavam mortos marcados por canetinha. Foi então que ela se perguntou o motivo de Serena ter uma foto como aquelas. Uma coisa era investigar as consequências do acidente e outra era saber sobre a lista da Morte e afins, faria sentido se a foto fosse de Clarisse por ela ser uma sobrevivente também, mas não Serena.

Para piorar, Greg havia lhe dito que Clarisse estava atrás de Andreia e do namorado no barco, mas a posição que o casal estava mostraria se tivesse alguém atrás, não havia um único vulto sequer, era apenas o encouraçado do barco e o céu atrás deles.

Não houve mais tempo para deduzir, a porta se abriu revelando Serena que tremia de medo.

– Levaram o Greg!

– Como assim? - Nina ergueu-se escondendo a foto, enquanto a jornalista tentava se acalmar.

– Apareceu um homem vestido de porco, os dois lutaram e o Greg acabou sendo levado. Depois eu fiquei andando como uma louca a noite toda até encontrar o caminho de volta.

– Eu vou atrás dele.

– Não é seguro sair agora. - Advertiu Abigail.

– Mas nós iremos mesmo assim, não vou deixar meu amigo perdido por aí e a algo me diz que ele não foi o único.

– "Nós"? - Perguntou a ruiva.

– Você vem comigo Serena. - Disse puxando-a pelo braço. - E Clarisse, por favor continue com a Anna Bella e não deixe que ela saia até eu voltar.

Nina pegou um pedaço de madeira em chamas que iria servir de tocha para iluminar a escuridão antes o sol fizesse a vontade de aparecer.

Nina e Serena saíram sob o protesto da jornalista, Clarisse voltou-se para Anna Bella que mantinha se alheia com as histórias contadas, Abigail sentou-se no sofá onde Nina dormira anteriormente pensando no término com sucesso daquela de muitas fases.

=-=-=-=-=

As correntes que prendiam Kris eram fortes demais, a coleira de ervas venenosas em seu pescoço dificultava sua respiração, o homem por trás do Ovelha era o mesmo que Kris atropelara no verão passado, estava muito escuro naquele dia e nenhum dos dois veterinários prestaram atenção nas feições físicas dele.

– Foi um acidente, eu nunca tive a intenção de matar você. - Kris chorava ao lembrar da cena.

– Eu mesmo vou te matar Kris, assim como você me matou. - Disse Jeferson que na verdade se chamava Angelo.

– Você está vivo! É isso o que importa.

– Mas me deixou morrer e foi embora uma garota, uma mulher loira me salvou achando que eu fosse um amigo dela, fui levado para o hospital e lógico que a polícia tinha sido chamada e durante uma semana inteira, não tiveram uma única pista dos responsáveis e tudo teria ido abaixo se eu não descobrisse uma matéria antiga de uma garota vencedora de um concurso de beleza, a mesma garota que eu vi antes de ser atingido.

– Roni! - O coração de Kris ficou apertado.

– Essa aí, a vez dela vai chegar, mas vamos nos concentrar em você primeiro. - Disse levantando o machado. - Você e a Verônica se deixaram levar pelo medo ao invés de buscarem ajuda.

– Eu te peço mais uma vez Angelo. Não o mate! - Vivian implorava.

– Não vê que vai estragar o monólogo que eu passei um tempão ensaiando? - Angelo fez um sinal e o Corvo apareceu tirando Vivian daquela parte da caverna.

– O que eu faço com o casal?

– Ainda não é a vez deles, cuide para que minha prima saia daqui com segurança.

Vivian esperneava, enquanto o Corvo puxava ela e assobiava o refrão de "Hells Bells", a última música que Kris ouviu antes da morte do Wendel.

– Eu nunca confiei inteiramente nas pessoas, nem mesmo na Roni, mas com você foi diferente Jeferson. Achei que poderíamos ficar juntos.

– Para de me chamar de Jeferson, por favor. Meu nome é Angelo Malinowsky ou só Angel.

– Eu sinto tanto pelo o que aconteceu! - Ele continuava chorando.

– Não é o momento para lamentações Kris. - Angelo falava com calma. - Eu fiquei devastado quando soube o que houve com meus primos, procurei uma ajuda e fui atendido. A Ilha se sensibilizou e me ofereceu essa oportunidade.

– O que vai fazer agora?

– A lua está no seu auge e a o sacrifício do Curandeiro precisa ser realizado.

Angelo conferiu para ver se as correntes estavam bem presas, Kris fechou os olhos quando viu o machado sendo erguido e logo depois, sentiu a lâmina atravessar sua pele. Ele gritou e olhou para a sua mão esquerda onde dois dedos foram decepados.

"Look at me, my depht perception must be off again

Cause this hurts deeper than I thought it did

It has not healed with time

It just shot down my spine

O próximo golpe levou o resto da mão, o sangue fervente do veterinário espirrava para fora com velocidade, Kris continuava olhando para seu belo assassino que não expressava emoção. Várias machadadas foram necessárias para partir o osso do braço que foi jogado para fora do altar.

You look so beautiful tonight

Remind me how you laid us down

And gently smiled before you destroyed my life

O sangue quente e fresco deixava o corpo e penetrava pelas fissuras do chão da caverna. O coração de Kris estava tomado pela adrenalina que tentava suportar a dor, ele arfava e se contorcia a cada toque da lâmina, vários golpes superficiais foram feitos em suas pernas. O pé esquerdo foi quebrado e quase se desprendeu da perna, ficando preso apenas por um fino pedaço de pele.

Would you find it in your heart

To make this go away

And let me rest in pieces

(let me rest in pieces)

O braço direito foi o próximo, as lágrimas de Kris se misturavam com o sangue escuro que o banhava, Angelo também estava respingado pelo sangue do veterinário, ele só conseguia pensar no arrependimento que Kris deveria estar sentindo e se perguntando o também teria arrependimento.

Would you find it in your heart

To make this go away

And let me rest in pieces."

O coração do garoto parava de pulsar aos poucos, suas forças vitais iam embora e ele sentiu que seu destino final tinha chegado, ele pensou em Verônica antes de se entregar para os braços do Anjo da Morte.

Bastaram só mais algumas machadadas para a cabeça de Kris se separar do resto do corpo e o sacrifício estar completo.

=-=-=-=-=

Verônica estava na clínica veterinária cuidando de Caio, o papagaio destruidor de pastas, aquele era um dia normal de trabalho mesmo sem a presença de Kris, Jeferson e o outro funcionário. Ela não sabia mais como agir sem a companhia dele.

As únicas ligações que recebera foi de Jaqueline, a prima do Kris que também devia estar preocupada. Verônica estava aflita por notícias, sua memória a torturava fazendo-se lembrar da última vez que o viu.

=-=-=-=-=

Antes

Verônica e Kris compraram aquela clínica veterinária desativada, com a ajuda dos pais de Jaqueline, a reformaram e viraram sócios. Com passar dos anos, a amizade dos dois se mostrou intensa ao extremo, ambos tinham personalidade fortes.

O que Kris nunca entendeu, era a indiferença de Verônica quando ele encontrava um namorado, primeiro com Vinícius, depois Wendel e agora Jeferson. E isso sempre foi o ponto alto da maioria das discussões.

Daquela discussão em especial.

Kris havia recebido uma ligação de um número desconhecido dentro do seu escritório na clínica, era Greg pedindo que os dois se encontrassem em um bar para que conversassem sobre a lista.

Verônica continuava o ignorando. - Kris ainda não queria contar para Verônica sobre tudo o que estava acontecendo, ele sentia que ela não estava na lista e era melhor continuar assim do que atormentá-la com um terror desnecessário.

– Vamos ficar nessa briga até quando?

– Estou ocupada, pode me perturbar depois?

– Já chega Roni! - Ele cerrou os punhos. - Isso já está ficando cansativo.

– O que você quer que eu diga? - Ela o encarava. - Que está tudo bem depois do que você me fez?

– Foi só uma tapa.

– "Só uma tapa." - Ironizou. - Você jogou fora tudo aquilo que passamos juntos no lixo, depois daquela tapa.

– Você é sabe que eu não me controlo quando fala do meu abandono no orfanato e sabe muito bem que é a pessoa mais importante para mim, mas não vou ficar aqui mendigando o seu perdão por isso.

– Não posso te perdoar Kris, pois não há nada para perdoar. O problema não é você, sou eu.

– Agora fiquei sem entender. - O rosto confuso dele indicava isso. - Dá para falar logo o que é?

– Será que você nunca percebeu os meus sentimentos por você? Nós nos conhecemos há muito tempo e eu sempre gostei de você. Não como um amigo, e sim bem mais do que isso.

– Não consigo acreditar que você esteja mesmo dizendo isso. - Ele riu por um minuto. - Nós dois sabemos que o único jeito de ficarmos como um casal, seria se você tivesse uma coisa pendurada entre as pernas. Uma coisa bem comprida de preferência.

– Sei muito bem, eu sempre sofri por dentro todos esses anos por saber disso. Tudo o que eu sou para você é uma colega. Uma simples colega de trabalho.

– O que esperava Roni? Eu nasci gay e sempre vou ser gay.

– Como sabe que não gosta de meninas, se nunca tentou?

– É a minha verdade!

– Nunca me importei com isso, mas eu me sentia destruída quando você sempre se entregava ao primeiro par de calças que aparecia e esfregava isso no meu rosto.

Ela chorava de um jeito que Kris nunca vira antes, Verônica sempre foi apaixonado pelo seu melhor amigo e sentia-se humilhada quando ele a tratava apenas como uma colega.

– Se você tivesse sido franca desde o início, eu teria tentando me preocupar com meus atos antes de ferir seus sentimentos.

– Foi o meu maior erro, maior ainda do que aconteceu depois da minha coroação como Miss.

– Espero que não esteja pensando em contar o que aconteceu naquela noite para polícia.

– E se eu estiver? Vai fazer o quê? - Verônica o encarou com um olhar diferente, uma mistura de blefe e medo.

– Se eu cair, você cai junto. - Kris apertou o braço de Roni. - Não se esqueça disso.

– Nenhum de nós dois faria isso. O acidente daquele garoto foi só um acidente e só, mas eu me arrependo por não ter raciocinado e pedido ajuda. E esse segredo irá conosco para o túmulo lembra?

– Podemos encerrar esse assunto então? - Ele disso pegando seu casaco e indo para a porta da clínica.

– Aonde vai? - A loira o seguiu.

– Eu preciso resolver uma coisa importante agora, depois eu e você teremos uma conversa muito séria sobre a nossa relação, você sabe que eu gosto de você e estou disposto a tentar consertar isso.

– Promete?

– Prometo. - Ele sorriu. - Você é tudo o que eu quero Roni.

Depois da conversa no bar com os outros sobreviventes, Kris voltara para a clínica, decidido a contar o que sabia, mas quando chegou acompanhado por Ruth, Lena e Mônica, Verônica não estava mais ali.

Então a conversa de reconciliação nunca aconteceu.

=-=-=-=-=

Já era quase no final da tarde quando ela saiu de seus pensamentos e tentou focar no trabalho, uma mulher negra chegou carregando duas gaiolas e as colocou em cima do balcão.

– Em que posso ajudá-la?

– Eu soube que vocês recolhem animais para a adoção e esse dois são da minha patroa que faleceu recentemente. Acho que eles merecem um lar melhor agora.

– Tenho certeza que iremos encontrar um lugar para ele. E quais são os nomes deles?

– Nomes ridículos na minha opinião - A negra disparou. - O gato é o Batman Jade e Joana Cleopátra é a cobra.

– Acho que a dona devia ter uma imaginação muito fértil. - Ela brincou concordando. - Tenha certeza que eles ficarão bem, eu mesma vou cuidar disso.

A mulher estava com a consciência limpa por ter feito uma boa ação, ela ia para a saída quando esbarrou com uma garota de olhos azuis e cabelos escuros compridos que carregava uma caixa e também sua bolsa que caiu aberta no chão.

– Me desculpe. - Disse a menina.

– Tudo bem, deixa que eu pego suas coisas. - A mulher recolheu tudo o que havia caído e por último, a carteira de identidade e sem querer leu o nome no documento. - Aqui está, Harmony.

– Obrigada!

As duas se despediram e Harmony foi até o balcão onde uma garota loira retirava os papéis da ficha destruída.

– Com licença, estou procurando por uma pessoa chamada Verônica.

– Sou eu mesma. - Verônica falou, deixando o que fazia de lado e prestando atenção na morena.

– Tenho uma encomenda para você.

Verônica estranhou que a caixa não tinha o selo dos correios ou algo parecido. Era um simples caixa de papelão lacrada, ela balançou o embrulho e percebeu o barulho de um único item que sacolejava com o movimento.

– Nossa! Que incomum, mas fico muito grata.

A loira respondeu, Harmony sorriu e foi para a porta da clínica, mas antes de sair, lançou para a veterinária um estranho olhar.

Verônica sentiu uma sensação ruim, depois tentou esquecer aquilo, pegou uma tesoura e cortou o lacre da caixa e abriu com cuidado cada uma das abas. O grito a seguir assustou todos os animais da clínica, a Verônica empurrou a caixa com nojo para fora do balcão junto com outros objetos e a gaiola de Joana Cleópatra que se abriu.

Verônica hiperventilava agachada debaixo do balcão, seu corpo tremia e ela tentava tomar coragem para confirmar se era real o que vira. Ela olhou para a gaiola da cobra e procurou por ela e a encontrou no pior lugar possível

Sobre a cabeça decepada de Kris.


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Notas finais do capítulo

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