Premonição Chronicles 2 escrita por PW, VinnieCamargo, MV, Felipe Chemim, Jamie PineTree


Capítulo 16
Capítulo 15: Aqueles Que Vão Morrer... Um Passo à Frente


Notas iniciais do capítulo

Capítulo escrito por João. R.C.

Considerações do escritor:
"Agradecimento ao MV e ao Peeh, por me ajudarem, escrevendo as cenas entre Mo e Val e Nina e Lana, respectivamente. Lamento pelo capítulo pequeno, mas tive um grande bloqueio e não estava conseguindo escrever nada. Foi realmente horrível e muitas ideias ficaram abandonadas. Muitas cenas não foram tão aproveitadas como eu queria. Mas aqui está! E lamento por não ter conseguido incluir Kris ou colocar tanto Greg quanto o planejado. E lamento se não gostarem do que preparei."



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Era uma manhã calma, o dia estava devagar e tudo ocorria bem. Pessoas passeavam com graça pela praça, conversavam e seguiam suas vidas.

O sol brilhava forte no céu e seu calor banhava Ruth e Lena que andavam pela calçada, deixando o tempo passar e curar seus traumas. Ruth estava usando seu preto rotineiro, apesar do calor, e protegendo apenas os olhos com um óculos escuro, enquanto Lena vestia um short jeans curto, uma camisa branca rasgada e um chapéu para proteger o rosto. As duas continuavam um pouco chocadas ainda com tudo que ocorrera, mas tinham uma a outra para se apoiarem. Quando estavam juntas, nada mais importava.

Um leve vento passou por elas, refrescando-as e fazendo Lena sentir o perfume de Ruth enquanto seus cabelos voavam. A sensação era ótima, mas logo o chapéu de Lena foi levado pelo vento, quebrando o momento.

– Deixa que eu pego! - Ruth saiu atrás do chapéu antes que Lena pudesse argumentar.

A garota estava distraída, passando por um sinal vermelho sem perceber. Lena não teve nem a chance de processar o que ocorreu em seguida.

Um caminhão surgiu, estorando os limites de velocidade e se chocando contra a garota. O perfume de Ruth se misturava ao seu sangue enquanto Lena podia apenas encarar. Então sua visão escureceu.

Lena estava em sua cama, suando. As imagens do pesadelo não saíam de sua mente.

Quando a garota se virou para ver as horas seu celular começou a despertar.

Let's do some living after we die

Wild horses... We'll ride them someday!

Não podia esperar mais, precisava contar para Ruth o que sabia.

A loira se levantou e foi preparar seu café da manhã enquanto assistia ao noticiário. A notícia que passava não lhe agradava nem um pouco, apenas confirmava suas suspeitas.

Um jovem músico havia morrido brutalmente em uma sauna recentemente e Lena reconhecia ele. O garoto também estava na ilha. Não havia mais dúvidas, estava realmente acontecendo.

Ela sacou o telefone rapidamente e ligou para a parceira.

– Precisamos conversar.

***

Sua procura ainda estava distante de um fim. Sua ida ao abrigo lhe trouxe apenas três endereços que poderiam pertencer ou ter pertencido à sua irmã e a família adotiva. Mas agora precisava de um lugar para ficar. Sabia que grande parte das pessoas que conhecera na ilha moraam por perto e tinha mantido contato com alguns.

Estava meio incerta de ligar para Mônica com tudo que a jovem tinha passado, mas era sua melhor opção. Sua ligação foi atendida na primeira tentativa.

Val?

– Oi Mô! Como você está? - Valentina sabia que ela não poderia estar bem e se arrependeu um pouco de perguntar.

Estou sobrevivendo... – Um suspiro pode ser ouvido, seguido de um pequeno silêncio e então Mônica voltou a falar - Mas e você?

– Vou me desculpar antecipadamente pelo que vou pedir... Mas preciso de um favor.

***

Ruth estava confusa. Tudo que Lena dissera pra ela. Poderia ser realmente verdade?

A chuva obrigara a garota a procurar abrigo no lugar mais próximo e então resolveu ir ao shopping.

Acabara de entrar e percebera que as luzes estavam apagadas. Um calafrio percorreu seu corpo e pouco tempo depois as luzes voltaram. Ela percebeu uma multidão se formando perto das escadas rolantes e se aproximou. Todos olhavam para cima, espantados.

Ruth então acompanhou e viu uma mulher pendurada na escada rolante pelos cabelos. Ela colocou a mão sobre a boca para segurar seu grito, enquanto assistia mais um destino ser selado.

O couro cabeludo da mulher finalmente cedeu e ela entrou em queda livre, provaelmente morta antes mesmo de chegar ao chão. Nessa hora, grande parte da multidão se desfez, saindo de perto por não aguentarem ver o corpo.

Ruth entrou em choque. Apesar de todo o sangue, ela reconhecia a pessoa. Era Vanessa, a socialite com quem dividira um quarto no navio. Ela saiu correndo imediatamente, não podia acreditar no que vira.

A chuva caía forte lá fora, mas Ruth continuava a correr. Lena estava certa. Estavam todos destinados a uma morte cruel e dolorosa. Ela não aguentaria ver mais ninguém assim. Não podia...

Foi então que parou, se jogou em um canto qualquer e começou a chorar.

***

Quando a porta se abriu, Valentina pode ver Mônica depois de muito tempo. Seu primeiro olhar foi levado ao seu cabelo, que estava bem menor. Logo depois as duas fizeram os cumprimentos.

– Pode entrar, Val. Bem, a casa é sua. Ah, deixa suas malas aqui no canto. - Ela apontou para um local no canto da sala.

– Obrigado, obrigado mesmo Mônica. - Valentina se virou sorrindo. - Não sei o que faria sem você... Essa busca tá se estendendo mais do que eu imaginava... Pelo menos estou perto de finalmente encontrar...

– Encontrar o que? Senta aqui no sofá Val, vamos conversar.

– Não falei pra você? Encontrar minha irmã perdida, desde que era criança. É uma longa história, mas o que importa é que agora tenho três direções para seguir. Ela está mais perto do que nunca.

Valentina olhou para Mônica, que estava cabisbaixa, suspirando profundamente.

– Me desculpa, Mônica! Desculpa mesmo, eu não percebi que... Ah, sou uma burra mesmo.

– Tem problema não. Estou aprendendo... A conviver... - Mônica abriu um sorriso desprovido de qualquer emoção e vivacidade. Era um sorriso apático, um sorriso ainda triste, de alguém que tentava se reerguer das cinzas. - Mas ele faz muita falta.

– Ei, olha... Vai tudo terminar bem no final. E o Eduardo... Ele tá num lugar melhor, eu tenho certeza.

– Eu sei... Estou sendo forte, e segurando as pontas, pra ficar bem. Mas não sei, ainda parece que falta alguma coisa. Não sei explicar exatamente essa sensação, nunca pensei que nós fôssemos tão conectados.

– Mônica, não te conheço ainda tão bem quanto gostaria, mas saiba que pode contar comigo pra tudo o que precisar, viu? Se precisar de um ombro amigo, porque muitas vezes precisamos de ajuda, eu estarei aqui. Serei eternamente grata pelo que tá fazendo hoje, de verdade.

– Imagina. - A jovem sorriu novamente, dessa vez verdadeiramente. - Eu tenho que agradecer a você, isso sim.

***

Nina estava de volta na casa de Greg e Lana, os dois não queriam deixá-la sozinha, depois de tudo que passara.

A morte de Vanessa chegou como um baque para elas, de modo que chacoalhou suas estruturas, ameaçando-as de desabarem. Estava sendo muito difícil conviver com a condição de que os sobreviventes do acidente na Ilha Vermelha estavam destinados a morrerem, um por um, de todas as formas possíveis.

Encontrava-se em um quarto com Lana, sem mais lágrimas a chorar, mas também sem mais forças para lutar. Sua vida estava desabando rapidamente e não conseguia evitar. Suas perdas ao invés de superadas, eram aumentadas.

Quanto mais teria que sofrer até que tudo acabasse?

***

Greg e Anna procuravam pela lista de sobreviventes e dados de cada um. Precisavam avisar todos do que estava acontecendo. Anna encontrara o enderço de trabalho de um dos sobreviventes, Kris. E Greg entrara em contato com outras duas, Ruth e Lena.

– Hora de reuniar a banda outra vez... - Greg disse, esboçando um sorriso debochado.

Anna sorriu com ação. Era bom ver que ele estava tentando ser forte e não se abalar com a situação.

***

Lana adormecera em uma poltrona ao seu lado e Nina tentava agora se perder em uma música, esperando poder se esquecer do próprio mundo. Nem que fosse por apenas um instante.

What is real was once just in my head, in my head

I tell you all about a love that I once had, I once had a love

And now I got a whole where he had been, he had been

So there I put another lover in my bed

– Vai desistir assim tão facilmente?

Nina tomou um susto. Era a voz de Vanessa.

Quando se virou, viu a socialite sentada na poltrona onde Lana deveria estar.

– Eu esperava mais de você, donzela.

Vaness estava mais bonita do que nunca. Usava um vestido longo, no tom mais branco que poderia existir, acompanhado de várias pulseiras de ouro. Nina só conseguia encarar sem acreditar.

– Eu não ia deixar aquela bagunça sangrenta ser a última visão que teria de mim. Mas chega de conversa fiada então né? Você precisa sair desse clima ruim e ir fazer seu trabalho.

– Vanessa... - Sua voz estava tão fraca que nem mesmo a reconhecia - Do que está falando?

– Vamos! Confie em mim, não vai querer perder o espetáculo.

Vanessa segurou na mão de Nina e a levantou. Nesse momento a loira foi acordada de seus sonhos e se viu novamente na cama de Lana. Estava sozinha.

Se levantou rapidamente com nova motivação e foi procurar seus amigos.

Lana e Anna estavam no escritório, próximos a um computador, pensando no que deveriam fazer.

– Nina, que bom que se levantou. - Lana disse lhe dando um sorriso e se aproximando.

– O que vamos fazer? - A loira indagou. Sua voz ainda estava fraca.

– Vamos nos encontrar com alguns dos sobreviventes amanhã e tentar...

Antes que Lana pudesse terminar Greg entrou no recinto fazendo-a se calar e sair na mesma hora, se afundando com suas emoções.

Greg apenas encarou a garota saindo com um olhar triste e pouco tempo depois Nina resolveu a seguir.

***

Incrível como as luzes da cidade conseguiam encantar Lana, mesmo num momento desses. Nina a alcançara e agora caminhava ao seu lado, passando pela calçada de uma rua bastante movimentada. Ela era bem iluminada pelas luzes coloridas de bares, boates e outros estabelecimentos. As batidas eletrônicas se misturavam e eram bem audíveis. “A rua que nunca dorme”, Lana pensou. Mas elas estavam preferindo um lugar mais calmo, até para conversar e digerir tudo o que estava acontecendo.

Em um gesto doce e meigo, Lana segurou a mão de Nina, e as duas de mãos dadas, continuaram caminhando em direção ao fim da rua.

– Eu sei que não devia pedir você pra fazer isso... Mas precisa deixar isso de lado por enquanto. Até que consigamos resolver nosso destino.

– Eu sei que preciso, mas não consigo esquecer. – O movimento de seus olhos denunciava sua ida rápida ao passado e às cenas que se sucederam naquela noite.

Enquanto se aproximavam de um barzinho chamado Opera Bar, a garota de cabelos azuis apertou a mão da bióloga, como quem diz: “Não me solta”.

O estabelecimento era simples, porém, bastante confortável. Elas preferiram uma mesa do lado de fora, apesar de haverem várias. Pela vidraça que ficava logo ao lado da mesa das duas, mostrava as outras mesas dispostas do lado de dentro, onde algumas pessoas em casais ou em grupos conversavam e riam. O cardápio passou pela mão das duas, mas preferiram não pedir nada além de dois chopes. Lana bem que queria se afogar em litros de cerveja, mas preferiu se conter, depois dos acontecimentos recentes. Já a outra pediu o mesmo, para acompanhar a amiga.

– Foi decepcionante, aquele puto jogou no ventilador a confiança que eu creditava nele.

– Eu entendo, flor do campo, mas não custa nada dar uma nova chance, né?

– Eu não posso afirmar com todas as letras que irei perdoá-lo, porque isso, no momento, é impossível de se fazer. – A loira viu Lana tomar outro gole do chope, na tentativa frustrante de levar a sensação de desconforto embora. – Por essas e outras, que irei dar tempo ao tempo. Não é tão fácil perdoar uma traição. E o pior... Foi bem mais fácil perdoar os outros deslizes, pra falar a verdade. – Lana deu um riso nervoso.

Nina assentiu, entendendo o recado. Novamente levou as mãos até as da amiga.

– Conta comigo, tá? – Disse com a voz mais doce do mundo. – Vou estar aqui sempre.

– Queria eu poder acreditar nisso.

A loira tinha entendido bem do que se tratava. Entre olhares acuados de ambas, enquanto mil pensamentos circulavam suas mentes, sentiam-se tremendamente intimidadas e cientes que, algum dia, seus destinos selariam, da mesma forma que aconteceu com Vanessa, a cantora Lis e os demais desafortunados da mira da morte.

– O que eu queria realmente compreender, é... Por que com a gente? – Lana olhava a loira com ternura. – Como ocorre o julgamento de quem merece e não merece participar disso? Por que a Anna? Aquela mulher tem uma família, ela tem pessoas que a amam, não me parece alguém má.

– Você já ouviu falar no provérbio que diz que coisas ruins só acontecem com pessoas boas? – Nina devolveu um olhar pensativo. – Acho que se aplica aqui. Vai ver, nós só estávamos no lugar errado, na hora errada. E nada disso era pra ter sido como foi.

– Incrível como você está tão conformada com esta situação. Está tão plácida, tão...

– Ai é que se engana. – A loira interrompeu, sentindo-se ligeiramente envergonhada por isso. – Eu estou morrendo de medo de perder tudo o que consegui e não conquistei até aqui. Sinto como se estivesse a um passo de soltar a mão do meu futuro e deixar meu corpo cair num buraco de escuridão sem fim. É tudo tão ruim, quando não se tem controle do que te cerca.

Lana silenciou, e além de ouvir tudo atentamente, tentando afastar as batidas das músicas eletrônicas que vinham das dúzias de boates, pensava em Greg. Em como ela estava a um passo de soltar sua mão. Será mesmo que, basta somente um deslize, para que fosse de encontro à escuridão eterna que Nina citava? Lana não queria perder ninguém, nem Gregório e muito menos a loira. Os dois eram personagens muito importantes de sua história.

– Gosto de ser otimista. Só isso. – Nina concluiu.

– Faz bem. – A outra sorriu discretamente.

As duas sentiram um arrepio, como se algo continuasse errado. Lana olhou para trás, em um gesto instintivo, como se procurasse a origem do calafrio. A brisa lambeu seus cabelos azuis e Nina avistou uma cicatriz na nuca da garota. Era parecida com a que ela mesma havia adquirido depois do acidente. Ela forçou a mente para lembrar onde mais havia visto aquela protuberância, já que lhe era bem familiar. Teve a ligeira impressão de que ela e Lana não eram as únicas a possuírem igual, que não era apenas mera coincidência.

O pensamento logo fugiu de sua mente e as duas mudaram de assunto, passando a conversarem sobre animais. Um de seus assuntos prediletos. Continuar pensando na morte era o mesmo que atraí-la.

***

Ruth estava na varanda de seu apartamento, obeservando a cidade pela manhã e refletindo sobre tudo que acontecera. Os carros passavam rápidamente pelas ruas, fazendo faixas de luz dançarem pelo caminho. O veento soprava em seu rosto, erguendo seus cabelos que balançavam lentamente ao rítmo da música.

So let me go

I don't wanna be your hero

I don't wanna be your big man

I just wanna fight like everyone else

Ela estava em perigo. Não havia como negar.

Quando resolveu embarcar naquele navio, Ruth queria poder escapar um pouco da realidade, queria ter uma folga do mundo. Suas preocupações envolviam decidir para onde iria, o que iria estudar, de que ela queria viver... Mas agora...

Agora nem sabia se chegaria a viver. Suas preocupações agora eram salvar aqueles que importavam para ela e sobreviver.

Ela precisava lutar pela própria vida. E ela sabia que não estava preparada.

Ruth não aguentaria ver alguma outra atrocidade depois de Lis e Vanessa. Mas uma segunda opção não foi dada a garota. Ela precisava ser forte.

Um único momento de fraqueza poderia e iria selar o destino final de alguém e ela não poderia viver carregando a culpa de ter fracassado.

"Viver carregando a culpa..."

Por um momento essa linha de pensamento foi quebrada enquanto ela soltava um pequeno riso.

"Viver" não tinha mais o mesmo efeito, não parecia significar algo duradouro. E foi nisso que Ruth encontrou forças. Ela iria mudar isso.

Your masquerade

I don't wanna be a part of your parade

Everyone deserves a chance to

Walk with everyone else

***

Anna estava correndo.

Não sabia o motivo, mas não se atrevia a parar.

Estava em algum tipo de câmara que não parecia ter fim. Pouco iluminação, paredes e pisos brancos e gastos.

Olhou para trás e viu seus amigos Greg e Nina. Haviam outras pessoas com eles, dentre elas, a guia turística da ilha, Valentina. Ao seu lado estava a garota Ruth, seu rosto era extremamente familiar... E atrás dela, mais dois garotos que não conseguia ver direito.

Nina e Valentina conseguiram passar a sua frente e sumiram de sua vista. Logo em seguida pode ouvir o som de algo se movimentando e olhou para trás novamente. Não conseguia ver Greg nem um dos dois garotos que estavam atrás de Ruth.

O outro garoto estava se aproximando, mas antes que conseguisse ver seu rosto, uma espécie de cubo atingiu sua cabeça, destruindo seu crânio. Irônicamente, havia um coração em cada face visível do cubo.

Ruth então chegou ao lado de Anna, lançando um olhar de tristeza e medo enquanto corria. O que viu em seguida foi algo cortando a garota ao meio e espirrando sangue em sua roupa. Mas isso não a fez parar, não podia fazer nada por ela.

Ouviu mais um estrondo e se virou uma última vez para trás. E o que viu estava além de sua compreensão. Enormes espinhos se encontravam nas paredes, que vinham se fechando rapidamente, chegando cada vez mais perto.

Conseguiu ver três garotas à sua frente, uma delas parecia ser Nina. As três pularam em sequência no que parecia ser um precipício dentro da câmara e Anna não exitou em fazer o mesmo quando as alcançou. Não podia enxergar mais nada, mas pode ouvir uma voz, feminina, repetindo uma frase enquanto Anna caía.

Você acha que pode sobreviver?

A mulher acordou do pesadelo em um pulo e checou o relógio. Se não se arrumasse depressa não conseguiria se encontrar com Greg e as meninas. Faltava uma hora e ainda nem havia almoçado.

***

Ruth e Lena estavam aguardando a chegada de Greg.

– Nos metemos em um grande confusão, não? - Lena disse, tentando forçar um sorriso.

– Ai... Ainda acho difícil acreditar em uma coisa dessas. Mesmo com tudo que aconteceu. Não quero continuar passando por isso.

– Não se preocupe. Vamos dar um jeito.

A loira passou a mão pelos cabelos de Ruth e parou quando percebeu algo estranho. Ruth percebeu que ela a estava encarando.

– O que foi?

– Você já tinha visto isso?

– Isso o que? - Ruth estava um pouco alarmada agora.

– Tem uma cicatriz...

– Provavelmente de alguma coisa na ilha ou daquele incidente no navio.

– Hm - Lena riu um pouco ao se lembrar de como Ruth era desastrada. - É estranha... Parece ter o formato de um 10...

Aquilo estava intrigando Lena, mas antes que pudessem continuar a discussão, greg surgiu em meio a multidão e se sentou na mesa. Se apresentaram brevemente e começaram a conversar sobre todos os ocorridos e a juntarem alguns fatos. O tempo passou rapidamente.

***

Anna estava subindo as escadas do shopping. A sensação de estar naquele lugar novamente era péssima. Imagens do acidente de Vanessa não queriam deixar sua mente.

Quando chegou ao andar da praça de alimentação, pode avistar facilmente Greg, sentado com as garotas. Eles estavam terminando de comer quando Anna apareceu.

– Então, qual o plano?

– Temos que encontrar o resto dos sobreviventes. - Greg foi quem respondeu.

– Tem um garoto e uma garota... - Ruth dizia.

Anna se lembrou do tal Gabriel imediatamente.

– Acho que o nome dela é Bella. Nos os encontramos antes do acidente da Lis. Eles também estavam na ilha.

– As irmã do surfista e a do cantor também podem estar nas lista. - Greg completou. - Ainda temos muitas pessoas para encontrar.

– E por onde vamos começar? - Anna perguntou.

– Eu e Greg vamos atrás do Kris e da Mônica - Lena começou. - A casa dela não fica muito longe da clínica veterinaria do Kris.

– Eu e você temos que ir atrás da Val e da Vivian. - Ruth continuou. - Não sabemos muito dos outros dois.

***

Alguma coisa estava errada. Anna estava em uma rua movimentada mas não conhecia o lugar. Não havia um sol ou uma lua no céu e as pessoas passavam lentamente por ela. Pessoas... sem rosto...

A mulher se assustou um pouco com a cena, sem entender o que estava acontecendo, até que finalmente viu um rosto conhecido. Era Ruth.

– VAL! CUIDADO!

Outro rosto conhecido surgiu, no meio da rua. Valentina.

A guia ouviu a jovem gritar mas não foi rápida o suficiente para processar toda a cena.

Um caminhão vinha em alta velocidade na sua direção. Tudo que conseguiu fazer foi colocar os braços na frente do rosto em uma tentativa inútil de se proteger. Ela sentiu então uma brisa forte passar por ela e abriu os olhos, percebendo que o caminhão desviara, e acabara batendo em um hidrante e derrubando seu carregamento.

Ruth saltava todas as caixas jogadas no chão tentando chegar até Val e impedir o cruel destino que se aproximava. A garota continuava sem reação, apenas tentando se livrar do choque de quase ser atropelada e assistindo ao acidente surreal que se passava adiante. Desviando de todo o chaos, vinha um carro deslizando pela pista e deixando marcas de pneu por onde passava até finalmente bater em um poste e parar.

Fios do poste chicoteavam pelo ar devido a carga que passava por eles.

Ruth finalmente chegou até Val e começou a puxar-la para longe. Nina finalmente chegou a cena, alarmada com tudo que acontecera. Um dos fios agora serpenteava pelo chão, dispachando correntes elétricas toda vez que entrava em contato com a água.

A estrutura do poste, abalada pela batida, finalmente cedeu, levando o poste a cair na direção de Ruth e Valentina. Anna foi rápida o suficiente para tirar Ruth do lugar antes que o poste atingisse-a enquanto Valentina consguiu escapar por conta própria.

Graças a queda, os fios de todos os postes começaram a se desprender em série.

A única coisa que pode ver foi um clarão e a voz surgiu outra vez.

Você é a rainha dessa tragédia...

Então Anna acordou. Estava no metrô, Ruth olhava assutada para ela. A jovem já conhecia aquela expressão que Anna esboçava.

– Valentina...

Tentou desesperadamente ligar para Greg, mas sem resultado.

Ela sabia o que o sonho significava e precisava agir depressa.

– Valentina, ela é a próxima? - Ruth perguntou, se levantando.

– Sim, temos que encontrar ela rápido.

As duas correram para porta e aguardaram a próxima parada. O coração das duas acelerando. Era a hora.

***

– Mensagem de voz da Ruth... - Lena disse, caminhando ao lado de Greg. Não estavam muito distantes do local de trabalho do veterinário e a casa de outra sobrevivente era logo na próxima esquina.

A loira levou o telefone ao ouvido e escutou a mensagem. Sua expressão mudou completamente ao ouvir a mensagem, alarmando Greg.

– O que foi?

– Anna teve um sonho. Ela acha que Valentina é a próxima.

– Okay - Greg disse se apressando. - Vamos falar com a Mônica e o Kris e então vamos nos juntar de novo.

Eles correram até a casa de Mônica e bateram em sua porta. A garota a abriu com uma expressão curiosa.

– Eu conheço vocês, estavam na Ilha Vermelha. - Ela riu por um segundo. - Parece até uma reunião.

– Nós realmente precisamos falar com você. - Greg começou.

– Tudo bem, podem entrar. - Mônica disse enquanto saía do caminho. - Queria que a Val já tivesse voltado.

Lena e Greg se surpreenderam com o que ouviram.

– Valentina? - Lena se apressou a perguntar. - A guia turística?

Mônica levou-os até o sofá e explicou que a guia havia aparecido e qual era a situação. Lena sacou o telefone imediatamente e ligou para Ruth.

– Acabamos de falar com a Mônica, Ruth. Valentina está ficando na casa dela.

– Conseguiram encontrar ela então?

– Não, ela está procurando a irmã dela. Mônica me deu o endereço, ela não está muito longe de onde vocês estão, precisam ser rápidas.

Greg a encarava, esperando Lena contar se elas conseguiriam.

– Okay, vou te mandar o endereço.

A loira desligou o telefone e se virou para ele.

– Elas estão a caminho, vamos encontrar Lana e Nina e então vamos atrás delas.

– Mônica, precisamos que venha com a gente. Vamos te explicar tudo no caminho. - Greg se levantou e estendeu a mão para ela.

Por mais que a situação fosse estranha, Mônica sentia que devia confiar neles e concordou.

***

A casa se encontrava em um bairro afastado. Haviam poucas casas o que aumentava a distância entre elas. Mato cobria grande parte do terreno, claramente abandonado. A casa em sí mostrava sinais de abandono e velhice. Pequenas rachaduras em algumas paredes, janelas quebradas e muita poeira espalhada. Nada disso impediria Valentina de entrar e investigar.

Pequenos degrais de madera se estendiam a sua frente. Rangendo a cada passo que dava. A porta estava velha e quebrada. Provavelmente a casa já havia sido invadida por alguns jovens.

Valentina estava cada vez mais duvidando sobre a possibilidade de encontrar alguma informação útil na casa. E como já era de se esperar, a poeira encobria quase tudo por dentro. Um sofá acabado se encontrava no meio da sala, de frente a um móvel antigo, um lustre se prendia no teto, coberto de teias de aranha e muitas esculturas estavam espalhadas pela sala.

Três delas se destacavam. A primeira era uma espécie de anjo, porém suas asas eram em formato de ossos. Parecia estar chorando.

A segunda era um chimaera majestosa, se erguendo de chamas. O rosto da criatura mostrava uma feição de raiva assustadora.

A terceira parecia não ter uma forma conhecida, lembrando um pouco uma pedra comum só que com formas cúbicas nas laterais, como se estivessem sendo consumidas pela escultura e várias pontas saindo da superfície superior. Havia um crânio esculpido em uma delas.

Uma pequena escada de madeira em caracol levava a uma plataforma de madeira de se estendia aos corredores do segundo andar. Era uma construção estranha, a escada parecia terminar à uns 4 metros do chão. Val começava a se questionar sobre as pessoas que um dia habitaram a casa.

***

As duas estavam próximas do endereço que Lena havia dado. Apenas uma casa podia ser vista. Estava claramente velha e abandonada.

– Será que é mesmo aqui? - Ruth virou-se e perguntou. Dava para ver um pouco de medo em sua expressão.

Um som esquisito ecoou pelo lugar e Anna percebeu um gerador de um poste soltando faíscas. Era um sinal.

– Precisamos correr, Ruth.

***

Quando Valentina chegou ao fim da escadaria, Ruth e Anna chegaram explodindo pela porta.

– VAL! CUIDADO!

Anna sentiu um calafrio percorrer seu corpo com o grito de Ruth.

O piso do assoalho rangeu quando Val se virou. Uma expressão de horror tomou conta de seu rosto e então o piso cedeu. Ela se agarrou a uma viga de madeira e ficou pendurada. Acima da escultura pontuda.

Ruth e Anna dispararam em direção as escadas, pisando forte contra elas. Quando Anna chegou ao último degrau, uma rachadura se formou sobre ele. Ela conseguiu chegar até o topo. Ruth não teve a mesma sorte.

Quando a garota pisou no último degrau, este se desfez rapidamente, levando parte da escadaria e Ruth para baixo. Anna ouviu o urro de dor da garota ao atingir o chão, mas a mesma gritava para que ela continuasse seguindo.

Ela correu até onde o buraco estava, se jogando no chão e agarrando Valentina.

– Aguenta firme! - Ela berrava, usando toda força que tinha para tentar levantar a garota.

Ruth tentava se arrastar até émbaixo do buraco. A dor em seu braço e perna estavam quase a fazendo desmaiar, mas ela não paraou.

Os esforços de Anna começaram a dar resultados e ela estava conseguindo levantar Valentina. Tentou então jogar seu corpo para trás com força, mas o que restava do piso, enfraquecido, não aguentou o peso dela e cedeu novamente.

As duas caíram, ao lado da escultura quebrando o chão e caíndo numa espécie de porão.

Valentina bateu a cabeça com força no chão e desmaiou. A escultura caíra ao lado dela e se quebrara, mas aparentemente sem causar nenhum dano a Val. Anna então esticou a mão para perto do rosto da jovem.

– Ainda... Está respirando...

Olhou para o lado e viu Ruth, também desmaiada.

Havia apenas uma gota de energia em seu corpo, sentia como se fosse desmaiar também. Ela tentou alcançar o celular em seu bolso. Todo o seu corpo doía com cada movimento. Conseguiu finalmente alcançar o aparelho e o aproximou de seu rosto. Estava quebrado.

Seus braços cederam e socaram o chão. Não podia fazer nada.

Anna olhou novamente para a guia. Ela já tinha feito alguma coisa. A garota fora salva. Ela só precisava agora, que alguém os achasse.

O barulho da chuva foi a última coisa que ouviu antes de abraçar a inconciência.

***

Lena estava de volta no apartamento de Greg, junto de Nina, Lana e Mônica. A garota estava tendo dificuldade em aceitar o que lhe fora dito. Principalmente ao associar isso com a morte do irmão.

Uma tempestade forte caía e ainda não tinham recebido notícias de Ruth ou Anna.

Não podiam sair para procurar-las ainda e a espera parecia eterna. Lena resolveu por os fones e tentar se tranquilizar, apesar de cada centímetro de seu corpo implorar para ela enfrentar a chuva e encontrar Ruth.

Todos olharam para a janela quando um trovão iluminou o céu inteiro. O barulho foi ensurdecedor.

You know you'll just gonna lose

Everything and everyone that means so much to you

Então as luzes se apagaram.


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Notas finais do capítulo

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