Avalanche escrita por Aarvyk


Capítulo 34
Mudanças


Notas iniciais do capítulo

Terminei de escrever esse capítulo agora há pouco. Por mais que estejamos no final, ainda falta um acontecimento importante para nos revelar o plot!
O que Avery decidirá??



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Era engraçado como meus sentimentos pareciam frios e quentes ao mesmo tempo, como se fosse um fogo gelado que derretia uma parte de mim mesma. Talvez eu jamais fosse entender o órgão que batia em meu peito, assim como nunca entenderia o significado do amor. Minha mãe me amava e me olhava com gentileza, mas morreu casada com um péssimo homem que só havia me feito mal. Jasper também me amava, e foi embora dizendo que nós dois éramos errados um para o outro, sem explicações consistentes. Para além disso tudo, Cameron talvez fosse aquele que mais me amasse no mundo todo, sendo meu gêmeo e meu sangue, mesmo tendo feito cagadas e mais cagadas em busca de proteção para mim.

Os sentimentos eram confusos. E eu não podia negá-los.

Suspirei.

— Avery, está pronta? Partimos em trinta minutos. – A voz calorosa de Alexander rompeu meus pensamentos, deixando-me ainda mais confusa do que antes.

O que eu sentia por ele? O que eu sentia pelo príncipe de Illéa?

— Preciso ficar um pouco sozinha. – falei, forçando-me a encarar seus olhos caramelo. Não queria deixa-lo preocupado. – Estou bem. Só preciso de uns minutos.

Ele sorriu depois de alguns segundos, compreensivo e refletindo sobre minhas palavras. A mesma beleza poética de sempre ainda exalava de suas feições finas, como uma luz calma em meio a minha escuridão.

Devolvi com o melhor sorriso que consegui. Logo em seguida, dei passos não muito confiantes em direção a um lugar que meus pés conheciam muito bem. Virei a esquerda e a direita tão rápida que mal sentia o piso de mármore no chão, apenas indo intuitiva a um lugar que sabia muito bem a localização: o quadro de minha mãe.

O último retrato da rainha Miranda, com seu cabelo castanho trançado e olhar lápis-lazúli. Eu sempre a encarava como se fosse uma deusa, um ser supremo ao qual inspirava a doçura e o respeito divinos. Não precisavam muitos segundos ali para logo meus olhos encherem-se de lágrimas, tão estúpidas quanto minha saudade e nostalgia do passado.

Cobri a boca por uns instantes, com o corpo paralisado e olhando para aquela imagem. Queria manter o controle, ao mesmo tempo que queria ter de volta a mãe que havia sido tirada de mim. Com um de meus dedos traiçoeiros, toquei na fotografia tão ampla. Ao invés de sentir o calor de suas bochechas, apenas obtive a sensação gélida do vidro que a protegia.

Minha respiração ficou profunda, e as lágrimas aquietaram-se dentro de mim em um dado momento. Sentia como se alguém estivesse me observando, porém não ousei me virar assim que notei uma sombra a mais no piso. Mantive a postura, aguardando que algo fosse dito e quem quer que fosse se revelasse.

— Sinto saudades dela também. – A voz ecoou em meus ouvidos como uma sinfonia distante. Cameron tinha o timbre cansado.

— Ainda dói bastante mesmo.

Girei meu corpo devagar, vendo o rosto de meu irmão me encarando com tranquilidade. No fundo, ele sabia que não conseguiríamos ser inimigos.

— Espero que faça uma boa viagem e viva bons momentos com o príncipe Alexander. Vocês parecem estar se dando melhor do que eu e Kaya. – disse Cam. Pude ver seu esforço para parecer amigável e positivo por mim, mesmo depois de tantas discussões entre nós dois. – Eu também acho que Thomas já te explicou a situação do trono... Ainda temos alguns bons meses pela frente, então não precisa dar a resposta no nosso aniversário.

Eu sorri ao vê-lo cabisbaixo, mal sabendo como falar comigo. Era como se fôssemos crianças outra vez, e nossa mãe estava ali olhando tudo e nos forçando a pedir desculpas por termos arranjado uma confusão.

— Amo você, Cameron. Você será um bom rei. – falei, indo ao encontro de seu peito e o abraçando como nunca. Sentia a liberdade correr pelas minhas veias, e de alguma forma, aquilo chocava meu irmão com o ato repentino. – Lembre-se de confiar em mim caso precise de algum conselho no futuro. Não viva só das palavras do Thomas e de seus outros conselheiros da Câmara.

Lágrimas molharam meus cabelos, lágrimas furtivas de Cam, que apenas me apertava em direção ao seu peito. Meu machucado do ataque rebelde quase não doía mais, e já havia retirado os pontos. De qualquer forma, eu duvidava que meu irmão fosse pensar naquele detalhe em meio a suas emoções tão intensas.

Sentia o medo em suas veias, como se fosse parte de seu sangue.

— Não pode estar falando sério... – sussurrou entre o choro. – Avery, isso era o que você mais queria. Ser rainha. Sinto que estraguei tudo com minha ambição idiota por te proteger. E agora estamos tão quebrados que Edwin teve que matar o próprio pai... Kaya não merece um monstro como eu!

Coloquei minhas duas mãos em seus ombros, assim como fazia quando estava brava com ele e éramos crianças.

— Não repita isso nunca mais, seu idiota! Kaya gosta de você, e Edwin vai superar a escolha que fez, por mais que isso me mate por dentro tanto quanto mata você. – Olhamos um nos olhos do outro. Ambas as íris verdes perdiam-se em dúvidas e destinos confusos. – Qualquer um de nós seria um bom rei naquele maldito trono, Cam. Eu sou fria e calculista como nosso maldito pai. Você tem o coração e a inteligência da mamãe. Já parou para pensar que nosso país só precisa de um monarca um pouco menos frívolo? Que as pessoas precisam olhar para alguém que inspire a mesma coisa que a mamãe inspirava?

Por alguns segundos, olhamos a foto da rainha Miranda atrás de nós, o sorriso e a gentileza estampados em seu rosto, como se sorrisse para o que eu havia acabado de dizer. Ela era tão calorosa quanto o sol de Illéa, e tão gentil quanto as flores do palácio de Angeles.

Cam mordeu os lábios nervoso, limpando as lágrimas.

— Juro que vou pensar nisso, Avery. Por você e pela mamãe. Mas ainda aguardarei os dois meses até a coroação e a sua resposta definitiva. Temos tempo. – respondeu, o rosto um pouco menos cansado e triste dessa vez. No entanto, seus olhos pareciam receosos com algo a mais, como um brilho distinto que poderia significar qualquer coisa.

Contraí os lábios em um pequeno sorriso, tentando tirar a tensão que voltava a se formar.

— Nosso aniversário é em duas semanas. Alexander e eu vamos preparar uma festa em Illéa. Obviamente, eu gostaria da sua presença para que a noite fosse de nós dois. O que acha da ideia?

— É mais do que perfeito, Avy. – respondeu, ainda um pouco cabisbaixo e misterioso, mas já com um pouco de vivacidade em si mesmo. – Aliás... Eu precisava ter uma conversa com você, mas acho que seria melhor daqui duas semanas, no aniversário. Só tente descansar até lá. Eu farei o mesmo.

Fiz uma expressão nervosa.

— O que é tão importante a ponto de eu precisar descansar tanto assim?

Ele riu, tão travado quanto eu.

— Não. Não é sobre algo ruim... Digamos que é algo sobre nosso passado e a nossa infância, um misto de coisas e envolve a mamãe também... É difícil dizer. – Cam tentava explicar, fazendo caretas entre as palavras e confundindo-me ainda mais. – Só confie em mim uma última vez. Vamos ter essa conversa no aniversário, apenas fique bem consigo mesma até lá. Juro que não envolve casamentos arranjados.

Ele soltou um riso curto e autêntico, apesar do receio em seus olhos.

Respirei fundo, sem nem conseguir conjecturar sobre o que seria.

— De qualquer forma, eu te aguardo em Illéa, irmão.

Depois de meses de intrigas, nos olhamos com amor e compaixão. Cameron havia crescido tanto que eu só conseguia reconhece-lo por ser meu gêmeo.

— Estou contando os dias, irmã.

Olhei adiante, para o fim do corredor, onde Edwin acenava freneticamente para chamar minha atenção. Não hesitei nem por um instante. Precisava abraça-lo antes de partir.

Tudo correu bem, mas as despedidas foram tão intensas que meu voo se tornou interminável. Eu olhava as nuvens e o rosto dormente de Alexander, duas paisagens distintas que me faziam ter o mínimo de paz dentro de mim mesma.

Edwin havia chorado bastante, mesmo tentando segurar as lágrimas. Kaya fez o mesmo, só que no ombro do irmão. Por outro lado, Thomas Schmidt me ofereceu um aperto de mão frívolo no final, desviando o olhar de tempos em tempos para apenas me dizer que eu estava levando mais de vinte soldados ingleses comigo, apenas para garantir minha segurança em Illéa, e que nenhum deles me deixaria sozinha fora dos aposentos.

A asfixia por ser da realeza me deixava sem ar. O luxo pagava a falta de escolhas em minha vida, e aquilo apenas me lembrava o limite de minha liberdade.

Por que minha mãe havia entrado para aquele mundo? Será que ela havia tido um casamento forçado? E o que faria se não tivesse sido rainha?

Apertei minhas têmporas.

O que eu faria se não fosse rainha?

Observando mais uma vez a calmaria do rosto dormente ao meu lado, recordei-me do que Alexander havia dito sobre querer uma vida ordinária e entrar em uma Universidade.

Uma das poucas coisas que eu sabia sobre a vida de minha mãe era que ela havia estudado em Glasgow. Os detalhes sobre sua vida eram tão escassos que eu mal sabia o curso que ela havia escolhido. Pouco era dito sobre Miranda, a dor era ainda muito recente.

No entanto, eu precisava daquilo. Precisava dela.

Antes que meus olhos pudessem dar os primeiros indícios de lágrimas, Alexander se remexeu ao meu lado, abrindo suas pálpebras devagar.

O príncipe remexeu os lábios assim que suas íris me viram. E como se fosse uma faísca, algo bom dentro de mim pegou chamas.

— Você vai ficar bem. – Sussurrou, passando um de seus braços ao meu redor, ao mesmo tempo que beijava delicadamente o topo de minha cabeça.

— Nós estamos juntos mesmo? – perguntei baixinho, sem conseguir resistir a tentação de descansar o rosto na curva de seu pescoço.

— Eu não sei. Mas quando não estou com você, o tempo passa devagar demais e eu fico entediado.

Soltei uma risada silenciosa, pronto para ironizar a resposta tão infantil que ele havia me dado.

— Adoro quando homens me usam como distração...

Ele mordeu os lábios quando revirei os olhos, sentindo-se desafiado com o tom de minhas palavras.

— Você me distrai com seu caos, Avery. É o meu show de horrores preferido.

Minhas bochechas pegaram fogo.

— Achei que você fosse perfeccionista. – Dei de ombros, encarando as nuvens ao longe.

— Não mais. Aprendi a arte dos defeitos e dos atrasos desde que te conheci...

Olhei para ele por um momento. Os olhos de Alexander brilhavam, quase se tornavam dourados ao se chocarem com minhas íris esverdeadas, refletindo um pouco a luz do sol que vinha de fora.

Eu suspirei quando sorri. Era como ver um mundo inteiro de sensações naquele olhar.

— Então acho que estamos juntos. Você claramente não consegue mais viver sem mim.


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Notas finais do capítulo

Sim, é um capítulo de transição, um pouco curto, mas que contém um final interessante.
Avery assume seus sentimentos. Mas e os sentimentos em relação a coroa? Em relação ao seu futuro?
Enfim... Veremos tudo muito em breve!