Escute essa música que lembra nossas promessas fadadas ao descompromisso. Se concentre nela e esqueça os pássaros migrando que gracejam de fora das janelas. Mesmo que lá fora esteja em chamas, você não precisa ir embora. Enquanto puder apenas fechar seus olhos, não haverá pavores que surjam da penumbra. Ignore a guerra que bate a sua porta e feche o guarda-chuva para receber o Sol que está por vir. O Sol que se atrasou, mas não desmarcou a vinda.

Mesmo que as flores já tenham sido arrancadas, você ainda pode escutar minha canção de ninar e revive-las em memória. Apenas esqueça as sombras que querem elidir sua luz. Só lembre de que eu nunca te deixarei. Se puder apenas fechar seus olhos, estará sã e salva, faíscas fugazes te rodeando em ubiquidade. Rogo para que, pelo menos esta noite, meu abraço lhe permita elucubrar. Mesmo quando a música se for, apenas espere os sonetos dos raios rutilantes que rasgam todas as paredes para te alcançarem. Você ficará bem quando chegar. E estaremos todos a salvo.

Não precisa ter mais pesadelos, o conflito já vai acabar. Ninguém pode te machucar enquanto eu puder segurar sua mão. Ninguém pode matar seus sonhos, nem as armas apontadas para nós, nem as brasas que ameaçam a fauna e a flora. Nada pode te ferir, nem a melodia que se vai. Enquanto ainda tiver voz para cantar, pode esperar tudo isso ficar no passado. A manhã já vai surgir, os canários já vão assoviar os cantos perdidos da floresta que teimosamente se ergue tremendo de frio e com enfermidades residuais do beijo francês que o ódio e as bombas lhe osculou. Ainda assim, é um soerguer-se majestoso.

Tudo ficará bem. Eu e você, sãos e salvos.

Então apenas feche seus olhos.