The Last Taste - Season 2 escrita por Henry Petrov


Capítulo 9
Soul Sister


Notas iniciais do capítulo

Hey oh :3
Faz uns três dias que eu não posto, mas eu senti como se fosse uma eternidade. Esse capítulo finaliza esse ambiente do navio, então no próximo, já teremos um pequeno início de batalha. Mas enfim. Espero que vocês gostem e comentem o que vocês estão achando, isso vale também para teorias e insultos. Enfim, era só isso. Boa Leitura (:



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De todos os elementos, água é, com certeza, o meu favorito.

Ela é inconstante, pode ser incolor ou não, pode ser inodora ou não, pode ir por onde quiser, sempre escolhendo o jeito mais fácil de escapar, e não se importa com quem está na frente. Simplesmente, corre. Tampouco sente remorso de qualquer coisa que possa ter machucado no caminho. É simplesmente única e perfeita.

Completamente diferente de mim.

Com os cotovelos apoiados no balaústre da popa, eu observava a água correr atrás do navio. Já eram duas semanas dentro a bordo, cerca de dois dias desde a visita de Uriel. Mesmo assim, eu mantinha meu luto. Eu não queria estar de luto. Estava cansado de viver assim, perguntando a mim mesmo quem vai ser o próximo a ser tirado de mim. Mas parecia impossível, eu me sentia amaldiçoado a viver pra sempre em dor. Claro, eu estava sendo dramático.

–O que você quer de mim? – perguntei à Lua. – O que você quer de mim...?

Obviamente, ela não respondeu.

Baixei a cabeça até encostar a testa no corrimão.

–Peter?

Não precisei me voltar para ver quem me chamava. Will se aproximou, erguendo os braços para apoiá-los no corrimão, como eu. Ele tentava não me encarar, um pouco envergonhado.

–Soube do seu pai. – disse, suspirando.

Não respondi.

–Sinto muito. – continuou, virando-se para mim.

–Obrigado. – foi tudo o que eu disse.

Ele coçou a cabeça e olhou para os lados, um tanto apreensivo. Ele engoliu seco.

–Eu sei como se sente. – falou, olhando para o horizonte.

Encarei-o, um tanto impressionado.

–Claro que sabe. – irônico, eu disse. – Você matou sua própria família, garoto.

Ele franziu o cenho.

–Nem todos eles. – retrucou, com um tom defensivo. – Uma. Uma única pessoa naquela família não me tratava como lixo. E também foi a única que eu não matei.

Ele hesitou.

–Rose. – disse, por fim. – Rosalyn Helen Tanner. Era a mais velha dos meus seis irmãos.

–Seis? – exclamei, assustado.

Ele riu.

–Sim, meus pais tiveram sete filhos. – explicou. – Rose era a mais velha, eu o mais novo. Ela era a única que demonstrava um pingo de afeto por mim. Claro que eles me amavam, eu pensava. Eu era filho deles, eles tinham que me amar. Reclamavam de mim, me batiam, me colocavam pra baixo, mas o fato de sermos uma família me fazia pensar que não era tão ruim assim, que no fundo, eles me amavam. Rose era a luz no fim do túnel, aquilo que te faz acreditar.

Ele riu baixinho.

–Ela era linda. Por dentro e por fora. – disse, com um sorriso no canto do rosto. – Ela tinha esse jeito de, quando você se sentia como uma aberração, te fazer sentir especial. Não era muito engraçada, na verdade, era um tanto séria, mas era a pessoa que eu mais amava nesse mundo. Ela entrava em qualquer briga caso eu estivesse ferido. Se ela chegasse em casa e me visse com manchas roxas espalhadas pelo corpo, ela corria para a sala e gritava com todo mundo. O que era quase todo dia.

Ele molhou os lábios, adotando uma expressão de dor.

–Há cerca de um ano, algumas semanas antes de eu ser recrutado... – começou, forçando a memória. – Rose tinha uma apresentação de trabalho na faculdade e me convidou para assistir. Eu fui. Mas no caminho de volta, ela disse que estava se mudando para um apartamento que comprara na cidade vizinha. Estava terminando a faculdade, já tinha um dinheiro guardado...

Ele sorriu.

–E me convidou pra ir morar com ela. Era a melhor coisa que eu já ouvira nos catorze anos de vida que eu acabara de completar. Eu estava tão feliz. Então ela perdeu o controle do voltante, o carro bateu e ela morreu na hora.

Ergui as sobrancelhas.

–Eu vi tudo. – finalizou, uma lágrima caindo de seu olho. – Sua cabeça foi atirada para o lado, quebrando seu pescoço no ato. O air-bag conseguiu me proteger, mas ela, não. Foi assim que eu matei minha família. Eles gritaram comigo, me culparam, me bateram, disseram que eu era a maior desgraça que já acontecera na família...E eu fiz o que sempre fiz: fiquei calado, fechei os olhos e esperei tudo acabar.

Ele respirou fundo, limpando a lágrima.

–E então eu percebi que a raiva estava crescendo dentro de mim e a última coisa que me lembro é de abrir os olhos, ainda sentado na cadeira, de frente para os corpos caídos em volta da cozinha, como uma criança psicopata. E o pior...

Ele hesitou.

–Eu gostei de vê-los daquele jeito. – continuou. – Senti a justiça. Não sei o que Rose diria de mim se soubesse disso, mas se eu tivesse controle daquelas facas, se eu pudesse ter parado, ter me impedido... Eu não me impediria. Pelo contrário, só faria pior.

–Uau. – resmunguei.

–O que estou dizendo, Peter, é que isso já faz um ano. – ele se virou completamente para mim, me encarando com aqueles seus olhos castanhos de menino sofrido. – Minha única família, e estou falando de Rose, morreu há um ano. Eu já sabia que tinha magia àquela altura, só nunca quis admitir. Eu poderia sim ter impedido o acidente, poderia sim ter salvado Rose. Eu poderia ter passado um ano me culpando pela morte dela. Eu poderia passar um ano chorando, me lastimando pela sua morte. Mas não. Você me recrutou. E eu percebi que eu não ficaria triste pra sempre. Não posso sofrer por um fantasma pelo resto da minha vida.

Baixei os olhos para o mar, pensativo.

–Você não vai ficar triste pra sempre. E o melhor jeito de seguir em frente é parar de lembrar com lágrimas e passar a lembrar com sorrisos.

Encarei-o, com um riso no canto da boca.

–Desde quando você ficou tão filosófico? – disse, rindo.

Ele riu baixinho.

–Desde que eu já vi coisas que pessoas com triplo da minha idade nunca vão imaginar. – com um sorriso comprimido, lembrou. – Sou mais velho do que você pensa.

Baguncei seu cabelo, carinhosamente. Ri para mim mesmo e segui para dentro do navio, ainda pensativo. Ele ficou na popa.

–Você vem? – perguntei.

Ele pensou um pouco.

–Pode ir.

Assenti e voltei ao meu caminho, me dirigindo ao meu quarto. Caí na cama, exausto.

Will estava certo. Eu não estava exausto de andar. Estava exausto de ficar triste. Não. Isso pararia. Do que me adiantava? Eu precisava lutar e lágrimas não fazem um guerreiro.

Foi aí que ouvi uma explosão.

Pulei da cama e corri para o convés principal. O lugar, que antes tinha uma piscina no centro, agora fazia bico de plataforma de desembarque de helicóptero. Era todo preto, as hélices ainda giravam quando ele desceu na noite estrelada. E ele não foi o único. Dezenas de helicópteros desciam em todos os níveis do navio. Foi nesse momento que eu vi que realmente, estávamos prontos pra guerra.

Os recrutas corriam para os lados, desesperados. Então, retornavam com arcos, pistolas, espadas, escudos, facões... Armados até os dentes. Era uma invasão. E tínhamos sido pegos de surpresa. Homens vestidos de terno e gravata pulavam dos veículos, armados de enormes bastões prateados. Seus olhos tinham um reflexo branco e eles pareciam voar em volta do navio, pulando de um lado para o outro, duelando com os recrutas. E eu, estava parado no meio do povo, confuso.

Então, do maior helicóptero, desceu um homem. Seus cabelos eram lisos e escuros. Seus olhos eram verdes, verdes como duas esmeraldas. Seu rosto era branco, mas um branco vivo e reluzente. Seus traços eram delicados e esbeltos. Ele usava um terno branco e segurava uma longa espada, maior que qualquer outra. Ela reluzia, como se fosse feita de prata pura.

Ele respirou fundo e ergueu sua palma.

–Cessar fogo. – sua voz, calma e imponente, ecoou por todo o navio.

Recuei ao ouvir sua voz. Algo dentro de mim me impedia de passar muito tempo olhando para seu rosto, como se me machucasse.

Todos os duelos cessaram. Os homens de terno voaram para perto do homem. Os recrutas, alguns feridos, se aproximaram, ofegantes. Os Líderes, que, tirando eu, também estavam lutando, se aproximaram para observar o estranho.

Ele respirou fundo e tomou um passo a frente, se sobressaindo entre seu exército.

–Meu nome, é Miguel. – anunciou. Tossi.

–Ótimo. – murmurou Rafael, de algum lugar que não vi.

–Irmão. – chamou Miguel.

Os recrutas abriram alas, revelando Rafael na multidão.

–O que você quer? – ríspido, Rafael disparou.

Miguel apertou os olhos.

–Por que tão rude, irmão? – perguntou, sério.

Rafael revirou os olhos.

–Não sei, porque você acabou de destruir o minigolfe. – respondeu Rafael, irritado.

O olhar de Miguel se voltou para o convés superior.

–Ops. – resmungou. – De qualquer jeito, vim para me apresentar. Meu nome é Miguel, filho de Deus, irmão do Arcanjo Rafael e do Arcanjo Gabriel. Defensor da paz, Mensageiro de Deus, Caçador do Satanás, Senhor da Luz...

–Peraí. – interrompeu Rafael. – Ninguém te nomeou Caçador do Satanás.

Miguel ergueu uma sobrancelha.

–Você lembra do que papai disse. – anunciou Miguel.

–Foi dito que um Anjo, renascido das cinzas, traria a paz à terra. – lembrou Rafael, cruzando os braços.

–O que mais cinzento do que a tumba que me foi dada como prisão? O que mais contrário da paz do que Lúcifer? O que mais Anjo do que eu? – contestou. – Vai dizer que nunca viu os desenhos, as esculturas de um belo Arcanjo, Arcanjo precisamente, erguendo sua espada sobre o pescoço do Demônio?

Ele fez uma pose com sua espada, como se assassinasse um dragão ali mesmo.

–Não é você. – o outro continuou a insistir.

Ele deu uma risadinha em deboche.

–Não perderei meu tempo com você, Rafael. Vim trazer boas novas. Aqueles anjos, que estejam neste navio, que desejam se juntar à minha causa, à causa do bem, à causa da paz, por favor, sintam-se a vontade a nos ajudar.

Um alto riso veio do meio da multidão.

–Pelo menos metade de todos que estão aqui, já recebeu essa mesma proposta. – Gale exclamou para ser ouvido. – E todos recusaram. Não adianta repetir.

Miguel assentiu.

–Sim. Mas e se chegasse ao seu conhecimento, Sr. Stevens, que seus pais estão comigo.

Gale recuou.

–Eles foram recrutados por nós. E aceitaram brandamente se arriscar para nos ajudar a entender o que, de fato, vocês, autoproclamados Aslyn, realmente querem.

Gale engoliu seco. Então, o olhar de Miguel caiu sobre mim.

–Não consegue olhar pra mim, não é? – adivinhou. – Deve ser um demônio. Erga tua cabeça...

Uma pausa.

–Peter Roman.

Aos poucos, ergui meu olhar para ele. Cerrei os dentes, fuzilando-o com o olhar. Não havia mais dor ou qualquer coisa me impedindo de encará-lo, então não poupei esforços para parecer enojado.

–Esperei muito por este momento. – disse, me olhando como se fosse um pai orgulhoso. – Mantenho o que disse: um dia, você se voltará para mim. Se voltará para mim implorando por misericórdia, pois ela estará com você. A Solidão tomará conta de quem você é.

Minha boca se escancarou.

–Wayland. A praça... – lembrei. – Era você.

Ele assentiu.

–Dei muito duro para mandar aquela mensagem, você é um demônio, é difícil um contato com a espécie oposta. – contou, olhando para o céu.

Ele suspirou.

–Sabe de uma coisa? Estava guardando isto para mais tarde, mas não vejo porque esperar. Maya, por favor. – disse por cima do ombro.

Uma mulher saiu do helicóptero. Seus cabelos escuros desciam até seu peito. Ela usava uma blusa fina com um short jeans e uma pena caia de sua orelha. Ela desceu com um pacote em mãos. Entregou-o a Miguel, que se aproximou de mim. Ele me estendeu o pacote. Tomei-o e abri, sem tirar meus olhos do Anjo.

Dentro da caixinha florida, havia um pano azul. Sobre o pano, havia uma esfera. Uma esfera clara e esfumaçada. Tomei-a em minhas mãos e vi algo se mover dentro dela. Um rosto se formou. Minha mãe. Então meu pai. Então o rosto de cada um morto no incêndio na minha casa.

–Essa é a Orbe de Voluntas. – anunciou Miguel. – Mostra aquilo que você mais deseja. E pelo que vejo, é a culpa fora de seus ombros.

Engoli seco. Não parou por aí.

–Todas essas pessoas morreram e você estava, de algum jeito, culpado pelo que aconteceu com cada uma. – ele continuou. – Só há um jeito de impedir que isso te destrua de vez: precisa corrigir seus erros. E o único jeito é trazendo todas essas pessoas de volta. Por isso foi atrás de meu pai com tanta ânsia. Mas eu lhe digo que há outra maneira.

Ele passou sua mão sobre a esfera. Outro rosto se formou: Kaitlyn.

–Ela pode lhe dar o que quer. – sua voz estava com um tom bíblico, mas minha mente pipocava de impaciência. – E eu posso lhe dar ela. Tudo o que precisa fazer é se render.

Recuei.

–O quê?

–Como você acha que todos esses Anjos são tão poderosos? – perguntou, sabendo a própria resposta. – Não há humanidade dentro deles, Peter. Sabe, Gabriel criou a Humanidade, eu criei a Graça e Lúcifer criou o Poder. Cada uma dessas magias, são a essência de uma espécie. Vocês, nascidos durante os selos, nasceram metade Humano, metade Anjo ou Demônio. Metade de sua alma é recheada de Humanidade, outra metade é Poder ou Graça. Gabriel pode alterar os níveis apenas de Humanidade, Lúcifer pode alterar apenas os níveis de Poder e eu posso alterar apenas os níveis de Graça. Porém, posso destruir. Veja, destruí toda a Humanidade dentro deles, e preenchi o espaço vazio com Graça. Agora são Anjos completos. Posso fazer o mesmo com você, Peter. Posso destruir todo seu Poder e sua Humanidade e encher sua alma de Graça. É tudo isso que peço. Então, terá Kaitlyn de volta, a última dos Morgan, que poderá te dar o que você quer. Farei tudo ao meu alcance para me certificar que você tenha os seus amados de volta.

Mordi o lábio.

–Eu sinto muita falta deles. – pensei alto.

Miguel me olhou com pena.

–Eu sei. – murmurou.

–E posso sentir um pouco mais. Ataque!

Os recrutas partiram para cima dos homens de terno. Joguei a esfera para longe e arranquei meus óculos. Uma longa espada reluzente se projetou em minhas mãos, atravessando Miguel sem hesitar. Entretanto, como se fosse fumaça, ele se desmaterializou e reapareceu atrás de mim.

–Que desonesto! Eu sou a orbe, eu mantenho a Graça de Deus, meus Anjos são tão poderosos aqui como no Céu!

–Fala como se eu quisesse saber! – exclamei, investindo novamente.

Ele bloqueou meu ataque com sua espada. Desferiu um golpe em minha costela, mas me abaixei antes que me afetasse. Ele ergueu sua espada acima da cabeça e baixou-a em minha direção, ergui a minha para bloquear, mas fui enganado. Antes que me atingisse, sua espada dançou para meu rosto, causando um corte próximo a minha boca. Girei minha espada e o desarmei, tal qual Will fez com Gale, segurando minha espada sobre seu pescoço.

Então, algo apavorante aconteceu. O navio disparou em uma velocidade assustadora. A água voava com a força que o navio cortava o mar.

–De novo não. – resmunguei.

Suspenso, no ar, estava Will, com uma enorme esfera de Poder em sua volta. Seus olhos brilhavam em uma aura verde e seus braços, estendidos, emanavam uma magia destruidora. Abaixo dele, estava Sarah, assustada, que estava a meio caminho de ser esfaqueada por um dos homens de terno. Will os encarava. Sua espada jazia caída abaixo de seus pés. Aos poucos, ergueu seus braços. A água pulou para dentro do navio, correndo diretamente para o homem. A água jogou o homem para o alto, onde o engolfou, engolindo-o para dentro. Will voltou seu rosto para o céu e exclamou:

Pethainó!

A água congelou. O rosto do homem, através do gelo, mantinha a expressão de medo. Então, Will uniu suas palmas, fazendo um baque surdo. O gelo explodiu, pecinhas voando para todos os lados. Seus olhos foram aos poucos voltando ao normal, enquanto ele caía de volta para o chão. Miguel e todo seu exército desapareceu em uma fumaça branca, amedrontados.

E assim, eu percebi que de fato, água era o meu elemento favorito.


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Notas finais do capítulo

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