The Last Taste - Season 2 escrita por Henry Petrov


Capítulo 2
Welcome To Aslyn!


Notas iniciais do capítulo

Oooooo...ooooi!
Eaí, povo. Duas e dezoito, neste exato momento que estou escrevendo essa nota. Não sei porque, mas é tão emocionante postar de madrugada ^^
Mas enfim, esse capítulo ficou meio grande, quase no limite do meu padrão (minimo mil, máximo cinco mil palavras), mas tá legal. Espero que vocês estejam gostando até esse ponto e comentem, quero saber o que estão achando. Bom, era só isso. Boa Leitura (:



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–Não é possível.

Sarah mordia o lábio, confusa e apreensiva. Kaitlyn colocava compressas de gelo sob a cabeça de Will, que estava queimando de febre. Gale dispersava a multidão, inventando mentiras para afastá-los de perto de Will e impedir que o acontecimento chegasse aos ouvidos errados. Eu tentava acalmar os ânimos das meninas.

–Isso vai dar muita dor de cabeça. – resmungou Kaitlyn. – O que vamos fazer?

–Do que está falando? – perguntei, agachando ao lado de Will.

–Eles vão querer saber de onde veio aquilo! – exclamou ela, com receio que Sarah ouvisse.

–Não, claro que não. – contestei, agitado. – Ele é poderoso e isso é bom pra nós. Só isso.

–Ele deve suspeitar.

–Não vamos lhe dar motivos para isso.

–Ele tem que saber, Peter!

–Não, ainda não! Você não sabe de nada, Kaitlyn!

–Não sei de nada? Fui eu quem descobriu!

–Não, não sabe! Eu sei! Eu sei o que é melhor pra ele!

–Pessoal?

Estava tão preocupado em discutir com Kaitlyn, que esquecera completamente de Will. Pulei para o chão, ajudando a sentar.

–Você está bem? – perguntei, tocando em sua testa para checar a febre.

Ele tocou a própria cabeça. Ele gemeu e respirou fundo.

–Minha cabeça dói muito. – ele disse. – O que aconteceu?

Kaitlyn me encarou. Olhei para a pilha de corpos encostada na cabine da recepcionista.

–Eu... Eu fiz isso? – gaguejou Will.

Não respondemos.

–Como?

–Adoraria saber. – reclamou Sarah.

–Não é nada de extraordinário, ok? – falei, gesticulando em pedido de calma. – Ele só é mais poderoso que acreditávamos...

Kaitlyn riu.

–Do que você acreditava, né? Sempre acreditei no potencial de Will.

–Potencial? – ele exclamou, assustado. – Isso é horrível! Eu mato pessoas sem perceber! E se, do nada, eu resolver matar vocês e não tiver controle sobre meu Poder?!

–Will, calma. – disse Sarah, se aproximando. – Talvez você percebeu que estávamos em perigo e seu inconsciente quis nos proteger. É completamente normal.

–Certo, mas eu não me lembrar? – ele contestou, amargurado. – Duvido que isso seja completamente normal.

–Olha, a gente resolve isso depois. – concluí. – Mas agora, temos que pegar o avião. Tipo, agora.

Todos assentiram.

Gale surgiu e disse que estava tudo resolvido, ninguém desconfiava de nada. Além disso, falou que com uma boa mentira, arranjara as passagens e já estávamos prontos para embarcar. E assim foi. Eu estava preocupado. Preocupado com Will. Aquilo de fato, não fora normal. Eu sabia o que tinha sido. E isso era o que me assustava ainda mais. O Poder dele estava completamente fora de controle e não demoraria para que o próprio Will sofresse as consequências. Kaitlyn queria que ele soubesse, mas eu discordava. Não faria diferença. Saber não o curaria. Claro que daria uma boa pista de por onde começar a procurar uma solução, mas ainda assim, Will não podia saber. As consequências seriam desastrosas.

Mas uma coisa era certa: ele era poderoso e seria ótimo tê-lo no campo de batalha.

As horas se passaram. O avião não era o melhor dos quartos, mas era o único disponível. Aproveitei para descansar o que eu não conseguira durante a noite anterior. Will, Gale, Sarah e Kaitlyn simplesmente esperavam. Eu não sabia como eles conseguiam. Me chame de hiperativo, de criança descontrolada, mas eu não consigo passar horas olhando para o nada. Dormir foi minha melhor opção.

–Senhores passageiros, estaremos pousando na cidade de Chicago em alguns instantes. Devemos lembrá-los...

Não dei atenção ao resto. Abotoei o cinto e fechei a mesinha de apoio. Sarah e Will riam de uma piada silenciosa. Kaitlyn arrumava o cabelo e Gale jogava em seu celular.

Desembarcamos cerca de dez minutos após o anúncio. Esperamos meio século na roda de malas. A de Gale parecia ter sido engolida pela máquina. Ao chegarmos à sala de desembarque, encontrei, pela primeira vez em oito meses, um rosto conhecido.

–Olsen, aqui!

E lá vinha ele, correndo para ajudar Kaitlyn e Sarah com suas coisas adicionais. Ele usava uma blusa castanho-claro e uma calça preta. Seu cabelo crescera drasticamente. Apertei sua mão e fui às apresentações.

–Este é Gale, este é Will, Sarah e Kaitlyn.

–Oi! – todos disseram uns para os outros.

–Cadê o resto? – disse Olsen, ainda com o sorriso na cara.

–Não tem resto. – disse Kaitlyn. – Somos nós. Só nós.

Olsen se voltou para mim.

–Você tá ferrado.

–Eu sei.

Carregamos as malas até um carro. Era um carro comum. Sim, eu esperava o carro de Lucy. Kaitlyn e Will voltavam suas cabeças de um lado para o outro, observando as coisas que passavam pela janela.

–Para onde vamos? – curioso, Will perguntou

–Casa. – disse eu, sorrindo.

Na verdade, nem eu sabia para onde eu tava indo, só sabia que seria para casa. Casa era minha metáfora para família. Durante a viagem, eu não conseguia parar de imaginar na primeira coisa que eu diria à Sophie. A distância pode ser arrasadora, mas é quando é esticada que uma ligação é testada. Mas de qualquer jeito, eu realmente acreditava que estávamos indo à Wayland. Mas eu já fora a Chicago diversas vezes e eu tinha certeza que aquele não era o caminho de volta.

–Certo, para onde vamos? – repeti a pergunta de Will

–Vamos para Aslyn.

–Aslyn? – repeti

–Aconteceu um pequeno acidente em Wayland. – sua voz estava lenta e tranquila, como se ele escolhesse as palavras com muito cuidado. – Mas isso não importa agora. Estamos perto.

Eu não acreditei naquilo. Estávamos tipo, no meio do nada, floresta dos dois lados e a placa anterior indicava cerca de 30km para a cidade mais próxima. De qualquer jeito, não disse nada. Eu confiava em Olsen. Se estávamos perto, perto de não sei aonde, então estávamos perto.

Então, ele parou o carro no acostamento. Já era noite. A lua crescente era a única fonte de luz além dos faróis.

–Daqui, vamos a pé. – ele anunciou, descendo do carro.

Ele descarregou as malas e colocou-as sobre a calçada. Entretanto, quando peguei a alça da mala, fui interrompido. Uma outra mão se fechava em volta dela.

–Hey, é minha! – exclamei.

–Eu sei! – repreendeu o homem de volta. – Só estou te ajudando, mal-agradecido.

–Calma, Peter. Este é o Jack. – disse Olsen.

Jack parecia um soldado. Ele usava uma blusa azul com calças escuras, daquelas camufladas.

–Esse é o Peter? – ele perguntou. – Achei que fosse um dos recrutas.

–O que está insinuando? – sussurrei.

–Só estou dizendo que esperava mais. Só isso.

Eu estava pronto para protestar, mas Olsen me parou.

–Hey, hey, calma. Vamos levar os meninos para dentro e depois conversamos. Vem.

Sem tirar meus olhos de Jack, tomei a mala e arrastei-a floresta adentro.

–Para onde estamos indo mesmo? – perguntei, após alguns minutos de caminhada.

–Chegamos. – enfim, Olsen disse.

Estávamos no meio da floresta. Eu não conseguia ver nada além dos arbustos e árvores que cobriam a floresta e tapavam a luz da lua.

Então, Olsen passou a mão sobre o ar. A floresta à minha frente tremulou e outra paisagem apareceu.

Havia duas tochas ao nosso lado. À frente, havia uma longa mesa com cadeiras de madeira. Cabanas seguiam até onde a vista alcançava, formando filas paralelas tão grandes como a mesa entre elas. Quase todas as cadeiras estavam preenchidas. Quase. Cerca de dez logo no fim estavam vazias. Havia todo tipo de gente: brancos, negros, roqueiros, hippies, mendigos, socialites, adultos, crianças, até idosos estavam lá. Em frente a cada um, havia pratos e taças feitos de prata. Tochas se alastravam entre as cabanas, trazendo uma harmonia rústica e medieval ao lugar.

–É lindo. – comentei, perplexo.

–Bem–vindos à Aslyn. – disse Olsen, seguindo para o acampamento.

Ele nos levou até onde as cadeiras livres estavam. No caminho, ele deu “ois” e acenos a diversas pessoas. Ele apontou as cadeiras para sentarmos, mas ele me impediu de sentar.

–Nós ficamos um pouco mais a frente.

Franzi o cenho, mas não contestei. Dei um breve aceno aos meninos e fui com Olsen.

–Por que eu não fico lá? – perguntei, me sentindo excluído.

–Porque aqui tem coisa melhor. – ele disse. – Vai concordar comigo.

Estávamos nas últimas cadeiras da mesa. Meu coração pulou. Sentada, rindo e bebendo vinho, estava Sophie. Ela usava um longo vestido preto e seu cabelo brilhava à luz das tochas.

–Sophie?!

–Peter!

Ela pulou da cadeira e me abraçou. O seu calor, o seu perfume. Nossa, eu sentira tanta falta daquilo. Logo atrás dela, estava Hanna, esperando sua vez. Beijei Sophie com tamanha intensidade, para compensar o tempo perdido. Ela segurou minha nuca e girei–a no ar, segurando sua cintura enquanto sua boca se abria em um sorriso. Coloquei-a no chão e beijei-a de novo.

–Senti sua falta. – disse.

–Eu também. – ela riu. – Oito meses... Você vai ter que compensar.

–Sei que sim. – ri de volta.

Abracei Hanna, que usava um short jeans e uma blusa amarela. Seu cabelo estava liso desta vez. Ela parou para me observar e dar tapinhas em minha bochecha. Então, foi a vez de Paris. Ela estava com seus cabelos soltos em seus ombros e usava um vestido verde florido.

–Que bom rever você. – sorri.

Então, o sorriso de Sophie sumiu. Ela me olhava seriamente.

–Quatro recrutas? Quer vencer Lúcifer e Miguel com quatro recrutas?

Cocei a cabeça, envergonhado.

–Falaremos disso depois. Hora do meu discurso.

Apesar da seriedade do assunto, estava claro em seus olhos que ela estava tentando parecer séria, o que me fez rir.

Ela deu batidinhas na taça com a colher, para chamar a atenção de todos. Típico. Assim que toda a multidão se calou, Hanna ergueu sua mão. Notei que ela e Sophie sentavam lado a lado, na borda da mesa.

–Sejam bem–vindos à Aslyn. – ela começou. – Eu sei que muitos de vocês não me conhecem. Alguns até algum tempo, não conheciam à si mesmos. A questão é: o mundo é um lugar bem mais perigoso e sombrio do que imaginávamos. Há duzentos anos, Lúcifer e Miguel se preparavam para o Apocalipse, mas um bruxo e um nephirim os impediram, trancando–os em cavernas e selando-as com cinco selos. Acontece que Lúcifer, apoderando–se da desconhecida maldade de Deus, dera forma aos demônios, assim como Miguel dera forma aos anjos com a bondade de Deus. Cada uma dessas espécies, ganhou um tipo de magia: Poder e Graça, respectivamente. Miguel e Lúcifer tomaram as duas partes de Deus para si, tornando-os uma espécie de fonte de magia para Anjos, Demônios, Bruxos, cruza de um demônio com um humano, e para os Nephirims, a cruza de um anjo e um humano. Até Deus se tornou refém da sua fonte de poder. Quando os selos foram erguidos, todos perdemos a ligação com nossa fonte. Deus desapareceu do mapa e nós, demônios e anjos fomos jogados em seres humanos permanentemente. Nós perdemos nossa magia, nos tornamos seres humanos normais, mas procriamos para que nosso sangue continuasse a correr nas veias de nosso povo, na esperança que um dia, esses selos fossem quebrados e nossa ascendência tomasse início. Há cerca de três anos, Peter Roman e Hanna Whitlight tomaram a responsabilidade de efetuar cinco tarefas que resultariam na libertação de Lúcifer e Miguel, na esperança que trouxessem Deus de volta. Porém, algo deu errado. Deus não retornou. Ao invés disso, o Arcanjo Rafael nos revelou que Deus não está em lugar algum e que todo o esforço resultou em... Nada. Agora, eles estão soltos por aí, esperando o momento certo para continuar o que não terminaram há duzentos anos. De qualquer maneira, estamos livres, estamos libertos de vez. Entretanto, antes que os selos fossem erguidos, foram criadas duas dimensões paralelas à nossa, que poderiam abrigar os anjos e demônios adormecidos: Anakyse e Kraktus, respectivamente. Há cinco meses, Lúcifer e Miguel tomaram posse delas e nós, que não somos soldados para atender aos seus pedidos de guerra, fomos despejados na Terra. Agora vem a parte mais absurda: a Terra é o seu campo de batalha. Os humanos não merecem ter seu lar colocado abaixo por algo que eles não têm culpa. É nosso dever impedir que Lúcifer e Miguel finalizem o Apocalipse. Devo lembrar que os humanos são feitos de uma magia misteriosa: a Humanidade. E, por sermos descendentes da miscigenação com eles, parte de nós também é humana. Tudo isso, por um único motivo: Paz. Por muito tempo, não se acreditava que duas, três espécies tão distintas conseguissem viver em harmonia. Discordamos disso. Todos somos iguais, todos somos capazes de realizar feitos iguais. Um humano, um demônio e um anjo podem sim viver em plena paz. Mas eles não acreditam nisso. Se Lúcifer vencer, os humanos e os anjos morrem. Se Miguel vencer, os humanos e os demônios morrem. Não podemos aceitar isso. Aqui mesmo, soube que alguns de vocês já criaram laços de amizade. Tenho certeza que metade desses laços são compostos por espécies opostas. Eles querem tomar nossa casa, eles querem tornar o nosso mundo um lugar dividido por uma característica que nós não escolhemos. E cabe a nós impedir que isso aconteça, cabe a nós formar uma comunidade onde todos nós possamos viver sem restrição de magia ou espírito. Infelizmente, muitos de nós foram seduzidos a seguir nossos inimigos. E quando digo muitos, são muitos mesmo. Vocês que estão aqui, são apenas 1/3 do que eles têm. Nossas chances de vencer são minímas. Mas eles lutam por poder e ambição. Estamos lutando pelas nossas vidas, pelas nossas famílias, pelas nossas casas, pelo que amamos, pelo que é nosso. Por isso, somos mais fortes, pois nossa força vem do amor ao que temos, ao que possuímos. Vamos vencer, vamos proteger uns aos outros. Lutaremos até nossa última gota de sangue, o que mais honrável do que morrer a favor da felicidade? Nosso objetivo é reaver o que perdermos e trazer a paz entre as espécies. Acreditamos que é possível que Luz e Trevas habitem o mesmo ambiente. É por isso que lutamos, pela proteção do que amamos e pela restauração da paz no céu e na terra. Aqueles que são contra, por favor, se retirem.

Todos se entreolharam, procurando alguém que fosse contra Sophie. Ela sorriu.

–Mas a batalha não vai começar agora. Por enquanto, deliciem-se com o banquete e divirtam-se. Amanhã cedo, começa o treinamento, que se estenderá até a declaração da guerra. Aslyn é o nosso acampamento, aonde nos prepararemos para o que vier. É dever de cada um auxiliar uns aos outros. Qualquer dúvida, estamos aqui.

Ela bateu palmas e as taças e os pratos se encheram com refeições deliciosas. Sentei em meu lugar e me preparei para o meu melhor banquete em oito meses.

O acampamento era bem maior do que eu imaginava. Alguns metros depois da mesa e das cabanas, a floresta se abria em um lago cristalino, contornado por alvos e bonecos de madeira em todo o percurso de sua costa. Algumas cabanas também se encontravam ali. Logo de cara para o lago, uma cabana maior se erguia, como uma espécie de Casa Grande. Em um outro canto, panos e camas formavam uma enfermaria improvisada. Ainda havia os estábulos, onde os cavalos eram guardados, uma casinha próxima ao arsenal. À noite, o lugar era sombrio e escuro, o tipo de lugar que você evitaria passar por perto, mas ao fim do banquete, Sophie nos levou para a Casa Grande, onde ficaríamos. Ela contou que nós cinco éramos considerados os líderes em Aslyn e era nosso dever coordenar as atividades de treinamento. Os quartos na Casa Grande eram um tanto espaçosos, o bastante para um guarda–roupa, uma mesa de cabeceira e uma cama. Bom, Sophie arrumou um quarto de casal para mim e para ela, o que claro, não foi problema nenhum para mim. Sinceramente, eu achei um tanto assustador, pois assim que ela fechou a porta, me jogou na cama e exigiu minhas responsabilidades de namorado. Não que eu esteja reclamando, mas ela estava realmente sedenta de... Bem, aquilo. Foi bom, selvagem e alto, bem alto.

–Eu quase me esquecera como isso era bom. – suspirou Sophie, ainda ofegante

Ri.

–Amanhã começam os treinamentos. – ela continuou, pensativa.

–Isso é verdade? – perguntei, indignado. – Eu te dou a noite mais quente que você já teve em oito meses e você me vem com história de treinamentos?

Ela riu de volta, virando-se para deitar sobre meu peito.

–Desculpa, Peter, mas minha cabeça anda assim, trabalhando vinte quatro horas por dia. – contou, suspirando.

–Quem deveria estar assim era aquele Rafael, não foi ele que nos deu essa droga de missão?

–Hey, não fala assim dele. – ela defendeu. – Ele só nos contou fatos, nada é culpa dele. Aliás, ele está por aí, tentando descobrir os planos de Lúcifer e Miguel. Ele foi de grande ajuda dando as línguas aos estrangeiros.

–Como é? – perguntei, perplexo com o que minha mente entendia por “dar língua”.

–É, fazendo algum tipo de vudu para que os indígenas, mexicanos, brasileiros, árabes, africanos...Esse povo todo entenda e fale inglês. – ela explicou.

–Como é? – repeti. – Por isso que só consegui quatro recrutas. Só fui nos países de língua inglesa, tipo... Inglaterra.

–E a Irlanda? – questionou Sophie

Encarei-a.

–Falam inglês na Irlanda?

Ela riu alto.

–Sinceramente, você tem o que no lugar da cabeça? – ela disse, rindo

Ri de leve, disfarçando o desconforto depois de ser chamado de burro.

–Não sabia.

Passei os instantes que se seguiram, acariciando seu cabelo, sentindo seu corpo colado no meu.

–Senti tanta sua falta... – ela suspirou, erguendo a cabeça para me beijar.

–Também, mas estamos aqui agora. – sorri. – Juntos.

–Eu te amo.

–Também te amo. Muito.

Enquanto ela repousava a cabeça em meio peito, beijei sua cabeça.

Na manhã seguinte, tive que aturar Hanna me olhando de olho torto, reclamando que as paredes eram muito finas. Sophie e eu rimos baixinho. Durante a manhã, todos se dirigiram para a mesa, onde tomamos café da manhã e Sophie deu as instruções diárias.

–Bom Dia, pessoal! Bom, hoje é o nosso primeiro dia de treinamento e eu espero que vocês aproveitem ao máximo, pois essa guerra pode explodir a qualquer momento. Sem mais delongas, vou lhes dar o horário de hoje: das oito às dez, América do Norte – Arco e Flecha, América do Sul – Magia, Ásia – Táticas de Guerra, África – Cavalaria e Europa – Escudo e Espada. Cada atividade dura duas horas, as equipes serão divididas em continentes, cada um de nós cinco vamos liderar o continente que recrutamos e ao fim de sua atividade, passem para a próxima da lista. Dúvidas?

Ela disse tudo isso rápido demais para a maioria dos cérebros humanos processarem, mas acho que todo muito entendeu. Ela correu os olhos pela mesa, atrás de alguma pergunta, mas ninguém se manifestou.

–Ótimo. – ela sorriu. – Então vamos lá, circulando!

Respirei fundo. Observei Paris, Olsen, Hanna e Sophie sendo seguidos por batalhões pela costa do lago, enquanto os meus quatro recrutas me observavam com tédio.

–Que grupozinho mas entediante. – reclamou Sarah.

–Cala a boca. – retrucou Gale.

–Como é? – sua boca se escancarou, em indignação.

–Você me ouviu.

–Pessoal, não vamos brigar logo no primeiro dia, né? – comentou Will, sério.

Sarah deu um olhar fuzilante para Gale e se virou, indo até o lago.

–Vamos. – respirei fundo. – Escudo e Espada. Beleza. O que acham da floresta?

Gale ergueu as sobrancelhas.

–Quer colocar quatro iniciantes no meio da floresta? – Kaitlyn disparou.

–Só se aprende a nadar quando se afoga. – respondi. – Vamos.

Demos a volta no lago e seguimos até a floresta do outro lado. Não quis ir para a parte próxima a rodovia, tive receio de que alguém ouvisse os sons do treino. Cada um puxou uma espada e um escudo do Arsenal, de madeira claro, e adentramos a floresta.

–Kaitlyn com Sarah, Will com Gale. – anunciei. Eles se posicionaram um de frente para o outro e colocaram suas espadas e escudos em posição. – A espada deve ser mantida na mesma altura da cintura e o escudo deve ser colocado na lateral, para facilitar o movimento durante um bloqueio frontal. Kaitlyn e Will, vocês são número 1, Gale e Sarah, são número 2.

Eles se entreolharam, rindo.

–Qual é, colabora gente. – falei, tentando não rir junto. Sarah revirou os olhos, com um sorriso no canto da boca. – Quero que 1 erga a espada acima do ombro e desfira um golpe diagonal no 2. 2, se defenda. Quando eu disser agora... Agora!

Will rebolou o escudo na cara de Gale e saiu correndo. Kaitlyn deu um chute na espada de Sarah, fazendo com que a ponta desse um tapa na cara da mais jovem. Sarah praguejou em alto e bom som.

–Era só pra virar de lado, defender com o escudo! – gritei alto o bastante para Will ouvir

–Ah. – ele e Kaitlyn disseram em momentos distintos.

–Ok, vamos de novo. – falei, tentando acalmar a mim mesmo.

E assim se seguiu, eu, tentando sem sucesso, ensiná–los a lutar com uma espada e um escudo. Mas no fim das contas, até que ficou bom. Após uma hora de treino, troquei as duplas. Os quatro já suavam muito e ofegavam. Estavam precisando entrar em forma. Sarah reclamava constantemente que os minutos se arrastavam e Kaitlyn se animava com seu desempenho. Trabalhamos com sequências, diferentes maneiras de se seguir com um confronto. Em uma hora e meia, eles já conseguiam fazer bloqueios e investidas com certa destreza. Bom, de um jeito bem ruim e precário, mas estava bom. Em cerca de uma ou duas semanas, seriam praticamente os Power Rangers. Isso era o que eu achava.

Como estava errado.

–Sequência número 7! – gritei – A última! Quero ver agora vocês inovando, tentem algo novo! Agora!

Os baques se fizeram mais altos, enquanto Kaitlyn rodopiava para atingir Sarah. Gale e Will estavam em um bom combate espada-espada. De repente, a espada de Gale voou no ar e caiu na mão de Will, que agora pressionava a “lâmina” da sua contra a garganta de Gale. Este ofegava, assustado e com as mãos para o alto. Bati palmas.

–Ótimo, Will! – parabenizei

–Eu não achei que fosse dar certo, mas deu! – ele riu, com um sorriso estampado em seu rosto.

Enquanto isso, Kaitlyn girou sua espada no ar e conseguiu desarmar Sarah, jogando a espada para longe e segurando a espada sobre a cabeça da menina.

–Muito bom! – sorri

Sarah riu de leve enquanto Kaitlyn a levantava.

–Ok, meninos, já são dez horas, vão se preparar para o Arco e Flecha. – falei, pegando suas espadas e escudos.

Eles murmuram ok's e saíram, Will ainda tirando sarro de Gale e Kaitlyn cochichando algo para Sarah, enquanto esta revirava os olhos.

–Pode sair agora. – falei, observando-os ao longe.

Voltei-me para ver quem nos observava. Uma mulher saiu de trás de uma árvore. Seus cabelos castanhos e ondulados caíam em seus seios. Ela usava um longo vestido verde, o que lhe dava um ar de superioridade. Ela piscou. Seus olhos se tornaram escuros como duas obsidianas. Ela piscou novamente e eles voltaram a um tom castanho.

–Quem é você? – perguntei, ríspido.

–Meu nome é Rachel. – ela respondeu, arrumando a franja. – Sou filha do Senhor do Inferno.

Ri alto.

–Filha do senhor do inferno? – falei, ainda com um sorriso no rosto. – Nossa, como vocês demônios são espirituosos.

–Rodeios à parte, sabe a razão de eu estar aqui. – ela continuou, se aproximando, segurando o vestido acima da mata.

–Deixa eu adivinhar: Você quer que paremos com o treinamento para que vocês vençam, não é? – minha voz tomou um tom pomposo e cômico. – Acho que não.

–Poupe-se. – bufou. – Vim aqui lhe fazer uma proposta, em nome de meu mestre. Ele quer que você se junte a nós.

Ergui uma sobrancelha.

–Eu? Com vocês? Há! – exclamei para o alto. – Só por cima do meu cadáver.

Ela estreitou os olhos.

–Sabe, Peter, eu sei que você não vai aceitar tão cedo. Sabemos que não vai. Mas, deixa eu te contar, o meu Senhor, é um homem muito, muito paciente. Ele vai esperar o quanto for preciso.

Mordi o lábio, sentindo que o momento para piadinhas havia passado.

–Mas quero deixar bem claro: a paciência dele vai até um ponto. Quando ele se cansar de correr atrás de você...

–Já sei, ele vai matar todos que eu amo. – completei, com desdém. – Enquanto eu estiver vivo, ele não vai...

Ela ergueu sua mão em pedido de silêncio.

–Não. Ele nunca mataria por um motivo desses. Ele é mais inteligente do que isso. – seus lábios se curvaram em um sorriso no canto de sua boca. – Meu mestre pode não saber tudo sobre você, mas sabe o bastante. Ele vai arrancar de você aqueles que você ama, um por um, até que você perca seu chão. Sabe o que acontece quando você deixa uma cobra presa e deixa de alimentá-la? Ela engole a si mesma. E é exatamente o que vai acontecer com você. Você, sozinho, vai destruir tudo o que você mesmo construiu. E quando terminar, a culpa pesará em seus ombros até que te destrua por completo.

Ela ergueu o queixo.

–E então, você vai implorar por misericórdia do meu Senhor.

–Que tipo de coisa está falando? O que ele sabe? – perguntei, apreensivo.

–Ele sabe sobre Missouri.

Foi o bastante para eu sentir cada osso do meu corpo estremecer. Ela se virou e começou a sumir em meio às árvores.

–Tick-Tock, o tempo está passando. – ela disse por cima do ombro, antes de desaparecer por completo.


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Notas finais do capítulo

C O M E N T E M !



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