Eu acordo num ambiente confortável. Abro e fecho meus olhos até que tudo entra em foco: o teto branco, e os pôsteres de banda, o cheiro de chiclete no ar, e Natasha deitada em cima do meu braço, que apesar de doer, é bem gostoso. Faz sentido?

Tirei meu braço de baixo dela sem a acordar. Parecia tão inocente dormindo, e aquele imagem contrastou com a Natasha de ontem, gemendo meu nome, me beijando e me mordendo. Se alguém tivesse ideia do que eu faria por mais um pouco daquilo. Ela é viciante, tanto quanto me beija como se o mundo fosse acabar, ou quando ri, ou quando faz sexo comigo. 

Natasha se mexe na cama, virando o rosto pra mim, e então ela abre os olhos devagar e sorri. Um sorriso verdadeiro.

—Bom dia. - eu digo.

—Vai se ferrar. - Natasha diz, ainda sorrindo. Só ela pra fazer um "vai se ferrar" soar como um "eu te amo". Ela olha pra cima, encarando o teto, perdida em seus pensamentos como faz ás vezes. Eu a arranco de seus pensamentos com um beijo, e então transamos de novo.

(...)

Eu chego em casa e Bruno está sentado no sofá. A tv não está ligada, e ele me olha fixamente quando abro a porta.

—Eu tenho uma coisa pra te dizer. - ele diz seriamente, e interrompe o discurso animado que eu ia fazer sobre como o mundo é belo

—O que?

—Senta.

—Eu to com medo.

—Relaxa é coisa boa.

—Quão boa?

—Muito.

—O que é? Fala logo, eu to curioso!

—Você fez sexo ontem!!!! - ele começou a comemorar. Meu rosto estava quente, então provavelmente eu tinha ficado vermelho. Eu queria me enfiar em um buraco.

—Como você sabe, seu telepático maníaco filho da puta?

—Karol veio pra ontem dizendo que vocês estavam fazendo muito barulho. Essa garoto puxou ao irmão, cara!

É sério, como é que eu faço pra poder me esconder pra sempre?

—E-eu... vou subir.

 Ainda não tinha entendido o motivo de ficar com vergonha, quer dizer, ele é meu irmão mais velho. Eu devia ter orgulho disso, certo? Mas é meio difícil quando eu vejo ele quase como um pai.

Peguei meu celular e li a mensagem "Ela não é quem você pensa que é" e então eu respondi a mensagem pra aquele número dizendo "Foda-se".

Porque era o que eu pensava: foda-se. E então eu cometi um dos meus erros de sempre, começar a pensar no assunto. Começar a especular razões, coisas remotamente possíveis como ela, sei lá, ser um foragida por seduzir homens e depois cortar o pau deles fora e coisas assim. Minha mente viajou por uma hora, até que eu resolvi ligar pra ela e tirar satisfação.

—Eu não posso viver uma mentira, Natasha. Eu preciso que você me conte o que está escondendo de mim agora, ou nunca. E se você não me disser, eu juro que nunca mais vou te procurar. - eu disse. Em minha cabeça, eu disse. É o que eu deveria ter dito. Mas eu não disse, porque ela atendeu dizendo o meu nome, de modo que só ela sabia dizer, e então não importava mais. Nós conversamos por horas, e eu chamei ela pra sair no próximo sábado. Eu queria fazer coisas normais, de casais normais: eu queria caminhar de mãos dadas, e comprar flores e dizer que eu a amo quantas vezes eu quiser. Porque eu amo, e não adianta nem sequer tentar negar. Eu a amo. E foda-se.

No outro dia, estava chovendo. Eu acordei cedo e fui pra escola. No caminho, eu segurei a mão de Natasha, e ela não recuou. Nós não dissemos nada, porque ela estava ocupada fumando e eu estava ocupado segurando o guarda-chuva, tampando nós dois, eu não me importava. Ás vezes, ela olhava pra mim e sorria. E eu me perguntava a Deus se ela era a resposta a todas as coisas boas que eu já havia feito.