Capítulo 14

Yona

            Eu finalmente conheci o pai de Jacob. Billy Black era bem animado e extrovertido, não aparentava ser muito velho, como eu havia imaginado. E a surpresa de ver que o filho estava de volta, fez aumentar ainda mais minha admiração por Jacob. Os dois eram realmente muito amigos e Billy parecia entender perfeitamente os motivos do filho para ter ido embora. Não brigou e não reclamou a falta que ele havia feito, mesmo que quisesse exprimir isso.

            Fui apresentada a ele, e enquanto todos se serviam dos pães, bolo, biscoitos, sucos e todas as outras coisas que Emily nos oferecia com satisfação, minha vinda ao mundo como loba foi contada desde a primeira febre anormal que eu havia sentido até quando encontrei Jacob, colocando em evidência novamente a hipótese sobre Victória e falando sobre o percurso que fizemos no Canadá. Tudo isso rendeu um amontoado de assuntos até que a noite viesse e eu já havia entrosado com todos e me divertido bastante. Se eu soubesse antes que viver entre eles era tão bom, eu teria dado um jeito de voltar ao tempo e impedir meu avô de ter ido embora de La Push e levado meu pai com ele. Os meninos eram muito divertidos e Leah nem era tão chata como Jacob me disse que ela era. Eu estava sendo cativada por todos.

            Quando todos estavam cansados o suficiente, e Emily já não tinha mais o que oferecer para nós, esfomeados, Billy chamou ao filho e a mim para irmos embora. Despedi-me de todos e na volta para a casa de Jacob, Leah e Seth foram deixados na casa deles por insistência de Billy, de acordo com ele, os irmãos estavam sobre seus cuidados e Billy os considerava como filhos. Eu só esperava que com a afetividade que eu iria construir com o tempo com Billy, ele não fosse me considerar como filha. Porque bem, eu não queria ser considerada irmã de Jacob. Existiam outras colocações no qual eu poderia me encaixar perfeitamente.

            A casa de Jacob era também simples. Havia a casa e uma espécie de garagem ou oficina onde ele guardou seu Volkswagen Rabbit 86, um carrinho bem pequeno que Jacob se dizia apaixonado por ele. A propósito, eu não comentei sobre a pequena crise de histeria que Jacob deu ao ver que Jared havia usado seu carro para trazer seu pai até a casa de Emily. Bem, não foi uma crise de histeria muito escandalosa, foram apenas exclamações como “Meu carro, quem mandou você pegar meu carro? Se tiver algum arranhão nele, eu vou te arrebentar.” Coisas do tipo. Foi engraçado e aliviou um pouco a tensão em que todos se encontravam por causa do clima ruim de anteriormente.

            - Yona, seus pais sabem que está aqui? – perguntou Billy quando já estávamos dentro de casa.

            Agora as coisas apertaram.

            - Se eles tiverem lido o papel que eu deixei escrito no meu quarto, sim.

            - E quanto tempo faz que você escreveu esse papel? – Billy falava com seriedade.

            - Acho que uma semana. Não tenho muita certeza. – minha falta de responsabilidade gritava socorro no fundo de minha consciência.

            - E você não se comunicou com eles até então?

            Eu neguei com a cabeça.

            - Bem, são nove e meia. – ele disse conferindo o relógio. – É um pouco tarde, mas é melhor ligar para eles.

            - Pai! – alertou Jacob.

            - Só acho que é melhor você dizer que está tudo bem. Eles podem estar preocupados.

            - Claro. O senhor tem razão. – respondi envergonhada. Essa não deveria ser a primeira impressão que eu deveria deixar para o pai de Jacob. Não mesmo.

            - Toma o telefone. – Jacob entregou a mim.

            Disquei os números e esperei que atendessem.  

            - Alô? – eu reconheceria a voz de minha mãe a quilômetros de distância.

            - Mãe, sou eu!

            - YONA! Onde é que você está? – agora ela berrava.

            - Ué, você não leu o papel que eu deixei na escrivaninha do meu quarto não? – eu tentava agir tranquilamente, para que Jacob e o pai não percebessem meu desespero.

            - É CLARO que li, Yona. Você está ciente de que está encrencada, não está?

            - Estou mãe...

            - O que você está fazendo aí? – a voz da minha mãe quando estava extremamente nervosa ficava aguda e irritante. – Você não tem nada para fazer aí.

            - Mãe!- eu respirei fundo, fechando os olhos e passando a mão pelo rosto. – E-Eu estou com um amigo. Você não precisa se preocupar...

            Jacob e o pai olhavam atenciosos as caretas que eu fazia.

            - Eu tenho motivos suficientes para me preocupar, desde que você passou a agir sem um pingo de responsabilidade, achando que é dona do seu nariz, nos desrespeitando e passando por cima das nossas ordens.

            - Mãe, eu estou bem. Você sabe o porquê que eu estou fazendo isso. Meu lugar não é aí.

            - Eu não sei de nada... Seu pai vai falar com você.

            - YONA!

            Engoli em seco.

            - Oi, pai?

            - Eu não vou aí atrás de você, então trate de voltar imediatamente.

            - Voltar? – olhei para Jacob. – Não tem como pai.

            - Dê um jeito e volte. Do mesmo jeito que você foi, você volta...

            Billy tomou o telefone da minha mão.

            - Vai. Deixe que eu fale com ele... Alô? Senhor Miller. Aqui quem fala é Billy Black...

            Jacob apareceu do meu lado e me pegou pela mão, arrastando-me para algum lugar, que eu não sabia onde. Eu não estava prestando atenção, meu desespero era maior que meu estado de consciência. Eu não podia voltar. Eu não queria. Esse era meu lugar e mesmo longe dos meus pais eu sabia que era aqui que eu ficaria feliz.

            Entrei em um quarto junto com Jacob. Pela cama de solteiro encostada na parede, forrada com uma coberta xadrez, e pela disposição de fotos de motos e carros pregados na parede, esse só poderia ser o quarto dele.

            - Meu quarto.

            - Eu percebi. – dei um sorriso fraco.

            Jacob sorriu.

            - Você pode dormir aqui, está certo? Eu vou dormir lá na sala.

            - Está bem. – suspirei. – Eu não quero ir embora. – falei baixinho.

            - Você não vai. - Jacob me puxou e me abraçou. - Procure ficar tranqüila, meu pai está falando com o seu. Você não conhece o poder de diálogo que Billy Black tem. Seu pai vai acabar dando você para nós.

            Eu ri.

            - Eu só acho que agi no impulso demais. – disse a ele.

            - Isso sim. Quem nesse mundo não age? Eu agi também. - Jacob se afastou de mim segurando meu ombro e olhou em meus olhos. – E você acha que meu pai não vai arranjar um jeito de me punir por eu ter ido embora? – ele deu uma risada.

            O barulho da cadeira de rodas do pai de Jacob se aproximando, fez com que ele soltasse meu ombro. Billy apareceu na porta, sério.

            - Seus pais estão muito chateados com você. – Billy me disse.

            - Eu sei que estão. Eu também agi errado...

            - Mas eles deixaram você ficar. O que foi muito difícil eu convencer seu pai. Eu também ficaria preocupado se uma de minhas filhas fugisse com um rapaz para o outro lado do país. – ele apontou o dedo para Jacob. – Eu ainda não tive tempo de conversar com você, rapaz, mas você também não me escapa.

            - Olha aí, eu não falei. – Jacob sussurrou para mim.

            - Jacob, arrume as coisas para ela. Não é assim que se recebe uma visita. Qualquer coisa que precisarem, eu estarei na sala. – ele contornou a cadeira. – Yona, não precisa ficar acanhada. A casa agora também é sua. – Billy sorriu para mim e saiu.

            - Não precisa se incomodar, Jacob. Eu me viro. Eu já dormi no meio da terra, lembra?

            Ele sorriu, sentando-se na cama. Fui até ele, sentei ao seu lado e ficamos em silêncio por um tempo.

            - O que é que tanto pensa? – perguntei.

            - Em nada. – ele deu um sorriso disfarçado.

            - É na Bella? – tentei disfarçar meu ciúme.

            Ele me olhou, percebendo minha intenção e deu uma risada.

            - Não. Não é na Bella.

            Jacob continuou me olhando com um daqueles sorrisos que denunciam que estamos escolhendo as palavras para dizer. Eu esperava curiosa para saber o que se passava com ele.

            - É que... – ele começou – É que tem tanta coisa passando pela minha cabeça, você nem imagina!

            - Hum! – disse para que ele continuasse falando, esperando pelas próximas palavras.

            - Eu estou meio confuso sobre algumas coisas... E tem aquela porcaria de voz que fica dizendo para eu seguir meu coração. Mas se nem meu coração sabe o que ele quer... Droga Yona, não sei por que estou te dizendo isso. – Jacob falava embaraçado.

            Eu queria saber mais. Queria saber tudo sobre essa tal confusão no coração. Gostaria de poder perguntar “A Bella caiu fora? Agora é a minha vez?”, mas eu não podia ser tão direta assim. Seria mais fácil se as conversas fossem mais diretas. Evitaríamos confusões. E ilusões também.

            - Qual o problema? Somos amigos, não somos? – joguei.

            Ele abriu um sorriso envergonhado.

            - Amigos...

            E me puxou para junto a ele, dando-me um beijo na testa.