Katniss acordava cedo todas as manhãs, uma semana já havia se passado desde o aniversário de Clove, havia sido um desastre total, todos na família pareciam odiar Katniss e ela não conseguia quebrar a barreira que eles tinham feito, Gale sempre tentava se aproximar dela sorrateiramente e ela sempre estava escorregadia perto dele e já não aguentava mais aquela situação.

Estava mais uma vez andando pela casa sozinha quando ouviu um barulho perto do jardim, ali ela viu a pequena garota Mellark, Clove estava sozinha e olhou para os cantos antes de continuar andando cuidadosamente como se fosse para algum lugar secreto, a Everdeen continuou seguindo a garota que seguia pelo jardim nas laterais da casa.

Ao chegar num ponto do jardim ela deitou na grama e fechou os olhos, naquele instante, parecia que algo magico estava acontecendo, o vento frio da manhã passou pelos cabelos da garota e ela sorriu.

—_ Hei mamãe, você consegue me ouvir?

A garota falou tão baixinho que Katniss precisou se aproximar para poder ouvir. Ela continuou prestando atenção e os minutos corriam, foi quando Katniss cansou e andou até onde a garota estava, tão imersa estava Clove que não percebeu Katniss deitando ao seu lado, ela ficou ali até que adormeceu.

As duas acordaram praticamente juntas meia hora depois, Clove abriu os olhos assustada e um pouco magoada, como se seu pequeno e único espaço, onde ela poderia ser ela mesma tivesse sido invadido naquele momento por alguém desconhecido e que ela não confiava.

Clove lembrava do primeiro encontro com Katniss, de como tinha sonhado em ter uma mãe e por algum tempo achou que encontraria aquilo com a Everdeen, mas a amistosidade de Katniss durou pouco, somente até o casamento, depois daquilo era fria e distante com a garota, nunca se importava, Clove se sentiu traída e mais uma vez percebeu que não se pode confiar nas pessoas.

—_ Desculpe, eu não queria invadir seu espaço, mas... Te vi aqui deitava e parecia tão calma, tão cheia de paz, tive inveja de você, ai resolvi tentar encontrar minha paz ao seu lado, e... Foi o melhor momento que tive nessas ultimas semanas.

Por um instante Clove quase se deixou enganar por Katniss, mas depois ela lembrou do inicio, não deixaria ela entrar em seu coração, não outra vez, não seria mais magoada, nem por Katniss, nem por Peeta que a tinha abandonado sozinha naquela casa e nem por seu pai que nunca tinha realmente estado lá para ela, nem mesmo tia Effie que gostava apenas de futilidades e por mais que tentasse ser uma ótima tia, ela não sabia como agir com uma garota adolescente, sua simpatia só funcionava mesmo com crianças pequenas e adultos, Clove não era exceção.

—_ Eu vou tomar meu café.

—_ Eu vou com você.

E assim a Everdeen seguiu a pequena e desolada Mellark, duas almas em busca de consolo, mas não seria tão fácil, não para elas, uma Katniss que não sabia o que a irmã tinha feito e uma Clove que era tão nova e mesmo assim já tinha tido o suficiente de dores para sua idade.

Ao chegarem na sala de estar uma figura loira vinha descendo as escadas com seu sorriso extremamente branco e um salto que nunca deixava de usar.

—_ Bom dia Clove... E Katniss.

Glimmer falou não disfarçando o quanto não gostava de Katniss.

—_ Glimmer, novamente por aqui.

—_ Pois é, meu noivo por algum motivo gosta dessa casa, e nesse vai e volta pro meu apartamento as vezes ficamos por aqui mesmo.

Só foi falar no noivo que Peeta também apareceu, saído da cozinha com uma calça de moletom e sem camisa, ele andou até a loira e a beijou.

—_ Bom dia querida. Bom dia irmã.

E assim ele fingiu que não viu Katniss, ela também não queria falar com ele, não entendia como ele a tinha beijado, achava Peeta um homem perigoso e lastimável que tinha cometido o grande pecado de beijar a mulher de seu proprio pai.

Katniss não sabia... Mas Peeta amou Jennifer, algo que tinha virado uma obsessão doentia e um ódio pela madrasta, Jennifer tinha se sentido levemente atraída por ele, mas ela não procurava amor, ela queria poder, e Gale era um homem muito tentador para ela, não foi difícil trocar de filho para pai, afinal, ela e Peeta realmente não tinham tido nada além de uma troca de beijos.

Glimmer e Peeta começaram a namorar logo depois do casamento de Gale e Katniss(Jennifer), e agora estavam noivos, Glimmer tinha conhecimento da história de Peeta com a esposa do pai e sabia dos sentimentos do rapaz, por isso, ela nutria raiva e ódio pela senhora Mellark, afinal, ela realmente amava Peeta e sofria com o fato de nunca ter sido capaz de faze-lo esquecer daquela odiosa mulher.

O clima do café da manhã era sempre tenso, Effie comia silenciosamente enquanto Peeta e Glimmer ficavam se namorando com risinhos irritantes e Clove mal olhava para o prato.

Katniss se sentia péssima, era sempre a primeira a sair da mesa, levantava e ia direto para o quarto do bebe, ali ela mimava o pequeno garoto e conversava com Annie, Annie era a baba fazia pouco mais de duas semanas, então era a única que não tinha visto mudança na personalidade da mulher de Gale, por isso sempre se davam muito bem.

—_ Oi Katniss, deixa eu colocar ele pra dormir agora.

—_ Não Annie, sente-se, eu mesma faço isso, ele é tão... Adorável.

—_ Eu sei, eu adoro crianças.

—_ Como você acabou aqui? – Katniss vinha sempre conversando com aquela garota e pode perceber o quanto ela era inteligente, por isso não entendia como ela era apenas uma babá. – Você parece alguém muito inteligente para... Terminar aqui.

—_ Eu não terminei... A vida me pôs aqui. Vocês pagam muito bem, no final das contas meu sonho sempre foi ser uma professora de escola infantil, mas meus pais não tiveram o dinheiro suficiente para eu poder estudar.

Annie abaixou o olhar e sentiu seus olhos se enxerem de lagrimas, tinha bons pais, mas isso não era o suficiente para pagar uma faculdade.

—_ Eu te entendo.

Katniss falou verdadeiramente, era verdade, a entendia, e muito, mais do que qualquer pessoa, Katniss também era daquele jeito, também não pode estudar mesmo que quisesse.

—_ A vida pode ser bem dura. – A Everdeen falou encarando o nada. – Eu nunca vou entender como pessoas tão inteligentes como você não tem a chance de fazer o que querem e tem tantos idiotas no mundo desperdiçando essas oportunidades.

E assim ela ficou quase toda a manhã ali, conversando com a garota Cresta, uma doce e inocente garota, prima de Portia que também trabalhava para os Mellarks, garotas espertas sem muitas oportunidades.

Ao sair do quarto do sobrinho Katniss deu de cara com Effie espiando-a.

—_ O que foi Effie?

—_ Nada... Você por acaso descobriu que vai morrer?

A mulher perguntou irônica não percebendo o rosto de Katniss se retorcer, afinal, aquilo estava acontecendo com Jennifer.

—_ Não fale tolices.

—_ Não são... Eu não gosto de você. É um fato, mas eu... Eu apoio o que está fazendo, finalmente dando atenção ao seu filho.

Katniss ficou sem reação, a mulher não falou mais nada, apenas sorriu e saiu dali, a Everdeen ainda estava meio abalada quando voltou para seu próprio quarto e levou um susto ao ver Peeta deitado em sua cama.

—_ O que diabos você está fazendo aqui? Enlouqueceu? Gale está quase chegando para o almoço. Saia daqui agora!

—_ E se eu vier mais cedo? Assim ele não vai ter oportunidade de nos pegar. – Peeta falou com um sorriso irônico se levantando e indo rumo a Katniss que arregalou os olhos se sentindo já tremula com a possibilidade da aproximação. – Vamos lá, eu sei que você adora quando eu te toco.

—_ Você só pode estar louco! Saia Peeta, saia agora!

—_ Engraçado, duramente todo o casamento do meu pai com você eu nunca tinha te beijado até o dia da chuva, foi surpreendentemente prazeroso, eu devia ter feito isso antes.

Ele falou a ignorando e se aproximando mais, a puxou para um beijo e Katniss nem percebeu quando fechou os olhos e quando se mostrou tão entregue, mas o beijo nunca veio, ela abriu os olhos e corou ao fitar o rosto debochado do Mellark.

—_ Você quer que eu te beije? Se separe do meu pai e talvez eu use você uma ou duas vezes, posso até te pagar por isso.

A garota sentiu ódio e os olhos se encherem de lagrimas, nunca tinha sido tão humilhada, deu um tapa no Mellark que ficou um pouco chocado com a cena, ele poderia nunca a ter beijado antes da chuva desde que se relacionava com seu pai, mas sempre a provocou, ela sempre revidava, nunca se deixava abalar, e a ver tão ferida quanto naquele momento deixou Peeta confuso, tão confuso que ele não disse mais nada, apenas a soltou e saiu do quarto.

Sozinha a garota caminhou até a cama e chorou, chorou até que não tivesse mais lagrimas, até ouvir uma voz distante a chamando para descer e ir jantar, e se perguntou, por que ainda estava ali? Naquela casa onde todos pareciam a odiar? Mas não foi embora, levantou da cama e retocou a maquiagem, mesmo ferida sabia que a farsa teria que continuar, devia aquilo a sua irmã, ficaria o quanto pudesse aguentar, mesmo sabendo que não seria muito.