Tudo começou meio estranho.

Eu acordei e afastei o edredom que cobria meu corpo. Estava na minha cama, no meu quarto, mas não usava as mesmas roupas que estava usando quando fui dormir naquela mesma noite (ou madrugada, não sabia que horas eram). Estava com uma camisola branca, que nunca havia visto em meu guarda-roupa. Meus cabelos estavam numa trança, presa por um laço de fita branco.

Me sentei na cama e desfiz a trança, meus cabelos rebeldes e indomáveis caíram pelas minhas costas, com os cachos castanhos desgrenhados.

Olhei a volta e não vi nada de diferente no meu quarto, tudo estava normal (com exceção das minhas roupas). Caminhei lentamente até um canto do meu quarto, onde o guarda-roupa e a parede se encontravam.

Me sentei ali, agarrei minhas pernas à minha frente e fiquei olhando pela janela. Naquele momento havia percebido que a janela devia estar fechada, mas estava aberta.

Desviei meu olhar por um momento, e quando voltei a olhá-la, havia uma figura negra parada do lado de fora da minha janela. Ela me olhava. A cabeça estava meio abaixada, os cabelos pretos e lisos caiam em seu rosto, uma camisola preta cobria seu corpo por completo, no lugar dos olhos haviam dois buracos sem nada. Até aquele momento não havia percebido boca, apenas uma linha um pouco acima do queixo

Fiquei encarando-a de volta e o quarto era apenas iluminado pela luz da lua que entrava pela janela.

Quando pisquei longamente meus olhos, e os abri novamente, ela estava dentro de meu quarto. Parecia não ter pés, flutuava a centímetros do ar. Seu olhar ainda estava em mim. Me levantei devagar e os dois buracos pretos acompanhavam meus movimentos.

Algo dentro de mim gritava: "Corra sua idiota! Não fique parada!". Meu quarto ficava no fim do corredor, e o dos meus pais do outro lado. O corredor é grande e iria demorar para chegar ali. A porta provavelmente estaria trancada, como toda noite. "Se você correr, você consegue! Apenas corra! Fuja disso aí!"

E assim fiz. Corri para a porta do meu quarto, abri-a e corri corredor a dentro.

Parecia que o mesmo havia triplicado de tamanho e a porta do quarto dos meus pais estava muito longe de meu alcance. Continuei correndo. Quando olhava para trás, via a garota me seguindo calmamente. Me dava vontade de gritar, mas o grito ficava preso na garganta.

Senti a porta do quarto de meus pais conta meu corpo e comecei a soca-la.

– MÃE! MÃE! ABRA A PORTA! ABRA A PORTA! - eu gritava socando. Quando olhei para traz, a garota estava cada vez mais perto - MÃE! MÃE! POR FAVOR! MÃE! SOCORRO!

Quando me virei novamente, a garota estava a centímetro de mim. Quanto mais ela se aproximava, mais eu sentia ao calor da minha pele se esvaindo. As lágrimas de desespero começaram a brotar em meus olhos e caiam.

Me encolhi contra a porta e escorreguei minhas costas pela mesma, até encontrar o chão. Sentada, me encolhia cada vez mais. Não sabia o que ela poderia fazer comigo, mas me dava medo de ser meu fim. Fechei meus olhos com força, estava tremendo.

Abri-os novamente quando passou-se um tempo e vi a garota flutuando acima de mim, com a boca aberta. Sua boca por dentro era horrenda. Os dentes podres, grandes e afiadas por toda sua extensão, e a língua grande e preta de réptil.

Queria gritar, mas não saia mais nada da minha garganta.

Senti algo saindo de mim. Uma substância branca meio transparente saia de meu corpo e entrava por sua boca. Era minha alma. Ela sugava minha alma.

Minhas forças se esvaíam até um momento em que não aguentava mais lutar e entreguei a ela de uma vez minha alma. Minha vida se foi. E cai ali morta, na frente da porta do quarto de meus pais.