Katniss! - gritei com todo meu fôlego.
Ela já estava longe
– O que? - perguntou parada no meio de uma rua
– Eu também gosto de você - sorri. Meu coração estava batendo forte, a chuva caia e ela sorriu.
E depois tudo aconteceu muito rápido
Um caminhão veio do seu lado direito e acertou Katniss
Eu gritei seu nome desesperado e corri para ajudá-la.
Ela sussurrou algo, mas não consegui escutar. O motorista - covarde - fugiu e eu não tive tempo de anotar a placa.
Peguei meu celular e liguei para a emergência. Eles já estavam vindo
Segurei seu rosto, molhado pela chuva. Eu estava tremendo
Se alguma coisa acontecesse com Katniss eu não sei o que seria de mim
– Vai ficar tudo bem - sussurrei chorando. Ela tinha machucados por todo corpo, principalmente no rosto que bateu contra o chão no acidente. Peguei sua mão, ela estava muito fria. - Vai ficar tudo bem -repeti - estou aqui com você. Para sempre.
A ambulância chegou e eu fui junto com Katniss, todo o tempo segurando sua mão.
E o caminho para mim foi um borrão
Não conseguia pensar direito.
Quando chegamos, a colocaram uma maca e a levaram para uma sala que eu não pude entrar
Estou na recepção esperando o médico chegar e me dizer qual o estado de Katniss.
Ainda não avisei ninguém sobre o acidente, nem a família dela muito menos Gale
Mas eu preciso fazer isso.
Antes que eu pegue meu celular um senhor vestindo um jaleco branco vem em minha direção com uma prancheta na mão.
– O senhor está acompanhando a Srt. Everdeen? - ele pergunta
– Sim, sou Peeta Mellark
– Olá Sr. Mellark, sou o doutor Heliot
– Qual o estado dela? - pergunto impaciente
– Bom - ele olha para a prancheta - ela teve traumatismo craniano.
– O que é um traumatismo craniano? - pergunto ficando mais nervoso do que já estava
– Ele é caracterizado por qualquer pancada na cabeça e pode ser classificado como leve, grave, de grau I, II ou III, aberto ou fechado.
As causas comuns de traumatismo craniano são os acidentes automobilísticos, quedas, perfuração craniana, durante a prática desportiva e atropelamentos no caso de Katniss - diz calmamente
– Mas ela vai ficar bem?
– Ela deve permanecer sob observação hospitalar por um pouco mais de 24 horas, tomar os remédios indicados e logo poderá ir para casa
– E quais são as consequências? - eu queria saber exatamente tudo sobre isso, para poder cuidar dela da forma certa
– As consequências de um traumatismo craniano são bastante variáveis, podendo haver uma recuperação total, ou até mesmo a morte. - Diz e eu engulo seco - Alguns exemplos de consequências de um traumatismo craniano são: coma; perda da visão; convulsões; epilepsia; deficiência mental; perda da memória; alterações de comportamento; perda da capacidade de locomoção e/ou
perda do movimento de algum membro. - ele prossegue - Mas você pode ficar mais tranquilo Sr. Mellark, o caso de Katniss não é tão grave. Pode ser que ela venha ter alterações de comportamento. Ou na pior das hipóteses, perca o movimento de algum membro. - e nesse momento eu desabo.
Não! Isso não pode acontecer com ela, justo agora que ela disse que gostava de mim
E meu Deus, eu também gosto dela.
Não consigo conter as lágrimas, elas caem fortes em meu rosto. Sento na cadeira, apoio meus cotovelos em meu joelho e enterro meu rosto em minhas mãos. Agora o que me resta é esperar e ter pensamento positivo. Ela vai sair dessa.
*****
Ligo para casa dos Everdeen e depois de um tempo Gale atende
– Alô - diz com voz sonolenta
– Sr. Hawthorne, sou eu, Peeta Mellark
– O que aconteceu? Por que está me ligando a essa hora?
– Foi Kat..Sra. Everdeen - explico para Gale o que aconteceu, mas não disse que Katniss teve traumatismo craniano. Peço pra ele ligar para a mãe e para o irmão dela, e agora eles estão vindo para cá.
1 hora depois um rapaz alto, loiro com olhos verdes chega ofegante perguntando sobre Katniss para a atendente.
O mesmo doutor que conversou comigo, explica para ele o estado de Katniss.
Ele parece ficar mais aliviado, mas ainda há preocupação em seu rosto
Depois de falar com o doutor, ele vem em minha direção
– Você deve ser Finnick - indago. Katniss já havia comentado sobre ele algumas vezes. Eles eram irmãos, muito unidos aliás
– Eu mesmo. E você é o...?
– Peeta - respondo estendendo a mão para ele
– Ah! Então você é o famoso Peeta Mellark - Ele diz erguendo as sobrancelhas enquanto aperta minha mão
– Famoso?
– Katniss já falou de você... -ele parece hesitar um pouco - algumas vezes - não consigo conter um pequeno sorriso que surgiu em meus lábios - você pode me explicar direito o que aconteceu?
Explico a história sem contar o por que dela estar no meu bairro antes do acidente. Mas isso não parece passar despercebido por Finnick
– O que ela foi fazer na sua casa? - ele pergunta
– Como assim?
– Vocês conversaram certo?! - fico sem saber o que responder, será que ele sabia o que ela tinha ido fazer lá? Mas e se não? Eu poderia ferrar mais a vida dela se ele não soubesse. Então resolvi me fazer de desentendido
– Ela desmaiou em seguida, não conversamos sobre nada - até consegui soar um pouco convincente.
– Você não sabe mentir tão bem assim sabia - Ou não. Ele sorri de lado e eu engulo seco.
– Você...você sabe? - eu pergunto cauteloso, poderia estar estragando tudo com essa pergunta
– Do que? - Me ferrei! Mas ele começa a rir e eu fico extremamente confuso - Você tinha que ver sua cara - ele ri mais - você ficou branco que nem folha sulfite. Relaxa Peeta, eu sei de tudo. - respirei aliviado - Mas me conta, o que ela te disse? - Quando eu ia me preparando para responder uma senhora alta de olhos cinzentos e cabelos grisalhos divididos milimetricamente ao meio entra na recepção e se dirige a Finnick com um abraço.
– Oi mãe - ele diz sem animo.
– Ah! Deixar minha linda cama pra vir para um hospital de quinta categoria e ainda enfrentar um trânsito terrível me cansa.
– Mas não foi por qualquer coisa, sua filha sofreu um acidente sabia?! - ela percebe a minha presença e me mede de cima abaixo
– Que falta de educação a minha -sorri falsamente - Coin Everdeen
– Peeta Mellark.
– Eu preciso de um café urgente - ela reclama olhando para trás
– Você não quer saber qual o estado da sua própria filha?! - Ele indaga com uma raiva na voz
– Olhe o tom comigo Finnick - Ela diz apenas isso e sai procurando algum lugar para tomar café
– E a Katniss ainda protege ela - Ele resmunga pra si mesmo, mas eu acabei escutando
– Como assim?
– Pode ter certeza, você não vai querer saber. - Ficamos em silêncio por um tempo até que Finnick se levanta - Já volto - e vai na mesma direção que Coin.
Eram três e quinze da manhã quando olhei em meu relógio
Não tinha nada para fazer, e a preocupação com Katniss não me deixar tirar pelo menos um cochilo,
também não havia trazido dinheiro para comer algo.
Digamos que a poltrona em que eu estou sentado não seja sinônimo de conforto e na televisão estava passando um programa super desinteressante da vida de pessoas divorciadas.
– Você é bem corajoso rapaz - A voz do Dr. Heliot me pega de surpresa - O quadro dela está instável, você pode ir para casa descansar e voltar mais tarde.
– Não pretendo sair deste hospital antes de falar com ela - digo. E eu realmente não pretendia, eu quero ficar com Katniss até ela sair daqui.
– Você é o marido dela?
– Não, eu sou - Gale chega por traz de nós, me pegando de surpresa outra vez. Uma raiva me consome pois lembro do que ele fez a Katniss.
– Ah, me desculpe. Sou o Dr. Heliot - Ele explica para Gale todo o quadro de Katniss enquanto caminham me deixando sozinho novamente.
Depois de uns 10 minutos Gale me estende um copo com café e eu aceito
– Obrigado
– O que ela foi fazer lá?
– Oi? - me faço de desentendido, ganhando tempo pra arrumar uma desculpa
– Você sabe do que eu estou falando
– Ah, ela foi...buscar...um brinco! - digo a primeira coisa que vem na minha cabeça
– Um brinco? - ele franze o cenho
– Sim, um brinco ... Que ela pretendia ... usar num jantar
– Que jantar é esse? - pergunta desconfiado
– Droga - me finjo de surpreso - estraguei a surpresa.
– Ela ia fazer um jantar surpresa para mim?
– Se ela perguntar, não fui eu que te contei - digo rindo nervoso. Será que essa desculpa tinha colado?
– Mas afinal, o que você estava fazendo com o brinco? - Fodeu! Pensa Peeta, pensa
– Ele ficou enganchado na minha bolça e ela foi lá pra pegar ele de volta - Gale parece ainda não ter engolido essa história
– E como ela sabia que...
– Gale! - ele prendia perguntar mais alguma coisa, e eu estava ficando cada vez mais encurralado até que a mãe de Katniss chegou animada por ver o genro - aparentemente tão amado - me salvando dessa
– Como vai Sra. Everdeen - ele se levanta para abraçá-la
– Muito bem! E não me chame de senhora meu amor, já lhe disse - eles entram em uma conversa animada. Depois de algum tempo Gale parece perceber minha presença
– O que ainda está fazendo aqui Sr. Mellark?
– Esperando a Sra. Everdeen acordar
– Não precisa, eu já estou aqui - ele diz com uma certa raiva na voz
– Eu faço questão Sr. Hawthorne
– É uma ordem - diz irritado
– Tecnicamente, eu estou de folga hoje - Digo e me levanto sem um rumo certo. Decido ir em direção ao refeitório e encontro um Finnick aéreo sentado numa mesa tomando café - Posso? - me refiro a cadeira da mesa
– Claro. - um silêncio desconfortável se põe no ar enquanto tomamos nossos cafés -Posso te fazer uma pergunta?
– Pode
– Você conversa com a Annie?
– Sim, nós somos amigos. Por que?
– Por nada, Katniss falou dela uma vez - Quando Finnick pronúncia seu nome instantaneamente me bate um tristeza, Ele parece perceber que eu fiquei mal e me olha compreensivo - Ela vai sair dessa, a Katniss é forte - Eu apenas afirmo com a cabeça, com a dor ainda encravada em meu peito.
Olho ao redor e avisto Gale e Coin vindo em direção a nossa mesa
– Filho, eu estou indo. - ela fala e Finnick fica calado - Por mais que não se importe, Gale irá me levar está bem?!
– Desde quando você precisa do meu consentimento para fazer algo? - Coin apenas olha para ele sem expressão
– Vamos? - Diz Gale sem paciência
– Vamos! - Ela olha em minha direção e sorri falsamente outra vez - Espero que nós nos encontremos outra vez - Apenas sorriu para ela, porque na realidade, não queria vê-la novamente.