O voo não durou muitas horas, mas, afinal, como poderia saber? Dormi a viagem inteira, não tinha a menor vontade de “apreciar a paisagem” como dizia minha mãe. Pra mim a única coisa que tinha era a visão de Banff se afastando e isso não era uma coisa pra se apreciar. Desembarcamos e seguimos em direção ao apartamento que a minha mãe comprou, era bom porque ele ficava perto da escola e assim não teríamos que gastar com meios de transporte. Entramos e chegamos ao pátio. Era uma grande área com pisos e paredes brancas, nos azulejos da parede tinham algumas Flores de Cerejeira, algumas poltronas ficavam espalhadas pelo espaço, num estilo Vintage, e com algumas almofadas. Andando um pouco mais, tinha três elevadores, e eu, sinceramente, não vejo necessidade de tanto elevador. Um pouco mais ao norte do pátio, havia uma área para a piscina. Nem muito funda, nem muito rasa, um tamanho razoável. A água alternava nas cores azul, vermelho e verde por causa das leds sob a água. Mais além, havia um espaço com uma bancada, umas cadeiras e uma imitação de um boteco. Voltando a parte principal, havia a recepção e um jardim de inverno azul, que, cá entre nós, era muito lindo.

– Então, filha? O que achou? – Falou minha mãe enquanto corria os olhos pelo espaço, maravilhada com tudo e com todos – Lindo, não é?

– É, tenho que assumir que você se superou, gostei mesmo daqui. Mas não se anime muito, só estou falando que o lugar é bonito. – OK, não podia deixa-la vencer, não é?

– Senhora Melissa “Singah”? – Falou um homem fardado, provavelmente trabalhava no condomínio.

– Sim, sou eu. – Minha mãe soltou uma risada simpática, provavelmente achando graça do sotaque Britânico dele – O que houve?

– Bem, aqui está a sua chave, espero que aproveite a moradia aqui. Tenha um bom dia.

O homem entregou a chave a ela e saiu. Eu e minha mãe subimos para o nosso apartamento e nos alojamos. Passamos um tempo desfazendo as malas e arrumando as coisas nos seus devidos lugares, mas depois de umas 4 horas, estava quase tudo pronto.

– Você viu como as pessoas aqui são educadas? – Minha mãe não parava de falar sobre aquele homem – E o jeito que ele me chamou, até o sotaque dele é sofisticado e....

Teve um momento que parei de ouvi-la, estava com o pensamento distante, para falar a verdade, estava com o pensamento em outro continente.

– Filha? Tá me ouvindo?

–Ahn? Hm.. Eu, bem.. Mãe, tô cansada, essa viagem, essa arrumação, já são 23 horas, amanhã acordo cedo, esse fuso horário está me matando, primeiro dia de aula... Então se não se importa, eu vou para o meu quarto. – Levantei-me, dei um beijo nela e me dirigi até o meu quarto.

Naquela noite não consegui pegar no sono, girei de um lado para o outro pela cama e nada. Olhei no relógio que marcava 00:30. “Ótimo” pensei. Resolvi descer ao pátio e observar o Jardim de Inverno azul, essa cor sempre me acalma. Botei uma roupa para não descer de pijama e sentei em frente ao Jardim, observando aquilo. Era tudo tão lindo, rosas azuis, violetas, valquírias.. Tudo azul, tinha até Flor de Cerejeira, minha preferida, no tom azul. E nada parecia artificial, a iluminação deixavam as flores vivas, com um brilho diferente, e faziam as pedrinhas brancas que tinham no jardim refletirem nas flores dando um efeito de pequenos diamantes em cada flor, fiquei um bom tempo observando e pensando.

– Lindo, não é? – Falou uma voz masculina, fazendo com que eu me assustasse.

– Q-quem é você? – Levantei e fiquei em uma posição de defesa. Uma coisa estúpida, mas no momento de pânico nada parece estúpido.

– Calma, ok? Sou apenas um morador, assim como você. Promete não me bater se eu sentar aqui contigo? – Ele falou e me encarou, foi aí que eu percebi que ainda estava naquela posição ridícula. Eu ri, e me sentei com ele.

– Desculpa, é que você me assustou

– Não tem problema, não! Eu sei que sou feio – disse sorrindo, só agora percebi que ele era muito bonito. A luz do jardim refletiu no seu rosto, fazendo seu sorriso ficar irresistivelmente brilhante. Ele tinha cabelos lisos e negros, cortados em um topete de altura média. Olhos cor azul turquesa, que, por alguma coincidência, era minha cor favorita. Não era do tipo musculoso, mas também não fazia o tipo magricela, era um meio termo, e, por sinal, um meio termo muito gatinho. Pude perceber também que ele ficou sem graça e abaixou a cabeça, só depois de um tempo me toquei que fiquei encarando ele e analisando-o da cabeça aos pés. OK. Agora ele deve estar pensando que sou algum tipo de louca.

– Ahn.. O que faz aqui? – Perguntei tentando disfarçar

– Estava sem sono, resolvi dar uma passeada por aqui, e você?

– O mesmo, você mora aqui a muito tempo?

– Desde pequeno, você eu sei que é nova, nunca a vi por aqui

. - É sim, me mudei pra cá hoje...

– Você não parece muito feliz com isso

– Realmente, sabe eu morava no Canadá, morei toda a minha vida lá, mas do nada sou arrancada da minha terra para morar aqui nessa cidadezinha sem graça – Eu disse e ele arqueou as sombrancelhas – Sem ofensas, é claro

– Eu entendo. Você vai acabar achando Londres uma cidade muito interessante.

– Espero que sim, eu... MEU DEUS – Falei espantada olhando no relógio, já eram 02:00 ? Não podia acreditar. Eu tinha que acordar daqui a três horas para ir a escola e estava aqui batendo papo com um estranho, um estranho muito gato, mas, ainda assim um estranho.

– Escuta, já tá tarde, o tempo voou e eu tenho que ir, amanhã acordo cedo e...

– Ei – Ele falou me interrompendo e sorrindo pra mim. OK. Já pode morrer Emma – Relaxa! A gente se vê por aí, certo?

– Certo – ele sorriu novamente e eu retribui, Sai deixando-o no jardim.