Duas semanas se passaram e nenhum sinal do garoto do jardim. Sim, eu não sei o nome dele. Estou começando a achar que foi um sonho, ou coisa da minha cabeça. Resolvi então ligar para a Anne e atualiza-la das coisas.

– Não tenho dinheiro não, pode desligar – Disse Anne zombando de mim quando atendeu.

– Haha, idiota – Falei e começamos a rir – Cara, eu tava com tanta saudades.

– É, eu sei. Afinal, quem não sente minha falta? Eu cheguei a conclusão de que sou o brilho desse mundo.

– Mereço...

– Brincadeiras a parte, também senti sua falta. E aí, me conta! Muitos gatinhos? Muitas amigas?

– Que nada, me sinto um fantasma, não falei com ninguém ainda. Mas deixa eu lhe atualizar das coisas!

– Estou ouvindo...

Eu contei tudo o que aconteceu nessas ultimas semanas, incluindo o Garoto do Jardim, isso já estava virando um nome próprio. Como esperado a Anne deu um show.

– O QUÊ? Não, repete Ems, repete.. Agradeça a Deus por eu não estar aí, se não você ia levar um boa surra. Como é que você não pergunta o nome dele? O Apartamento? Não, como é que você não pega o telefone dele?

– Não sou atirada igual a você...

– Você é lerda, isso sim!

– Escuta, você não tá ajudando – Falei rindo e ela riu também

– Mas pode ser que seja só coisa da minha cabeça, vai ver imaginei tudo isso.

– Bem provável, do jeito que você é doida...

– Haha, muito engraçado, moça. Agora eu tenho que ir ou vou me atrasar para a escola. Te amo

– Também te amo.

Eu desliguei e desci para pegar minhas coisas. Como o colégio era perto fui andando e aproveitei para pensar. Talvez minha mente tenha inventado alguém para substituir meus antigos amigos, o que é muito estranho, mas bem provavel.

Entrei na escola, e felizmente, ou não, meu primeiro horário era o professor de Físicia, Sr. Bloofs, serio? Ninguém merece. Entrei na sala e esperei por ele

– Bom Dia – disse secamente – Como já sabem sou Paul Bloofs, seu professor de Física, não me chamem de Paul, ou qualquer outro nome. Me chamem de Sr. Bloofs, não gosto de intimidade com alunos. Agora abram seus livros.

Enquanto o Sr. Bloofs, explicava o assunto, ou melhor, cuspia o assunto, eu me peguei pensando novamente no menino do jardim. Ele era tão indecifrável, lindo, misterioso, cheio de sí e ao mesmo tempo tímido e fofo, como se precisasse de proteção, ou algo do tipo. Aquele tempo que passei com ele foi tão pouco, mas tão diferente de tudo e de todos com quem já estive, se bem que eu não conheço muitos garotos. Queria saber mais sobre ele, sobre sua vida, sobre o que gostava ou não, seus gostos e desgostos. Se isso fosse um pegadinha da minha mente estou ferrada, porque estou fascinada por um garoto que nem existe.

– Senhorita Singer! – A voz do Sr. Bloofs tirou-me de meus pensamentos – Isso é uma escola, um lugar para se estudar e prestar atenção. Se está afim de pensar vá para um templo de medição, ou algo do tipo.

– Mas eu estava prestando atenção – Menti sem saber o que dizer.

– Ótimo, então não verá problema de responder isso pra mim, não é? – Ele perguntou, mas não respondi – Não é, Senhorita Singer? – Falou de novo, dessa vez aumentando o tom de voz.

– C-Claro – Gaguejei e pude ouvir risinhos abafados ecoando por toda a sala

– Ótimo, então questão 32 do seu livro. Um gás é mantido a volume constante. Se a sua temperatura aumentar o que, respectivamente, ocorrera em relação a velocidade média das moléculas e pressão do gás?

–Ahn – OK, me ferrei, - Hm, ahn.. Bem... Você pode repetir a pergunta? – Falei e imediatamente me arrependi, a sala toda caiu em gargalhadas, até o Sr. Bloofs, o que era uma cena aterrorizante

– Foi o que eu pensei, Senhorita. Agora eu acho bom..

– Os dois aumentarão – Falou alguma voz na multidão

– Como é que é ? – Falou o Sr. Bloofs assustado

– Eu disse que os dois aumentarão. Parece que agora é o senhor que não está prestando atenção.

Eu podia jurar que vi o professor ficar roxo, amarelo, azul, rosa.. TODAS AS CORES. Ele estava realmente com muita raiva. Não gostou nem um pouco em ser afrontado daquele jeito em meio a toda a sala

– Resposta correta. Agora, voltando de onde paramos a velocidade média das moléculas.....

Afundei a cara na cadeira, queria sumir. Meu Deus, que vergonha, sorte que essa voz.... Espera, essa voz! Será? Olhei pra trás, e lá estava ele, o garoto do jardim, do mesmo jeito que eu me lembrava e, se possível, mais lindo ainda. Ele sorriu de lado e piscou pra mim. OK. Eu só posso estar ficando louca.

Finalmente a hora do intervalo, sinceramente? Que professores chatos. Mas, tenho que admitir que também estava tão ansiosa assim porque queria ter uma oportunidade para conversar direito com a garoto do jardim. OK. Eu realmente preciso perguntar o nome dele. Saí da sala direto para o pátio de colégio, procurei o lugar mais isolado e sentei. Comecei lembrar da cena na sala de aula e deixei escapar um sorriso bobo.

– Sorrindo sozinha, amor? – Falou uma menina

– É que eu tava lembrando aqui de...Espera, quem é você? – Falei olhando-a, ela era muito bonita. Seu cabelo era ruivo, mas um ruivo natural. Tinha cabelos lisos com algumas pequenas ondulações da ponta, tinha também uma franjinha. Seus olhos eram um azul esverdeado, muito lindo. E nas suas maçãs do rosto havia umas sardinhas quase invisíveis.

– Sou Megan Dardeno, da sua classe – Falou estendendo a mão para mim – E você?

– Meu nome é Emma, Emma Singer. E ele? Quem é? – Falei me referindo ao garoto atrás dela. Se eu soubesse que na Europa tinha tanta gente bonita, tinha me mudado pra cá antes. OK. Não tinha não, mas que tem gente linda, tem. O garoto era um Deus grego, só perdia para o garoto do jardim. Ele tinha cabelo na cor loiro médio, e olhos num tom mel que ficavam mais brilhantes a luz do sol.

– Ele? Ah, é só o Jake, ninguém de importante – ela falou e gargalhou – Dá oi pra ela, mal educado.

– Cala a boca, Megs! Oi Emma – Ele sorriu tímido e passou a mão no cabelo. Serio? Que fofo.

Ficamos um bom tempo conversando, finalmente tinha encontrado alguém para conversar, tava cansada de ficar sozinha. Pena que o Jake não era da mesma sala que eu. Ele é do terceiro ano, mas é muito legal. É tímido no começo, mas, aos poucos, vai se mostrando um garoto muito legal e divertido.

O tempo passou voando, e o sinal tocou avisando que a aula ia começar. Mereço. No caminho volta pra sala eu e a Meg – sim, Meg, comecei a chama-la assim, e ela a me chamar de Ems – ficamos conversando.

– Então, qual é entre você e o Logan? – A Meg me olhou com uma cara como quem diz “hmm, ein” - E nem diga que não é nada porque eu vi como vocês se olharam.

– Quem é Logan?

– Como assim “ Quem é Logan” ? – Ela me olhou e eu fiz cara de interrogação – O garoto da sala, que te salvou de levar uma do Sr. Balofice – ela riu e zombou do nome dele.

Então esse era o nome dele. Agora já não estava totalmente em desvantagem, sabia que o nome dele era Logan e que ele estudava na minha sala, já é muita coisa, né?

– Ah, não sei bem! O vi pela primeira vez há duas semanas, e hoje na sala.

– Hmm, isso pode ficar interessante – Falou com um sorriso misterioso nos lábios.