Spiel Der Liebe escrita por Charlotte, Beilschmidt, Kuriyama mirai


Capítulo 1
A voz do Demônio.


Notas iniciais do capítulo

Aqui quem vos fala é a coautora Beilschmidt, encarreguei-me de explicar o título desta fanfic, além de betá-la. “Spiel der Liebe” em alemão; significa “Jogo do amor”. Danke, e tenham uma boa leitura. Kuss.



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Vesti minha casual capa azul e pus o chapéu. O mordomo da família já estava me esperando na carruagem e eu mal podia esperar para por meus pés para fora de casa, assim que abri às portas a ventania gelada veio ao meu encontro, estremeci enquanto aquele calafrio envolvia meu corpo. O inverno estava chegando a Londres, e embora não estivesse nevando ainda fazia frio e chovia quase todos os dias ou o céu ficava nublado e escuro, exatamente como estava agora, sempre ameaçando lançar uma tempestade sobre nossas cabeças. Mas nem isso fazia com que a cidade deixasse de ser barulhenta e movimentada, ou era suficiente para deixar a escola vazia, pelo contrário, sempre que chegava lá parecia haver mais alunos; como se todos os dias alguém se transferisse para minha classe, embora estivéssemos no meio do ano e a escola não fosse aberta para todos.

Pequenos pingos de chuva caíram na calçada, esperei que um dos mordomos viesse com um guarda-chuva e me levasse ate a carruagem. Quando a porta da mansão se abriu e ele se aproximou tive o azar de ter o vislumbre do rosto de meu avô na janela, ele olhava para mim, estava irritado, e com a cara fechada. — como sempre — E ao ver que o estava olhando tratou de baixar a cortina e voltou a ler seu precioso jornal, fechei a cara para a cortina da janela, suspirei e sai andando até a carruagem. Abri a porta e ouvi outro som vindo do alto, olhei para cima apenas para que meus olhos encontrassem os de um corvo negro empoleirado em uma lamparina. Talvez fosse só impressão, mas podia jurar que os olhos vermelhos como rubis d’aquele pássaro estavam cravados nos meus tão fixamente que era quase como se ele quisesse ler meus pensamentos.

— Senhor Phantomhive… — Chamou o mordomo para que eu entrasse, no mesmo instante o corvo levantou voou contra a tempestade que tinha acabado de cair.

Eu nunca odiei ir para escola, nem nada do tipo, afinal, eu podia ficar longe de casa e principalmente do meu avô, e não tinha coisa melhor do que isso, mas dês de que nos mudamos para outro prédio, devido um incidente com o antigo — que prefiro sinceramente não comentar —, costumo chegar quase sempre atrasado para as aulas; um dos motivos é a distância. O prédio é antigo e fica em uma parte bem afastada das mansões, mas a principal razão é a maldita chuva, pois meu avô sempre pede que seus empregados voltem rápido para casa; então eles acabam me deixando a algumas quadras da escola. Odeio ter que ir andando, principalmente quando chove.

Minha primeira sorte do dia foi quando uma ventania forte levou meu guarda-chuva para longe e eu tomei um maravilhoso banho de chuva em quanto passava pela última quadra. Vi vários alunos, inclusive pessoas que estudavam comigo, a maioria passava por mim e me olhava de uma forma curiosa, assim como outros que eu desconhecia, que deveriam ser mais alguns dos alunos novos porque nunca os vi na vida. Dois garotos que estudavam na mesma sala que eu, Raphael e Christopher esbarraram em mim quando passaram o que me fez cair no chão sentado e assim molhou todo o resto de minha roupa. E sei que foi de proposito, pois eles saíram rindo e ainda ouvi Christopher dizer:

— Desculpe, ”Lady” Phantomhive. — irritou-me o seu tom de escárnio.

— Tudo bem. — respondi — Você não tem culpa por ser cego.

Os olhos negros de Christopher me fuzilaram com raiva, mas ele não disse mais nada e saiu andando com seu amigo Raphael, os dois provavelmente continuaram a debochar da minha cara; isso era típico deles dês de que comecei a estudar aqui, na escola Weston. Nós nunca nos demos bem, parece que Christopher me odiou dês de o momento que colocou os olhos em mim quando cheguei aqui há dois anos.

A chuva engrossou e eu já estava encharcado. Comecei a tossir, “Droga”, eu não podia me dar o luxo de pegar um resfriado. Fazia muito tempo dês de que havia tido crise de asma, e ela voltava assim que eu ficava resfriado. Comecei a levantar odiando estar todo molhado daquele jeito, meus olhos buscavam a entrada da escola, mas ao invés disso, eles se fixaram em uma cor vermelho sangue que nascia na penumbra escura e chuvosa. A forma de um guarda-chuva vermelho sendo trazido por alguém cujo rosto não eu consegui ver, nem mesmo no instante em que se aproximou de mim. O homem alto e que parecia ser tão branco quanto à névoa passou e atirou o guarda chuva em minha direção.

— Use isto para se proteger da chuva. — foram suas únicas palavras antes d’ele desaparecer.

Cheguei à entrada da escola; a chuva tinha diminuído um pouco, mas o gramado do jardim da mansão estava cheia de poças de lama. Alguns alunos passaram por mim tentando disfarçar um riso por eu estar todo encharcado, voltei-me para eles de forma rígida e assim que perceberam meu olhar alguns se afastaram de mim, outros olharam para o chão, fingiram estar sérios e seguiam em frente. A capa azul pesava sobre meus ombros e eu a tirei devagar, até que senti algo pesar em minhas costas; um abraço apertado quase me enforcando. De canto de olho vi Alois Trancy e aquele seu típico sorriso sádico.

— Bom dia Ciel! — ele disse me fazendo perder o equilíbrio e quase derrubando nós dois em uma poça de lama.

— Alois, largue-me, vamos cair assim seu idiota. — ele me soltou, mas por um triz não caímos.

— Alguém acordou de mau humor hoje. — ele brincou ainda sorrindo e me encarando com os olhos azuis turquesa, o cabelo loiro levemente bagunçado e molhado pela chuva. Alois e eu não éramos bem o que se pode chamar de melhores amigos, mas era uma coisa quase próxima d’isso, afinal, ele sempre estava junto comigo por ai e, além de que, era uma das únicas pessoas que podia falar abertamente e algumas vezes ele conseguia me arrancar um sorriso, mesmo que ainda me irritar a maior parte do tempo.

— Claro que não Alois. Meu guarda-chuva voou, estou ensopado e não consigo parar de tossir; o meu dia está ótimo.

— Jura? Pois eu acho que você ficou muito mais legal assim, com o uniforme molhado.

— Já que gostou tanto, que tal trocar comigo? — Respondi sendo irônico. Éramos muito parecidos fisicamente e até mesmo no estilo em como usávamos nossos uniformes. Eles eram negros com detalhes brancos na blusa juntamente com o brasão da escola; a maioria dos estudantes usavam calças negras compridas, mas Alois e eu vestíamos uma calça mais curta e até nossas meias eram idênticas, pretas com uma fita branca.

— Aliás, se o seu guarda-chuva voou, de onde você arranjou esse aí que está segurando? — indagou apontando para o belo guarda-chuva vermelho, que me lembrava d’aquele par de olhos tão cálidos e ao mesmo tempo penetrantes, que refulgia o mesmo vermelho nesse dia tão frio, como se quisesse espantar toda e qualquer sombra.

— Ciel? —Chamou Alois— Não me diga, “Lady”, que você tomou de novo vinho na hora do café?

Encarei Alois.

— Cale a boca Alois! Isso não te interessa e vamos andando!

Ele me encarou com um olhar suspeito, mas se deu por vencido ao chegarmos à porta da sala, onde todos, ao me verem entrar, abafaram um riso, no começo não entendi o porquê, até perceber que ainda estava encharcado da cabeça aos pés. Alois conteve um deboche, eu fechei a cara e caminhei até minha cadeira, que ficava bem longe da de Chris e da de Raphael; embora tivesse que passar por elas e assim que o fiz pude ouvir sussurros e risos abafados vindo de ambos, nem sequer valeram minha atenção.

Assim que cheguei ao assento senti braços envolverem carinhosamente meus ombros molhados, virei, sentindo a casual fragrância de jasmim com mistura de amêndoas. Alyssa Beilschmidt me olhava com curiosidade, um sorriso divertido apareceu em seus lábios e ela se aproximou; os cachos de seu cabelo loiro escorregaram suavemente sob seus ombros.

— Resolveu tomar banho na chuva hoje? — minha melhor amiga perguntou soltando suas mãos de meus ombros.

— Muito engraçadinha Alyssa. — falei me virando na cadeira para ficar mais perto dela.

— Estou brincando seu bobo, você está se sentindo bem? — perguntou, e eu sabia que ela estava se referindo á Asma.

— Aparentemente sim, não se preocupe. — disse. Alois veio e se sentou em minha frente.

De repente nossa conversa foi interrompida quando ouvimos duas risadas altas e arrogantes. Chris e Raphael olharam para mim, ao redor deles algumas pessoas pareciam conter o riso, diferente dos dois.

— Ei “Lady” Phamtonhive, acabou a água na sua mansão e você teve que vir tomar banho na chuva?

Franzi o cenho e encarei Christopher. Alyssa e Alois também se voltaram para ele juntamente como a sala inteira.

— Por favor, Christopher eu não vim da sua casa. — disse calmamente sem perder o controle.

Os olhos rosados de Alyssa fitaram perigosamente os de Chris, embora aquele olhar não combinasse muito com seu rosto sereno eu conhecia aquela expressão; Alyssa definitivamente estava brava.

— Não vejo qual a necessidade de rirem do Ciel quando há um verdadeiro palhaço bem aqui na sala. — ela disse, e algumas pessoas começaram a rir dele.

Em um movimento perigoso que insinuava o começo de mais uma de nossas discussões, Christopher se pôs de pé, em quanto eu e meus dois amigos permanecíamos sentados ele sorriu maliciosamente.

— Será que o filho do conde não consegue brigar sem a ajuda dessa sua alemã estúpida? Porque será que ela não volta para aquele país falido dela? Talvez quando cansar de andar atrás de um inútil como você; ou não contou a seus amigos como você quase não conseguiu levantar do chão?

Todos ficaram mudos, Chris havia cravado seus olhos em mim desafiando meu olhar gelado e rígido, que não conseguiam encontrar nada mais além do ódio carregado no olhar um do outro, selando a marca de dois inimigos. Alois se pôs de pés, ele estava prestes a balbuciar algumas palavras, mas eu o interrompi antes que dissesse algo.

— Se você viesse ás aulas para fazer alguma coisa além de arrumar discussões desnecessárias com os outros, saberia que a Alemanha é uma das maiores potências que existem. Você não sabe de nada sobre Alyssa para se referir á ela, assim como não sabe nada sobre mim para me julgar, ao contrário de você eu sei. Você que só implica comigo por causa da minha família, ao menos, não fui eu quem fingiu fazer parte dos nobres escondendo o nome verdadeiro só porque a família faliu, como é mesmo que você realmente se chama er... Merielsson?

Alois deu uma gargalhada alta e sem se conter e em seguida disse:

— Merielsson, isso me parece nome de marca de perfume feminino de má qualidade. — ele continuou zombando.

Christopher por sua vez ficou vermelho de raiva ao ver a sala inteira rir junto de Alois. Alyssa sorriu vitoriosa para mim, mas não demorou muito para que Chris levantasse e avançasse em minha direção. Sequer percebi quando ele surgiu bem diante de mim, encarei seus furiosos olhos negros que cerravam os meus, em um movimento rápido que meus olhos quase não conseguiram captar, Christopher, que era bem maior que eu, e ergueu as suas mãos em minha direção.

— Ciel Phantomhive! — gritou a voz grave da professora Jully — Como é que você se atreve a entrar na sala neste estado?! Todo molhado, está parecendo um mendigo. Você não honra o nome da sua família! — pareceu que assim como o antigo prédio da nossa escola, a sala tinha pegado fogo, pois um enorme barulho de risos e murmúrios surgiu, o próprio Christopher pareceu não segurar o riso depois daquilo. A professora por sua vez apenas deixou as coisas na mesa e começou a pedir silêncio. Senti meu rosto esquentar de vergonha, mas procurei não demonstrar.

— Não creio que hoje é aula dessa maluca. — murmurou Alyssa.

— Silêncio! — ela tornou a pedir, desta vez aos gritos! — Chris, por favor, sente-se. Quanto a você Ciel, eu ainda não acredito no que estou vendo! Francamente, poderia ter tido a decência de não vir á aula desta forma. — a professora pigarreou — Pois bem, deixemos os questionamentos para mais tarde, afinal, hoje sequer serei eu a dar aula para vocês.

— Graças a Deus. — murmurou Alois.

— Continuando. — disse a professora— Estou aqui na verdade para dar duas novas notícias. — tive a impressão de vê-la corar ao fim da frase — Hoje, vocês teriam aula de cálculos com o professor Tanaka, no entanto, assim como todos os outros, este se demitiu daqui até voltarmos para o outro prédio, por motivos pessoais. — a professora fez uma pequena pausa; voltou a olhar para a sala, todos estavam em silêncio e a deixaram falar — Peço desculpas por estarmos perdendo tantos professores dês de que nos mudamos para cá, pode parecer ruim, no entanto, tivemos a sorte de encontrarmos professores novos rapidamente para vocês!

Alyssa e eu nos entreolhamos. A professora fez um movimento com as mãos diante da porta aberta.

— Eu lhes apresento seu novo professor de cálculos. Sr. Claude. — do lado de fora saiu um homem alto e branco, os cabelos negros lisos e o óculos lhe davam um ar intelectual e seu rosto fino e tranquilo o faziam parecer bem bonito. Percebi que muitos na sala haviam pensado o mesmo porque ficaram encarando-o — Por fim, a segunda notícia é que mais uma vez temos um aluno novo que irá fazer parte da turma de vocês.

Outra vez? Pensei, deveria ser o terceiro aluno transferido só nesta semana.

— Por favor, turma receba seu mais novo colega de classe. — ela fez um gesto e toda a sala se voltou para a porta — Seja bem vindo, Sebastian Michaelis.

Subitamente pareceu que os olhos de todos eram atraídos para o homem que atravessou aquela porta. O ar pesou devido à insana troca de olhares e sorrisos tímidos e cheios de pensamentos. Ninguém disse uma palavra sequer, nem mesmo a professora, pois ela também o observava de forma cautelosa. Ele caminhou em direção ás cadeiras da sala exibindo seu porte magro e a pele tão branca quanto a neblina cinzenta que cobria a escola. Os cabelos negros desciam sobre seu rosto magro e fino, eles me lembravam das penas de um corvo. A professora fez um sinal para que Sebastian sentasse; então ele continuou caminhando, até se aproximar das fileiras de trás e erguendo a vista para o que estava bem á sua frente, seus olhos encontraram os meus.

Senti um calafrio percorrer meu corpo, como se o frio houvesse atravessado ás janelas e se instalado naquele lugar com exceção dos olhos dele, cuja cor de sangue parecia irradiar uma tênue sensação cálida mergulhada em um olhar tenebroso, como se eles pertencessem á crueldade da própria morte — Eu já vira aqueles olhos —. Percebi que ele caminhava em minha direção, senti o rosto esquentar de vergonha por está-lo encarando, no entanto não consegui desviar os olhos quando Sebastian Michaelis sentou bem ao meu lado e me fitou cuidadosamente, em seguida vi um sorrisinho de canto se formar em seu rosto alguns segundos antes que ele se aproximasse e dissesse:

— E então, o guarda-chuva lhe foi útil?


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Notas finais do capítulo

Em nome de Charlotte e Kuriyama mirai, agradeço pelos que leram este capítulo. Críticas ou qualquer outro aviso ou mesmo perguntas que queiras nos fazer é só deixar em um comentário. Danke.