Promessas escrita por ColorwoodGirl


Capítulo 6
Capítulo 5




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Uma decisão importante que precisava ser tomada em breve era o que fazer em relação ao hospital. Moradores da capital carioca e acampados na capital paulista, o translado entre as cidades era inviável, assim como a ausência prolongada nos respectivos empregos. Porém, a troca de hospitais acarretaria na troca de médicos.

Como os dois primeiros dias seriam apenas de observação das reações de Karina após a cirurgia, Pedro teve tempo para pensar. Apesar da atitude autoritária do sogro, que já queria decidir e resolver as coisas por si próprio, o guitarrista se impôs como o marido e, portanto, a voz de maior poder naquele caso.

Delma e Marcelo deixaram o restaurante aos cuidados de uma revoltosa Tomtom, que também desejava ver o irmão e a cunhada, e partiram para São Paulo. Levaram junto Jade, ansiosa por rever o namorado, e roupas e pertences dos que lá estavam.

“E quem está cuidando da Ribalta? Da academia?” Perguntou João, no quarto de hotel que haviam alugado para os momentos em que não pudessem ficar no hospital.

“O Nando, a mamãe e o Ed estão se desdobrando com a Ribalta, cobrindo as aulas do Pedro, da Dandara e da Bianca, mas pediram que vocês não se preocupem ou esquentem com isso, que eles são conta. E o Zé e o Marcão tá segurando as pontas na academia. Por sorte, lutadores são mais disciplinados e organizados que artistas.” Explicou Jade, ainda agarrada ao seu vagabundo.

“E o Pedro?” Perguntou a mãe do rapaz, aflita.

“Delma, ele saiu do hospital por três horas, se muito.” Contou Dandara.

“Ele dorme no sofá do quarto da Ka, só come se for lá... Ele tem medo de ficar longe dela.” Completou Bianca, deitada ao lado do namorado adormecido. “O que é compreensível, claro.”

“Acho que o capirotinho está abrindo demais as asinhas dele, isso sim.” Gael estava emburrado no canto do quarto.

“Gael, nós já conversamos sobre isso, meu amor. O Pedrinho é o marido dela, legalmente as decisões cabem a ele quando ela estiver impossibilitada. Ele só está exercendo os direitos dele.”

“Mas ele podia sair de lá e me deixar ficar com a minha filha, não é?”

“Mestre, todos já percebemos que ela fica mais calma e a vontade perto do Pedro. Na situação em que ela está, perdida e confusa, é melhor que ela fique com alguém que a traga confiança.” Cobra tentou intervir, mas apenas recebeu um olhar feio.

“E como ela está? De verdade? Vocês disseram que ela não se lembra de nada e está confusa, mas... De que forma?” Marcelo perguntou, curioso.

“Ela consegue entender o que dizemos, mas não consegue falar nada; aparentemente é por conta do choque, do susto, nada duradouro. Ela também consegue definir o que é pai, mãe, irmãos, mas só essas coisas ‘básicas’. Inclusive o João, o Cobra, o Duca e a Fabi são irmãos dela, na visão dela. E o Pedro...” Dandara foi explicando, ainda abalada.

“O Pedro é o Pedro dela, é assim que ela chama.” Contou Fabi, com um sorrisinho de lado. “É até fofo, de verdade.”

“Se não fosse pela situação, né, minha gata?” João segurou a mão da namorada, suspirando. “Meu amigo tá passando pela maior barra da vida dele, isso é fato.”

“Eu quero ver meu filho.” Delma se levantou, inquieta.

“Eu e o Gael estamos indo para lá, aí você e o Marcelo vêm conosco. E vocês, crianças, descansem um pouco, por favor, estão precisando.” Dandara apanhou as coisas, puxando o marido. “E você, Gael Duarte, comporte-se, por favor.”

~P&K~

No hospital, Pedro cochilava na poltrona ao lado da cama hospitalar, sendo encarado por uma curiosa Karina.

“Pedro. Pedro. Pedro.” Ela repetia o nome dele em voz baixa, sua expressão mudando a cada vez. Se tudo a deixava confusa, ele lhe deixava ainda mais. Não entendia nada do que sentia, não sabia o que os sentimentos significavam. Conseguia definir as coisas entre bom e ruim.

Medo era ruim. Amor era bom. Cobras eram ruins. Ricardo, João, Bianca, Duca e Fabi eram bons. Tristeza era ruim. Papai e mamãe eram bons. Dor era ruim. Pedro... Pedro era mais do que bom.

Ela encarou suas mãos, que ele tinha entrelaçado enquanto ela dormia. As ergueu com cuidado, admirando a forma como se completavam. Aquilo era bom, sentia que era, mas o que era?

“Isso é segurar as mãos. As pessoas fazem quando sentem medo, para passar segurança.” A voz dele veio rouca pelo sono, enquanto ele piscava os olhos de maneira preguiçosa. “Por exemplo, quando um pai vai atravessar a rua com seu filho, ele segura para proteger a criança de sofrer um acidente. Entende?”

“Segurar mãos. Bom.” Ela concordou, balançando os dedos e brincando. Pedro a imitou, os dois rindo. “Sono?”

“Se eu estou com sono?” Ela concordou. “Não muito, mais cansado mesmo. Mas essa cadeira é gostosa.”

“Pedro, irmão, Karina?”

“Se eu sou seu irmão? Não, esquentadinha... Eu sou uma pessoa importante para você, mas de outra forma.” Ele deu um sorriso triste, beijando a mão dela. “Está com fome? Eu soube que no hospital tem gelatina. Para registro, gelatina é uma coisa muito boa, a não ser que seja de abacaxi.”

“Gelatina, bom.”

“Espera aí.”

Logo ele voltava com um enfermeira, que trazia duas bandejas de comida. Ela ajeitou a mesinha dobrável sobre as pernas de Karina e colocou as duas, se retirando. Pedro sentou no pé da cama, sorrindo.

“Consegue comer sozinha?” Ela deu de ombros e o rapaz riu. Abriu o potinho de gelatina e entregou a colher para ela. “Tenta.”

Karina pegou a colher com receio, sem saber ao certo como segurá-la. Furou a gelatina e arrancou um pedaço, tentando levá-lo a boca e o derrubando logo, de tanto que tremia. Pedro, por outro lado, gargalhava.

“Vem aqui, deixa que eu te ajudo.” Ele pegou o potinho de gelatina e a colher, enchendo-a e sorrindo. “Olha o aviãozinho.”

A loira o encarou confusa, até que ele começou a fazer barulhos de avião e brincar com a colher e ela não conseguiu evitar rir. Era exatamente como um bebê sendo alimentado, que ninguém entende porque gargalha de coisas assim. Ela comeu a primeira colherada e ele roubou uma para si.

“Olha, tem purê de cenoura. Mas deve estar sem sal, aposto.” Ele abriu os outros recipientes. “Hum, o meu tem batata. Não sei se divido com você.”

“Dividir, bom.”

“E batata também é, acredite.” Ele passou uma no purê e estendeu. “Abre a boca.”

Ela fez o que ele pediu e abocanhou a batatinha estendida. Ele riu ao ver que a boca dela estava suja de laranja e ela passou a mão sobre os lábios, fazendo bico. Quando ele riu mais ainda, ela sujou o dedo com o purê e sujou o rosto dele, que se ultrajou.

“Ah, você vai querer guerra, é?”

Os dois começaram a se sujar com o purê e a gelatina, enquanto arremessavam batatinhas um no outro e riam. O sorriso de Pedro era tão grande que seus olhos se fechavam e Karina mal se lembrava da dor incômoda na cabeça.

Provavelmente tomariam uma represália do médico mais tarde, mas naquele momento pouco importava.

A porta foi aberta devagar devido aos barulhos e uma enfermeira entrou com os pais de ambos. Os recém-chegados ficaram observando a interação do jovem casal, alheio ao mundo, e a enfermeira sorriu.

“Eu deveria bronqueá-los, mas creio que isso pode fazer bem a sra. Karina.”

“Pode ter certeza... Isso é o que ela e o Pedro fazem sempre, desde que se conheceram.” Contou Marcelo, rindo.

“Tudo bem, meu amor? O que você está sentindo?” Dandara observou o marido vermelho, com os olhos cheios de lágrimas. Ele sorriu, finalmente dando vazão ao sentimento e suspirou.

“Esperança, Dandara. Eu finalmente estou sentindo esperança."


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Notas finais do capítulo

Eu posso demorar para postar, mas os capítulos arrasam, modéstia na merda HAHAHAHAHAHAH
Eu ameeeei escrever as cenas desse capítulo, meu Deus, é muito amor