Promessas escrita por ColorwoodGirl


Capítulo 4
Capítulo 3




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“Como assim ‘piores do que imaginávamos’? O que vocês fizeram?” Rosnava Gael, enquanto o médico tentava conversar com a família de Karina. Pedro estava sentado em uma das cadeiras, parecendo fora da órbita.

“Sr. Duarte, por favor, se acalme.” Pediu o homem, tentando manter a calma. “Quando se trata de área de neurologia, nada é previsível. Cada cérebro é diferente e cada dano é diferente. Vamos precisar ter paciência e compreensão nesse momento.”

“Compreensão? Minha irmã mal gagueja uma palavra e você quer que sejamos compreensivos?” Fabi tentava segurar João. “Nós queremos saber o que está acontecendo.”

“O centro da fala pode ter sido afetado, ou pode ser apenas uma reação de choque. Como eu disse, precisaremos ir observando as reações da Karina; assim, conseguiremos determinar com precisão quais foram os danos.” Dr. Simão sorriu compreensivo. “Eu entendo que vocês estão desesperados, e não os recrimino por isso. Mas infelizmente, é só o que podemos fazer.”

“Muito obrigada, Dr. Simão.” Agradeceu Dandara, enquanto o homem se afastava. “Vem, meu amor, senta aqui.”

Ela sentou Gael ao lado de Pedro, enquanto Fabi fazia o mesmo com João. Bianca havia sido levada para a cafeteria por Duca, preocupado após a namorada quase desmaiar devido a uma queda de pressão. Cobra estava escorado à parede, o desespero evidente em seu rosto.

“Eu vou voltar lá dentro.” Avisou Pedro, atraindo a atenção de todos.

“Meu amor, não tem nada que possa fazer agora.” Dandara deixou o marido para socorrer o genro.

“Eu não posso deixar ela sozinha, tia. Ela está assustada.” Os olhos dele voltaram a se encher de lágrima.

“Mas você lá não vai ajudar muito, infelizmente.”

“Não me importa... Ela precisa de mim.” Ele se desvencilhou dela, caminhando pelo corredor. Ao chegar no corredor do quarto da esposa, o médico estava ali conversando com uma mulher de branco.

“Pedro?” Questionou Dr. Simão, enquanto o rapaz se aproximava.

“Eu preciso ficar com a minha esposa, doutor.” Ele explicou, aflito.

“Talvez seja realmente bom... Ter o que deve ser uma cara conhecida por perto.” A mulher se manifestou. “Mas ele não deve pressioná-la a nada.”

“Pedro, essa é a Caroline Santos, psicóloga. Pedimos que ela conversasse com a Karina; até porque ela sabe melhores maneiras de abordar as coisas.” O guitarrista apertou a mão da médica.

“Eu vou tentar conversar com ela, de uma maneira mais tranquila. A trava na fala pode ser o susto e o choque, tentaremos descobrir isso.” Explicou Caroline, recendo um aceno em resposta. “Eu vou pedir para você manter o máximo de calma possível ali dentro, está bem?”

“Tudo pelo bem da esquentadinha.” Ele suspirou, enquanto os três caminhavam para o quarto.

Quando entraram, havia apenas uma enfermeira ali, checando os sinais da paciente. Karina estava encolhida sobre a cama, e seu olhar de pânico destruiu o que ainda estava inteiro no coração de Pedro.

“Com licença...” Chamou a psicóloga, atraindo a atenção das duas mulheres. “Enfermeira Rosa, poderia nos dar licença?”

“Claro, doutora.” Concordou a mulher, se retirando logo do quarto. Karina observava os recém-chegados com temor e confusão.

“Oi Karina, meu nome é Caroline e eu gostaria de conversar com você. Posso?”

“C-conversar.”

“Isso, conversar. Vamos fazer assim: se você entender o que eu disse ou concordar, balançará a cabeça dessa forma; se não entender ou não souber, dessa.” Ela indicou o aceno afirmativo e negativo. “E se ficar em dúvida se entendeu ou não, vai erguer a mão. Entendeu?”

Demorou alguns instantes, mas ela imitou o gesto afirmativo. Todos suspiraram um pouco mais aliviados, enquanto pegavam cadeiras, sentando enfileirados ao lado da cama.

“Você sabe onde está?” Ergueu a mão. “Sabe o que é um hospital?” Uma pausa, negou. “Sabe o seu nome?”

“Karina.” Ela respondeu.

“Você o sabia antes de algum de nós falar?” A loira baixou os olhos, negando com a cabeça. “Tudo bem... Você consegue falar algo sem repetir o que nós dizemos?”

“Não, juntar, palavras.” Ela balbuciou, e Dr. Simão virou para Pedro.

“Acho que a fala não foi afetada...”

“Achômetro não vai ser de muita ajuda.” Resmungou o moreno, enquanto Caroline continuava suas perguntas à Karina.

“Karina, você sabe o que é um pai?” Ela confirmou. “Sabe o nome do seu?” Ela negou. “Você sabe o que é uma irmã?” Ela confirmou. “E o nome da sua?”

“Não.” Ela pronunciou com a voz falha.

“Karina, você sabe quem é ele?” A médica apontou Pedro, que a olhou esperançoso. A lutadora o encarou por um longo tempo, antes de suspirar e negar. “Tudo bem... Agora nós três vamos ali fora conversar e logo voltamos aqui, está bem?”

A paciente concordou, os observando se levantar e sair, os olhos dela e de Pedro fixos um no outro; os dela curiosos e assustados, os dele tristes e desolados.

“Muito bem, Carol, o que você acha?” Perguntou Dr. Simão, assim que fecharam a porta.

“Sendo honesta, Henrique, é um caso complicado. Aparentemente, os conhecimentos instintivos permanecem nela: ela sabe o que é um pai e uma irmã, pois são arquétipos que vem gravados em nós. O entendimento dela em relação à fala e a articulação de ideias também parece estar intacto; a dificuldade em conseguir se expressar pode estar realmente ligada ao choque.” Ela fez um diagnóstico rápido. “Porém, eu posso afirmar com 80% de certeza que a memória foi bastante afetada.”

“Ela não sabe o nome do Gael ou da Bianca.” Pedro se horrorizou.

“A amnésia pode ser total ou parcial, Pedro. No caso da Karina, por hora podemos classificar como total: aparentemente, todos os evento anteriores ao acidente, além do próprio acidente, parecem ter sido apagados.” Explicou o neurologista.

“Tá, e isso é reversível?” Perguntou, enquanto sentia uma manada de elefantes pisoteando seu estômago completamente.

“Voltamos ao que eu disse: é impossível prever, porque...”

“Cada caso é um caso.” Ele repetiu o que já havia ouvido uma centena de vezes naquele dia. “Vocês podem explicar isso ao meu sogro e a nossa família? Não sei se aguento mais o Gael gritando.”

“Seu sogro parece ser um homem difícil.”

“O senhor nem sabe o quanto, doutor.” Pedro suspirou. “Eu posso ficar com a Karina?”

“O que você acha, Carol?” Perguntou Henrique, e a psicóloga assentiu.

“Acho que a Karina já relacionou o Pedro com algo ‘conhecido’, em teoria. Desde que ele não fique a pressionando ou agitando, não vejo problemas.”

“Eu não farei nada que possa piorar a situação dela, eu prometo.” Os médicos assentiram, saindo em direção à sala de espera. O rapaz suspirou, coçando os olhos e bagunçando os cabelos, antes de tomar o caminho de volta para o quarto. “Com licença, Karina, posso entrar?”

Ela o observou, assentindo com a cabeça. Ele fechou a porta atrás de si, caminhando e puxando uma das cadeiras mais perto da cama dela, se sentando.

“Bom, meu nome é Pedro, e nós... Nós...” Ele não podia dizer que eram casados, já que não sabia se ela conseguiria entender isso. “Nós somos amigos. Você sabe o que é um amigo?”

“Amigo, bom.” Ela tentou articular.

“Isso, amigo é uma coisa boa.” Ele sorriu, recebendo um pequeno sorriso de volta. “Nós somos amigos, e se você não se importar, eu vou ficar aqui com você, te fazendo companhia. Eu posso ficar aqui com você?”

“Beijo.” Ela tocou a boca e o apontou. “Você, beijar.”

“Hã, amigos dão beijos assim quando estão felizes.” Ele mentiu rapidamente, recebendo um aceno. “Mas eu não vou fazer isso de novo, para não te assustar.”

Depois disso, os dois ficaram em silêncio de novo. Karina virou o rosto para a janela, encarando o nascer do sol. Pedro seguiu os olhos dela, se recostando na cadeira e apreciando o espetáculo da natureza.

“Bonito.” Ela sussurrou.

“Sim, é bonito.” Ele repetiu, sorrindo.

“Dói.” Ela tocou as faixas na cabeça, e ele sentiu a garganta apertar.

“Eu sei, Ka, mas logo passa. Fica olhando o sol que você esquece da dor.” Propôs, recebendo outro sorriso. “E assim eu esqueço um pouco também.”

A loira voltou a admirar o nascer do sol, e ele ficou a observando com o mesmo brilho nos olhos de todas às vezes que fazia isso. E realmente, por alguns minutos, foi como se nada tivesse acontecido.


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Notas finais do capítulo

Heeeey peanuts.
To em débito com responder reviews, eu sei. Mas infelizmente as coisas com os cachorros não acalmaram: após a gastroenterite da minha filhote, meu mais velho foi diagnosticado com câncer e tivemos que amputar as orelhas. Mas vamos seguindo em frente.
Bom, para deixar claro: não tenho conhecimento em medicina, muito menos na área neurológica. Assisti muito Grey's Anatomy e ER, além de pesquisar algo na internet, então se alguém formado em medicina ler alguma besteira aqui, peço desculpas, pois sou leiga no assunto.
Espero que estejam gostando, apesar de todo o drama.
See you soon peanuts