Eu observava atentamente cada pingo de chuva que ousava bater no vidro da janela de meu quarto, olhava para os relâmpagos que não cessavam nem por um instante, e ouvia o som alto dos trovões que sempre me deixaram amedrontada. Ouvia no andar de baixo, a gritaria entre meus pais, discutiam por motivos que eu não me preocupava em saber quais eram, apenas me preocupava em olhar pela janela e ver se quem eu esperava estava lá para me tirar de certa tormenta.

Prestava atenção em tudo... Cada movimento que pudesse ser ele, o menino de cabelos rosáceos que sempre me salvava da agonia de ter que estar em uma casa com pessoas que estavam a ponto de se matar com palavras.

Papai chegava irritado do trabalho, mamãe sofrendo de problemas psicológicos já não entendia o porquê de tanta irritação, e eu, a menina de apenas dez anos, esperando um amigo que me fazia rir em meio a tudo isso, e que me tirava de casa, a fim de não me ver chorar por adultos sem noção.

Eram oito da noite, a chuva não cessava, mas eu sabia que ele viria, ele sempre vinha, ele sempre estava lá, sempre... E mais uma vez, eu observava tudo com atenção, e poucos segundos se passaram até eu poder ver um garoto relativamente alto, vestido em uma capa de chuva amarela.

Mesmo de longe, pude ver o sorriso aconchegante que me arrancava risos, abri a janela para que ele pudesse subir, e como um raio ele se agarrou na escada que ficava em baixo de minha janela e subiu. No parapeito da Janela estava lá, Natsu Dragneel.

Havíamos nos conhecido em uma festa, as empresas de nossos pais eram famosas, e faziam negócios entre si, brincamos a noite toda, e quando menos esperava, ele havia se mudado para a mansão ao lado, não sabia o motivo, mas a ideia me fazia feliz.

Natsu estava lá, em meu quarto, e eu sorria sem entender porque, não conseguia parar, ele me abraçou, ficamos ali por um instante, até que ele disse:

-Ne Lucy, seus pais não param!

-Ora Natsu... Papai e Mamãe não cansam disso- respondi abaixando o rosto, uma lagrima escapava de meus olhos.

-Luceee, princesas não choram! Vamos brincar, serei seu dragão, e você a princesa. - ele pegou em minhas mãos e me puxou para o meio do quarto, eu sorri, e naquela noite, brincamos horas, como eu a princesa, e meu dragão que protegia a pequena Lucy de todos os perigos fora da torre.

Fazíamos isso sempre, brincávamos e riamos, e meus pais eram ocupados demais para prestar atenção em sussurros, ou em mim, era assim, um dragão me protegia, dos males que havia em meus pais.

Mas então, em um dia ensolarado, porém sem graça alguma, chego em casa, com o empregado que me buscava na escola, e encontro no chão, minha mãe com um tiro em seu peito, e meu pai com um em sua cabeça e uma arma em suas mãos.

Aquela cena... O sangue... Meus pais...

A empregada soltou um grito de horror, e eu arregalei os olhos, não havia palavras que pudessem sair de minha boca, não conseguia raciocinar... Era apenas uma criança, que agora estava realmente sozinha.

Larguei a mão de Caprico, corri e corri, com lagrimas nos olhos, sem saber o que pensar, era uma criança desgovernada pela rua, até me lembrar de alguém, que talvez pudesse me fazer parar de chorar, pudesse me entender, fui até sua casa, a casa de Natsu.

Peguei um punhado de pedras pequenas, e comecei a jogá-las em sua janela, mas não havia ninguém, a casa não havia portões, mas havia pessoas por todos os lados, nesse dia, ninguém estava lá, não havia nenhum sinal, eu jogava as pedras, e não recebia nenhuma resposta, de nada nem ninguém.

As forças de meus braços se esvaíram, minhas pernas bambearam, e eu caio, um grito saiu de mim, e foi nesse dia que percebi... Não havia mais ninguém.

Depois disso, a assassinato de minha mãe, e suicídio de meu pai foram confirmados, a família dos Dragneel haviam se mudado, restava-me a herança farta, e minha tia, que também assumira os negócios da empresa Heartfilia.

Minha tia cuidou bem de mim, mas minha casa nunca mais fora a mesma, recebi amor de minha tia, Tia Ellie, mas a morte de meus pais, e o sumiço de Natsu, me fez sentir totalmente sozinha.

E essa sou eu, olhando para a casa em que cresci, os empregados, e tia Ellie olhando para mim, e eu os olho com um sorriso bobo, todas essas lembranças vieram de repente, e eu estava saindo de lá, para uma nova cidade, um novo lugar, uma nova escola... E uma nova vida.

- Até logo Tia Ellie!-acenei em retribuição- Até logo Minna!

- Até logo Lucy! – pude ouvir o coro, enquanto entrava no carro.

Caprico ligou o motor da limusine, e pensei:

Fairy Tail... Que esse lugar me traga bons momentos.