O meu mundo se resumia a apenas ele. Meu pequeno irmão Eric, que desde criança se tornara o mundo da nossa família e ficou sob os meus cuidados enquanto nossos pais trabalhavam, sem poder contratar uma babá.

Foi assim até agora. Estamos no final de 2014, 24 de dezembro, véspera de Natal, eu, meu irmão e nossos pais em casa, coisa que não acontecia desde dois anos atrás, e eles agiam de forma suspeita comigo, sendo que eu nem me lembro de ter feito uma coisa ruim para eles. Ah, eles devem ter ficado sabendo do incidente. Daquele incidente fatídico.

—Você não pode se aproximar dele dessa maneira, Adam. Ele é seu irmão.

Eu ouvia isso diversas vezes, que chegava a me irritar e me trancar no quarto até aquele momento passar. E escondido, ele vinha a meu quarto, que antes havia sido nosso, na infância, com aqueles ternos olhos castanhos claros e acariciava a minha cabeleira negra. Consolava-me, e dizia que ficaria tudo bem.

E depois que ele me falava palavras suaves, eu o abraçava com força, e tentava não descontar toda a minha raiva naquele corpo inocente, que eu conhecia desde pequeno. Aquele pequeno anjo que era apenas só meu, e de mais ninguém.

The world was on fire and no one could save me but you.

—Algo errado Adam? Parece trêmulo. Ei, vamos, me fale. Foram nossos pais de novo? O tanto que eu já te falei para ignora-los, porque eles não vão nos separar, entendeu? Eles nunca vão nos separar. Você é meu e eu sou seu, só isso importa.

—Você... por que está sempre certo, Eric?

—Porque eu conheço você. Eles apenas têm ódio porque acham que me trouxe para o mau caminho, mas eu vim por conta própria.

Enquanto eu ouvia aquelas palavras possessivas saindo dos lábios dele, eu beijava e mordia seu pescoço alvo, enchendo-o de marcas e mordidas, fazendo-o gemer meu nome, e chamar-me de mais algumas coisas sujas e imorais. Quando ele partiu, na mesma noite, eu me lembrei do incidente que causou a mudança de ideia dos meus pais quanto a viajarem. Foi há apenas alguns dias, enquanto eles arrumavam a casa para o natal.

What a wicked game to play, to make me feel this way
What a wicked thing to do, to let me dream of you
What a wicked thing to say, you never felt this way
What a wicked thing to do, to make me dream of you

Apenas há alguns dias, mas a memória ainda estava vívida.

‘’Eu arrumava as coisas na cozinha, como o peru e o resto da ceia, enquanto Eric ajudava na decoração da casa, junto com nossos pais, e enquanto eu colocava a comida no forno, Eric veio beber água e ao me ver nervoso, beijou a minha nuca e saiu correndo antes mesmo que eu pudesse reclamar. Mas papai viu, e colocou a culpa em mim, dizendo que eu passei tempo demais com o filho, de forma que o aliciei a fazer coisas que ele não queria.

Só ouvia tudo calmamente, pois eu sabia que não era minha culpa, e sim de nós dois. Ele me olhava com aqueles olhos calmos sob um cabelo escuro. O destino o fez igual a mim. Gêmeo. Mas ele não assumiu a culpa, mas também não me culpou totalmente por tudo, só disse que tinha feito comigo por pena.

Furioso, me tranquei no quarto e comecei a atirar minhas coisas na parede. Se ele fez por pena, por que havia feito para começar? Pena por que eu estava bêbado e pedia por atenção? As palavras... tudo havia sido nada?!

Ele bateu na minha porta, e eu o deixei entrar, e ele me abraçou com aquele corpo pequeno e com cheiro de sândalo. E murmurava palavras calmantes em meu ouvido, dizia que me amava e que seria meu para o resto da vida, e que afinal, nós éramos um em dois corpos e nada podia nos separar. ’’

—Nada pode nos separar, não é Eric?

Ele retornou do corredor e me respondeu, com aquela voz calma e aveludada:

—Nada. Como eu te disse naquele dia, nós somos dois corpos em um não é mesmo?

—Sim, nós somos. Porque somos irmãos.

E a noite, depois da ceia, nós nos tornamos um novamente. E nada, nada podia nos separar, somente nossas respirações entrecortadas pelo desejo de ter um ao outro. Éramos errados, tolos, párias da sociedade, mas foda-se a sociedade quando se trata de desejo.

It's strange what desire make foolish people do