Fabrizio e eu conversamos por mais algum tempo, falamos sobre nossas profissões, sobre o que os outros deveriam pensar sobre determinadas coisas... Enfim, conversamos bastante e já me sentia muito próxima dele, senti como se já nos conhecêssemos a muito tempo, aquilo era estranho para mim. Sempre foi complicado para eu abrir-me com outras pessoas, mas agora estava ali na frente de um cara que nunca havia visto antes, conversando sobre minha vida e perguntando sobre a dele.

Mas apesar da estranheza disso tudo, ele me fazia rir e bastante, o que era bom, pois não sou de falar muito e adoro os erros gritantes que ele comete quando fala francês.

Nunca pensei que um dia eu seria tão facilmente fascinada por alguém, acho que a culpa disso tudo foi dessa viagem, quando estava preparando minhas malas prometi a mim que tentaria estar aberta a novas experiências, sem preocupações e todos aqueles problemas que estão sempre dando voltas em minha cabeça.

Essa viagem era para que eu relaxasse, que tentasse deixar de lado o peso que carrego nas costas e de tentar animar-me um pouco.

Eu não sabia que hora era, mas estava a um longo tempo conversando com Fabrizio, ele prendia minha atenção de uma forma que nunca aconteceu comigo.

Mains já estava bem longe de meus pensamentos, assumo que por algum tempo pensei nele, comparei ele com Fabrizio; eles eram extremamente diferentes: Fabrizio era comunicativo, transparente, bonito, inteligente, engraçado sem ser forçado. E Mains era... Era um mímico, essa é a única coisa que sei dele, a única coisa que ele deixou que eu soubesse.

Acabei obrigando-me a deixar Mains de lado e concentrar-me no que Fabrizio dizia, afinal de contas, eu estava tendo um dialogo com alguém que não se escondia atrás de uma maquiagem.

Sorri, sem saber se era pelo efeito do álcool em mim ou por achar graça de algo, olhei para a mesa onde Juliana estava e não a vi, mas também não preocupei-me muito.

Ela deve ter voltado para o hotel com a Lana, pensei, e logo depois voltei a sorrir para Fabrizio.

Depois de algum tempo perguntei onde ele estava hospedado, ele respondeu-me prontamente:

_ No Four Seasons.

Four Seasons Hotel George V que era um hotel de verdade, cheio de frescuras e com preços caríssimos, nem se comparava ao hotel no qual eu estava hospedada. Acho que até para por os pés no Four Seasons era preciso poder pagar o valor de um carro em alguns dias no hotel sem preocupar-se.

Fabrizio deve ter notado minha expressão de paisagem e disse:

_Quer ir até lá?

Tudo bem... Não sou ingênua a ponto de pensar que ele queria apenas mostrar-me o belo hotel no qual estava hospedado, mas já havíamos flertado e eu estava correspondendo; então não há mal algum...

Poderia ir até lá com ele e ver o que acontecia, só precisaria mandar uma mensagem para Lana e para Juliana explicando onde eu estava, com quem e qualquer outra coisa necessária caso eu acabasse sendo encontrada no esgoto, cortada em mil pedaços.

_É... Acho que seria legal ir até o Four Seasons._ Respondi.

Depois alguns minutos estávamos num táxi e depois de mais algum tempo já estávamos na frente do grande hotel, não paramos de nos comunicar por um só segundo, se não estávamos falando estávamos nos comunicando por olhares. Era estranho como olha-lo me passava uma sensação estranha, não era como acontecia com qualquer outro affair, era como se seus olhos passassem uma tranquilidade e ao mesmo tempo um ar sagaz que não era muito comum nos homens que eu já havia saído.

Havia muito por trás de sua fachada, de alguma forma eu sabia disso, mas tentei esquecer, pois poderia ser só paranóia; ele não era um mímico, e parecia muito comunicativo, transparente e todas essas qualidades de quem não tem o que esconder.

Na recepção do hotel, ele disse seu nome:

_Fabrizio Bianco.

Foi o bastante para a recepcionista olhar-me rapidamente e receber a quantia que ele lhe ofereceu discretamente. Aquele dinheiro era um silenciador, pois não se pode levar alguém sem uma reserva para um hotel como aquele.

Não posso negar que era bom sentir o poder que alguém ao seu lado tem, sentir que não há fronteiras quando se tem poder, quando se é alguém.

Eu nunca fui alguém além de uma boa advogada, uma filha exemplar e uma irmã carinhosa. Tive respeito de algumas pessoas, mas nunca havia sentido poder, que são duas coisas muito diferentes; com respeito você só é aceito por algumas pessoas, com poder você escolhe se aceita as pessoas ou não.

Quando caminhávamos em direção ao elevador senti minha postura mudar; minha cabeça se ergueu com orgulho, um orgulho que não tinha o menor fundamento, pois nada daquilo era meu, tudo era por causa do dinheiro do Fabrizio. Mas meus olhos brilharam por causa dos detalhes luxuosos daquele hotel... Tudo parecia tão caro e tão bonito...

Tive vontade de tocar cada coisa que reluzia ali, mas algumas peças estavam fora de meu alcance.

Fabrizio segurou firmemente minha cintura, eu estava impressionada de mais com o ambiente para incomodar-me com o aperto e provavelmente o álcool que eu havia consumido ainda estava fazendo efeito.

Dentro da suíte, senti-me como num parque de diversões, tudo brilhava, era confortável e chique.

O resto da noite se passou em imagens embaçadas, mas eram exatamente como eu havia imaginado; sem emoção, entretanto, com muita vida... Éramos bons atores, fingindo nos conhecermos a muito tempo, fingindo sentir mais do que uma atração, dissimulando olhares calorosos e toques que pudessem dizer mais do que apenas um gesto...

Nos meus últimos segundos de lucidez, antes de cair no sono, pude sentir um leve arrependimento, talvez fosse minha consciência trazendo-me imagens sem sentido, trazendo-me aqueles olhos que não diziam nada.

Meu ultimo pensamento foi Quando as férias acabarem o Imitateur Mains (mímico Mains) será apenas uma lembrança que chamarei de aventura